“Deus seja louvado”, no papel-moeda, nunca mais!

 
 
       Minha carta a Carlos Ramalhete, em 15 de novembro de 2012. Eis a  ligação do artigo dele:
 
 
      “Li o seu artigo, na Gazeta do Povo, de hoje, 15 de novembro.
        Não se pode ser ingênuo e pensar que, em 1986, quando José Sarney determinou que se inserisse a frase, ele não pensava no deus dele, o do cristianismo, religião que o senhor professa, na modalidade católica. O deus da frase não é um deus qualquer, uma entidade filósofica; é o deus de uma religião determinada, ou seja, a frase é sectária, defende dada religião, propagandeia-a, usa material do Estado para fins de afirmação de valores que o Estado não pode nem aprovar nem reprovar, e em face dos quais deve manter-se neutro.
    A frase não é não é exercício de filosofia; o deus dela não é genérico, não é um deus ecumênico. Entre nós, as pessoas conotam deus com o que se encontra no seu imaginário ou nas suas crenças e o que neles se encontra não é um deus genérico. As pessoas conotam o deus da moeda com o deus cristão. Por isto, não simplifique as coisas.
      No Estado laico,  o governo não adota nenhuma religião, não proíbe nenhuma e não toma partido em matéria de crença e de descrença. Remover deus da frase não é remover a Justiça; a frase não exalta a Justiça e esta não depende de deus, de sobrenatural, do cristianismo. Os homens podem e devem ser justos, efeito para o qual deus é desnecessário e inútil, mesmo porque o deus do velho testameto era raivoso, vingativo, genocida, ou seja, injusto. Ao contrário do que propagandeiam certos católicos, a sua religião  não é a proprietária dos valores morais; estes não decorrem, necessaria nem exclusivamente, da Bíblia e da tradição cristã. Para ser honesto, veraz, respeitador, fraternal, solidário, clemente, justo e inteligente, ninguém necessita do deus da Bíblia.
            O papel-moeda não é material que deva conter nenhuma frase, nem de exaltação de deus, nem do ateísmo, nem de religião nenhuma.  Retirar a frase não é manifestação de fanatismo ateu, mas a sua inserção foi manifestação de uso do Estado para fins que lhe são inteiramente alheios: o governo não se destina a fortalecer nenhuma fé, seja teológica, seja atéia.
       O Estado não decorre de deus, o poder não é de origem divina, a sociedade é dado natural e não insituição que promana do sobrenatural. Durante a Idade Média, a partir de Carlos Magno, pensava-se que todo poder era instituído por deus; daí a afirmaçao de que, sem deus, não haveria Estado nem ordem social. Não haveria o Estado confessional, o governo serviçal da Igreja Católica, a obrigação de professar o cristianismo.
           A laicidade surgiu para libertar as pessoas da obrigação de professá-lo, para instituir a liberade de crença e de descrença. Quem quer manter a frase do papel-moeda, não será de surpreender que pretenda impor a religião do deus que se louva. Por isto, aplausos à iniciativa que visa a manter a liberdade de consciência onde ela se acha estupidamente infringida.
   
  Arthur Virmond de Lacerda Neto.
 
arthurlacerda@onda.com.br ”
 
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