“Título” não é “livro”. “Não vai ter” não é “Não tem”. Burrices.

 

“TÍTULO” É DIFERENTE DE “LIVRO”. NOVA BURRICE.
“NÃO VAI TER”. BURRICE JÁ ANTIGA.

O pessoal está chamando “livro” de “título”:
– Procuro um título.
-Ouvi falar de um título.
-Quanto custa este título ?

Não me venham com a clássica léria de que as palavras mudam de sentido. Nem toda mudança de sentido é legítima nem aceitável. Há mudanças espúrias. É o caso.
Uso correto de “livro”:
– Procuro livro com este título: […].
-Ouvi falar de um livro.
-Quanto custa este livro ?

Se se chama “livro” de “título”, como chamará “título” ? Será, porventura, com esclarecimentos:
– Procuro um título, mesmo.
-Procuro um título, propriamente dito.
-Procuro um título; título e não livro.
-Formulei o título, tipo [certas pessoas falam assim] o nome do título.

Se chamasse “livro” de “livro” e “título” de “título”, não haveria dubiedade na frase e não seria necessário explicar o que pretendeu dizer.

Agora, o absurdo:
– Qual é o título do título ?

Ou:
– Gostaria de conhecer o título.
O interlocutor responde-lhe, porque não entendeu:
-Quer ver o livro ou saber que título ele tem?

Atente em que “livro” é diferente de “título” e identificam coisas perfeitamente distintas. Se se chama “livro” de “título”, cria-se polissemia e introduz-se CONFUSÃO. Ora, mudar da clareza para a confusão é melhor ou pior ?

É similar à troca do presente pelo futuro:
-Não vai ter. [Quis dizer: “Não tem”].
-Vai querer ? [Quis dizer: “Quer ?”].

Se se usa o futuro para exprimir o presente, como diria o futuro ? Seria das formas abaixo ?
-Não vai ter, depois.
-Vai querer, futuramente ?

Para marcar o presente, como diria ? Usaria as construções abaixo ?
-Não vai ter, neste momento.
-Vai querer, agora ?

Confusão total em:
-Não vai ter, agora, mas vai ter, mais tarde.

Atente em que se usar o presente para indicar o presente, compreende-se de imediato o teor da comunicação:
– Não tem. [Não tem é não tem; não tem agora.]

Atente em que se usar o futuro para indicar o futuro, compreende-se de imediato o teor da comunicação:
-Não vai ter. [Não vai ter é não vai ter, futuramente].

Percebeu a burrice de usar as palavras indevidamente ou trocar os tempos verbais ? Burrice é coisa de quem não usa a sua inteligência. Sintoma infalível de ininteligência é IMITAR E REPETIR toda e qualquer burrice que se ouve dos outros.
O que me impressiona é como, no Brasil, se propagam as toleimas.

A propriedade com que se usam as palavras e os tempos verbais é importante, é valiosa; ela facilita a comunicação e permite comunicação eficaz, livre de equívocos. Português não é difícil; é belo, é rico, é preciso.

 

 

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