Tolices lingüísticas.

TOLICES LINGÜÍSTICAS.
1) “Português é difícil”. Português parece difícil para quem o sabe mal e usa-o mal. Uma vez que se lhe entenda a lógica dos pronomes, das preposições, dos tempos verbais, dos afixos, ele se torna fácil e compreensível.

2) “Isto não se usa mais” ou “é arcaísmo”. Dada palavra, preposição, locução correu mais antanho e não se usa no presente: não se usa significa apenas que as pessoas não se lembram dela, não a conhecem, mas ela é usável em qualquer momento por quem queira usá-la. “Não se usa” NÃO significa “não se deve usar”, “não se pode usar”, “está revogado”. Por exemplo: vós, vosso, digo-vos, podeis, entendereis, quereríes; isto se me dá (importa-me), portas fora, dentro de portas, como quem diz, disse-lho, compro-ta, ensinar-vos-eis.

3) “É lusitanismo”. São lusitanismos palavras ou locuções típicas de Portugal (paragem por parada de ônibus, biberão por mamadeira). Não o são formas do idioma que os portugueses usam e que os brasileiros não usam porque não querem usar ou porque sequer sabem-lhe da existência. Por exemplo: as segundas pessoas (tu vieste, tu foste, vós podeis, agradeço-vos), mesóclise (entender-se-á, vender-se-ia).
E se for lusitanismo, que mal há? Nenhum. É tudo língua portuguesa. E digo mais: SEMPRE que notar diferença entre o uso português e o brasileiro, desconfie do brasileiro.
É lusitanismo “mais do mesmo”, em curso no Brasil. ÓÓÓhhhh !!!!

4) “O importante é se comunicar”. É importante comunicar-se… com precisão, clareza e qualidade. Não basta comunicar-se; há comunicações piores e melhores. A plástica da comunicação influencia-lhe na eficácia: o que se diz corretamente, com propriedade de vocabulário, preposições, tempos, pronomes, permite melhor compreensão, além de ser bonito.
Comunicar-se com qualidade não é fazê-lo pedantemente, com elaboração artificial, senão com correção e riqueza que sejam espontâneas no falante ou no escritor. Espontâneas, aqui, significa que a pessoa incorporou a forma elevada e pratica-a instintivamente.

Leia, leia muito autores brasileiros antigos, como Machado, Alencar, Aluísio de Azevedo, Lima Barreto e tantos outros. Atente em como o vulgo fala, identifique-lhe os cacoetes verbais e evite-os (são prisões idiomáticas, limitam-lhe a capacidade de exprimir-se). Enriqueça seu vocabulário e seus recursos; use-os, orgulhosamente.

Quase tudo que se traduz no Brasil, do inglês, dos anos 1980 para cá, é ruim: os tradutores brasileiros imitam a sintaxe e o vocabulário do inglês. Traduzir não é imitar. Por exemplo: “buscar por”, “procurar por” (“search for”) — em português, é buscar algo, procurar algo.
“Cópia” (“copy”) de livro por exemplar de livro.
“Como um todo” (“as a whole”): a sociedade como um todo — a sociedade por inteiro, toda a sociedade, a sociedade totalmente. “Impacto”: “impact” NÃO significa impacto senão efeito, influência (como a pandemia influencia, o efeito da pandemia, a pandemia afeta as pessoas).

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