PREPOSIÇÕES & DOUTORES & CIDADÃOS.

 

PREPOSIÇÕES & DOUTORES & CIDADÃOS.

As preposições são componentes lógicos das frases; elas propiciam-lhes sentido; sua ausência, corriqueira no Brasil, é mais um sinal do empobrecimento do idioma.

1) “Este é o ponto que chegamos.” Altere a ordem da frase: “Chegamos este ponto”. Faz sentido ? Nâo, não faz, porque lhe falta a preposição. “Chegamos a este ponto”, faz sentido. Chega-se A um ponto.

2) “Criança que fui padrinho”. Altere a ordem da frase: “Fui padrinho criança”. Faz sentido ? Não, não faz. “Criança DE que fui padrinho” faz. É-se padrinho DE criança.

3) “O ministério que Moro saiu.” Altere a ordem da frase: “Moro saiu ministério.” Faz sentido ? Não, não faz. “O ministério DE que Moro saiu”. Sai-se de ministério; não se sai ministério.

4) “Obrigado que você veio” é construção reles. Agradece-se “por”. “Obrigado por ter vindo”, “Obrigado porque veio”. “Obrigado pelo presente”. Agora, tente agradecer pelo presente usando a mesma lógica de “Obrigado que você veio”. Seria “Obrigado que presente” ? Não. É: “Obrigado PELO presente”. Somente a preposição POR permite que se exprima todo e qualquer agradecimento; por isto agradecemos POR e não QUE.

5) “Salvador é a cidade que eu nasci e que tenho orgulho”. Altere a ordem da frase: “Nasci Salvador; tenho orgulho Salvador”. Faz sentido ? Não, não faz. Alguém “nasce” uma cidade ? Alguma mulher ou homem tem por filha uma cidade ? Não. Alguém “tem orgulho uma cidade” ? Não. Alguém nasce EM uma cidade e tem orgulho DE uma cidade.

Percebeu a falta que as preposições fazem ?
– Mas se a gente [não sabe dizer: eu, nós] não usá elas dá
prá entendê.
-Certo. Você pode exprimir-se com propriedade, rigor lógico e correção, ou sem nada disto e falar com desleixo, como “todo o mundo” que sabe mal e imita o desconhecimento alheio. Como tudo na vida, optará entre ser apenas medíocre ou ser melhor do que a mediocridade.
(Fica mudo, perplexo. Se for curitibano, faz cara-de-bunda; se for sociolingüista, discursa com o “idioma brasileiro”, com a “evolução da língua”, esbraveja contra a “gramática lusitana”.).

As preposições propiciam rigor lógico às frases; elas são componentes inteligentes do idioma. Sabê-las e usá-las é o mínimo que se deve esperar de alguém minimamente bem formado em língua portuguesa.

Tudo isto é óbvio e deveria ser ensinado nas escolas. Mas os estudantes brasileiros tiram os últimos lugares nos exames PISA há décadas; o vulgo já não sabe preposições e fala e escreve sem elas. O pior é ler textos de doutores com doutorado e doutorandos fluentes em inglês, com estágios “sanduíche” nos EUA ou na Inglaterra, com artigos publicados em inglês, e ineptos nas preposições de seu primeiro idioma. São brasileiros fluentes em inglês e sub-preparados em português. Dá vergonha.
A primeira obrigação de todo cidadão é a de saber bem e usar bem seu primeiro idioma, seja doutor ou não. Aliás, as bancas de doutorado deveriam examinar a qualidade com que os candidatos falam e escrevem: escreve mal, desconhece preposições, mesóclise, conjugação verbal, fica reprovado.
-Não [se] pode ser radical, o que importa é a pesquisa, nem “todo o mundo” é professor de português.
– Isto não é ser radical. O conhecimento com qualidade do idioma é o mínimo que se espera de qualquer cidadão e ainda mais de quem aspira a altos estudos. Não tem que ser professor de português, tem que saber o português. A pesquisa é outra coisa. Mestrando, bacharelando, professor de segundo grau, estudante de segundo grau, cidadão brasileiro, elevar-se às riquezas e às virtudes do idioma é o mínimo que se pode exigir da pessoa bem formada.
(Novamente fica mudo e perplexo. Se é curitibano, faz cara-de-bunda.)

 

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