O homem vulgar bosteja nas redes sociais.

 

O HOMEM VULGAR BOSTEJA NAS REDES SOCIAIS.

É cediço que a maioria das pessoas pensa por senso comum, sabe por senso comum, discute por senso comum. Também é cediço que o bom senso é rareia; outra verdade (que Umberto Eco denunciou ao dizer que nas redes sociais exprimem-se “sete bilhões de imbecis”) é a de que a maioria dos intervenientes nas redes diz do que ignora, do que sabe pouco, do que sabe mal; a maioria fala sem conhecimento de causa, sem reflexão, sem bom senso, sem perspicácia, sem argúcia. Já Augusto Comte alarmava-se com que abundante gente “decide em sociologia sem saber matemática”, mal que despontou com a liberdade de consciência irresponsável, inovação do protestantismo e mal nacional dos franceses, no século 16.

As tolices compreendem todas as matérias, desde a função dos léxicos até educação de filhos (alguns pensam, por exemplo, que os dicionários abonam as palavras.).

O mal não está apenas em o ignorante pronunciar-se ignorantemente: também está em haver ignorantes e em eles não saberem calar-se. Daí a profusão de asneiras que se lê, nas redes, sobre todos os temas, triste revelação da estreiteza mental de muitos. É o que Ortega y Gasset apontava no seu clássico “A rebelião das massas”, como defeito do homem-massa.

Augusto Comte, Umberto Eco e Ortega y Gasset eram homens cultíssimos (talvez não tanto o segundo); era superioridades, pela sua erudição, pela sua perspicácia, pela sua percepção da diferença entre o vulgo e o culto. Não suportariam as redes sociais.

Sintoma da profusão de superficialidade com que as pessoas ajuizam, no Brasil, é o uso do verbo “achar”: as pessoas “acham”. Ninguém tem de achar nada; tem-se de saber. Saber equivale a ler pelo menos dois livros sobre o tema em questão ou, pelo menos, material confiável e que propicie um mínimo de 1) conhecimento e de 2) entendimento.

Eis também porque me repugna disputar: pego mais um livro e vou lê-lo, o que me protege de asneirar e de julgar que tudo sei, ao passo que o ignorante ignora a própria ignorância e pretende ter opiniões e formular juízos, sem estar preparado para fazê-lo, com propriedade.

Também importa avaliar as coisas com imparcialidade, com isenção, com reflexão; saber cambiar de juízo. É valiosa a perspicácia espontânea, atributo inato, de que alguns são mais dotados do que outros.

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