PRETO E LUTO.

PRETO E LUTO.

Os romanos punham preto, em sinal de luto: o escuro, a ausência de luz, simbolizava a tristeza pela morte de alguém querido ou relevante.

Luto carregado é preto completo, por morte de mãe, pai, filho, cônjuge. Aliviado é o que se mistura com cinza e vai se mesclando com cores, à medida que o tempo passa.

Ainda hoje em Portugal, conquanto residualmente, as viúvas do Minho trajam preto completo: preto para toda a vida, após a perda do marido.

No Brasil, desvaneceu-se o preto como cor lutuosa; já é anacronismo ou antigüidade, contudo tem seu valor como expressão de sentimento. Não é ou não deve ser para os outros verem, embora o vejam; é para o enlutado sentir-se bem consigo próprio e, acaso, com a memória do morto.

Na pandemia, meses atrás, ao darem-se as primeiras mortes, os chefes europeus puseram luto carregado: primeiro-ministro de Portugal, presidente da França, rei de Espanha, tudo de preto, que também põem à conta de outros óbitos.

Bandeira a meio-pau é sinal lutuoso (é a meio-pau e não a “meio-mastro”, como inventaram os de vocabulário torpe, que associam “meio-pau” com pênis). Gonilha preta é sinal de luto.

Já atualmente no Brasil rara gente liga ao preto lutulento, mas é costume que tem significado.

Importa mais o que sentimos pelo morto e como com ele nos houvemos do que a cor do vestuário, contudo essa pode exprimir o que sentimos, isto é, pode servir de meio de expressão e símbolo; pode ser interpretável como homenagem, como respeito para com a memória do morto, ou apenas como sinal de tristeza.

Uma característica da perda dos valores dos brasileiros está no desuso do luto, na carência de manifestações exteriores pela morte e no que lhe está na base, isto é: a desimportância das mesmas manifestações, como que a trivialização da morte dos entes queridos (não me refiro à pandemia e sim muito antes dela).

Em Curitiba, no inverno e sem luto, 80% dos trajes são pretos; é como se andasse tudo enlutado e até nem reparam em quem deveras o esteja. A preferência pelo preto em Curitiba é assinalável, chama a atenção dos forasteiros; propagou-se por imitação visual. O traje preto convém, no sentido de que não se lhe notam as sujidades, porém é peculiar que o curitibano traje-se assim.

É de ver que as togas judiciais e o trajo acadêmico português consiste em negro por inteiro.

Na China, o luto exprime-se por branco.

Nojo é sinônimo de luto: está-se de luto, está-se de nojo.

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