Vamos parar de dizer “Tudo bem ?” ?

Por que perguntar a toda hora, para todos os conhecidos e estranhos “Tudo bem ?” se verdadeiramente não estamos interessados na resposta ?  É pergunta puramente protocolar e falsa.

Ademais, ela invade a intimidade, a vida do interlocutor. Por que a saudação deve consistir em pergunta e pergunta relativa à vida da pessoa ? Quem recebe a pergunta pode não querer falar de suas alegrias ou agruras, o momento pode ser inoportuno, o ambiente impróprio.

Perguntas exigem resposta; muitas vezes esta pergunta é sincera e há liberdade para resposta sincera, contudo no mais das vezes, é apenas retórica e a resposta é repetitiva:

Tudo bem ?

Tudo.

Esta saudação não faz sentido, é mais do mesmo e amiúde falsa. Temos de ser falsos para sermos cordiais ? Temos de cumprimentar com indagação ? Não há outra forma de fazê-lo ?

Trinta anos atrás indagava-se: “A família vai bem ?” ou “Em casa vão todos bem ?”. Eram interrogações que se fazia entre quem tinha liberdade de fazê-las e eram sinceras; amigos ou parentes indagavam se estava “tudo bem” com o interlocutor e era falta de consideração não indagar tal.  Com o andar do tempo o que era sincero deixou de sê-lo, tornou-se em frase vazia.

Nos anos 1970 eram cumprimentos informais “Ôpa !”, “Ôba !”; hoje: “Olá”, “Oi” (alguns dizem “Oie”); são tradicionais: bons-dias, boas-tardes, boas-noites — todos bem melhores do que a mesmice maçante do:

Tudo bem ? [lá quer saber da vida alheia !].

Tudo. [lá quer falar de sua vida !].

Ou:

Beleza ?

Beleza.

Pior:

Como está o seu dia ? [Indagação inconveniente].

Equivalentes de décadas atrás, em Curitiba, usados por alguns:

Tudo azul ?

Tudo em cima ?

 Saudar com interrogações é cacete. Podemos saudar com saudações e iniciar diálogo com “Tudo bem ?”, se houver  liberdade entre os interlocutores, se o momento for oportuno, se o ambiente for propício, se desejarmos resposta veraz.

Podemos ser cordiais com afirmações, sem perguntas e sem perguntas puramente retóricas. Evitemos a mesmice de “Tudo bem ?” quando apenas protocolar e insincera; evitemos a resposta “Tudo” quando de mera etiqueta e falsa.

“Tudo bem ?” é pergunta que contém algum grau de pessoalidade, de intimidade e supõe resposta; ela é valiosa nas relações humanas. Usemo-la criteriosamente e evitemo-la como fórmula vazia.

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