“Ditadura à brasileira” e o Positivismo.

De Marco Antonio Villa, “Ditadura à brasileira”(editora Leya, 2015) analisa o regime militar brasileiro de 1964 a 1985, que pretende desmisfiticar, contudo mantém-lhe um mito, o de que o autoritarismo da fase em questão deve-se ao Positivismo.

Até quando, ó historiadores, abusareis da paciência da verdade histórica?

Olavo de Carvalho, Lelita Benoît, Leandro Karnal e agora, Marco Antonio Villa. Mas não me fica sem retificações. Apontamentos meus, a propósito, aqui. (Mas Olavo e Lelita são péssimos, acerca do Positivismo; profliguei-os no meu “A desinformação anti-Positivista no Brasil. A Karnal respondi neste blogue).

Reproduzo, abaixo, o texto que postei no meu blogue positivismodeacomte.wordpress.com:

“Ditadura à brasileira”, de Marco Antonio Villa (editora Leya, 2015) ocupa-se do regime militar brasileiro de 1964 a 1985. Pretende “desmistificar” tal período, tão caluniado entre nós. Contudo, mantém e veicula um mito, o de que o autoritarismo do período que analisa deveu-se ao Positivismo (p. 377-8).
Nada mais falso e nada mais fácil do que associar o Positivismo, presente no Exército nos fins do império, com o regime militar, setenta anos depois. Porém é relação que nenhum pesquisador demonstra, que nenhum fato comprova, que nenhum ator histórico confirma. Nenhuma linha de pensamento positivista se encontrava nos militares de 1964 a 1985, exceto a do ministro da Marinha, Ernesto de Mello Baptista, que pouco durou, e a do general Pery Bevilacqua que, ministro do Supremo Tribunal Militar, foi cassado. Um positivista cassado pelo regime militar!
J. M. de Carvalho, no capítulo da sua autoria em “O Brasil republicano”, número 3 da História Geral da Civilização Brasileira demonstra que a ideologia do exército interventor, tutor da sociedade civil, proveio dos Jovens Turcos e não dos positivistas, e que os homens de 1964 eram alheios ao Positivismo.

 
No meu “A desinformação anti-Positivista no Brasil” (reunido no mesmo volume de Pequena história da desinformação, de V.Volkoff; encontra-se na Estante Virtual pelo nome de Pequena história da desinformação) desfaço o mito a que M. A. Villa adere. Reproduzo-o, na ligação abaixo, no seu item II: https://positivismodeacomte.wordpress.com/2011/06/20/a-desinformacao-anti-positivista-no-brasil/.

 
“Ditadura à brasileira” não demonstra nenhuma relação entre Positivismo e as medidas autoritárias do regime de 1964; limita-se a imputar-lhas e a citar, nas conclusões, trecho de Cruz Costa, inócuo como demonstração seja lá do que for. Citou de segunda mão o que Cruz Costa (que se comprazia em ironizar o Positivismo) disse, porém não se deu ao trabalho de investigar o próprio Positivismo, no seu ideário político e no seu amor pelas liberdades.
Cita, também, declarações de um dos presidentes-generais que elogia … Oliveira Vianna e não Comte. Não se compreende como se irroga ao Positivismo a culpa pelo autoritarismo, mercê da confissão de um autoritário de que se convenceu de autor outro que Comte.
Marco Antonio Villa ignora (no seu livro) inteiramente, a sistemática positivista, de liberdades civis e políticas, a participação da opinião pública na formulação das leis, as críticas dos próprios positivistas ao autoritarismo do regime; a invasão do Clube Positivista no RJ, durante o período militar; a refutação, dos próprios positivistas, da associação entre Positivismo e o regime militar. Desconhece as asserções explícitas de Teixeira Mendes em prol da liberdade como inerente ao republicanismo positivista. Em suma, a associação em causa é lendária, fabulosa, mítica, repetida pelos mal informados e, neste ponto, infelizmente, o seu livro limitou-se a reproduzir um lugar-comum.
Há também textos esclarecedores de Gustavo Biscaia de Lacerda, disponíveis na rede.
No ponto em questão, “Ditadura à brasileira” merece nova edição com a revisão radical da erronia que propala. Se não é erronia, no mínimo, carece de exame cuidadoso ao invés de asserção categórica e tosca, com que fortaleceu um mito acerca de 1964.
No mínimo, Marco Villa deveria haver consultado a “História do Positivismo no Brasil”, de Ivan Lins; “A república positivista”, da minha autoria e a “A desinformação anti-Positivista no Brasil”, também da minha autoria; “O ideal republicano de Benjamin Constant”. Nenhum deles nem nenhum estudioso do Positivismo nem o próprio Comte figura na sua bibliografia. O resultado foi o que foi: a reiteração do senso comum, a repetição do erro, a manutenção da ignorância, o que amesquinhou intelectualmente livro que me parece interessante.
Da sua redação coloquial por demais e, por isto, pobre esteticamente, rasa como execução literária, escusa frisar que poderia ter feito melhor.

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