Agradecer à Humanidade.

 

            Agradecer à Humanidade.

Arthur Virmond de Lacerda Neto. 29.7.2018.

PASSA EM PROVA, EM CONCURSO, NA OAB E, PRIMEIRAMENTE, AGRADECE AO SEU DEUS.

A pessoa passa em prova, concurso, exame da OAB, seja o que for: agradece, “em primeiro lugar, a deus”; depois, aos seus professores, pais, irmãos, etc.

No etos teológico, está “deus no comando”. O indivíduo julga que os seus êxitos são determinados pela vontade divina, que cria as condições do êxito, porém é facilmente perceptível que elas são constituídas pelas pessoas, pela sociedade, pela forma como o homem organiza os seus interesses.

Por exemplo: o estudante conclui o seu curso, forma-se, passa na OAB, graças aos homens, que criaram o curso e o exame, que lhe propiciaram condições de estudar, que lhe incutiram conhecimentos (os seus professores) e graças, obviamente, ao próprio aluno, que se esforçou. Em tudo isto, toda a ação e agência foram humanas.

O aluno forma-se graças a si próprio e aos seus professores; ao êxito no curso, deus é totalmente alheio; ele é o grande ausente e nada tem a ver com os resultados que o aluno obteve. Contudo, para a mente religiosa, tem tudo a ver.

O doente recupera-se: agradece, antes de tudo, ao seu deus, porém sarou graças aos médicos, aos enfermeiros, aos medicamentos, aos aparelhos, aos exames e até a si próprio, se foi pontual no tratamento, que o seu deus assistiu impassivelmente e inerte.

Com isto, o religioso ilude-se (se não vivesse iludido, não seria religioso) e é injusto, na escala da sua gratidão.

Não é “graças a deus”; nada é graças a deus nenhum. Tudo é graças à Humanidade: é aos homens e ao lento, contínuo e acumulado esforço de gerações, ao longo dos tempos, que se criam as condições do êxito individual e os resultados coletivos. Por exemplo: alguém inventou o papel, a imprensa, a tinta; alguém criou a escola em que o aluno estudou, alguém instruiu o seu professor, o seu professor o instruiu; alguém criou a lâmpada debaixo de cuja luz ele estudou, alguém fabricou o ônibus que o transportou à faculdade, alguém inventou o agasalho que o vestiu nos dias frios, alguém inventou o giz com que o professor escreveu, vários alguéns lhe ensinaram as matérias, o próprio aluno estudou.

Cada pequena invenção ou criação decorreu de alguém, cujo êxito foi preparado pela agência de outros indivíduos; a somatória da contribuição de incontáveis, dezenas, centenas, milhares de pessoas resultou na providência humana que propiciou as condições para que o estudante pudesse estudar. Por fim, o estudante dedicou-se e, como desfecho da combinação de um sem-número de contribuições parciais de infinito número de humanos, ele passou na banca do T.C.C, no concurso, formou-se, obteve emprego etc..

É o ser humano em sociedade, mais o esforço individual, que cria as situações de cada um e não deus, nenhum deus.

Tudo quanto existe, tudo quanto você é e virá a ser, deve-o e devê-lo-á à Humanidade; a própria idéia de deus é criação da Humanidade, é produto artificial de pessoas.

O Positivismo, doutrina criada por Augusto Comte, reconhece, explicitamente, a existência da Humanidade, como conjunto contínuo, ao longo dos tempos, das pessoas convergentes, ou seja, que, em alguma medida, contribuíram para com o bem-estar alheio (conceito em que se incluem os animais). A Humanidade é real, compõe-se de pessoas realmente existentes; salvo os perniciosos, os parasitas, os maléficos, todos estamos nela inseridos e a integramos; é por ela e graças a ela que existimos e podemos realizar desejos, aspirações, obter alegrias e felicidade. Agradeçamos-lhe !

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