USO ERRADÍSSIMO DO VERBO CONFIRMAR EM CENTRAIS DE CHAMADA.

USO ERRADÍSSIMO DO VERBO CONFIRMAR EM CENTRAIS DE CHAMADA.

     Operadores de centrais de chamadas (“calls centers”) têm vezo de empregar o verbo confirmar erradamente.

     Confirmar significa repetir-se informação de que o interlocutor dispõe, para o mesmo interlocutor, a fim de este averiguar se coincidem uma e outra; por exemplo: Miguel sabe o número do CPF de Sérgio; Miguel, operador de central de chamada, pede que Sérgio lhe confirme o CPF;

Miguel diz a Sérgio o número de CPF de Sérgio; se o número estiver correto, Sérgio dirá isto mesmo, ou seja, confirmá-lo-á; se incorreto, não o confirmará.

           Quem pede confirmação enuncia, para seu interlocutor, o que deseja que ele lhe confirme: quem pede confirmação, propicia a informação; não é o interlocutor que lha propicia, pois este confirma-a ou a desmente.

     Os operadores de chamadas pedem que o cliente “confirme”-lhe dados, mas é o cliente que lhos enuncia; logo, o cliente nada lhes confirma: informa-lhes. Não há, aí, confirmação nenhuma: há informação.

     Se Miguel pede a Sérgio que este lhe confirme seu, de Sérgio, número de CPF, então:

1) Miguel deve enunciar o número em causa.

2) Sérgio dir-lhe-á que o confirma, se correto, ou que o desmente, se incorreto.

             Quem pede confirmação já conhece a informação e a enuncia; o interlocutor limita-se a confirmá-la porque correta ou a negá-la, a desmenti-la, porque errônea.

            Os operadores de chamadas pedem que seu interlocutor confirme-lhes (por exemplo) o número de CPF para averiguarem se o número que se lhes diga coincide (ou não) com o de que dispõem; aí, não há confirmação nenhuma, porquanto para havê-la, o operador deveria enunciar o que pede que o interlocutor enuncie.

     Para procederem com acribologia, para exprimirem-se corretamente, os operadores devem pedir que o interlocutor diga-lhes a informação, jamais devem pedir que lha confirmem. O verbo que empregar, aí, é dizer, não é, não pode nunca ser confirmar:

— Peço que me diga seu número de CPF.

— Gostaria de que me dissesse seu número de CPF.

— Diga-me seu número de CPF, por obséquio.

     O errado é errado ainda que todos o usem; o certo é certo ainda que poucos o conheçam.  Use o certo.

     Em tempo: falar é diferente de dizer. O operador pedirá que se lhe DIGA o número, não que se lhe FALE.

FALAR E DIZER.

Falar é exprimir por palavras bocais, vagamente, genericamente.

Dizer é exprimir por palavras bocais, exatamente, especificamente.

Sempre que o que se exprime é específico, dizemos ; sempre que é vago e genérico, falamos.

Fala-se da vida ; dizemos de nosso dia de nascimento.

Falei de relógios e disse que o meu é da marca Tempo.

Falai que ireis de férias sem dizer em que dia ireis.

Dizemos QUE : disse que é dia 12, disse que horas são.

Falamos sobre, acerca de, a propósito de.

“Falar que” é agramatical.

Disseste que trabalhas lá; falaste-me acerca de teu chefe.

O vulgo brasileiro usa falar em vez de dizer.

O português é rico, é exato, permite-nos exprimirmos exata e belamente o que desejamos ; é motivo de orgulho. Não é difícil (ideia de senso comum) : é para quem usa sua inteligência.

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