LUGARES-COMUNS, VULGARIDADES DA FALA.
São lugares-comuns, chavões, chapas, as formas de expressão que as pessoas repetem quase maquinalmente e que predominam na comunicação: sem-número de pessoas usa-as e seu uso exclui o de outras palavras. Elas empobrecem a comunicação, não por serem usadas, porém porque seus usuários servem-se delas como muletas verbais.
Em si, elas são corretas; o mal está na sua repetição; melhor: na sua repetição que lhes exclui alternativas. Os lugares-comuns são prisões lingüísticas.
Por exemplos:
Aí, beleza, de boa ? [linguajar juvenil]
Quero deixar bem claro [está ja cansou],
neste primeiro momento [por ora, por enquanto, ainda],
como um todo [anglicismo],
o fato de que [anglicismo]
é sobre [diz respeito, relaciona-se com, entende-com, é relativo a]
todo o mundo [galicismo por toda a gente]:
basicamente [não sabe outra palavra ?]
a gente é [português de quinta categoria. Não sabe dizer nós ?]
incrível [também pode ser notável, extraordinário, estupendo, magnífico, impressionante, admirável]
e pessoas maravilhosas.
Até aí, tudo bem.
Mas o tóxico [nocivo, daninho, maléfico, pernicioso];
deixa baixo [deixe estar; não é preciso; dispenso; não careço; não, obrigado; é melhor não; prefiro que não].
Organizei duas frases mediante a combinação de lugares-comuns. Quem habitualmente assim, fala com vulgaridade.
Uma atitude de quem aspira a transcender a vulgaridade em sua expressão, é a de prestar atenção em como fala o vulgo: seus colegas, amigos, vizinhos. Repare em palavras e dizeres que ele repetem, sobretudo os menos letrados, toscos, sem instrução e desleixados na sua fala.
Uma vez que houver identificado o que eles repetem, evite precisamente isto e comunique-se com alternativas.
Procedo assim desde meus 18 anos de idade, quando me chocou a vulgaridade com que falava a maioria de meus eqüévos, o nível rasteiro de comunicação da juventude de classe média dos anos 1980. E inúmeras vezes disseram-me:
-Puxa, Arthur, como você fala direitinho.
-Você fala tão certinho.
Respondia-lhes:
-Sempre li muito e uso o que aprendi na escola.
O interlocutor fazia a tradicional cara-de-bunda ou a outra, cara-de-cu ritibano.
Transactos 30 anos, em 2020, dizem-me:
-O senhor fala muito correto (sic: corretamente).
Respondo:
-Sempre li muito e uso o que aprendi na escola.
Uns inquirem-me:
-O senhor é professor?
Respondo que sim, com a reserva mental de haver professores que falam mal e são incapazes de praticar a mesóclise (sequer sabem que é).
Outros aludem-me:
-Ele é português.
Fica o encômio para os portugueses, que leem e usam o quanto aprenderam na escola.
Vamos erradicar as doutrinas de Marcos Bagno (“bânho”) e da sociolingüística. Elas só conduzem a mais achatamento, vulgaridade e ignorância.
Cultive o hábito da leitura dos cânones brasileiro e português; antes de ser “fluente em inglês”, procure ser perfeito em português. Leia Machado de Assis e Saramago >>por inteiro<<.
BELEZAS DO IDIOMA.
Há estrangeirismos, dentre os quais, galicismos, palavras de origem francesa que se imiscuiram no português, como vocábulos bastardos e para que há equivalentes vernaculares. Por outra: em vez de usar palavras de origem alienígena, por que não usar as castiças, próprias do português ?
– Mas tudo mundo usa, já está incorporado etc.
Por que, então, não usar também o que é castiço, o que é legitimamente português ?
Comitê, do francês “comité”, diz-se COMISSÃO, JUNTA, CONSELHO.
Gravata, do francês “gravate” diz-se GONILHA.
“Soutien”, “sutiã”, diz-se ESTRÓFIO.
Matinê, do francês “matinée”, espetáculo de dia, diz-se MATINADA ou VESPERAL.
Massacre, do francê “massacre”, diz-se CARNIFICINA , TRUCIDAÇÃO.
Todo o mundo, do francês “tout le monde”, em que “monde” significa gente, pessoas, diz-se TODA A GENTE.
Imãn diz-se magnéto ou ferro magnético.
Garantir, do francês “garantir” diz-se AFIANÇAR.
Isolado, do francês “isolé”, diz-se INSULADO.
Oóóóóóhhhh !!!!
Os nomes com desinência em “on”, em francês e inglês dizem-se com desinência “ão”: Catão, Estrabão, Dião, Platão, garção e não: Cáton, Éstrabon, Díon, Pláton, garçon (ou garçom). Da mesma forma, Filão, eletrão, protão, bozão, neutrão.
Use o idioma com qualidade.
Oóóóóóhhhhh !!!! , novamente.
Asneiras lingüísticas:
“painel” de professores, de entendidos. Do inglês “panel”, os de mente tenebrosa inventaram isto de “painel”. Diga MESA-REDONDA.
“força-tarefa”, do inglês. Não seja burro, rapaz ! Este lixo não tem pé nem cabeça. Diga GRUPO DE TRABALHO.
Fulano capturou a imagem: tradução ignorantíssima do inglês. “To capture” não é captar. Diga CAPTOU a imagem. Capturam-se fugitivos.
PROCURAR POR, CAÇAR POR, BUSCAR POR: são construções do inglês traduzidas porcamente, ao pé da letra. Isto não é português. Nos documentários e filmes traduzidos do inglês, as dobragens mal-feitas, feitas às pressas, descuidadas, desleixadas, usam estas formas erradas. O cara (tradutor) ouve ou lê “search for” e traduz palavra por palavra, o burro. Traduzir não é imitar: é obter o equivalente do idioma original no para que se traduz (leia novamente, com atenção).
Em português correto, legítimo, dizemos: procurar algo, estar à procura de algo, caçar tal bicho, buscar tal coisa.