Tolstói homossexual

Tolstói homossexual

2011

 

                                                       Arthur Virmond de Lacerda Neto

                                arthurlacerda@onda.com.br

            O conde Leão Tolstói nasceu na Rússia, em 1828, e lá morreu em 1910. Corresponde a um dos expoentes das literaturas mundial e russa, como autor de inúmeros  romances, dentre os quais “Guerra e Paz”, que focaliza a invasão da Rússia pelo exército de Napoleão, e “Ana Karênina         “, que retrata os costumes da sociedade russa do seu tempo.

Já mundialmente famoso,  em certa altura da sua vida, passou Tolstói  por uma transformação no seu entendimento da vida e do papel do ser humano: adotou um cristianismo à sua maneira, em que recusava a autoridade da igreja como instituição e alguns dos seus dogmas, que julgava irracionais e destinados a dominar o povo, o que lhe resultou na excomunhão pela igreja ortodoxa, em 1901.

Recusava também a autoridade dos governos e criticava a propriedade privada, ao mesmo tempo em que condenava toda violência como forma de solucionarem-se os problemas quaisquer, da política interna ou internacional. No âmbito do seu pacifismo, correspondeu-se com Mahatma Gandi, igualmente adepto da não-violência e a quem influenciou.

Resignou dos direitos autorais relativos às suas obras, tornou-se vegetariano, abandonou o tabagismo e as bebidas etílicas e, convencido de que não se deve depender do trabalho alheio, ele próprio limpava os seus aposentos e produzia a sua farpela e as suas botas.

A difusão do seu ideário, por meio de panfletos, ensaios e peças teatrais suscitou a apreensão do governo, que o submeteu à observação pela polícia e angariou-lhe incontáveis admiradores e adeptos, os chamados tolstoianos, dos quais vários sofreram o exílio, por haverem se tornado importunos aos poderes constituídos.

Aos 82 anos de idade, abandonou o seu lar, para livrar-se da insistência da sua mulher e dos seus filhos, por luxos e riquezas. Foi quando adquiriu uma pneumonia, de que pereceu na estação ferroviária de Astapovo. A sua morte foi noticiada pelo mundo afora.

Redigiu memórias das suas infância, adolescência e juventude, publicadas no Brasil em 1944, que se lêm com prazer e em que há referências a um seu amigo de infância, Sérgio Ivine, a respeito de quem ele escreveu: “Desde o primeiro dia, a sua beleza original me impressionou muito e senti por ele, imediatamente, uma simpatia irresistível. Olhá-lo, simplesmente, bastava para me fazer feliz […] Quando me acontecia não o ver durante dois ou três dias, aborrecia-me, e ficava triste, de chorar.”

Linhas adiante, menciona a “atração apaixonada” que Sérgio Ivine lhe inspirava e a “afeição que por ele eu sentia – marca distintiva e invariável do amor”.

Posteriormente, interrogar-se-ia: “Como é que pude amar a Serioja [hipocorístico de Sérgio] durante tanto tempo e com tanta intensidade?”

Anos mais tarde, já estudante universitário, foi invitado, com cerca de outros vinte rapazes, a uma festa, em casa de um barão, também estudante. Dela, Tolstói rememora: “Não me recordo mais como se encadearam as cousas, mas sei que nessa noite admirei muitíssimo o estudante de Derpt e Frost, aprendi de cor uma canção alemã e lhes beijei os lábios açucarados”.

Devido, certamente, à mentalidade que então prevalecia, de repressão à sexualidade em geral, a homossexualidade de Tolstói não se desenvolveu. Ao contrário, adotou ele uma vida convencional, ao constituir família, embora nos seus livros “Os cossacos” e “Ana Karênina” figurem passagens de atração homoafetiva.

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