Beijo homo em público.

 

                                                         BEIJO HOMO EM PÚBLICO. BEIJAÇO.

Arthur Virmond de Lacerda Neto

Setembro de 2016.

 

 

Em setembro de 2016, no centro comercial Curitiba, na cidade de Curitiba, dois rapazes que se beijavam defronte de uma sorveteria foram repreendidos por funcionária dela, porque o faziam. Poucos dias após, Felipe Albuquerque (de Curitiba) lançou, no Facebook, convocação para um beijaço de desforra, convocação a que aderi e que compartilhei, com ponderações minhas. Reproduzo o chamamento que redigi, para exposição do argumentário e como testemunho do etos e do patos de certas pessoas, em 2016: se, neste ano, coisas tais ainda se davam e se ainda se lhes reagia desta forma, as gerações vindouras admirar-se-ão de que, em 2016, fosse assim. Dantes era muito pior.

 

CONVOCAÇÃO PARA O BEIJAÇO.

SERÁ NO DOMINGO, 24, NO CENTRO COMERCIAL CURITIBA, EM CURITIBA.

****NÃO PRECISA SER VEADO PARA COMPARECER-LHE; BASTA SER LIBERTÁRIO.****

O QUE ACONTECEU: no centro comercial Curitiba, dois rapazes beijavam-se bocalmente. Uma funcionária da sorveteria Freddo repreendeu-os e determinou-lhes que se abstivessem de fazê-lo.

O QUE ACONTECERÁ: no próximo domingo acontecerá, defronte à sorveteria Freddo, beijaço em que rapazes e moças homo e também heteros beijar-se-ão, em desagravo.

QUEM PODE PARTICIPAR: toda pessoa favorável à liberdade de expressão de afetos em público; toda pessoa, hetero ou homo, contrária à homofobia.

ONDE: centro comercial Curitiba, às duas horas da tarde, defronte à sorveteria Freddo.

Apóio.
Quando casal hetero beija, ninguém se importa. Quando casal homo beija, os retrógrados importam-se.

Se apenas se importassem, usariam o célebre preceito “Não gosto, não uso” ou este “Não gosto, não uso, mas deixo usarem”. Porém importam-se e pretender aplicar este: “Não gosto, não uso e não quero que use quem gosta”.

Eu uso este: “A sua liberdade termina onde começa a minha”.
Demais, beijar em público não é proibido, à luz da lei. Nenhum funcionário de loja nenhuma, nem seus proprietários, podem impedir que freguês se beije, seja homem a homem, homem a mulher, seja mulher a mulher. Todas estas formas osculatórias são consagradas  pela legalidade.
Se a funcionária não gosta, o azar é dela. E não vale alegar que a cena “constrange” a terceiros: não olhe.

Na certa, a funcionária, careta, retrógrada, intolerante, é crente.
Apóio e aplaudo a iniciativa. Beijar em público (heteros ou homos) não é inconveniente nem impudico. Mal nenhum em crianças verem beijos (quando alguém invoca a exposição das crianças e das famílias à alguma cena, logo desconfio de que há vezo intolerante ou caretice.
É típico de certa mentalidade intolerante e preconceitosa invocar as crianças e as famílias para embelezar-se o preconceito seja lá contra o que for). A atitude da funcionária foi indevida e abusiva; é compreensível, justo e legítimo que os visados reajam.

A reação coletiva, pelo beijo coletivo no local, é pacífica, inteligente e inteiramente cabível.        Quem considera desnecessário o beijaço, não participe dele; quem o considerar justificável e mesmo necessário, participe dele, se quiser.

No beijaço não vejo “exposição”, como se a “exposição” fosse inconveniente. Talvez alguém não queira ser visto a beijar em público, por introversão, timidez, medo de represálias, mas há outros que não se introvertem, ao contrário, e beijam em público, a dois ou em beijaços. Para estes, a exposição não é temível, mas desejável pelo seu significado de reação. Não vejo que o beijaço represente alguma forma de desrespeito seja pelo que for, mas vejo que a repressão de que os rapazes foram objeto, ela é que representou desrespeito por eles.

Enquanto houver a mentalidade de que beijaços são desnecessários, de que beijar em público é desrespeito seja lá pelo que for, convirão, por omissão, com a homofobia imperante. Não vejo que beijar em público seja nem possa ser anti-ético. Talvez alguém possa se sentir incomodado se a cena for calorosa demais, mas é discutível até que ponto a liberdade de quem se sente incomodado lhe dá o direito de interferir na liberdade de quem beija. Pessoas mais fiscalizadoras e menos amigas da liberdade preferirão interferir; pessoas menos fiscalizadores da vida alheia e mais amigas da liberdade preferirão, se tanto, não reparar sem interferir. A liberdade de um começa onde termina a de outro. É óbvio que a funcionária é das que prefere fiscalizar a vida alheia e interferir nela porque viu o de que ela não gostou. E se o beijo fosse hetero, como ela reagiria ?

Ninguém se importa com que casal hetero se beije em público, mas se alguém se importa com isto, quem se sente incomodado deve cuidar da própria vida, ao invés de reprimir a alheia, como aconteceu. Tenho certeza de que se se tratasse de casal hetero, a funcionária não o teria importunado.  Há de haver tratamento igual para heteros e homos: o que uns podem, os outros devem poder; o que uns não podem, os outros não devem poder. Casal hetero beijar em público é ético e aceitável pelos padrões da nossa sociedade; logo, o mesmo deve valer para homos.
Todo o meu apoio aos rapazes reprimidos, ao beijaço, à liberdade de expressão de afetos em público. Toda a minha censura ao vezo de certos brasileiros que fiscalizam a boca, a vida e a liberdade alheia. Não gosta, não veja, não use, mas viva e deixe viver.

Refiro-me a beijo; não me refiro a bolinar-se em público. Mesmo em relação a bolinar-se o que disse acima também se aplica: até que ponto vai a liberdade de uns e o direito de os outros interferirem, é discutível. Não considero que este direito (de interferir e reprimir, como a funcionária fez) exista no caso de beijos.

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