Bolsonaro não é Positivista.

Alexandre Andrada divulgou, em primeiro de janeiro de 2019, que Bolsonaro filia-se ao Positivismo: é mentira que aqui refuto.

Texto completo, em PDF, com sinopse histórica do Positivismo no Brasil, explicação do que é a ditadura republicana, negação de que Getúlio e o regime de 1964 fossem positivistas e de que Bolsonaro o seja: Bolsonaro não é Positivista.

Jair Bolsonaro não é Positivista, não se filia à tradição Positivista, não foi aluno de Benjamin Constant; pertence a geração muitas décadas posterior ao fim do ciclo humanista do Positivismo no Exército e acha-se, cronologicamente (também mentalmente ?) muito mais propínquo do ciclo anti-Positivista. Certamente jamais leu Augusto Comte nem os seus principais discípulos e expositores, como Laffitte, Littré, Harrison, Marvel, Barreda, Lagarrigue, Miguel Lemos, Teixeira Mendes, Ivan Lins, Luis Pereira Barreto, Mozart Pereira Soares, para quedar-me com os óbvios.

Para se filiar o bolsonarismo ao Positivismo, é indispensável encontrarem-se declarações escritas ou orais de Jair Bolsonaro, em que lhe aluda, em que se refira às obras de Augusto Comte, em que nomeie Augusto Comte, Miguel Lemos, Teixeira Mendes, Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, os militares Positivistas; em que se refira, enaltecedoramente, à constituição gaucha de 1891, em que empregue a locução “ditadura republicana”. Nada disto se encontrou. Nada disto existe. Não há, no ideário de Jair Bolsonaro, nenhum elemento Positivista, nenhuma idéia, nenhum valor, nenhum princípio cuja percepção justifique conotá-lo com o Positivismo e com a “ditadura republicana”.

Ao invés, o (alegado) mentor intelectual de Bolsonaro é Olavo de Carvalho, por sua vez, antagonista do Positivismo, mal-informado e desinformador: no seu livro O jardim das aflições, Olavo disparatou acerca do Positivismo, que verberou sem o conhecer. Falou sobre o que desconhece. Para mais, Olavo professa o catolicismo, com cuja dogmática o Positivismo antagoniza.

Bolsonaro e Carvalho são cristãos; o Positivismo não o é. Bolsonaro e Carvalho são deístas; o Positivismo não o é. O Positivismo é ateu e humanista; Bolsonaro e Carvalho não o são. O Positivismo é pela laicidade; Bolsonaro, ao contrário.[1]

O autoritarismo político é suscetível de existir sobre si, independentemente de qualquer doutrina, o que inclui o Positivismo, seja entre civis como no meio castrense. A condição de militar, aliás, reformado há trinta anos, de Jair Bolsonaro não o conota, por inerência, com o Positivismo, como se todo militar brasileiro fosse Positivista, por algum modo, ou aderisse à “ditadura republicana”.

Se Bolsonaro professa autoritarismo, é por conta própria ou devido ao influxo de outros mentores, de outras fontes intelectuais que não o Positivismo. A sua orientação mental não é Positivista.

Jair Bolsonaro recusa a laicidade do Estado, ou seja, a separação entre igrejas e Estado; o Positivismo preconiza-a.

Jair Bolsonaro converteu-se a uma seita evangélica e foi batizado; um dos seus lemas de campanha foi “Deus acima de tudo”; o Positivismo não é teológico; aliás, é anti-teológico e ateu ou, no mínimo, agnóstico, ou seja, indiferente à idéia de deus. Para os Positivistas, a Humanidade está acima de todos.

Jair Bolsonaro professa ou aparenta professar crença em Jeová, deidade que o Positivismo reputa como mais uma de tantas, que serviram em fases pretéritas como forma, inteiramente imaginária, de intelecção da natureza.

Jair Bolsonaro externizou racismo contra pretos, homofobia e em mais de uma tirada exprimiu o seu intuito de matar, individual ou coletivamente, os seus desafetos políticos. Bastariam estas três ordens de considerações para dissociá-lo do Positivismo: os Positivistas tratam as pessoas em geral com respeito, independentemente da sua cor, da sua condição sexual e da sua convicção política. Jamais um Positivista diria ter filhos que não desposariam “mulher negra”, que homossexualidade se trata com violência física e que os adversários devem ser mortos.

Constitui artifício retórico associar-se Bolsonaro com o Positivismo: dado o preconceito que vincula o Positivismo com autoritarismo, dada a presença do Positivismo no meio militar (no passado), dada a condição de militar de Bolsonaro, uma forma de denegrir a este consiste em tachá-lo de Positivista (como se ser-se Positivista correspondesse a desdouro), o que é falso (pois Bolsonaro não aderiu ao Positivismo), errado (pois Bolsonaro externa convicções opostas aos dogmas Positivistas) e desonesto (pois nem o Positivismo é autoritário, nem a ditadura republicana o é, nem Bolsonaro praticou atos de autoritarismo despótico.).

[1] Minha análise da obra e da influência de Olavo de Carvalho: https://arthurlacerda.wordpress.com/2018/12/04/como-vejo-olavo-de-carvalho/.

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