PÊNIS, PORRA, PUNHETA, PRIÁPO.

No Brasil, alguns cidadãos têm vergonha de proferir o nome do pênis em dadas circunstâncias : em família, entre pessoas de alguma formalidade, alguns hesitam, gagejam, não sabem como nomeá-lo, como se fossem dizer palavrada ; lançam mão de sucedâneos, como “pingulim”, “a coisa”, “Bráulio” e outras tolices.

Pinto é pinto, pênis, falo, mentula.

Pinto não é chulo; dizer falo ou pênis é elegante. Pênis, do latim “penis” signifca rabo, cauda, pois compararam-no a pequeno rabo que os homens teriam, aliás, no lugar errado. Melhormente diremos mentula, do latim “mentula”, ou marzapo ; se avultado, então : mangalho.

Bocage criou a belíssima palavra porripotente.

Porra é maça, arma de contusão ; pica é lança. Metaforicamente e como tabuísmo, nomeiam a mentula (porra já no século XVIII na culta, já então culta, Curitiba).

Porreiro é encomiástico em Portugal; é giro, bacana, legal, ótimo, da hora. Podemos usá-la no Brasil; não tem conotação com porra.

Porra nenhuma é tabuísmo no Brasil ; significa nada, coisa alguma. Porra louca é plebeísmo e significa estróina, inconseqüente, estúrdio; lustros há, chamavam “vagal”.

Punheta de bacalhau é bacalhau desfiado; no Brasil, punheta é masturbação. Será tabuísmo, porém não acho mau que se trivialize e falemos “bater punheta” desinibidamente. É expressão que se coaduna com a índole do vernáculo : bater ovos, bater massa de pão, bater cabelo, bate-mão (há outras).

Na Bahia há um doce chamado punheta de estudante, que nada tem de turpilóquio e é revelador de que os estudantes batem punheta, no que fazem bem.

A inculcação cristã estigmatizou a mentula : é a parte que deus criou de que o homem (mais) se envergonha. Causa-me espécie que a criatura se envergonhe de parte da obra de seu criador. Nas praias, em casa, em público, homens devem encobrir o pinto, como se nele algo houvesse de indecoroso : nada há. À estigmatização do pinto é correlata à da nudez, e considero cômico que em balneários de ginásios no Brasil, os machos adentram o cubículo do chuveiro de cuecas e dele se retiram de cuecas : não expõem seus pintos que devem ser minúsculos ou tortos ou empestados. “Só pode”. “É muito louco”.

Jeová (deus cristão) era o único deus de todos os milhares que houve, sem pinto e que não praticava sexo. Estará aí, em parte, pelo menos, a origem da repressão sexual tão cara ao catolicismo. No ambiente protestante a sexualidade não é tabu como no meio católico.

Maravilha é a lâmpada de Aladim, em que ele com sua mão, esfregava-a para cima e para baixo, e também para os lados… Os psicanalistas e os observadores perspicazes perceberam que a tal lâmpada era substituto simbólico do “phalus erectus” e que sua esfregação representava manstrupação. “É muito louco”, diz o vulgo.

Em Ezequiel, lemos que fuã “Desejou ardentemente os seus amantes, cujos membros eram como os de jumentos e cuja ejaculação era como a de cavalos.” Gostava de que na igrejas se explicasse como era isto, porque é a “palavra” e é revelação divina. “É muito louco”, diz o vulgo.

Em 1760 médico suíço, dr. Tissot, redigiu “O onanismo”, manifesto anti-masturbação, de imenso êxito. “Acreditava-se” que a manstrupação causa olheiras, debilidade, loucura, reumatismo, gota, etc. Naquele século, maiormente na Alemanha, desencadeou-se campanha de repressão da masturbação, por meio de inúmeros livros que se sucederam por décadas. Um pastor escreveu outro livro, e a repressão da manstrupação propagou-se por contágio mental, como a homofobia no século seguinte. Houve gerações de rapazes reprimidos e neuróticos.

Segundo consta, 95% dos machos manstrupam-se ; os outros mentem que não.

De padres & seminários contam-se anedotas pitorescas. Dizem-me serem mui comuns padres com amantes homens, às claras, em Porto Alegre.

