CARA, GAJO, MEU, MANO, MOÇO, SENHOR, SENHORA, VOCÊ, TU, PRENOME.

A grosseria de comportamentos nota-se também nos vocativos barbarescos que certa gente emprega; a polidez de comportamentos nota-se também nos vocativos educados de que outra gente se serve:

1. Cara. Em coloquial muito rasteiro, significa sujeito, indivíduo, tipo, pessoa. Educadamente dizemos: sujeito, indivíduo, tipo, pessoa, gajo. É grosseiro, reles.

Em anos recentes, o vocabulário das moças de classe média acadelou-se e muitas delas tratam-se entre si por “cara”. Que lá entre si se tratem assim, é problema delas ; serve como índice do prevalecimento do vil, do grosseiro, em certo meio feminino.

2. Gajo, correntio em Portugal, usável corretamente no Brasil, também é lá coloquial, porém não reles como “cara”. Em Portugal, pode ser pejorativo (astuto, finório, velhaco), porém não necessariamente; se calhar [talvez] já não o é desde pelo menos os anos 1990.

Latudinária e quase metaforicamente: gajo como rapaz, namorado, derriço, marido.

Corretamente:

Ó, meu gajo… anda cá ! [Esta tem de ser escutada para se lhe notar o tom, que pode ser imperativo ou melodioso; só a emprego melodiosamente, à portuguesa, porquanto nela tuteio. Note-se a parte final desta publicação.].

O gajo da portaria faltou.

3. Meu: escutei estudantes tratarem-se assim, mui coloquialmente. Que entre si o usem, é lá com eles e não lhes estranha; tratar a outrem assim, revelará deseducação, dependendo do interlocutor (de a quem o aplicamos). É grosseria tratar assim a terceiros em geral; é coisa de gente deseducada.

4. Mano: que certa gente grosseira e por demais informal empregue tal vocativo, está em sua liberdade e no uso entre pares ; tratar assim a outrem, em geral, fora do meio em que tal vocativo é aceitável, é grosseria.

5. Moço: esta de moço é dos usos mais pulhas que se nota no baixo comércio de Curitiba, em que caixeiros tratam todos os homens desse modo, já moços, já anciões. É coisa de gente tosca. “Todo o mundo usa” : “todo o mundo” menos educado.

6. Você: entre brasileiros, é correntio você, usual entre iguais, de mais velhos para mais moços, de mais moços para velhos que dispensam tratamento de senhor/senhora, em dados ambientes laborais cuja política é de igualdade. Em Portugal, é grosseiro (prefere-se e prefira-se o prenome na terceira pessoa [veja o número 7]).

Em Portugal “você” é geralmente linguagem vil e vitanda (evita-se), embora na obra de Eça de Queiroz figure, na classe média média e média alta, entre amigos (“Os Maias”).

7. Senhor/senhora: é educado, é respeitoso, cai bem da parte dos mais moços para com os mais velhos, assim como profissionalmente, se não houver liberdade de usar você, e entre quem não tem liberdade de tratar por você.

Alguns respondem: “Me chama de você; o senhor está no céu” : são negadores de sua idade, que dissimulam pelo vocativo supostamente rejuvenescedor. Tal tipo de pedido revela o estado infantil de quem o formula, infelizmente encontradiço neste país, em que juventude é valor, em lugar de ser apenas fase da vida.

8. Prenome como vocativo: é bom uso o de nos referirmos ao interlocutor por seu prenome, como se de terceira pessoa. Por exemplos: Arthur diz a Godofredo:

Quando o Godofredo veio cá morar […].

Arthur a Vasco:

Quando vi o Vasco pela segunda vez, meu radar apitou.

9. Artigos definidos o, os, a, as, denotam familiaridade: “o Henrique” indica familiaridade, liberdade, com Henrique; “Henrique”, sem “o”, revela ausência de familiaridade e liberdade. Não devemos tomar liberdade com quem a não temos, caso em que se evita o artigo “o”.

Em relações profissionais, entre estranhos, diz-se o prenome sem artigo (Miguel chegou; Joana telefonou-lhe; não: o Miguel; a Joana).

10. Tu denota familiaridade, intimidade, afeto. No Rio Grande do Sul é usual entre as pessoas em geral; em Portugal exprime estilo afetivo: tuteiam-se pais e filhos, amigos, cônjuges, amigos; não se tuteiam estranhos nem gente de cerimônia.

Mostruário :

Dize-me que sim, não me digas que não, diz-me que vens. [Note o imperativo afirmativo “diz”, “dize”; o imperativo negativo “digas”].

Tu nunca te sintas sozinho, tu não estás sozinho, entendes ? Quero-te muito.

Tu não me respondeste… tu andas brabinho… ai, que já te adoço… [Esta tem de ser escutada para se lhe notar o tom].

Sou babado por ti e pelos outros dois.

Trata-os com carinho, não lhes ocultes o que sentes por eles; sê-lhes sincero.

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