O PAPA E OS HOMOSSEXUAIS: TARDIO E INSUFICIENTE.

       O PAPA E OS HOMOSSEXUAIS: TARDIO E INSUFICIENTE.

                                                                  Arthur Virmond de Lacerda Neto. 23.10.2020.

       Causou sensação o apoio do papa às uniões civis homossexuais. Desde o século XIII e máxime nas últimas décadas, o papado e a igreja católica têm minguante momento, já agora residual, no concerto internacional. O ocidente, máxime a Europa, é predominantemente laico e ex-cristão; poucos ligam ao que os papas dizem ou deixam de dizer, como orientadores de suas vidas. Eles são secundários no ambiente internacional, em que pese sua autoridade no catolicismo.

       Inúmeros países adotam casamento homossexual e não apenas união civil, e já introduziram a esta há anos. A revolucionária declaração do papa é-o em face da tradicional homofobia da igreja; é retardatária em relação às mentalidades e às instituições da maioria dos países ocidentais; foi expendida oficiosamente, como opinião pessoal e não em documento oficial, o que lhe reduz a importância, simbólica e não imperativa, semelhantemente a outras iniciativas similares e declarações de Francisco.

       Ele aprova a união civil, instituição menor, porém recusa a maior e plena do casamento homossexual, na linha da ortodoxia católica. Em 2010, quando bispo em Buenos Aires, empenhou-se em campanha de oposição ao casamento homo, embora aceitasse a união civil como alternativa a esse.  Em 2020, Brasil, Argentina, Uruguai, Portugal, Espanha, França, Canadá, África do Sul, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Nova Zelândia, Irlanda, Estados Unidos, Alemanha, México e outros já institucionalizaram o casamento homo e não apenas a união civil homo (existente na Itália). Proclamar o cabimento da união civil apenas representa a anuência de Francisco a instituição que vários países adotaram sem a colaboração da igreja católica.

       Francisco não deve ser badalado por essa declaração nem por outras, de igual timbre, tampouco por suas atitudes simpáticas a homossexuais. Elas são bem-vindas para os homossexuais católicos, servem como símbolos para os católicos, agradam aos homossexuais em geral e aos simpáticos ou empáticos a esses. Contudo já vêm tarde, nada acrescem ao que as sociedades laicas instituíram há anos, graças à militância do próprios homossexuais desde 1969, por meio das manifestações simbólicas e maciças que foram as paradas da diversidade, da organização dos homossexuais em grêmios intervenientes, da adesão de políticos à causa homo, do debate público e escolar, da difusão de esclarecimento quanto à condição homo, da denúncia das violências morais a que os homossexuais estiveram sujeitos, da inculpação da doutrina cristã na formação (parcial, pelo menos) da homofobia. Conjugada e paulatinamente, tudo isto determinou o declínio da homofobia e o acréscimo da liberdade e da empatia pelos homossexuais, movimento a que a igreja católica conservou-se de todo alheia.

       Vá lá que as atitudes de Francisco pró-homossexuais são positivas, mas ainda que novas e pioneiras em sua igreja, são retardatárias em relação à sociedade profana ocidental.

       Merecem celebração os países que adotam legislação igualitária, anti-discriminatória e o casamento homo, os políticos que se bateram por ela, os juízes que decidiram em favor da proteção e da equiparação entre heterossexuais e homossexuais. A evolução que se verificou nos últimos anos em prol dos homossexuais deve nada à igreja católica, cujo catecismo reputa (presentemente) a homossexualidade intrinsecamente desordenada pois estéril. No parágrafo seguinte ao que contém a tão comentada declaração, Francisco reitera a impossibilidade de casamento católico entre dois homens ou duas mulheres.

       A ética da igreja não é pioneira, não inova. Ao invés: pelo menos nesse caso, ela acompanha a mentalidade crescente (e já prevalecente), imita-a, na impossibilidade de sobrestá-la e contrariá-la. Francisco pretere a condenação do Levítico (desconforme com o espírito de nosso tempo) e enfatiza a bondade (mensagem de Cristo), porém ambas coexistem desde o início da igreja católica que até aqui preferia a primeira e agora atém-se à segunda, e variou de preferência depois de as mentalidades, costumes e instituições haverem-no feito e porque o fizeram. Como chefe de sua igreja, as atitudes de Francisco exprimem a atualização desta a nosso tempo, no que haverá parte de sinceridade pessoal e parte de estratégia institucional.

       Ele mereceria louvores se estivéssemos em 1950, 1970, 1990. Em 2020 apenas revela o quão lentígrada é sua igreja. Não comemoremos como formidável declaração pífia nem sejamos ingênuos.

       Consoante ao volumoso documentário de Frederico Martel (Armário do Vaticano e Sodoma, respectivamente nas edições brasileira e portuguesa), o Vaticano é a maior comunidade de homossexuais da Terra: pelo menos 90% deles o são e quase todos praticantes; aliciam os mancebos que são os guardas suíços e são freqüentadores de prostitutos. Estes, querem-nos de até 30 anos. Bento XVI tem namorado há décadas.

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