EM DEFESA DOS BANDEIRANTES.

 

 

EM DEFESA DOS BANDEIRANTES.
“O programa Fantástico, por meio do apresentador Pedro Bial, vem emitindo uma série de matérias relativas à história do Brasil. Toda iniciativa que se destine a rememorar os fatos do passado de um país, é louvável; poderá não o ser o conteúdo apresentado, como foi o caso do episódio concernente aos bandeirantes, apresentados como mitos da história pátria e como personagens destruidores.
Todo indivíduo deve ser julgado conforme as circunstâncias em que atuou, considerando-se as exigências do meio, a mentalidade da época e os resultados da sua atuação em que importam os seus efeitos, maléficos e benéficos. Dentro destes critérios, a análise histórica adquire respeitabilidade e torna-se construtiva. Não é, infelizmente, o que se observou no Fantástico, a respeito dos bandeirantes: foram eles apresentados como rapinadores e, portanto, como elementos negativos, quando o seu papel foi o de desbravar o território nacional, com tenacidade e perseverança ímpares, sentido no qual representam exemplos de força de vontade individual e de esforço na consecução de objetivos. Eles encarnaram semeadores de civilização e construtores da nacionalidade.
É exagerado taxá-los de rapaces e de exterminadores dos silvícolas: se houve maus tratos aos indígenas, deveram-se antes à mentalidade de então, do que a uma sua específica atitude desumana. Sem os inocentar, não os podemos condenar por haverem atuado como pessoas do seu tempo.
Da mesma forma, é injusto generalizar: nem todos os bandeirantes maltrataram os indígenas, ao contrário, ao passo que todos desenvolveram esforço útil na expansão do território nacional, todos representaram valores humanos positivos no conjunto da evolução do Brasil.
Por isto, lamentei ver uma parcela da história brasileira ser criticada de forma sensacionalista e parcial, em um verdadeiro desserviço aos brasileiros menos informados, infelizmente, a grande maioria, em quem reportagens daquele caráter tendem a incutir o desprezo pela história pátria, a desestima de ser brasileiro, o enfraquecimento da identidade nacional.”
Escrevi o comentário acima em 2007. Vale para 2020.
A Folha de S. Paulo publicou artigo intitulado “Consciência pesada dos bandeirantes”, também acusador. Não se pode acusar os bandeirantes por terem atuado como atuavam todas as pessoas no seu tempo em vez de o fazerem como faríamos nós, no nosso. Eles tinham escravos — quem não os tinha ? Não eram abolicionistas — quem o era ? O abolicionismo despontou 200 depois.
Remover-se-ão todos os monumentos a vultos do passado que foram homens do seu tempo e não do nosso ? Remover-se-ão as estátuas dos vultos do passado que professaram algum valor então predominante e que nos repugna, e porque nos repugna ?
Recuso a interpretação acusadora, pessimista, unilateral, do papel dos bandeirantes.
Minhas ponderações pela manutenção da estátua de Borba Gato, como artigo de opinião (vide postagem precedente, intitulada “Derrubar estátuas ?”, foram recusadas pela Folha de S. Paulo, que me informou disso mesmo, mas o artigo acusador foi publicado hoje, 14 de junho de 2020.

Vamos parar com a bestice raivosa de apodar as pessoas a torto e a direito de “racistas”: racista é o branco que despreza pretos por serem-no, o preto que despreza branco por serem-no, um ou outro que despreza o outro pela sua cor, que se sente superior na sua constituição biológica (racismo, até aqui) e, por isto, até se julga no direito de humilhar, espezinhar, subjugar (arrogância e violência).
Entender os vultos do passado e o tempo em que viveram, é o primeiro dever de quem se volta ao passado: é ter espírito histórico, espírito relativo, é “contextualizar”. É imperioso que as pessoas são pessoas do seu tempo, têm valores e opiniões do seu tempo e não do nosso tempo e não podem ser culpadas por não serem do nosso tempo.
Atenteis agora: até as opiniões do nosso tempo, as anti-“racistas” são históricas, são “datadas”, são as que animam (?) à maioria (?) e às minorias raivosas, mas não durarão a eternidade. No futuro, os pósteros olharão para os atuais raivosos e iconoclastas como heróis da igualdade e ou como tolos de espírito absoluto, que falham na mais elementar condição intelectual de examinar qualquer pretérito.
Na gravura: pintura de Pedro Paulo Rubens.

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