Amostra dos homossexuais e da respectiva obra. Família “tradicional”. Cinco anedotas. Casamento homo.

AMOSTRA DOS HOMOSSEXUAIS E DA RESPECTIVA OBRA.

Arthur Virmond de Lacerda Neto.

27.2.2017.
A poesia de Olavo Bilac, de Frederico Garcia Lorca, a de Antonio Botto,
a prosa de João do Rio,
o avião de Santos Dumont,
a viagem de Iuri Gagarin,
o computador de Alan Touring,
as navegações de Vasco da Gama e de Fernão de Magalhães,
a literatura de Tolstói, de Walth Withman, de Roger Peyrefitte, de Oscar Wilde,
a filosofia de Sócrates e a de Miguel Foucault,
as esculturas de Miguel Angelo e as de Benvindo Cellini,
a obra de Leonardo da Vinci,
os livros de Erasmo de Roterdão,
a música de Cazuza, de Rick Martin, de Renato Russo, de Fred Mercury, Adriana Calcanhoto, Daniela Mercury, Elton John, Tchaikowsky, Ney Matogrosso,
as pinturas de Salvador Dali, de Donatello, de Botticelli,
o esporte de Martina Navratilova,
os exemplos bíblicos de Jônatas e de Davi, e o de Rute e de Noemi,
os filmes de Rock Hudson,
as políticas de Abraão Lincon e do imperador Adriano,
os feitos de Ricardo Coração de Leão,
a poesia de Shakespeare,
a doutrina de santo Agostinho,
o bailado de Rodolfo Nureiev,

 

os filmes de Anthony Perkins e de Tab Hunter, a santidade (?) de são Baco e são Sérgio, a doutrina de Jesus Cristo, segundo se dizia com relativa abertura na Idade Média (surpreendeu-se ?).

(Adriano, imperador, apaixonou-se por um rapaz grego, Antínoo, que morreu em 121. Adriano pranteou-lhe copiosamente a morte, diante da corte embasbacada. A seguir, o senado romano emitiu senado-consulto de divinização: Antínoo foi proclamado deus, com templos e ritos).

E mais
Alexandre, o Grande,
o infante dom Henrique, o Navegador,
Maria Antonieta,
Eduardo VII,
Catarina da Rússia,
João Maynard Keynes,
Aquiles e Pátroclo,
Harmódio e Aristogitão,
Hércules e Iolaus (fictícios),

Zeus, o deus máximo, que seduziu o jovem Ganimedes,

Apolo e Zéfiro, deuses, apaixonados por Jacinto,
Júlio César,

Pedro I do Brasil (bissexual),
o infante d. Miguel (filho de d. João VI),
D. João V,
Afonso de Albuquerque,
D. Sebastião,
Luis XIII,
Maximiano do México,
o dobrador (“dublador”) de filmes brasileiro André Pereira dos Santos Filho,

e mais um ex-ministro de Estado (só um ?), um ex-governador do PR, um prefeito de capital do sul do Brasil, um papa emérito.

Em tempo: também Alexandre Frota e o pastor-deputado Marco Feliciano (por declaração do primeiro, a que assisti) e, segundo se boqueja, outro pastor homofóbico-furioso muito conhecido como cabeça de milhões de pessoas que convence de homofobia e da “família tradicional”.

Vinte por cento dos homens do mundo são homossexuais; quarenta, são bissexuais, em diversos graus, inclusivamente muita gente que postura de hetero. Quanto mais postura de hetero, mais enrustido: o sujeito ostenta a sua “macheza”, diz piadas homofóbicas, deprecia os “viados”, como forma de aparentar a sua pseudo-condição de hetero, para os outros não desconfiarem dele (a mim não me enganam), atitude típica da geração supra-40 (o que inclui a minha e as mais velhas do que a minha).

Felizmente, os tempos são outros. Tempos de liberdade e crescente aceitação da naturalidade humana. A geração sub-30 de classe média esclarecida é indiferente à sexualidade alheia e receptiva à homo e à bissexualidade: cada um cuida da sua vida e ninguém é desdenhado por conta disto.

