Vossa Mercê > vosmecê > você > vc.

Vossa Mercê > vosmecê > você > vc.

 Eis exemplo do fenômeno da mudança das línguas, e exemplo do de que elas também mudam para pior.

  Os mudancistas invocam ubiquamente este exemplo de mudança da língua para provar ser ela “organismo vivo”, dinâmica, para coonestarem-lhe todas as alterações em nome de sua mutabilidade.

   De facto, as línguas mudam, também para pior. Os idiomas mudam também para pior, também se empobrecem, degeneram-se, perdem precisão, riqueza, recursos, quais sejam pronomes, preposições, tempos verbais, vocabulário, formas plásticas.

    Nem toda mudança é inerentemente desejável ; hemos de ser criteriosos e perceber o que mantém a qualidade do idioma, o que o rebaixa, o que o engrandece. Quase todas as suas alterações, no Brasil, tem sido para pior, como : vício da duplicidade, uso de sintaxe do inglês, de anglicismos (muitos deles com acepções erradas), desuso de mesóclise, de tempos verbais corretos, redução do léxico circulante; espírito de desprezo da gramática, de que falar corretamente é ser pernóstico, de ser aceitável o erro na fala, de que exprimir-se bem incumbe a quem “é de humanas” ou professor de português.

    Há etos lingüístico da preferência da mediocridade e a conseqüente mediocrização da língua, exaltadas em nome das “variantes” e das “mudanças”. Variou e mudou para pior.

Também mudou para pior com a supressão dos pronomes eu e nós, e sua substituição por “a gente”, locução pronominal que torna vaga a frase e indeterminado o sujeito : quem é “a gente” ? Pode ser “eu”, pode ser “nós”, pode ser alguma coletividade indeterminada, pode ser a instituição que integra o locutor, ao passo que a frase torna-se precisa e seu conteúdo determinado se ele disser “eu”, “nós”, “os curitibanos”, “a Secretaria da Educação”. Por exemplos:

  1. A gente gosta de praia. Eu gosto de praia.
  2. A gente gosta de praia. Nós gostamos de praia.
  3. A gente não fala com estranhos. Os curitibanos não falam com estranhos.
  4. A gente tem arquivos antigos. A Secretaria da Educação tem arquivos antigos.

Eis por que “a gente” é forma de pobreza de idioma, pobreza de comunicação, pobreza de cultura, pobreza de tudo.

Esse post foi publicado em Língua portuguesa, Vício de linguagem. Bookmark o link permanente.

Deixe um comentário