A REPRESSÃO DAS MAMAS.

Por que as mulheres são obrigadas, pela “moral e pelos bons costumes” a ocultar suas mamas ? Elas são indecorosas ? As mulheres brasileiras são subservientes a esta superstição, para a qual creio que conta o ciúme e o machismo de seus maridos.

Segundo uns, a ocultação das mamas é indício de “respeito profundo que os brasileiros sentem pela mãe”; segundo outros, elas são “segredo” materno que se não deve divulgar. A primeira interpretação é ingênua, como se o desvelamento das mamas desonrasse as mães; a segunda é tola, fantasiosa, é racionalização do preconceito de que as mamas devem andar veladas.

Não há desrespeito para com a figura materna na exposição das mamas; não há “segredo” materno impublicável : em que haveria tal desrespeito ? Qual seria o tal “segredo” materno ?

Estas justificativas não têm fundamento, são supersticiosas, são tolas. Há pudor de origem cristã (gimnofobia), ciúme dos maridos, timidez das mulheres, que se procura dissimular com estes pretextos artificiais.

É como diz o vulgo : não há nada que ver uma coisa com a outra; é semelhante à superstição de que em ambientes de trabalho do meio judicial não se pode usar calções (“bermudas”) em nome da “dignidade da justiça” ou à de que “se houver casamento homo, a humanidade acabará” ou “todo o mundo vai virar veado” (evidentemente as alegações antagônicas ao casamento homo já não convencem a ninguém).

As mulheres brasileiras (feministas ou não) e as feministas brasileiras são condescendentes com a obrigação moral de ocultar suas mamas, diferentemente das européias em geral que andam de mamas ao vento em praias e parques, que vestem “monoquini” para tomarem sol, sob indiferença dos homens que, já acostumados a verem-nas e que, de tanto verem-nas, já não lhes ligam. O novo chama a atenção, enquanto novo; uma vez que passa a novidade, torna-se indiferente; o mesmo dar-se-á com o monoquini no Brasil : quando surgir, alguns olharão as mamas, por jamais haverem-nas visto expostas em praias e parques ; passada a novidade, já não lhes repararão. Além disto, o olhar voluptuoso não é universal : nem todo corpo atrai, nem todas as mamas atraem, pois as pessoas têm preferências específicas em relação a formas do corpo e a partes do corpo; as mamas não são partes preferencialmente eróticas; ademais, o encobrimento pode ser mais erótico do que o desvelamento, pois suscita a imaginação : imaginar o que desejamos será mais erótico do que nos desiludirmos com o que não nos interessa.

A atitude libertária e a mentalidade do corpo livre de preconceitos, de tabus, de tolices, somente se pode esperar das classes médias e altas, de espírito ateológico, não das baixas, normalmente evangélicas : o etos religioso, que atualmente se expande no Brasil graças à propagação das seitas evangélicas, é pudico, exige pudor e encobrimento do corpo. A nomeação para o STF de pastor tendencialmente resultará em decisões retrógradas no âmbito do “conservadorismo de costumes” que, neste capítulo, será arcaísmo de costumes e costumes retrógrados.

Constou-me que na praia de Rio Grande (no Rio Grande do Sul) eram triviais as mamas ao vento até dez anos atrás.

Há cento e tal anos, era obrigatório as pessoas tomarem banho de mar inteiramente vestidas ; a pouco e pouco, os trajes foram se aleigeirando. Em 1937, em Nova Iorque, magote masculino empreendeu a campanha do mamilo à mostra : cortaram uma alça de suas camisetas regatas, pela possibilidade moral e indumentária de exporem um mamilo. Os homens bateram-se por esta liberdade e obtiveram-na; as européias dela desfrutam ; as brasileiras por ela não se empenham.

Será que nunca as mulheres brasileiras livrar-se-ão da parte superior do traje de banho ? Nunca ousarão expor suas mamas sequer nas praias ? Nenhumas lançarão a voga de andar de mamas ao vento ? Todas elas julgam indecorosa a exposição de suas mamas ? Todas as brasileiras são, nisto, inteiramente recatadas e tímidas ; não temos mulheres de atitude (sequer as solteiras, livres do ciúme dos maridos das casadas) ; a onda de conservadorismo nos costumes, fortalecido pelo aumento quantitativo de evangélicos só fará fortalecer o pudor no padrão comportamental do brasileiro médio.

A duras penas, a sociedade brasileira (e ocidental) erradicou a heteronormatividade e a homofobia, adquiriu a indiferença para com a homossexualidade e a aceitação jurídica e social do casamento homo ; por outro lado, perduram a gimnofobia (vergonha da nudez), o pudor, o encobrimento moral das mamas, não se difundem praias de nudismo facultativo.

A França e a Croácia recebem, cada qual e anualmente, um milhão e meio (três milhões no todo) de turistas nudistas, em que homens, mulheres e crianças andam nus nas praias. Na Alemanha, na Áustria, as mulheres tomam sol nos parques de mamas à mostra. Parece que somente as mamas das brasileiras são inapresentáveis.

Campanha do mamilo à mostra. Nova Iorque, 1937. Os homens venceram; as mulheres sequer lutam.
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