O estranho hábito de banhar-se duas vezes por dia.

O ESTRANHO HÁBITO DE BANHAR-SE DUAS VEZES POR DIA.

Na fria Curitiba, muitos deram de tomar dois banhos por dia : um de manhã, outro de noute, o que rareava até poucos anos atrás ; agora, difundiu-se mais, apesar do frio em aumento em Curitiba, em que raramente faz calor, em que raramente se sua, e em que havia racionamento d´água.

De súbito, os jovens curitibanos adotaram o hábito de tomar banho de noite (para livrarem-se dos suores e odores contraídos durante o dia) e de manhã, o que dizem ser, para alguns, despertador, animador ; para muitos (como é tradicional e óbvio) é ocasião de manstruparem-se ; também moças adotaram o banho matinal e possivelmente o da masturbação nele.

Durante a pandemia rarearam os contactos sexuais e avultou a masturbação ; daí (em parte, pelo menos) a propagação dos dois banhos.

Poder-se-á supor imitação : os jovens conversam entre si, falam de suas vidas pessoais e de seus hábitos ; em sociedade, toda atitude potencialmente serve de exemplo para terceiros, toda ideia de comportamento pode suscitar a ação respectiva : subitamente, tornou-se porreiro banho matutino por mimese do comportamento que os jovens averiguam em seus pares.

Terá havido influências, como programas de televisão em que alguém terá afirmado que o banho matutino favorece a meditação, a “energia”, é bom “para despertar”, dispõe o espírito para os “desafios” (palavra em voga), “afugenta a preguiça”.

Em muitos, ele é “energizante” e “despertador” por sugestão : as pessoas deixam-se levar por sugestões. Se algum programa popular lhes disser que é “energizante” acender velas coloridas no banheiro, que ela “atrai energias positivas”, “concentra o espírito”, haverá quem o faça ; se o mesmo programa lhes disser que banho matutino “dispersa as energias”, “desconcentra”, “desestimula a libido”, para muitos passará a ser assim. São superstições.

É racionalização pretender que o banho noturno é para si (homem vai dormir limpo) e o matutino é para os outros (vai-se limpo conviver), mas ao tomar banho de noite, já se limpou e durante o sono não se sujou ; quem assim racionalizou terá omitido que copulou de noite e, por isto, “sujou-se” e que a respectiva “sujidade” será “contagiosa”.

Banho quente resseca a pele e provoca dermatite na forma de coceiras ; é potencialmente nocivo ; dous diariamente é dispensável, toma tempo útil da pessoa, retarda a secagem das toalhas, avoluma o vapor que se acumula no banheiro ou invade os cômodos vizinhos ; desperdiça água, acostuma mal as pessoas, pode originar disputa entre os coabitantes pelo uso do chuveiro, sujeita a pessoa a atrasar-se em seus horários, será indício de hipocondria e de superstição.

“Acredita-se” ser bom tomar banho de manhã, como antanho “acreditava-se” em bruxas.

Alguns tentam redimir-se de suas culpas pela lavagem do corpo ; sentem-se moralmente sujos, e aliviados quando, simbolicamente, lavam-se ; o banho matinal será sintoma de culpas e de neuroses (amiúde sexuais).

Em cidades quentes (não Curitiba) entende-se a repetição do banho, porém não a do matutino, salvo sudorese noturna, raro fenômeno.

Notai vós : refiro-me a Curitiba, cidade de estranhezas.

Manstrupar-se = masturbar-se ; manstrupação = masturbação = onanismo = molície. Em bom rigor, o nome onanismo é impróprio, posto que Onan interrompeu o coito, não se manstrupou.

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