Os olavinhos e o vernáculo.

 

Por décadas a fio, a sociolingüística e a esquerda brasileiras desdenharam da norma culta do idioma e da gramática, que increpavam e increpam de patriarcal, machista, elitista e representante da classe opressora. Valorizavam e valorizam o popular, o coloquial, o raso e o fácil.  Daí resultaram o espetáculo do despreparo de gerações de brasileiros, em relação ao idioma, e os derradeiros lugares dos estudantes deste país nos exames internacionais, em língua portuguesa. Daí também resultam os erros cada vez mais multiplicados, os vícios, os lugares-comuns do comum do povo; também as traduções ruins, a inépcia da forma (e do fundo ?) dos textos acadêmicos (mestres, doutores, pós-doutores que escrevem mal e publicam em revistas, dissertações e teses em que exibem a sua deselegância estética e os seus solecismos.), como ainda o desconhecimento de recursos como a mesóclise (que a maioria ignora que é), os pronomes contraídos (lho, lha, to, ta, ma, mo: nunca disto ouviram dizer), o uso errado dos tempos verbais (nas lojas, os atendentes dizem: “Não vai ter”.), as regências erradas (“As despesas incorridas.”).

Há  décadas Olavo de Carvalho e eu (que não sou olavinho) vimos denunciado tudo isto. Hodiernamente, ele tem milhares de leitores, ouvintes e seguidores. Uma das suas recomendações é: estude, por primeiro, antes de tudo, o vernáculo; outra: estude, leia, instrua-se. A estratégia olavista é a de formar grupo intelectualmente bem formado que origine, não já, porém no futuro, militantes políticos.

É expectável que dentro de dez ou quinze anos surjam cabeças políticas que emulem o pessoal esquerdista. Para já, os olavinhos são (os mais ?) estudiosos e os que prezam pelo conhecimento rigoroso e uso correto do idioma. (Há direitistas escrevinhadores, como os autores de artigos canhestros da Gazeta do Povo). Da freqüentação dos clássicos, do cânone brasileiro e português, de bons autores reeditados, do escrúpulo no uso do idioma, já se vai formando certo pessoal que se caracteriza pela qualidade comparativamente melhor do seu conhecimento da língua e do uso que dela faz. Dentro de dez anos haverá, no Brasil, grupo intelectualizado, lido, hábil e elegante no vernáculo, conservador e de direita, a par da grande massa sub-letrada, politicamente indiferente, de esquerda ou talvez já nem tanto.

Enquanto isto, a sociolingüística apregoa as suas doutrinas e justifica o raso e o fácil (o fácil é o critério de todo medíocre); logo, contribui para manter parte do público em baixo nível idiomático, notadamente o estudantil.

Não sou olavinho nem pratico o politicamente correto – rejo-me pelo correto, sem mais qualificações: tem razão Olavo e os olavinhos: estude; comece pelo idioma.

Sintoma do embrutecimento do etos do brasileiro é a alegação, tosquíssima, de que saber o vernáculo é para quem “é de Humanas” e que quem “é de Exatas ou de Biológicas” não precisa de praticá-lo com rigor gramatical. Outro: a norma culta “é só para a escrita; pode [-se] falar de qualquer jeito.”. Para mim, são toleimas que emburrecem: o idioma é de todos, pois todos se comunicam e fazemo-lo (os sub-letrados não entenderão “fazemo-lo”: que peguem uma gramática e aprendem-no. Aprendam-no – oh, raios, mais uma !) sobretudo oralmente e não por escrito.
Saber com rigor o seu idioma é valor de civilização e virtude pessoal; é meritório e útil.

(Com os seus exageros e hipérboles e ironias dispisciendas, Olavo é sim, brilhante esteta, autor modelar, na sua forma e independentemente do fundo.).

 

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