A igreja e as universidades.

 

A IGREJA E AS UNIVERSIDADES, LUGAR-COMUM DA PROPAGANDA CATÓLICA.
Arthur Virmond de Lacerda Neto.
6.5.2016.

É lugar-comum dos cristãos defenderem o cristianismo com a alegação de que “eles” criaram as universidades ou de que a igreja católica as criou. Alegam-no como mérito do cristianismo.

É sintomático: as universidades, no presente, são centros de altos estudos, de pesquisa e de produção do conhecimento. Estudos, pesquisas e conhecimentos científicos, laicos, divorciados de religião, teologia, deus. As universidades são focos, por excelência, de ateísmo prático, a despeito do que os cristãos invocam, em favor próprio, a criação das universidades como obra cristã.

Mas elas não foram criadas pela igreja tal como existem hoje; foram criadas séculos atrás como focos de teologia e não de ciência.
Há falácia e anacronismo em dizer-se que as universidades são produto da igreja se se transmitir ou induzir à crença de que séculos atrás eras elam como são no presente. Não, não eram. A igreja não criou as universidades para fomentar a pesquisa científica nem para ampliar o saber laico, ambos fora da teologia. Ao contrário, em relação ao ensino, a igreja católica sempre foi ávida por detê-lo para inculcar os seus dogmas na infância e na juventude e plasmar os povos ao seu modo, com universidades ou em ela. E nas universidades católicas, teologia é disciplina (tanto quanto eu saiba) obrigatória; suponho que, também, o criacionismo (deus criou o mundo): elas são parcialmente agentes da teologia, do espírito diretamente oposto ao que preside às universidades laicas.

A UFPR (a mais antiga universidade do Brasil, sem lhe ser a primeira) foi criada pelo escol laico de Curitiba, plêiade de 60 e tal pessoas, entre os quais 3 positivistas (ateus) confessos. Dos demais, certamente muitos seriam anti-clericalistas e também ateus. Nem ela nem as universidades como elas existem modernamente semelham ao que eram ao tempo em que o cristianismo as criou: hoje elas disseminam conhecimento laico e até anti-cristão, ao passo que as que o cristianismo criou estavam ao seu serviço.

A igreja católica não criou nenhuma universidade no Brasil (mas criou seminários) até que sentiu alarme com o crescimento da indiferença religiosa do brasileiro medianamente esclarecido, nos anos 30 e 40, e empreeendeu a recatolicização do Brasil. Só então é que tomou a iniciativa de criar as suas universidades, católicas brasileiras. Por amor ao saber ? Não, por amor à sua religião.

Estava no seu direito e no seu papel, porém não se alegue que a igreja fomentou a cultura e promoveu o conhecimento: ou esqueceu-se do célebre índice de livros de leitura proibida, em que ela incluia qualquer livro que, de perto ou de longe, lhe contrariasse os dogmas ? “Porém os mosteiros medievais conservaram a herança cultural da antigüidade”: de acordo, porém não para o propagar, porém para o conservar inacessível ao comum da gente. E papa houve, em 980 (se não erro a data) que ordenou o incêndio da biblioteca palatina, que acumulara, por séculos, ingente material da cultura greco-latina, vale dizer, não cristã: cultura não cristã não lhe interessava.

Ela também criou os colégios jesuítas, desde o século 16, no Brasil. Os jesuítas constituiam a vanguarda da contra-reforma, agentes reacionários, instrumentos do que havia de mais arcaizante na igreja, então. Cultos e instruídos, em geral, segundo consta, porém padres; vários produziram ciência, como ardil da igreja para “provar” a conciliação da ciência com a fé. Que ingenuidade: os jesuítas produziam ciência, porém interpretavam-na teologicamente, talvez hipocritamente, por dever de oficio e conveniência.

O indivíduo pode ser cientista, empregar os métodos científicos e manter crenças religiosas, o que não prova a compatibilidade entre ciência e fé, porém que o religioso produz conhecimento pela forma correta e o interpreta da forma errada, nada mais. A enumeração, vangloriosa, de jesuítas cientistas, como alegação da supostamente elevada contribuição cristã para o progresso da ciência não passa de falácia para ingênuos e de propaganda desonesta: acrescentaram averiguação de fatos, sem os divorciar das idéias sobrenaturais; ao contrário.

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