O TAL DO “TUDO BEM ?” geralmente é chavão, é apenas pergunta para que não se quer resposta: dois tipos cruzam-se na rua; um exclama:
— Tudo bem ?
O outro responde-lhe:
— Tudo bem ?
As pessoas já não percebem que perguntas supõem respostas e que cumprimentar é diferente de saudar e que é bem esquisito fazê-lo desta forma. Sim, é esquisito cumprimentar com pergunta para a qual não se pretende resposta sincera, para a qual quase sempre se espera, como resposta, o chavão “Tudo”.
Imagine interlocutor acabrunhado, preocupado, que não pretende expor sua privacidade a quem não lhe é íntimo. Que responde ? O falso e tolo:
— Tudo…
Se falar de seus problemas, provavelmente o indagante não o quererá ouvir: perguntou “Tudo bem ?” não porque realmente se interesse em saber dos problemas do outro, mas porque a pergunta é mecânica e, por isto, hipócrita.
Podemos abandonar esse chavão cacete e outros como:
— Beleza ?
— Tudo em cima ?
— Como vai ?
— Como está seu dia ?
— Passou bem ?
— Como está ?
Por que os brasileiros “saúdam” com inquirições e inquirições que dizem respeito à intimidade ?
A retórica é sempre a mesma: indagar da vida pessoal do próximo em regra sem nenhum interesse em ouvi-lo. Esta praga começou 40 anos atrás, quando se indagava por este estilo quando havia liberdade entre um e outro, se o momento era oportuno, quando quem perguntava estava disposto a ouvir resposta veraz; depois, trivializou-se e hoje é ruído e frase-feita chata. Alguns acumulam chatice:
— Tudo bem ? Beleza ? Como está seu dia ?
Imagine que não esteja tudo bem, que não esteja “beleza”, que o dia lhe corra mal; mormente esperam-se as respostas enfadonhas e falsas:
— Tudo bem, beleza.
Chega desta forma fingida de um tratar o outro e vice-versa.
Reservemos perguntas que implicam intimidade e abertura para momentos e pessoas com quem possa haver abertura de intimidade. “Bons-dias, “boas-tardes”, “boas-noites”, “Olá”, “Salve”, são bons; até o popular “oi”.
Saudemos com saudações, não com interrogações.