I- Um vício.
II- Tradução brasileira de Goethe.
III- Mudanças para pior.
IV- Como reagir ? Como contrariar a mediocridade circundante ?
V- Comparações: Brasil e Portugal.
I- Um vício.
O tempo deles passou e não: O tempo deles passaram.
A caixa de sapatos está vazia e não: A caixa de sapatos estão vazias.
O preço das ações aumentou e não: O preço das ações aumentaram.
O nível dos alunos diminuiu e não: O nível dos alunos diminuíram.
A regra dos gregos era a de que […] e não: A regra dos gregos eram as de que […].
Se tu falas ou escreves com as primeiras formas que registrei acima, falas erradamente, com vício. Em idioma existe certo e errado e é óbvio que o verbo deve concordar com o sujeito.
II- Tradução brasileira de Goethe.
O pior é ver este gênero de aberração (e outras) em tradução de Goethe, publicada pela Unesp. Péssimo serviço, o do tradutor Mário Luiz Frungillo, que incorporou vícios da coloquialidade brasileira à elocução de João (Johann) Goethe e de seu interlocutor João (Johann) Pedro (Peter) Eckermann, ambos homens cultivados, que se brasileiros fossem, não se comunicariam daquela forma nem se comunicaram em alemão vicioso e agramatical. À esta luz, o tradutor falsificou os diálogos, rebaixou a qualidade literária do texto e contribuiu para introduzir confusão entre o certo e o errado, entre a vulgaridade e o que é diferente dela, entre o que é gramatical e o heteróclito, entre o que equivale a como Goethe e Eckermann (e terceiros) teriam falado se o houvessem feito em português no Brasil, em 2020, e como eles decididamente não o teriam feito.
Nem Goethe nem Eckermann reconhecer-se-iam em vários lugares naquela tradução, confortável para o vulgo, afeito a ouvir e a praticar certas formas nela consignadas. Contudo, para o leitor exigente, que procura textos de qualidade, que aspira ao bom e ao melhor e recusa a mediocridade ambiente, que se pauta, virtuosamente, pela gramática normativa, a incorporação dos vícios e dos empobrecimentos coloquiais é inaceitável.
Não que a redação da tradução seja inteiramente ruim. Ao invés: ela tem qualidade e beleza sempre que se manteve gramaticalmente correta, mas é esquerda e feia nos inúmeros lugares em que aderiu às manifestações da incultura presente no falante médio brasileiro de nosso tempo.
III- Mudanças para pior.
À medida em que o ensino do idioma no Brasil foi se degradando, em que as escolas tornaram-se ideológicas e militantes, em que se incutiu a mentalidade de que “pode falá como quizé, só tem quê escrevê direito”, em que a sociolingüística criou a mistificação da inexistência de certo e errado e de que a gramática é opressora, tudo isto combinado resultou em que o vulgo, o comum do povo, deixou de saber os recursos do idioma como poderia (bem) e deveria (plenamente) e passou a falar e a escrever como sabe (pouco) e pode (mal).
Leia o restante em: O IDIOMA NO BRASIL