ABRAÇAR
21.XI.2005
Arthur Virmond de Lacerda Neto
Os grandes pensamentos provém do coração. Vauvenargues
Dentre as características que individualizam o ser humano e o distinguem dos animais, contam-se o desenvolvimento superior das suas inteligência e afetividade. Mais inteligente de todos os seres vivos, o humano é também o dotado da maior capacidade afetiva, de experimentar sentimentos e de exprimi-los, tanto os maus quanto os bons.
São maus a inveja, a possessividade, o ciúme, o ódio, o ressentimento, a zanga, a animadversão, a antipatia, o desprezo, a altanaria, a vaidade, a intolerância, a prepotência, a indiferença. Todos eles provocam, em graus diversos, alguma espécie de sofrimento no nosso semelhante e identificam-se na sua comum atitude negativa face a ele.
Por outro lado, há o carinho, a bondade, a admiração, a veneração, a ternura, a paciência, a compaixão, a tolerância, a fraternidade, o desprendimento, a solidariedade, o preocupar-se com os outros. Todos eles propiciam, em medidas várias, algum tipo de conforto no nosso semelhante e caracterizam-se pela sua comum atitude positiva acerca dele.
No caso dos bons sentimentos, predomina o altruísmo; no caso dos maus, o egoísmo: naqueles, achamo-nos com o outro, somos nós mais o outro; nestes, achamo-nos sem o outro, apesar dele, mesmo contra ele, somos nós menos o outro. Aqueles aproximam e unem, estes, afastam e dividem; aqueles felicitam o nosso semelhante, estes, infelicitam-no ou, quando menos, não o felicitam e possivelmente infelicitam-nos a nós.
Assim como há variações de temperamento entre as pessoas, as há também de afetividade: cada pessoa encarna um sistema de sentimentos em que os bons e os maus combinam-se em diferentes proporções e verificam-se em diferentes situações.
Entre uns e outros, são preferíveis os bons. Porém adotá-los apenas, não basta: é preciso também exprimi-los: uma sensibilidade que não se confessa, do ponto de vista do nosso semelhante, é uma sensibilidade inexistente.
Um dos aspectos da diversidade entre as pessoas, corresponde às múltiplas formas como elas exprimem-se afetivamente, desde quantas, por timidez ou por temperamento, contém-se e ocultam os seus sentimentos, até quantas exteriorizam-nos.
Há vários modos de exteriorização dos bons sentimentos: algumas pessoas preferem presentear; outras, visitar, telefonar, parabenizar no natalício; outras, enviar cartões de final de ano. Outras (os casais apaixonados) dão-se as mãos, beijam-se, recostam-se um no outro e deixam-se ficar assim, em silêncio: não precisam de mais.
Algumas, abraçam: abraçar corresponde ao gesto, físico e afetivo, de aproximação: peito contra peito é o mesmo que coração junto de coração; são duas afetividades que se confessam, dois corpos que se tocam, duas emoções que se partilha.
Muitas vezes, as pessoas estão carentes: necessitam de atenção, de afeição, de carinho, e não os tem, não os recebem, amargam-lhes a falta, sentem-se mal por isto, o que lhes chega mesmo a provocar alterações orgânicas: o físico padece quando sofre o moral.
O abraço corresponde a um gesto de carinho, a uma externização de afetividade. É natural, é normal, sobretudo é humano e principalmente é bom. Abraçar é bom, provoca uma sensação de prazer emocional e de conforto psicológico e mesmo físico: o organismo beneficia-se quando experimentamos boas emoções.
Alguns, eventual e infelizmente, confundem o abraço com inclinações homossexuais, motivo porque evitam abraçar e desgostam-se quando são abraçados: trata-se de um preconceito profundamente desumano e nocivo, que dificulta a expressão afetiva e, portanto, inibe uma forma de felicitar-se as pessoas.
Quem abraça quer bem, confessa amizade, solidariedade, compreensão, perdão, carinho, amor, bondade. Tudo isto é bom e é bom manifestar tudo isto e ser objeto disto tudo.
É bonito abraçarem-se pais e filhos, pais entre si, irmãos entre si, amigos entre si, estranhos entre si, porque é bonito uma pessoa abraçar outra, como é bonito, e humano, tratarem-se carinhosamente as pessoas, por gestos e palavras.