A bobice de que “dá para entender” português ruim.

É infantilidade defender construções defeituosas com o argumento de que “dá para entender”, de que “não sou professor de português” ou “sou de [ciências] exatas ou biológicas”.

A correção com que se fala é louvável em todos, professores ou não, qualquer que seja sua formação, e exigível de todos. É o mínimo que se pode esperar das pessoas.

No subterfúgio de que “dá para entender”, o autor ou falante conta com a interpretação do ouvinte ou leitor, e interpretação correta; ele imputa a outrem o que deveria ser propriedade sua, ele “terceiriza” a eficácia de sua comunicação. Somos responsáveis pelo que dizemos e por como o dizemos, e dizê-lo bem previne interpretações errôneas. Em lugar do subterfúgio de que “dá para entender”, devemos afirmar o princípio de falar corretamente: falo corretamente, fala tu corretamente, falemos nós corretamente, falai vós corretamente, exijamos que nos falem corretamente, esforcemo-nos por falar corretamente. Falar e escrever.

Enquanto prevalecerem as criancices de que “dá para entender”, de que “não sou professor de português” nem “de [ciências] humanas”, os brasileiros prosseguirão tolerantes com o desleixo, com a incultura idiomática, com os vícios de linguagem, nossos estudantes contentar-se-ão com saber o idioma assim-assim, com aulas de português assim-assim, com professores, locutores, apresentadores, jornalistas, comentadores televisivos de expressão ruim; em suma, podendo ser mais, optarão pelo menos, pelo inferior, pelo medíocre. Podemos ser melhores: orgulhemo-nos da bela, graciosa e exuberante língua portuguesa e de sua forma culta, acatemos a gramática normativa, pratiquemos correção na linguagem oral e na escrita. Erros, vícios, cacoetes, devem ser motivos de vergonha.

A eficácia da comunicação decorre, também, do emprego correto do idioma, da sua forma culta, que é valiosa, importante e bonita. Saber bem o idioma e bem usá-lo faz diferença. Sabê-lo mal e usá-lo erradamente custa equívocos e até construções estapafúrdias, em que se pensa exprimir coisa diferente do que se transmitiu, como as dos exemplos acima.

Em idioma há certo e errado, adequado e inadequado: o correto sempre é adequado, o errado sempre é inadequado, na escrita e na fala.

A forma culta merece ser tida por paradigmática e à luz dela devem ser julgadas as “variantes”, que o são precisamente dela. Mas que ninguém se iluda com a qualidade da forma culta do brasileiro médio, sobretudo jovem: vezes várias é inculta, até em doutores com doutorado.

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