Carta a Miguel Reale sobre o Positivismo
3.IV.2007
Ilmo. Sr.:
O sr. é dos que reputa autoritário o Posivismo de A. Comte, mercê da
leitura das obras de Paim e de Rodriguez. Também eu as li, e destestei-as, porque encontrei nelas a distorção sistemática e venenosa da política positivista, notadamente da ditadura republicana, presidencialismo de liberdades,que naquelas obras passam pelo exato oposto do que na verdade é, ou seja, por um totalitarismo odioso.
Li um artigo seu, sobre e contra o Positivismo, de fins de 2001 e lamentei que o conhecimento vulgar sobre ele seja tão desinformado. Disse vulgar, porém o acadêmico é igualmente ruim, com a esquerda acusando-o de burguês, e a direita (católica, fascista, integralista etc.),de totalitário. Há, no Brasil, um anti-positivismo militante, que faz uma verdadeira lavagem cerebral nas pessoas, em um país em que, como bem diz o prof. Olavo de Carvalho, decaiu excessivamente a qualidade da produção intelectual, as exigências dos escritores, o seu grau de aprofundamento, a pesquisa das boas fontes. Que diferença dos ingleses, dos norte-americanos e dos franceses, que conhecem Comte a sério e o estudam fundamente, antes de o criticarem!
Talvez, um dia, sejamos também de primeiro mundo. Não é preciso dizer que a pecha de autoritarismo sobre o Positivismo é coisa que só no Brasil circula.É dessas mentiras que se transformam em verdade à custa da sua repetição. No que depende de mim e dos meus livros, vou repondo a verdade, em favor do Positivismo,
do seu entusiasmo pelas liberdades públicas, pela sua ojeriza pelos golpes de Estado (fascistas, integralistas, tenentitstas, bolcheviques), pelo respeito pela legalidade, pelo apelo à fraternidade nas relações entre governantes e governados, pela conciliação, por tudo aquilo que os ignorantes e os desonestos distorcem, ocultam ou mentem, para engano dos ingênuos, como é o caso da maioria dos leitores de boa-fé. Os leitores não são maus; maus são certos livros, que não valem o papel em que foram impressos, e quantos deles há no Brasil, em matéria de Positivismo!
Sem liberdade, não há verdadeira república, dizia Teixeira Mendes, chefe do Positivismo brasileiro.
Saudações do positivista ortodoxo
Arthur de Lacerda