Para a Folha de S. Paulo

ESCREVI PARA A FOLHA DE SÃO PAULO em 6.VI.2020:
“Boa noite.
A Folha de hoje disse, em título: “…bate recorde”. Ora, “recorde” é má palavra, originária do inglês “record”. Temos “marca”, usável com o mesmo sentido,
da mesma forma: “bater marca”. É na língua portuguesa, é nosso, é natural e bonito.

Outro título: “Espetáculos para ver da varanda”. Nenhum espetáculo é “para ver”. São para serem vistos. Espetáculos para serem vistos.

Mais uma: “Bolsonaro vê Moro candidato e teme enfrentar o ex-ministro”. Isto cham-se de vício do duplo sujeito; é cacoete de redação, em que se duplica o
sujeito, por paráfrase. No caso, “ex-ministro” é Moro, mas soa como se fossem pessoas diferentes. Até se entende que são o mesmo, mas muitíssimas vezes o
leitor não identifica o sujeito com a paráfrase, como em: “Copérnico foi astrônomo, sendo famosas as obras do padre”. Que padre ? É o próprio Copérnico. Os
jornalistas estão dependentes deste tipo de construção, estão nele viciados; já não sabem escrever sem este rebuscamento que encomprida a frase e confunde o
leitor. Pode-se repetir o sujeito em dados casos; para evitá-los, existem PRONOMES. Será possível que os jornalistas não saibam usar pronomes ? ! “Bolsonaro
vê MOro candidato e teme enfrentá-LO”; “Copérnico foi astrônomo, sendo famosas SUAS obras”. Frase prolixa é defeituosa; frase que exige adivinhação do leitor
é frase defeituosa; frase que repete o sujeito é defeituosa. Estes três males evitam-se tão facilmente com o uso de pronomes e vós, sistematicamente,
desdenhais deles e em seu lugar impingis frases ambíguas ! Esforçai-vos por fabricar perífrases desnecessárias e desusais os pronomes, que facilitam
enormemente redação e compreensão.

É vosso papel escrever bem e dar o bom exemplo para vossos leitores, dentre quem me incluo.

Saúde e fraternidade.
Arthur Virmond de Lacerda Neto.”

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