Matança de índios no Brasil ?

                                  MATANÇA DE ÍNDIOS NO BRASIL ?

                                                                       Arthur Virmond de Lacerda Neto 11.2.2021.

            Jamais foi propósito oficial nem política da coroa portuguesa o de exterminar os autóctones do Brasil, diferentemente da política dos Estados Unidos da América, em que se esforçou por eliminá-los e ocupar-se-lhes as terras à força.

            No Brasil, antes de tudo o português miscigenou-se com negras e índias, em sua plena aceitação do outro. Eis porque no Brasil não houve crispações étnicas, ao contrário do que se observa em vários pontos da Terra.

            Graças à influência jesuítica, a política oficial da coroa portuguesa foi a de assegurar a liberdade dos indígenas e o respeito para com suas vidas e terras. Em 1711, el-rei D. João V dizia que “o verdadeiro dono da terra é o índio”.

            Os índios criaram o tabagismo, que se inveterou nas sociedades brancas como fumo de cigarros e afins. Por contaminação, eles transmitiram bouba, sífilis e oxoriuse aos brancos e que causaram epidemias na Europa, onde infectaram e mataram milhares de brancos.

            Tem grande difusão matéria, na rede, de que os goitacazes foram exterminados por contaminação adredemente praticada pelos portugueses. Sirva de exemplo de que matérias acusadoras e denunciadoras dos brancos, europeus, portugueses, gozam de pronta e calorosa receptividade, porém ninguém lhes liga nenhumas se expõem a atitude protetora da coroa portuguesa, os ódios e guerras das tribos entre si, a amizade de várias tribos para com os portugueses, a miscigenação de portugueses com índios, a participação de mestiços nas bandeiras, o malogro de algumas capitanias devido a ataques indígenas.

            Por que a diferença de receptividade ? Só interessa denunciar, acusar e denegrir ? Não interessa o outro lado, o lado complementar das coisas ?

            Ademais, todo censo da população indígena e de sua mortandade parece-me exagerado e mais do que suspeito: como se pode averiguar a população indígena em 1500? Havia serviços de censo, houve contagem populacional ? Com que fundamento a Funai expõe gráfico segundo o qual de 1500 a 1570 os índios, de 3 milhões, reduziram-se a 250 mil ? Alguém os contou ? A coroa tinha serviço de recenseamento ? Os portugueses eram já tão abundantes, que foram capazes de matar 2 milhões de pessoas, e mais, em 40 anos (de 1531 por diante) ? São estimativas hiperbólicas que convém muito ao espírito de nosso tempo, denunciador, acusador, em que a luta de classes é do ex-colonizado em face do colonizador e a história é o campo da hegemonia da denúncia e da acusação, não o da imparcialidade nem o da pesquisa eqüitativa. A história dos oprimidos, dos fracos, dos índios interessa e há-de contar-se, mas que não seja pretexto para contar-se apenas um lado dos fatos, como já consuetamente faz-se no Brasil.

            Certas narrativas expõem os portugueses como atacantes de tribos indefesas, quando muitas eram violentas e hostis, motivo, aliás, do malogro de algumas capitanias.  Ao mesmo tempo em que tanto se alardeia os tais morticínios, oculta-se (para o grande público) a existência de legislação pró-indigenista, conhecida apenas em livros especializados. Também se omite que os índios foram se miscigenando e integrando às vilas, como se cala (perante o grande público) a persistente ação da coroa portuguesa em baixar legislação asseguradora da liberdade dos índios. Omite-se, por exemplo, o regimento dos índios, de 1562 (se não erro o ano), que atribuía aos indígenas um procurador, assegurava-lhes trabalho remunerado sob contrato, descanso semanal, pagamento igual ao que se contratava com os brancos e recusa de mais trabalhar em caso de inadimplemento do pagamento. Nisto não se fala. Por quê ?

            Também se omite que as tribos eram inimigas umas das outras, entrematavam-se e que as guerras tribais colaboraram para a depopulação indígena.

            É espantoso que, na narrativa denuncista, algumas centenas de portugueses, com a coligação de índios, fossem capazes de perpetrar genocídios em escala nazista. Se os indígenas eram realmente tão abundantes, é possível que houvessem sido exterminados passivamente e inermes ?

            Em senso comum, fala-se em genocídio, matança, extermínio. E as tribos amigas dos portugueses, que com eles coexistiram pacificamente, também foram exterminadas ?

            Tais narrativas, hiperbólicas recordam aliás o estilo de Olavo de Carvalho, em sentido oposto. São histórias muito mal contadas. Em história, é fácil atribuir números de centenas, de miríades, dezenas de miríades, consoante ao gosto do narrador. Não havia contagem populacional de índios; não se enumeraram vivos nem mortos; as contagens são meras estimativas, puro achismo, ainda que doutorais.

            Conte-se a história por inteiro, preferentemente com serenidade.

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Uma resposta para Matança de índios no Brasil ?

  1. loreno zatelli disse:

    Boa noite, Achei muito correto e oportuno este teu artigo, Concordo

    Loreno

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