São retardatários os de certa geração e a maioria dos evangélicos (maioria não são todos).

Quanto mais homofóbico, mais imbecil. Ou acaso deveria qualificar o homofóbico de lúcido, esclarecido, respeitoso ? Cuide ele do seu cu, ao invés de fiscalizar o alheio. Aliás, sou “a favor da vida”: cuido da minha e não me imiscuo na alheia.

É-me indiferente a condição sexual de seja quem for. As pessoas esclarecidas, secularizadas ou, ainda que religiosas, destituídas do preconceito homofóbico não julgam positiva nem negativamente a outrem pela sua preferência sexual, porém pelos seus caráter, comportamento, proficiência profissional, retidão pessoal,  valores e princípios porque se rege.

Contudo, porção numericamente significativa da população brasileira deprecia os homossexuais, os bissexuais e os trans-sexuais: para a maioria dos evangélicos, qualquer sexualidade diversa da heteronormatividade é pecaminosa e censurável e por mais que o evangélico se sinta justificado em acatar a vontade do seu deus, a sujeição à suposta volição divina é manifestação de crendice, de superstição, de ignorância e de tolice, em graus variados.

Sim, o evangélico é livre de ajuizar a “prática homossexual” e sou livre de ajuizar a “prática religiosa” do evangélico.

Obviamente, há evangélicos homossexuais e homossexuais evangélicos, dos quais a maioria atormentada pelo conflito entre a sua natureza e a sua fé; vários (ou muitos ? A maioria ?) oculta a sua condição, vive com infelicidade, posa de heterossexual e acaba por internar a homofobia e odiar em outros homossexuais o que a sua religião ensina-lhe a odiar em todos, inclusivamente em si próprio.

Alguns evangélicos desvencilham-se ou do seu preconceito ou da sua fé, porventura à custa de discriminação dos seus antigos correligionários. Nos dois casos, se homossexuais, passam a usufruir de conforto psicológico que a religião lhes negava e estabelecem relações humanas mais felizes.

As informações acima voltam-se a este tipo de gente, portadora deste etos e destina-se a mostrar-lhes, com breve mostruário, que inúmeros homossexuais e lésbicas contribuiram utilmente para as respectivas sociedades e até para a humanidade, que a sua contribuição é inegável e que as pessoas não podem ser depreciadas exclusivamente em razão da sua condição (condição; não opção) sexual.

Sirva a nominália como achega para contrariar-se o preconceito e para evidenciar-se o papel valioso de inúmeros homossexuais no melhoramento da condição de vida de todos, inclusivamente dos que os vilipendiam por palavras e sentimentos.

Escusa adir que, segundo penso, julgar alguém pela sua condição sexual é tosco e primário. Tal tipo de gente não constitui o público para que escrevo, senão o que também (virtualmente) lê o que escrevo: redigi estas notas na expectativa de que pessoas que tais leiam-nas. Esperança-me que de posse destas informações e ponderações, reconsiderem a forma como avaliam certas pessoas, o que inclui, possivelmente, os próprios leitores. Para parafrasear lugar-comum, almejo com isto deixar não somente o mundo melhor para as pessoas, como também pessoas melhores para o mundo.

FAMÍLIA “TRADICIONAL”.

Os adeptos exclusivos da família tradicional  são intolerantes, porque a reputam a única aceitável, quando para muitas pessoas ela não é o modo que as torna feliz nem realizadas. Ela é (?) satisfatória para muitas pessoas e desastrosa para outras. Os adeptos dela, exclusivamente, são intolerantes porque recusam que os homo possam ser realizados e felizes ao modo deles e não no modo que os a ela adesos querem que seja o único para todos.

