FUXICOS E BOATOS.

FUXICOS E BOATOS.

Ditos que se escuta em conversações alheias; fragmentos de diálogos que alguém, nas proximidades, escuta de terceiros, sobre sujeitos pessoais, de serviço, financeiros, políticos, amorosos e de outras espécies; especulações que se faz do que é da conta alheia (familiares, vizinhos, colegas de serviço ou de escola), são suscetíveis de originar boatos: as informações correm de boca em boca, com malícia ou sem ela, com interpretações ou sem elas, com exageros ou sem eles, fiel ou infielmente. O pequeno avoluma-se, o simples complica-se, o ingênuo torna-se em maldoso, o que começa com dado teor modifica-se ao longo dos comentários e dos fofoqueiros.

Qualquer palavra, qualquer dito, qualquer adjetivo ou verbo sujeita-se a ser tomado como indício de situações, estados anímicos, intenções, decisões (e não somente), e como matéria de especulações.

Eis porque o silêncio, a abstenção, o nada dizer é sempre seguro: com eles fazemos do assunto não assunto para outrem, pelo menos na medida em que podemos contribuir para que se não ventile o assunto: somos senhores do que calamos e escravos do que falamos e do que terceiros falam do que falamos.

O que desejamos dizer a outrem e poupar de que chegue ao conhecimento acidental de terceiros, dizemo-lo particular, insuladamente, a sós.

Diz que as paredes têm ouvidos: e os fuxiqueiros têm boca e os ingênuos, ouvidos.

Segredo, há de ser de um só: que seu detentor não o partilhe com ninguém.

Silêncio vale ouro.

O sábio cala, o tolo fala.

Calado sempre tem razão.

Octogésimo aforismo de Gracián, em “Arte da prudência”: “Cautela ao informar-se. Vive-se mais do que se escuta do que do que vemos. Vivemos da fé alheia. O ouvido é a segunda porta da verdade e a principal da mentira. De ordinário, a verdade vê-se e excepcionalmente ouve-se. Raras vezes chega em seu puro elemento e menos quando vem de longe: sempre traz algo de mistura dos ânimos por que passou. A paixão tinge com suas cores tudo em que toca, contra ou a favor. Inclina-se sempre a impressionar: há que se ter muito cuidado com quem elogia, maior com quem critica. É necessária muita atenção nesse ponto para descobrir a intenção do intermediário, conhecendo de antemão de que pé coxeia. A cautela deve ser contrapeso do defeituoso e do falso.”

Esse post foi publicado em Não categorizado. Bookmark o link permanente.

Deixe um comentário