“MEMORIAL”, MEMORIAL, MONUMENTO & NOMES TOLOS.

OS ESTRANHOS “MEMORAIS” de Curitiba e não só.

Nos EUA, em inglês, há “memorials” (“mimôuriaus”), a saber, monumentos. Em inglês, “memorial” significa monumento, porém os desavisados leram em inglês e entenderam em português, em que memorial existe e significa: livro portátil em que se inscrevem apontamentos do que nos precisamos recordar, petição em que há referência a pedido anterior, petição escrita; lembrança, apontamento, nota ligeira sobre o que se pretende escrever detidamente, em momento vindouro; memorável, digno de memória, de recordação; texto auto-biográfico que candidatos em concursos de docência apresentam para as respectivas bancas (é aplicação latitudinária do sentido imediatamente anterior).

De grafia igual, memorial e “mimôuriau” discrepam de significado: em português, ele nada tem que ver com seu homônimo em inglês, pelo que constitui anglicismo descabelado chamar qualquer monumento “memorial”.

Em Curitiba, repartição oficial tomou por nome Centro Cultural Memorial de Curitiba, em que o adjetivo memorial nada significa: não se trata de canhenho de notas, de notas, de coisa memorável, tampouco de monumento. “Memorial” aí ocupa lugar no nome, que encomprida inutilmente. Memorial Árabe, Memorial Paranista (ambos em Curitiba) igualmente são nomes estapafúrdios: enquanto o primeiro é monumento, o segundo é espaço multifário (exposição de arte, auditório, oficina de cerâmica, local de cursos).

Memorial às vítimas da Covid (com crase errada; da Universidade Federal do Paraná) tampouco é monumento, mas lugar eletrônico de evocação de mortos na pandemia de covid (2020-2021).

Memorabilia é palavra do latim, com legítimo uso em português; significa: a) coleção de objetos que merecem ser conservados, por seu significado próprio ou por haverem pertencido a alguém cuja memória quer-se perpetuar (memorabilia de David Carneiro, do cerco da Lapa); b) por extensão: o que traz à memória pessoa, fato, ocorrência. Diremos, em bom português: Memorabilia Árabe, Memorabilia Paranista, Memorabilia das vítimas da Covid.

Certo pessoal administrativo obraria bem melhor se soubesse mais português do que inglês, se não imitasse a semântica deste, se não tomasse memorial por monumento nem por memorabilia.

A inscrição em dicionários atualizados e eletrônicos (como o Houaiss) em nada autoriza o emprego de “memorial” com acepção de monumento, porquanto os dicionários comuns são apenas descritivos e não também prescritivos, isto é, cingem-se a registrar o uso da palavra e a respectiva acepção, sem que tal registro importe legitimação de um ou de outro. Eles não orientam para a boa linguagem; limitam-se a depositar a linguagem usada, boa ou má.

Resumo: memorial significa: livro portátil em que se inscrevem apontamentos do que nos precisamos recordar, petição em que há referência a pedido anterior, petição escrita; lembrança, apontamento, nota ligeira sobre o que se pretende escrever detida e vindouramente; memorável, digno de memória, de recordação. Em inglês, memorial (“mimôurial”) significa monumento, porém memorial (em português) não lhe é equivalente. Memorabilia é bateria de objetos ou o que recorda pessoa ou sucesso.

Preceito: use memorial nos sentidos genuínos desse vocábulo; use monumento para designar monumentos; não lhes chame “memorial”; chame memorabilia acervo de objetos, sítio eletrônico ou o que sirva para recordar pessoas ou eventos.

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