Nenhuma criança será influenciada para, sendo macho, virar fêmea ou vice-versa. Isto não existe. Se o convenceram de que existe, enganaram-no e você deixou-se enganar. O que existe, é a condição homo e a condição hetero, com que se nasce. Ninguém “vira” gay porque vê dois homens ou duas mulheres em beijos ou o desenho animado ou quadrinhos com personagens homo. A criança já é gay. E se for hetero, pode assistir à vontade, que não “virará” gay. As crianças são influenciáveis, sim, pela ignorância que não têm naturalmente; pelo ódio pelos outros, que não têm naturalmente;  pela religião que não têm naturalmente. Sem a influência dos adultos preconceituosos, odientos, intolerantes, ignorantes, as crianças não seriam iguais a estes adultos que lhes dão maus exemplos. Se as crianças fossem criadas com indiferença pela condição homo ou hetero, ou seja, sem discriminar os homo e sem enaltecer a condição hetero como a única válida, haveria bem mais saúde psicológica em milhares de pessoas frustradas, infelizes, tristes, raivosas, por culpa de adultos que lhes ensinaram que ser homo é errado.

 

 

                                              Cinco anedotas.

(Verídicas).

Arthur Virmond de Lacerda Neto.

25.III.2017.

Enrustido.

Um rapaz cessou relações comigo, bloqueou-me, recusou-me desculpas por comentário inoportuno que lhe disse porém sempre, invariavelmente, fita-me com atenção, com muita atenção.
Recusa-me, porém me quer, presumo. Talvez me recuse porque me quer: o que recusa, é aceitar que quer.

Declarou-se-me hetero e reagiu-me como descrevi: tem, presumo, sexualidade insegura. Tivesse-a segura e realmente hetero, e não recusaria em mim o que (presumivelmente) rejeita em si.

Ele pertence à classe média-média, é ateu e estudante da UFPr. Em 2017, posturar de hetero sem o ser, privar-se de ser o que se é, já é desnecessário, no estado do etos da classe média brasileira, e inútil: ele priva-se da sua verdade e vive mentira. (Ocorreu em 2016, em Curitiba).

Hipócrita.

Ia eu de camiseta regata (vale dizer, com o corpo em parte à mostra). Varão apropinquava-se em sentido contrário. Semi-abraçava uma mulher: se não lhe era filha nem irmã, era-lhe namorada, noiva ou mulher, três possibilidades em cinco de que lhe formava par. Deitou-me olhar, e que olhar ! A mim, não me enganou. Talvez engane a ela. (Ocorreu em 25.III.2017, em Curitiba).

Pelo aspecto, pertencia à classe média-baixa ou baixa, em que (com exceções) ainda há, arcaicamente, heteronormatividade e hipocrisia por conta dela. Em 2017, as classes média-baixa e baixa brasileiras ainda mantêm a heteronormatividade e combatem a homossexualidade. Daí a hipocrisia, notadamente dos evangélicos (com exceções), a sua obrigação de fingirem ser o que não são, a sua privação de serem o que são. Vivendo em 2017, relevante parcela do público pobre, desinstruído e religioso é arcaica e mantém etos de décadas atrás ou de dois milênios atrás.

Feliz.

Caminhava; passei por um rapaz, que em mim reparou, e vice-versa. Calcorreei mais trecho da calçada; voltei-me, mirei o rapaz: este em mim reparava. Aguardava que o sinaleiro me permitisse transpor a rua. Momentos depois, voltei-me novamente e reparei no rapaz, que em mim atentava. Ainda alguns instantes após, outra vez volvi para atentar no rapaz: este em mim reparava. Não hesitei: com mímica, despedi-lhe beijinhos; alçei o braço e acenei-lhe. Rapaz viu-me; sorriu-me e acenou-me em reciprocidade. Prossegui o meu caminho feliz, enquanto (suponho) deixei contente o outro.

Cenas análogas a esta, protagonizei-as várias, nos últimos anos.

Pelo aspecto, pertencia o rapaz à classe média-média ou média-alta brasileira, em que não há mais, em geral, heternormatividade e em que há, em geral, liberdade de costumes. Pertenço à classe média-média, professo a liberdade de costumes. Vivendo em 2017, ambos vivemos com mentalidade contemporânea: com liberdade sem medo nem homofobia. (Ocorreu em 25.III.2017, em Curitiba).

Resposta.

Em março de 2017, a Disney produziu desenho animado em que se viam dois rapazes a beijarem-se bocalmente.

