Beijou-me bocalmente.

                           

                                           BEIJOU-ME BOCALMENTE.

Arthur Virmond de Lacerda Neto.

10 de outubro de 2016.

Em relação a costumes, alinho-me com a liberdade de ser, de estar, de exprimir-se (limitada pelo prejuízo a terceiros, na lição dos romanos e de Stuart Mill). É deste lado que me encontro, e no oposto ao dos tabus e das caretices, notadamente de matriz religiosa.

Igualdade de gênero, cultura do corpo livre, nudez natural, homoafetividade, poliamor, liberdade de ser, de estar, de exprimir-se (limitada pelo prejuízo a terceiros), feminismo, Positivismo, humanismo, ateísmo, adiro-lhes. Machismo, violência, pudor (vergonha do corpo), gimnofobia (recusa da nudez), misofalia (ocultação do pênis), homofobia, desigualdade de gênero, fiscalização da vida alheia, repressão da sexualidade, teologia, cristianismo, seitas evangélicas, antagonizo-lhes.

Comprazo-me em narrar certas cenas a que assisto ou que protagonizo, como sinal dos tempos, para ensinança dos meus coevos e testemunho para os vindouros.

Apraz-me avaliar ações e reações dos partícipes do que narro e dos meus ouvintes. Considero expectável a compreensão dos de mente aberta e a reprovação dos caretas.

Deu-se, e narro: indivíduo calcorreava a rua Manoel Ribas na cidade de pior clima da Terra (Curitiba). Em sentido oposto apropinqüava-se rapaz, que o viu. Ao vê-lo, o rapaz exclamou:
-Que bonito !

O indivíduo, que fala com estranhos (cousa aberrante para curitibanos, gente mais estranha da Terra), respondeu-lhe, jovialmente:
-Oiiii ! Você também !

O rapaz aproximou-se dele e o beijou na boca, em público e sem mais cerimônias. O indivíduo deixou-se beijar, com aprazimento seu.

Narrei esta cena (por observação psicológica das reações dos ouvintes) a uma moça (Francine), que vibrou com a expressão, desinibida, do afeto em público; rapaz a quem a narrei (Felipe), sorriu largamente: ambos jovens de mente aberta. A moça ponderou-me que quem se sente incomodado, que cuide da sua vida (ao invés de se ocupar com a alheia, adiciono).

Narrasse eu a cena a velhos (geração em extinção) e (com exceções) a evangélicos de todas as idades (gente em proliferação), decerto repugnar-se-iam da impudicícia do beijador, da luxúria do beijado, da depravação dos costumes, da exposição pública; temeriam pelas crianças, pela desestruturação da família tradicional, pelo fim dos tempos; indignar-se-iam por ninguém ser obrigado a ver cenas que tais etc..

Cada um reage conforme a sua cosmovisão, o seu sistema de valores, os seus preconceitos, a sua religião ou a sua laicidade, a sua compreensão do humano ou os seus preconceitos anti-humanos.

Já exprimi por que lado optei: pelo da liberdade, e ao lado de que tipo de gente me posiciono: dos de mente aberta e libertários. Cuide cada um da sua boca ao invés de se preocupar com a alheia. E o rapaz que beijou, que beije mais !

Ocorreu em setembro de 2016 e o beijado fui eu.

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Vem, mancebo alado, que amor não é pecado ! Carne morena, rosa de lume, toda perfume !

Na parada lgtb de 2016, de Curitiba (em 13 de novembro),  um rapaz viu-me. Aproximou-se de mim, em silêncio. Fitava-me, olhos nos olhos. Aproximou-se ainda mais, em silêncio. Beijou-me nos lábios. E proferiu-me palavra, uma só:

-Quero.

O que quis, teve.

 

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