POR QUE CALÇÕES SÃO PROIBIDOS EM SÍTIOS LABORAIS ?

(Calção, calções são palavras vernaculares ; bermuda é anglicismo do topônimo bermudas, originariamente do espanhol. “Short” é anglicismo : significa curto e pode-se traduzir como calções curtos. Assim : calções, calções curtos, em português de truz).

  Um pouco fútil, é reflexão que interessa a abundantes brasileiros, no Brasil quente.

    Por que em dados sítios laborais é proibido que os funcionários vistam calções (“bermudas”) ? Eles são roupa usada por muitíssimos rapazes e homens; estão integrados aos costumes da sociedade brasileira; o formalismo do vestuário prescreveu há décadas : já somente certo pessoal jurídico veste habitualmente terno,  e ainda assim, apenas em audiências; usam-se tênis ou “sapatênis”, chinelos, sapatos muito menos; prevalecem camisetas ou pelo menos elas rivalizam com camisas ditas sociais.

    Por que, debaixo do calor mais ou menos constante do Brasil, funcionários de firmas privadas ou de repartições públicas não se podem trajar como se trajam as pessoas comuns na sociedade brasileira ?

   Por que é obrigatório vestir calças ? Será para proteger a moral e os bons costumes ? Será por pudor ? Para evitar-se a sexualização dos sítios de labor ? Será que os homens que vestem calções ofendem a moral e os bons costumes, são impudicos, sexualizam a outrem ?

    Por que o turista é obrigado a vestir calças para visitar o Museu da Justiça de Belo Horizonte ? Por que os funcionários da Biblioteca Pública do Paraná são obrigados a tal, embora possam pôr brincos em suas orelhas e nariz e pintar suas unhas e usar colares femininos ?  Por que os estagiários de certas repartições da prefeitura de Curitiba podem (pelo menos podiam) vestir calções ? Por que funcionários de firmas privadas na cidade do Rio de Janeiro (40 graus) são proibidos de vesti-los ?

          O exército britânico nos anos 1940 vestia calções na Índia. Vê-se que certos brasileiros são mais conservadores e caretas do que os britânicos de há 70 anos.

    Em dado ambiente laboral de Curitiba, o funcionário homem pode apresentar-se de unhas cor-de-rosa, colar feminino, brinco nasal ou auricular (estes são triviais há décadas), porém não pode de calções. Alguém me explique a lógica do aquilo pode, isto não. Na mesma repartição, o usuário pode andar descalço. Já na Fundação Cultural de Curitiba, vi funcionário (embora uma só vez) de camiseta regata, calções e chinelos: ele ususfruía de conforto térmico, o que lhe bem dispunha para bem exercer suas tarefas, em prol do público.

    É caretice de mentalidades, conservadorismo tolo de costumes : “tem de ter respeito”; “você não está na sua casa”; “existe a dignidade da Justiça”; “alguém pode ficar constrangido”; “há pessoas sensíveis”, como se calções fossem desrespeitosos, de uso apenas doméstico, impudicos, atentatórios da tal “dignidade da Justiça”, constrangedores, suscitassem melindres: são pretextos, superstições, alegações artificiais; em suma: tolices.

     Também é autoritarismo; tenho outra suspeita : a de que os chefes que obrigam seus funcionários a vestirem calças têm imenso desejo de vestirem calções, porém não o fazem e por isto proíbem nos outros o que eles próprios se proíbem.

        Outra hipótese : sexualidade mal-resolvida : a certos chefes ou chefas, basta que vejam perninhas apetitosas de varões bonitos que já ficam no cio ou são sexualmente frustrados por não poderem ou não haverem podido transar com homens e recalcam sua frustração mediante o encobrimento das pernas alheias.

     Outra coisa irracional : a obrigação moral de as mulheres encobriram suas mamas, em praias e em público, em nome da decência, da moral, dos bons costumes etc., como se as ditas mamas fossem indecorosas, especialmente o bico-do-seio. Por que o homem pode expor seu mamilo e a mulher é proibida de fazer o mesmo ? Esta caretice é brasileira; na Europa em geral, no México e alhures, as mulheres têm esta liberdade.

   No Brasil discute-se sexualidade, transsexualidade, gênero, que são cousas modernas ; quanto aos calções e às mamas, parte do Brasil é supersticioso, repressor e arcaico.

      Gente bem resolvida não quer ditar como os outros devem viver e vestir-se ; reconheço que há limites e padrões do que seja socialmente aceito : os calções são socialmente aceitos.

É reflexão interessante à luz do conservadorismo de costumes, das superstições nos costumes, da irracionalidade de certos costumes e do direito laboral. Na atual legislatura do congresso nacional, composta de evangélicos, militares, policiais e adesos ao conservadorismo de costumes, recusam-se liberdades nas formas de estar das pessoas (o que também abarca o aborto). A gosto do vestuário austero é marca da caretice de costumes de nossos conservadores, notadamente religiosos. A proibição de calções é caretice conservadora-evangélica.

   No foto : turma de trabalho da Força Aérea Norte-Americana, de serviço.

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