Poucos anos atrás, alguns alegres inventaram o neologismo “gói”, por analogia com “gay”. Góis são homens heteros que fazem sexo com homens : manipulações, tocamentos, esfregações, chupações, lambeções & outras coisas. A atividade gói compreende disputas de masturbação : ganha quem lançar mais longe seu suco natural, cousa praticada há gerações, antes de haver a tal palavra.

Manstrupação é masturbação; é palavra castiça e antiga. Não figura em alguns dicionários incompletos.

Em Curitiba, há trecho de calçada ornamentado com representações de vários escrotos e de vários pênis eretos em penetração. Julgo que pouca gente deu por isto; já eu, de reparar-lhes uma e mais vezes, concluí ser calcetamento singular, quiçá único na Terra. O calceteiro lá deixou sua obra artística que, penso eu, deveria ser atração turística.

Nas Caldas da Rainha fazem-se as célebres malandrices : esculturas fálicas, que se vendem abertamente ; em Amarante vende-se o pão de São Gonçalo, bolo faliforme, recoberto de açúcar, que também se vende às claras. Ambos são tradicionais, como também o era as mulheres masturbarem o boneco de s. Gonçalo, o que o padre julgou indecente; pô-lo no alto da parede, com cordão comprido (que lhe ata a túnica); atualmente as mulheres masturbam-lhe o cordão, em nome da fertilidade.

Em diversas culturas (em Roma e na Grécia antigas, na India, na meso América), o pinto não era e não é estigmatizado como o é nas sociedades cristãs. Lembrai-vos de que imoral é o que excita o moralista e de que estigmatizar é sexualizar ; tratar com indiferença é não sexualizar.

Os deuses e os imperadores romanos eram retratados nus, de pinto e escroto à mostra : não era vergonhoso e até as crianças das famílias tradicionais romanas os viam.

Priápo era o deus do pinto, em Roma ; é dos (raros, creio) deuses que o cristianismo não transformou em santo : não há santo do pinto, da ereção, da manstrupação. Nos jardins das casas romanas punham-se bonecos de Priápo, de pinto ereto : era-lhes protetor e virtuoso.

Priapéia era gênero literário nas poesias gregas e romanas : cantava-se o pinto. Vede vós que diferença entre a naturalidade do espírito antigo e o obscurantismo sexual e anatômico do cristianismo. O livro “Falo no jardim” (sobre priapéia) está publicado no Brasil, com gravuras.

Acho horrível que entre judeus o sinal da aliança deles com seu deus fosse mutilar a mentula, pela circuncisão, aliás, de origem egípcia ; há aí qualquer coisa higiênica ou de natureza diversa a que os mistificadores imputaram sentido divino, para convencer seu público. Causa-me espécie que no cristianismo primevo disputava-se sobre se o fiel cristão devia ou não ser fanado. Que ideia, a de que deus queria que se tirassem os prepúcios… Acho cômico que em diversas igrejas se exiba o prepúcio de Jesus.

Aquela de “ungido” dá-me o que pensar… Lê-se no célebre livro de Carlos (Charles) de Brosses (O culto dos deuses feitiços) que na antigüidade besuntavam-se pedras com óleo e que assim oleadas, eram esfregadas e veneradas como divinas : eram pedras ungidas. Esta é a origem da unção, do “ungido” no cristianismo. Cá para mim, era substituto simbólico de bater punheta. Com o andar do tempo, irrogou-se a qualidade de ungido a Jesus e a igreja modificou-lhe o caráter de metáfora masturbadora em atributo divino, como o fez com outras heranças dos cultos anteriores. O faraó, por exemplo, batia punheta e ejaculava no rio Nilo, como culto da fertilidade.

SONETO DO MEMBRO MONSTRUOSO.

            Bocage.

Esse dysforme, e rigido porraz

Do semblante me faz perder a cor:

E assombrado d’espanto, e de terror

Dar mais de cinco passos para traz:

A espada do membrudo Ferrabraz

De certo não mettia mais horror:

Esse membro é capaz até de pôr

A amotinada Europa toda em paz.

Creio que nas fodaes recreações

Não te hão de a rija machina soffrer

Os mais corridos, sordidos cações:

De Venus não desfructas o prazer:

Que esse monstro, que alojas nos calções,

É porra de mostrar, não de foder.

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