Bicha e fila, fila e bicha.

Bicha não é forçosamente turpilóquio pejorativo (como sinônimo de viado, homossexual masculino ; paneleiro): também significa arrecadas (brincos), verme intestinal, fêmea de animal. Corrente e moente em Portugal até aos anos 1980, lá prescreveu por influência dos brasileiros, por ser-lhes palavra “ofensiva” ou “constrangedora” (como tabuísmo). É palavra cuja legitimidade, cuja vernaculidade e cuja utilidade existem e que podemos empregar sem receio de preconceito lingüístico.

Em lugar de, em Portugal, subsistir como equivalente a fila, e de os brasileiros lá adotarem-na nesta acepção, deu-se o inverso: os portugueses associaram-na a seu sentido maligno brasileiro, prescreveram-na e substituíram-na por fila, trivial no Brasil: palavrão brasileiro (ou acepção vil de palavra que não o é inerentemente) provocou a eliminação de palavra que em Portugal não o era, e sua substituição por vocábulo até então trivial no Brasil, porém não em Portugal. É mais um caso, dentre mil, do abrasileiramento da expressão dos portugueses nos lustros mais recentes.

  Na acepção de parasitas intestinais: “fuão viu doces e suas bichas assanharam-se”; na de fêmea animal, mormente diminutivo afetuoso: “A bichinha está com fome”; na de brincos: “Oh ! Que belas arrecadas vós trouxestes de Braga !”.

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