Usar o Português

                         

          

                                                                       Usar o Português

 

                                                                                       22.XI.2009

                                                                                              Arthur Virmond de Lacerda Neto

                                                                                              arthurlacerda@onda.com.br

 

            Existe, da parte de muitos brasileiros, o costume de usarem termos em inglês, para designar objetos, ações e qualidades, ao invés de empregarem os equivalentes em português. Em lugar, por exemplo, de dizerem prospecto, dizem “folder”; preferem “flyer” a folheto e “cawboy” a vaqueiro; designam-se bares e boates com nomes em inglês; algumas lojas promovem “liquidaziones”, com ” tantos % off”.  Recentemente, introduziu-se “bulling”, vale dizer, maus-tratos. Certas palavras, de importação norteamericana, imitadas servilmente entre nós, resultam em ridicularias, à exemplo de “inicializar”, “visualizar”, roupa “básica” (do inglês “basic”, por roupa lisa) e roupa “casual” (do inglês “casual”, por roupa informal). Nem é preciso mencionar “gay”, por fanchono ou, para aportuguesar, guei.

            Necessidade do uso dos americanismos (e dos estrangeirismos em geral), não há nenhuma. Nenhum termo estrangeiro corresponde à forma única e exclusiva de designar o significado respectivo, quero dizer, sempre se pode adotar um equivalente em vernáculo.

            A língua portuguesa é rica, nos seus mais de setenta mil vocábulos; é rica, também, na possibilidade de se criarem neologismos, com prefixos e sufixos gregos e latinos e na de se adaptarem estrangeirismos, aportuguesando-os, ou seja, adaptando-os ao feitio do nosso idioma.

            A chamada globalização não é concausa do uso dos estrangeirismos: ela, apenas,  cria-lhes a ocasião, a circunstância que a facilita, sendo as suas causas verdadeiras, a pobreza vocabular de quem os emprega, o desinteresse por adotar soluções em português, a suposta sofisticação dos vocábulos em inglês. Certos brasileiros, havendo viajado ao exterior, desejam, de alguma forma, induzir uma impressão de civilização superior nos consumidores: daí o apelo comercial dos americanismos, em que funciona um certo complexo de inferioridade dos brasileiros em face do estrangeiro.

             Trata-se, em suma, de uma mentalidade, em que  se desvalorizam o conhecimento e o cultivo da língua pátria. Não admira que assim seja, em virtude da ideologia, presente nas escolas e universidades e professada pelos docentes, de que a gramática equivalendo a uma forma de dominação, dos ricos e burgueses, sobre os pobres e trabalhadores, o desprezo pela norma culta corresponde a uma libertação.

             Falar mal, coloquialmente, tornou-se uma forma, ideológica, de identificação com os “excluídos”. A isto, também, chama-se de marxismo cultural, a expressão, na cultura, dos princípios anticapitalistas e antiburgueses da ideologia concebida por Carlos Marx.

            O resultado desta mentalidade observa-se no empobrecimento da forma falada do português no Brasil, na sua simplificação crescente, na perda do seus mais variados recursos. O brasileiro já não sabe os plurais e usa todos os verbos no singular: eu é, é nós; acabou as férias; veio dois. Somos um povo que sabe mal a sua língua, que a fala mal, que a polui com estrangeirismos e cujo pessoal acadêmico professa o ódio à gramática e o desprezo pela norma culta como princípio filosófico e os transmitem aos estudantes.

            É natural que um povo que desdenha do seu idioma se torne vulnerável a todos os estrangeirismos, em especial aos originários da língua inglesa. Tal mentalidade se agrava com a convicção,  verdadeiramente infantil, de que os nomes em inglês atribuem sofisticação aos estabelecimentos que nominam: daí os edifícios, as lojas, os restaurantes, os boteqins, as casas noturnas, designados em inglês. É como se  os serviços e os produtos do estabelecimento designado em inglês adquirissem uma qualidade superior a que ofereceriam, se o fosse em Português: há um misticismo perfeitamente irracional e que contém uma parcela de ostentação, de valorização da aparência, em detrimento do conteúdo, mais  presente, alías, em Curitiba, do que em outras cidades do Brasil.

            Todo idioma recebe importações; os vocábulos circulam de uns para outros, o que, todavia, não justifica a adoção de estrangeirismos, fora de qualquer critério, passivamente, sem um mínimo de avaliação crítica da sua necessidade, da sua oportunidade e, sobretudo, da possibilidade da adoção de um equivalente em Português.

              Os estrangeirismos circulam porque as pessoas os usam; porque lhes falta, a elas, consciência de que a língua pátria pode (e deve) corresponder a um valor;  de que constitui um patrimônio riquíssimo, que  dispõe de abundantes recursos, que podemos (e devemos) empregar.

         Saber bem o Português e empregar o que se sabe, é engrandecedor; é cafona poluí-lo com estrangeirismos desnecessários; é lamentável empobrecê-lo devido ao seu desconhecimento e é vergonhoso usá-lo com desleixo e preguiça.           

             (Sintoma do complexo de inferioridade do curitibano, especialmente ridículo, foi a iniciativa dos comerciantes, de posporem ao nome de alguns bairros de Curitiba o nome, londrino, de Soho: Batel Soho, Cabral Soho. Perderam a noção de limite e o mais mínimo bom senso).

 

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4 respostas para Usar o Português

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