OS BRASILEIROS GERALMENTE REPUDIAM SUA FORMAÇÃO PORTUGUESA.

OS BRASILEIROS GERALMENTE REPUDIAM SUA FORMAÇÃO PORTUGUESA.

(A propósito do livro de Carlos Fino, que vos recomendo: Portugal-Brasil: raízes da incomunicação).

      Nos media (não “na mídia”), nos livros escolares, no senso comum, pensa-se que os portugueses invadiram ou conquistaram o Brasil, roubaram-lhe o ouro, exploraram-no e foram-se embora.

       Os portugueses não invadiram o Brasil, que em 1500 não existia: eles criaram-no do zero, do nada; Portugal não “invadiu” o Brasil : ele fê-lo ; não lhe roubaram o ouro, pois : o Brasil não era país autônomo, senão parte de Portugal; aqui era Portugal e ninguém rouba o que é seu ; a coroa cobrava apenas 20% do ouro, e os restantes 80% pertenciam a quem o prospectasse. Dos tais 20%, 2/3 foram sonegados; de facto, Portugal recebeu 7%, de que metade ingressou diretamente na Inglaterra.

    Em 1822 não havia nacionalismo, não havia sentimento de que o Brasil era dos brasileiros nem havia afã de independência ou repúdio do “colonizador” (povoador). Quem nascia no Brasil não era brasileiro, mas português e era como tal que se sentiam quantos houvessem nascido aqui.

      Os primeiros rudimentos da independência deram-se em Portugal: originariamente, os portugueses cogitaram de separar-se do Brasil , cuja independência  fez-se porque os dirigentes no Brasil e as cortes em Lisboa divergiram sobre onde seria a sede da monarquia : se em Lisboa, se no Rio de Janeiro.

    Após a independência deu-se o surto do nacionalismo, sentimento de ser brasileiro, que se formou com base no antiportuguesismo : a forma que D. Pedro I e José Bonifácio encontraram de caracterizar o brasileiro, o brasileirismo foi esta: ser oposto, ser antagônico a Portugal, ser do contra, contra o passado do próprio Brasil, contra sua formação, contra sua identidade. Esta deformação inicial, este etos primevo tornou-se constituidor da brasilidade: ser brasileiro era e é,

* primacialmente, recusar a origem portuguesa do Brasil;  

* intelectualmente, elaborar o conjunto de acusações ao passado brasileiro (de que Raízes do Brasil [livro palpiteiro e de escasso mérito] é a cartilha do antilusitanismo), como fomos colônia de extração, não tivemos universidades, fomos abandonados no começo, fomos formados pela escória de Portugal, a independência foi um embuste, os bandeirantes foram facínoras.

* lingüisticamente, proclamar o “idioma brasileiro” e repudiar formas, palavras, recursos típicos da língua portuguesa, de que os brasileiros assim se privam e de cuja privação advém o embrutecimento de sua expressão (de que Preconceito lingüístico é a cartilha) ;

 * acadêmica e escolarmente, propagar a hostilidade para com nossa formação;

*  nos media, explorar a predisposição do vulgo contra Portugal (daí o êxito do panfleto antiportuguês que é “1808”, de Laurentino Gomes);

* pessoalmente, depreciar os portugueses com piadas pejorativas; *também é exaltar a origem italiana e alemã de seus descendentes em SC e RS, e não recordar a origem portuguesa da maioria dos brasileiros;

* é o brasileiro médio não se reconhecer na história de seu país.

* é o brasileiro julgar, ignorantemente, que teria sido preferível o Brasil haver sido formado por holandeses ou ingleses.

  Tal acervo de sentimentos negativos coexiste com a gentileza no trato dos brasileiros quanto aos portugueses, com a fixação de brasileiros em Portugal, com cursos universitários que brasileiros tiram em Portugal, com a emigração de 214 mil brasileiros em Portugal : estes lá estão por conveniência, por interesse, porque lá é melhor do que no Brasil, mas eles portam a mentalidade que descrevi. Ninguém se iluda: a maioria dos brasileiros radicados em Portugal gosta de usufruir do conforto que ele lhes propicia e detesta e recusa o passado comum de Portugal e de seu país.  Sirva de anedota ex-amigo meu que se divertiu à farta na festa da queima das fitas, em Coimbra, e odiava Portugal, e rompeu amizade comigo quando lhe expliquei que eram os quintos régios, acusando-me de ser “nacionalista português” e negar que “Portugal roubou o ouro da gente”.

   Sirva de outra anedota e sinal do afastamento, um nativo da culta e européia Curitiba, que me indagou que língua se fala em Lisboa.

Jarbas Cavalcante de Aragão, em Educação e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1972):

“A OBRA CIVILIZADORA DE PORTUGAL. Portugal foi, assim, como nenhum outro, sôbre a terra, um país verdadeiramente colonizador. A sua obra civilizadora foi tão grande e tão modelar que, mesmo que não se considerem o instante social do evento e as condições na época de sua realização, nenhum país o excedeu em dedicação, em trabalho em sacrifício e em resultados.

Observe-se, pois que – enquanto o Brasil foi fruto de uma colonização perfeita, metódica, contínua, persistente, cruenta por vezes, e difícil, pela variedade de condições climáticas da Colônia […] Contudo, na rápida formação e desenvolvimento dos Estados Unidos, nem sempre estiveram presentes todos os fatôres de coesão social que, constantemente, sobejaram ao Brasil, em sua evolução, e, entre os quais, avulta o da mais perfeita comunhão social”. (P. 42.).

“O GRANDE LEGADO PORTUGUÊS. Num país como o Brasil, que nasceu, sob o signo unificante do colonizador português que o embalou, criou e emancipou, legando-lhe, dêsse modo, o sangue, o gênio, os costumes, a civilização e, até mesmo a cultura, encontram-se, no âmago da Nação, não só o espírito de coesão, senão também a decidida vocação unitária.” (P. 52.).

“AS REALIZAÇÕES DA COLONIZAÇÃO LUSA. No entanto, se na nossa colonização e os nossos colonizadores apresentaram algumas falhas no empreendimento que o destino lhes reservou, o saldo de realizações profícuas, todavia, foi tão gigantesco na antiga colônia-continente, pela dinamização do seu sangue, dos seus costumes, da sua língua, da sua religião e do seu caráter […]”. (P. 147.).

“OS COLONOS PORTUGUÊSES SELECIONADOS E A CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR. Assim, o Brasil, desde o começo do século XVI, já recebia as primeiras famílias de colonos portugueses selecionados, para nêle fixarem-se. Em 1535, grande número de famílias, muitas das quais nobres, estabeleciam-se em atividades agrícolas no Nordeste.” (P. 148). Jarbas Cavalcante de Aragão, em Educação e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1972).

As ouvidorias no Brasil colonial (biografia do ouvidor Rafael Pardinho), de Arthur Virmond de Lacerda Neto, é livro lusófilo : amigo da história luso-brasileira,  interessante para a história do Brasil no séc. XVIII, designadamente do Paraná e de Santa Catarina.

David Carneiro, historiador paranaense, positivista e lusófilo.
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2 respostas para OS BRASILEIROS GERALMENTE REPUDIAM SUA FORMAÇÃO PORTUGUESA.

  1. Loreno Luiz Zatelli Hagedorn disse:

    Concordo integralmente com você.

  2. Diana disse:

    O mais triste é vê-los a repudiarem a nossa cultura aqui em Portugal.

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