Alguém disse-me que se deve  “preservar” as crianças de coisas como o desenho da Disney.

Obtemperei-lhe:
-As crianças nascem puras e despreconceituosas. Se eu tivesse filhos, preservá-los-ia de adultos preconceituosos, que lhes incutem preconceitos.

Calou-se.

Na balada.
No bar do Simão, em 2017, estavamos quatro pessoas, dentre a multidão: o loiro, o de óculos, o outro e eu.
Postei-me defronte do loiro e fitava-o sem nele atentar. O de óculos percebeu-o e postou-se diante de mim, estático; encarava-me.
Não me intimido. Imobilizei-me e encarei-o. Antes de que sobreviesse confronto, o outro interpôs-se entre nós e o gajo afastou-se.
Por cautela, distanciei-me; duas vezes, ao relancear o olhar, notei que o loiro fitava-me.
Antes, eu fitara o loiro. Em que pensava eu? Em versos, em rimas, em palavras, em gregos e romanos.
Agora, ele me fitava a mim. Em que pensava ? Certamente, em mim.
O de óculos, se sentiu ciúmes, tivesse-os do loiro, que se interessou por mim. Eu interessava-me por poesia (embora ele fosse bonitinho).

MORALIDADE: o pior cego é o que não quer ver.

 

CASAMENTO HOMO. Cena da minha docência.

Na aula de Teoria do Direito (em 2017), eu expunha a analogia e tomei, como exemplo, o casamento homo em relação ao casamento hetero.
Um aluno pediu-me a palavra e proferiu, em tom veemente:
O senhor tem que tomar cuidado com o que diz. Eu não levo jeito nem ninguém na minha família !! Eu sou totalmente contra !! Eu tenho um filho de sete anos; que é que eu vou dizer p`ra ele se ele ver (sic) dois homens se beijando ?!

Redargüi-lhe:

Eu […] sou totalmente a favor. Que é que você diria para os seus filhos, não sei; não sou o pai deles. Sei o que eu diria para os meus: que há homens que gostam de homens e homens que gostam de mulheres. Você, como jurista ou futuro jurista, tem de aprender a ver as coisas à luz do direito, independentemente da sua religião; não sei se a tem nem quero saber.

Olhares para o docente e para o aluno, com sorrisos.
Silêncio.

Adi:
A homossexualidade existe em todos os povos da Terra, em todas as classes sociais, em todos os períodos da história. Também existe em 1500 espécies animais, notadamente nos animais superiores. Se há uma coisa que é natural, é a homossexualidade.

Olhares arregalados.
Silêncio.

Ninguém é obrigado a casar-se, seja lá com quem for; porém alguns querem impedir os outros de se casarem. A liberdade de um termina onde principia a dos demais. Alguns, porque não gostam e não usam, querem que os outros, que querem, sejam proibidos de usar.

Intolerância. Este tipo de intolerância representa mentalidade arcaica e já intolerável. Costuma ter matriz cristã, notadamente neo-pentecostal. Muitos religiosos, neste particular, não contribuem em nada para melhorar a vida do seu semelhante; ao contrário, porém pregam (?) o amor ao próximo e, nisto, não o praticam.

Alguns sabem contrariar a felicidade alheia e pretendem imiscuir-se na vida privada alheia; não sabem ensinar aos seus filhos a respeitar o próximo. Quanto a “amar o próximo”, lá isto (para alguns) são apenas discursos…

(Digo nada sobre se ele alcançou entender o que é a analogia e como, juridicamente, ela se aplica em prol do casamento homo, malgrado dissertasse a respeito [invoquei o casamento homo à guisa de exemplo], à luz da analogia e da eqüidade [conceitos jurídicos; instrumento da vida judicial o primeiro e princípio, aliás constitucional, o segundo.]. O professor explica, demonstra, expõe racionalmente, porém… é mais fácil desfazer um átomo do que certos preconceitos, ponderava Alberto Einstein. É o caso.).

É pecado… pecado… ora, se me importo com isto…

Perseveremos, os adesos à liberdade para todos, ao respeito para com todos, ao amor para todos.

 

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