Porra, fazer nas coxas, ungido do senhor, glossário.

                                 PORRA, FAZER NAS COXAS, UNGIDO DO SENHOR, GLOSSÁRIO.        

                                                                     Arthur Virmond de Lacerda Neto. 7.8.2022.

Porra.

          Turpilóquio é a palavra torpe, de acepção vil (no Brasil chamamo-las chulas); são palavrões. Alguns vocábulos respeitáveis tomaram acepção torpe, como boceta (caixa de joias), cu (abertura da agulha), caralho (cesto da gávea, nos navios); podemos empregá-los em suas acepções respeitáveis.

          Em sociedades sexualmente repressoras, em que a sexualidade e certas partes do corpo são tabus, em que não se pode nomear a estas por seus nomes próprios, inventam-se sucedâneos, de que alguns metafóricos.

          Palavra corrente em Portugal e Brasil é porra, como interjeição, usada exclamativamente e sem acepção chula. Dizem alguns “Porra !”, como diriam “Ora bolas !”, “Irra !”, “Caramba !”.

          Também se diz “porra nenhuma” para significar nada, cousa alguma; é locução deselegante.

          Porra é sinônimo de clava, maça, moca, arma de contusão comprida, que terminava em saliência bulbosa, talvez em alusão ao alho porro, dotado de longa haste. Porrete é diminutivo de porra (clavinha, arma de contusão diminuta). O nome jogo da porrinha, com palitos de fósforos, terá igual sentido diminutivo, porquanto tais palitos têm forma de porras minúsculas.

          Como sinônimo chulo de esperma, porra advirá do latim “porrata”, sopa engrossada por cereal, do que resultaram, em francês, “poree”, que originou “purée”, portugalizada no Brasil como pirê ou purê.

          Em estilística, há cacófacton em palavras cuja postumeira sílaba seja “por” ou a proposição “por”, seguida de palavra iniciada pela sílaba “ra”: por razões > porra zões; por ratos > porra tos; normalmente, contudo, prolatamos separadamente “por” da palavra seguinte, em vez de unirmo-las, o que elide a cacofonia.

          Algumas pessoas, de mentalidade maliciosa e em cujo léxico certas palavras têm acepção torpe em lugar da respeitável, pensam naquela e não nesta, o que vem produzindo alterações no vocabulário circulante. É o caso da errada expressão (bandeira a) meia-haste, em lugar do correto meio-pau; jornalistas e não somente julgam que em meio-pau é como se disséssemos meio-pênis (o que me parece bastante ridículo). Também é o caso de “cordas vocais” em lugar do escorreito nome “pregas vocais”, que alguns maliciosos evitam, pois em chulo “pregas” indica o esfíncter anal (ânus).

          Usemos, sem constrangimentos e com mente pura, meio-pau e pregas vocais.

          A expressão “Em Roma como os romanos” significa: em Roma, faça como os romanos fazem ou seja como os romanos são; em Roma, adote os usos dos romanos; em sentido genérico, exprime: adote os usos da terra em que se encontra. É aforismo português equivalente: “Para a terra onde fores viver, faz como vires fazer” e a “Em Roma, sê como os romanos”.

          No provérbio “Em Roma como os romanos” o verbo, elíptico, é ser ou fazer (seja como os romanos ou faça como os romanos); não há o verbo comer, não se diz “Em Roma, eu como os romanos”, em que ele teria sentido chulo, de possuir sexualmente.

Fazer nas coxas.

          Sabei vós que as telhas goivas não eram “feitas nas coxas” de ninguém: “fazer nas coxas” é praticar coito interfemural ou intercrural, penetrar o falo entre as coxas de mulher ou de homem, como os gregos praticavam entre o erastes e o erômenos, isto é, entre o rapaz mais velho e o mais moço, em relação pederástica, isto é, na relação em que o mais velho tinha o mais moço sob sua amizade pedagógica: eles eram amigos e companheiros, em que o anterior concorria com suas virtudes, seus ensinamentos, seus exemplos, para com a formação do posterior; usualmente, o anterior (mais velho) obtinha consentimento da família do posterior para entre eles entabular-se a relação pederástica. No século V antes da era comum, Platão e outros recomendavam a pederastia (em sentido grego) como elemento da boa formação do jovem grego. A pederastia grega nada tem que ver com o que hodiernamente se veio a entender por ela, isto é, atração puramente sexual de homens por homens.

Entre erastes e erômenos não se praticava pigismo (coito anal), senão coito intercrural ou interfemural. Já beijo grego é sinônimo de anilíngua, tateamento do ânus com a língua.

          É mito o de que as telhas goivas eram fabricadas com o uso das coxas humanas a modo de formas. Provavelmente de que se “fizesse nas coxas” como método anticoncepcional e se empregasse tal locução, alguns genitores pudicos terão engenhado a versão fictícia para explicar a seus filhos e a moçoilas virgens que raios era isso, mas os adultos machos bem sabiam o sentido venéreo dessa fórmula. Lembrai-vos de que a sexualidade era tabu em tempos que já lá vão e que as mulheres eram mantidas em estrita ignorância do que se lhe referisse, até vésperas de seu casamento ou até o momento de serem defloradas. Eram outros tempos, e outros os mores de nossos maiores.

