O Fantástico e os bandeirantes
15.X.2007
Arthur Virmond de Lacerda Neto
arthurlacerda@onda.com.br
O programa Fantástico, por meio do apresentador Pedro Bial, vem emitindo uma série de matérias relativas à história do Brasil. Toda iniciativa que se destine a rememorar os fatos do passado de um país, é louvável; poderá não o ser o conteúdo apresentado, como foi o caso do episódio concernente aos bandeirantes, apresentados como mitos da história pátria e como personagens destruidores.
Todo indivíduo deve ser julgado conforme as circunstâncias em que atuou, considerando-se as exigências do meio, a mentalidade da época e os resultados da sua atuação em que importam os seus efeitos, maléficos e benéficos. Dentro destes critérios, a análise histórica adquire respeitabilidade e torna-se construtiva. Não é, infelizmente, o que se observou no Fantástico, a respeito dos bandeirantes: foram eles apresentados como rapinadores e, portanto, como elementos negativos, quando o seu papel foi o de desbravar o território nacional, com tenacidade e perseverança ímpares, sentido no qual representam exemplos de força de vontade individual e de esforço na consecução de objetivos. Eles encarnaram semeadores de civilização e construtores da nacionalidade.
É exagerado taxá-los de rapaces e de exterminadores dos silvícolas: se houve maus tratos aos indígenas, deveram-se antes à mentalidade de então, do que a uma sua específica atitude desumana. Sem os inocentar, não os podemos condenar por haverem atuado como pessoas do seu tempo.
Da mesma forma, é injusto generalizar: nem todos os bandeirantes maltrataram os indígenas, ao contrário, ao passo que todos desenvolveram esforço útil na expansão do território nacional, todos representaram valores humanos positivos no conjunto da evolução do Brasil.
Por isto, lamentei ver uma parcela da história brasileira ser criticada de forma sensacionalista e parcial, em um verdadeiro desserviço aos brasileiros menos informados, infelizmente, a grande maioria, em quem reportagens daquele caráter tendem a incutir o desprezo pela história pátria, a desestima de ser brasileiro, o enfraquecimento da identidade nacional.