“A gente”.

“A GENTE”.
“A gente” é locução equívoca, pois exige a compreensão da frase ou do contexto para perceber-se se ela equivale a eu, a tu, a nós, a vós, a eles, ao passo que os pronomes retos (eu, tu, ele, nós, vós, eles) são inequívocos: identificam imediatamente a quem se refere o discurso (a mim, a tu, a eles, a nós, a vós, a eles.).
A gente ora indica eu, ora indica tu, ora indica nós, ora indica eles, ora indica pessoas indeterminadas, ora indica a instituição a que se pertence. Ela empobrece o idioma porque apaga a identificação exata e precisa do sujeito do discurso e dificulta que se entenda, desde logo, a quem a frase se refere. Eu vim, ele veio, nós viemos, eles vieram; tudo isto se empobrece com “a gente veio”: a gente quem ?
Atenção agora:
A expressão a gente sempre enseja a pergunta e a dúvida: a gente, quem ?
Os pronomes retos nunca ensejam a dúvida e a pergunta sobre quem é o sujeito da frase.
A expressão a gente sempre depende, para ser compreendida, do contexto da frase; jamais é imediatamente compreensível e inequívoca.
Os pronomes retos jamais dependem do contexto da frase para serem compreendidos; sempre são imediatamente compreensíveis e inequívocos.

A gente é expressão equívoca e pobre e, por isto, lingüisticamente inferior; os pronomes retos são precisos e, por isto, lingüisticamente superiores à “a gente”. Percebeu a desvantagem de “a gente” para a eficácia da comunicação ?
“A gente” ou “a gênhtchi” é expressão coloquial, tempos atrás empregada pela gente desinstruída, de escolaridade primária ou por jovens descuidadosos do vernáculo (jovens, por exemplo, ignaros das palavras ignaro e vernáculo).
Quem tinha estudos sabia distinguir as pessoas do discurso e empregar os pronomes, segundo as circunstâncias: eu, tu, ele, nós, vós, eles, e dizia eu sou, nós somos, eles são. Agora, até as classes A e B empregam a gente ao invés de eu, de nós, de eles.
Enunciada a locução “a gente”, muitas vezes não se entende a quem o falante se refere: a gente quem? Sou eu? É você? São os outros? São pessoas indeterminadas ? Qual gente? Tal expressão subtrai exatidão do discurso e mal acostuma as pesssoas a não usarem as conjugações dos verbos: quem se vicia em a gente desaprende a dizer eu vou, nós vamos, eu seria, nós seremos, eles venderão, eles estariam.
É mais fácil usar a gente, em lugar dos pronomes retos ? Sim – e também medíocre.
Que o iletrado fale assim, é próprio de quem não teve escola, de quem é carente de leitura, de quem não zela pelo rigor da comunicação, porém que pessoas estudadas falem assim, considero evidente rebaixamento da qualidade do idioma, que se nivela por baixo.
Evoluímos ou involuímos? Nivelamos por baixo ou por cima ? O povão aprendeu ou as classes “estudadas” desaprenderam? O culto propagou-se ou propagou-se o coloquial ?
Não leva a nada alegar que com esta locução “todo o mundo” se entende, que o importante é comunicar-se, que o idioma evolui e modifica-se. Todos entender-se-ão melhor, comunicar-se-ão com mais eficácia, se a evolução mantiver-lhe a precisão e a qualidade, virtudes ausentes da expressão em causa. Evoluir e modificar-se é diferente de melhorar.

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