O amor entre dois homens ou duas mulheres.

O amor entre dois homens ou duas mulheres.[1]

31.VII.2008

Arthur Virmond de Lacerda Neto

 

Há quem descreia no amor entre dois homens e haja, por isto, desistido de protagonizá-lo. Trata-se de descrença resultante, certamente, da observação de situações alheias e, possivelmente, de decepções pessoais, cujo efeito é o da desesperança em relação a novos amores. Há, nisto, pessimismo que os fatos desmentem ou, ao menos, mitigam.

Em resultado da homofobia instalada como padrão psicológico nas sociedades ocidentais, dentre elas a brasileira, a maior parte dos homossexuais, até aqui, achou-se na impossibilidade de amar abertamente, ao mesmo tempo em que, manifestando-se a sexualidade ao longo da vida e correspondendo a necessidade permanente, muitos homossexuais exerciam-na como expressão única da sua condição homossexual, o que lhes gerou promiscuidade célebre, caracterizada pela pluralidade de parceiros, pela ausência de afetividade entre eles e pela busca exclusiva da volúpia: não podendo amar, restava-lhes o copular.

As gerações pretéritas, e dentre as atuais, as dos indivíduos que contam, hoje, cerca de trinta anos para mais, foram condicionadas, pelo meio homofóbico, a reprimir a sua natureza, a frustrar a sua sexualidade e a privar-se de amar.

Esta última particularidade resultou em que muitos homens não experimentaram o amor, não aprenderam a estabelecer compromissos afetivos a sério, não idealizaram vida a dois, não adquiriram o valor da fidelidade, não puderam estabelecer comunhão com quem amassem: da maioria dos integrantes destas gerações escassamente se podem esperar relacionamentos sérios nem duradouros: em relação a eles, a descrença na felicidade a dois pode justificar-se.

Todavia, o preconceito e a promiscuidade vem-se alterando, rapidamente, nos últimos poucos anos: há menos homofobia e mais aceitação; de conseqüência, mais liberdade de ser homossexual, ou seja, de exercer a sua sexualidade como prática normal e sadia, psicológica e fisicamente, e de amar, como expressão da natureza emocional de cada um.

Entre o amor heterossexual e o homossexual, não há diferença para mais do sexo dos envolvidos: em si, o fenômeno é rigorosamente igual. Em ambos, há encantamento, atração, carinho, anseio por compartilhar cada qual da vida do outro; em ambos, encontram-se os mesmos problemas: ciúme, traição, insegurança, desencanto, separações; em ambos, as mesmas virtudes: fidelidade, companheirismo, adaptação mútua, seriedade, realização afetiva, felicidade.

Nesta época de maiores aceitação e liberdade, os homossexuais, em especial os jovens, enfrentam menos problemas, desfrutam mais do seu corpo e (de longe o mais importante) muitos moços procuram realizar-se afetivamente. Daí multiplicarem-se os casais juvenis, antanho inexistentes, em que aos envolvidos a promiscuidade atrai menos (ou repugna) e em que a volúpia é secundária; anima-os a procura de relação estável e sincera com pessoa fiel, no ideal de vidas por partilhar, segundo as preferências individuais de idade e temperamento.[2]

Há, em curso, evolução dos costumes, por efeito de modificação das mentalidades e como causa de adaptações nas instituições, a exemplo do casamento homo, em perspectiva no Brasil e já adotado em outros países.

O amor entre iguais existe, já, entre os jovens e existirá, crescentemente, sobretudo entre eles e (conquanto em proporção menor) entre os mais velhos, o que vem provocando alteração bem-vinda e acelerada na psicologia dos homossexuais moços, devido ao anseio de muitos deles pela afetividade e ao esforço pela sua realização, progresso importante no sistema de valores vigente no meio homo e na sociedade brasileira em geral: a felicidade de dois homens ou de duas mulheres entre si corresponde a objetivo cada vez mais alcançável e merecedor da tentativa dos interessados nele.

[1] Este artigo data de 2008. Entrementes, em 2011, o Supremo Tribunal Federal consagrou o casamento homo; em junho de 2019, afirmou a necessidade de se criminar a homofobia.

[2] É ilusório pensar-se que deve haver, nos casais, paridade etária ou que, como nos casais heterossexuais de décadas recentes, o marido devesse contar em média cinco anos a mais do que a mulher: são convenções sociais. Pode ser assim, como pode não o ser: pode ser como os envolvidos sentirem-se melhor; deve poder ser assim.

Esse post foi publicado em Homossexualidade. Bookmark o link permanente.

Deixe um comentário