          Fazer nas coxas, hodiernamente, é sinônimo de achavascar, fazer malfeito.

Ungido do senhor.

          Já aquela cousa de “ungido” do senhor” é metáfora de manstrupação. Perdeu-se o sentido primevo de untar, ungir, o pênis com azeite para friccioná-lo e incorporou-se à religião a ideia da unção na pessoa do salvador que passou a ser o “ungido”. O “ungido do senhor” equivale a “pinto azeitado para ser masturbado”. O cristianismo incorporou quase tudo quanto havia nos ritos anteriores a si ou a si coevos, e adaptou-os, cristianizou-os. Conquanto não haja criado santo do pinto, isto é, embora haja repelido Priapo, tomou como sua a ideia, de matriz feiticista, do azeitamento das pedras, que passou a ser símbolo do azeitamento, entre judeus, do pinto circuncidado para ser manstrupado, que se converteu na unção do messias. Há quem me duvide; ide vós por mim que sei que vos digo.

Educação lingüística.

          Um pouco de educação lingüística e de despornificação do léxico.

          A virtude desse glossário está em que podereis vós vos referir às ações e às partes anatômicas com léxico respeitável, sem lançar mão de tabuísmos, isto é, de palavreado torpe. Podemos falar das cousas da sexualidade, com naturalidade e sem baixeza, para o que é útil saber exprimirmo-nos; o desconhecimento do léxico próprio em sexualidade resulta na criação de sucedâneos lingüísticos, palavreado mormente metafórico e usualmente chulo.

Manstrupação = masturbação, do verbo manstrupar; bronha é tabuísmo (vulgo bater punheta, do verbo empunhar; julgo que bater punheta ou tocar punheta é coloquial sem ser tabuísmo). [Quem não encontrou manstrupação em dicionário, procure um melhor].

Punheteiro: quem se masturba assaz (será coloquial sem ser, penso eu, tabuísmo).

Pênis = cauda, rabo, em latim; pinto; pila em Portugal (membro viril é circunlóquio eufemístico, de que podemos prescindir).

Pinto = pênis (pinto é coloquial sem, penso eu, ser tabuísmo).

Mentula = pinto, em latim.

Falo = pinto ereto.

Itifálico = o que diz respeito ao pinto ereto.

Itifalofobia = recusa do pênis ereto, de vê-lo assim, de representá-lo assim. Os meios naturistas (em que se está nu) são itifalofóbicos, porquanto entre eles a ereção é ofensiva e proibida, máxime perante mulheres. Entre gregos antigos, era ofensivo ostentar ereção (ostentar transcende tê-la) e apresentar-se de prepúcio arregaçado, embora a nudez total fosse-lhes perfeitamente trivial.

Felação = succionamento, lambeção do falo (vulgo boquete); verbo felar.

Pigismo ou pedicação = coito anal.

Praticar pigismo em homem ou mulher = sodomizar.

Anilígua, beijo grego = lambedura ou acariciamento do ânus com a língua.

Cunilíngua = lambedura ou acariciamento da vulva com a língua (do latim “cunnus”, que originou cona = vulva).

Priapo = deus da ereção (sem equivalente no cristianismo).

Apelo (é) = homem circuncidado ou destituído de prepúcio.

Fanado = circuncidado.

Escroto = bolsa que contém os testículos (em tabuísmo = saco). Na expressão “encher o saco”, o saco é, metaforicamente, saco em que se põe as contrariedades, as zangas; não designa o escroto, conquanto o vulgo, erroneamente, pense em contrário. Na locução puxa-saco, o saco era bolsa de couro em que, nos exércitos, se punham ordens escritas e outros papéis, que o estafeta levava de seu emissor para seu destinatário; não designa o escroto). Escroto tornou-se palavrão; devemos usá-lo como nome anatômico apenas; como circunlóquio, alguns dizem bolsa escrotal, o que é perissológico (diz-se com mais palavras o que podemos dizer com menos).

Testículos = também podeis chamá-los grãos.

Seios = cavidades ósseas, espaço entre as mamas; os órgãos alimentares das mulheres chamam-se mamas.

Vulva = o conjunto dos órgãos sexuais femininos externos (com sinônimos chulos).

Rapariga = feminino de rapaz (não é sinônimo geral de prostituta).

Copular = juntar, unir; por extensão: manter relação sexual.

Coito = relação sexual.

Dildo = estrangeirismo equivalente ao castiço consolo de viúva (por abreviação: consolo).

Camisinha = nome popular de camisa de vênus (“condom” em francês).

Fricação ou frictação = prática lésbica em que a mulher fricciona a vulva da companheira com a coxa.

Fricatriz = mulher que pratica fricação.

Pudenda = em latim, nome dado aos órgãos genitais masculinos ou femininos; de “pudere” = sentir vergonha. Os órgãos genitais são vergonhosos ? Devemos chamá-los pudendos ? Cuido que não; chamemo-los genitália, sem conotação vergonhosa.

Esse post foi publicado em Língua portuguesa, Linguagem, Lugares-comuns de linguagem., Masturbação., Porra, Sexualidade., Vernáculo., Vocabulário. Bookmark o link permanente.

Deixe um comentário