Oração da mesóclise.

ORAÇÃO DA MESÓCLISE.

Arthur Virmond de Lacerda Neto. 23.V.2020.

— Amanhã, tu e eu encontrar-nos-emos.
Que belo rapaz ! Desejá-lo-ei ?, pensei, e indaguei-lhe:
— Para que fim reunir-nos-emos?
— Para ensiná-la.
— Ah, sim ? Ensiná-la-emos: mais sabença.
— Será coisa de monta, e bela.
— Que coisa será ? Dir-me-ás ?
— Digo-te: poesia e rimas.
— Por Mercúrio nu, deus da palavra !
— Assim é. Por ora, insistamos na mesóclise.
— Prometi-te a oração do dia. Promessa é dívida: pagar-ta-ei. Oremos.

Humanidade, fonte de sabedoria e bondade,
Humanidade, tesouro de beleza e verdade,
Humanidade, herança de gerações e da posteridade.
Invocamos-te em nome da Língua Portuguesa,
louvamos a mesóclise, exaltamos esta beleza.
Usar a mesóclise embelezar-nos-á a fala e a escrita.
Servir-se da mesóclise enriquecer-vos-á a vida.
Aplicar a mesóclise facilitar-vos-á a comunicação.
Empregar a mesóclise prover-nos-á de mais um recurso.
Não a usar empobrecer-te-á a fala.
Ignorá-la privar-me-á de beldade de nosso idioma.
Ela não é somente para literatos: desfar-se-á esse engano; é para todos: propagar-se-lhes-á esta verdade.
Dela usufruir embelezar-nos-á o que dissermos.
Vida colorida, vida bonita: com ela, pôr-lhe-emos cor e beleza.
A crianças e jovens ensinar-lha-emos.
Jovens e adultos usá-la-ão.
Gente do povo sabê-la-á.
Toda a gente dela orgulhar-se-á.
De nossos maiores herdamos nosso idioma,
conservemo-lo como tesouro de gerações;
transmitamo-lo com qualidade.
Orgulhemo-nos dele e dele saibamos usufruir;
por ele zelemos e amemo-lo com sinceridade.
Assim te deprecamos, ó Humanidade,
fonte de sabedoria e bondade.

 

Mesóclise: “meso” = meio. Pronome no meio do verbo.
Farei > verbo. Te > pronome.
Farei > Far – ei > Far – te – ei.

Direi para vocês.
Vocês = vós.
Direi vos.
Dir – ei. >  Dir-vos-ei.

“Se comunicará”. “O fará”. > horrível.
Comunicar-se-á. Fá-lo-á > elegante e bonito.

Comunicar-se:
para vocês: comunicar-se-vos-á.
para ti: comunicar-se-te-á.
para você ou ele: comunicar-se-lhe-á.

Mesóclise NÃO é arcaísmo, lusitanismo, pedantismo, literatice, formalismo. É beldade e riqueza do teu, do meu, do vosso, do nosso idioma. É recurso usável pelo pobre, pelo rico, pelo culto, pelo inculto, pelo comum do povo, pelo professor, pelo estudante, tanto na escrita formal ou informal quanto na fala diária, em família, entre amigos, na atividade profissional, entre conhecidos, entre estranhos. Ela é usável, é legítima, é bela em qualquer situação, em qualquer pessoa. Usa-se no futuro do presente e no do pretérito; muitas vezes leva dois acentos.

Usa teu idioma, orgulhosamente; usa a mesóclise, orgulhosamente.

NÃO se usa mesóclise diante de palavras negativas (não, nada, ninguém, nunca, jamais), de pronomes relativos (quem, que, qual, cujo, cuja), de advérbios (como, quando, onde e outros), casos em que prevalece próclise (pronome antes do verbo: “Livro que Miguel não me dará”).

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