(Não é este, porém quase.).
O rapaz de branco.
19.VIII.2019.
Em fins de julho de 2019, visitei João Pessoa. No Centro Cultural José Lins do Rego passei duas ou três horas; é pavilhão coberto, com dois níveis de piso, de que um é maior e elevado; em derredor dele e em piso inferior, acha-se o outro, em uma de cujas extremidades, grupo de seis ou sete rapazes ensaiava coreografia, cujos movimentos repetiram sem-número de vezes, sob o comando de instrutor, que lhes filmava (no seu telemóvel) as execuções e as paralisava sempre que um deles cometia erro, o que ele exibia para o respectivo autor, na filmagem.
Um dos dançarinos vestia camiseta regata, bermuda e chinelos, todos brancos; tinha tez alva e cabelos pretos, tingidos de azul marinho na sua porção superior. Observei-o deliciosamente; ele me viu, porém não reparou em mim.
Era férias e para o Nordeste viajei.
Avião tomei e na Paraíba aterrisei,
interessado em o antigo conhecer
e do passado, as marcas reconhecer.
Ruas, construções, praças, casario,
observei com detenção em clima sem frio.
Cidade era João Pessoa e capital
que calcorreei sozinho, o que me é habitual.
Longínquo do centro, demandei centro cultural,
assim nomeado com alguma ostentação:
era espaçoso e coberto pavilhão;
corria-lhe regato em plano inferior,
gente passeava no chão superior.
Palhaço entretinha infantes,
o que durou prolongados instantes;
senhora, de fantasia, ocupava crianças
a quem ensinava folguedos, artes e danças.
Por lá deambulei até que, à distância,
em grupo atentei: foi-me azada circunstância.
Eram dançarinos que movimentos
ensaiavam com repetidos alentos.
Diretor lhes filmava as execuções
e as paralisava para correções.
Assim foi por mais de hora,
talvez duas, até que cada um se foi embora.
De bastante longe, em um reparei;
a ele atento, deles me apropinqüei.
Era rapaz, de alva tez e negro cabelo
com mechas azuis, tratadas com zelo.
Vestia pouco e tudo alvo, cor da sua pele.
– A mim, pensaria, me impele
a observá-lo e a contemplá-lo.
Assim o fiz: era como se tivesse halo
de atração. De fixá-lo, não me fartei
e por isto, lá bastante continuei.
Estavam todos, para mim, de costas ou de lado;
mal lhes via os rostos: não me pus acabrunhado,
porém o branco moço, de forma outra de mirá-lo gostaria:
face a face, olhos nos olhos: olhar meu, no seu, brilharia.
De relance viu-me e sonegou-me em mim o seu olhar deter.
Não lhe mereci atenção; interesse por mim, não chegou a ter.
Desconheço como se chama e que vida levava;
sei que o vi uma vez só, e dele me lembrava;
que imagem sua, com impressão intensa me marcou;
que marca, com duração me ficou.
Dante uma só vez viu Laura,
que o impressionou. Teria ela semelhante aura ?
Dela, não se esqueceu por toda a vida,
em meio a azáfama e a toda sorte de lida.
Comigo, parecido se passou: foi-me ele marcante
e já me é memória gratificante.
O que nos impressiona, o que nos atrai
em pessoa, é a plástica e o interior. O que nos retrai
de lhe falar, sorrir, acenar, engrupir, é, muita vez,
a introversão ou a timidez.
De inibição, tende escassez:
Avança ! Não te arrependerás
e, quiçá, belo resultado colherás.
Oportunidade, aproveite:
quem o atrai, talvez o aceite.
Belo mancebo, que me desconheces
quisera que me dissesses
o teu nome: fora-me, de ti, outra lembrança.
Desespero, porém, de tal esperança…
Quisera que, naquele dia, naquela tarde
notasses que eu em ti reparava, sem alarde,
que sobre ti lançava olhares e te contemplava.
Se me fitasses, se me notasses, eu já feliz ficava.
Não foi assim, porém o pouco que foi, foi-me belo:
ver-te forma, cor, traços, modos – tudo em jeito de elo
entre a tua imagem e a minha memória,
entre o que és e o que é a minha história.
Lá onde estiveres, tu que estavas de branco,
lá onde viveres (sou-te franco),
lá o que fizeres, atraente rapaz,
que sejas feliz e tenhas constante paz.
Devaneio acalento
no meu livre pensamento:
o de, um dia, em algum momento,
reencontrar-te, surpreender-te,
talvez alegrar-te e exclamar-te:
–Oh ! Eras tu aquele mancebo
de branco; imagem tua ainda concebo.
Alegra-me rever-te; és-me visão amorável,
doce fonte de recordação adorável.
Se alguém, em João Pessoa conhecer o rapaz, agradeço que o avise desta postagem; se ele a ler, ficarei feliz se ele deixar as suas impressões na caixa de comentários. Também pode entrar-me em contacto por arthurlacerda@onda.com.br .