Palavra “séde”: mistério…

PALAVRA “SÉDE”: MISTÉRIO …

Alguns (jovens) estranham quando me ouvem a palavra “séde” (sede de uma firma, como na frase “Endereço da sede, nome, CNPJ”). Fazem-me cara de estranheza, esgares, expressões de interrogação e até de nojo, como se estivessem contendo descarga diarréica.

Há “sede” (“sêde”) e há “sede” (“séde”) e há adultos jovens que desconhecem “séde”. Dá-me o que pensar: há pobreza léxica; estão avezados a vocabulário exíguo; estão desacostumados a adir ao seu repertório terminológico; não consultam léxicos.

O pior é a cara de nojo de alguns. Outros emitem sons:
– Hã ?
“Hã” não sei o que seja.

Outros termos não suscitam reações que tais. Deve haver alguma essência metafísica na palavra “séde”: ela contém, quiçá, propriedade estranhável, assim como as palavras sinalagma, impertérrito, fescenino.

Talvez ela seja demoníaca, instrumento do Diabo para tentar quem acredita em que ele existe (esta de Diabo é patacoada, porém há vastas camadas de humanos que lhe aceitam a existência e o temem. É ridículo, mas, enfim, cada um é tolo ao seu modo).

Talvez seja ela palavra de uso raríssimo, invulgaríssimo, própria de doutíssimos.

Para os que a estranham, quiçá seja cacofônica e lhes soe mal, como a expressão: “vaca galo”, em que há cacófaton: “vá cagá-lo”, que muitos não percebem, pois só conhecem “vá cagar ele” em lugar de “cagá-lo”. (É no que dá povo incapaz de combinar o verbo com o pronome como: “vendê-lo”, “emprestá-lo”, “comuniquei-o”. Combinação deste tipo com mesóclise já excede o expectável, em brasileiros atuais: “dir-to-ei”, “explicar-lhe-ia”, “ensinar-vo-lo-ei”. “Sê-lo” pensam ser “selo”). Não atino na ruindade dos sons “sé”, “dê”.

Talvez ela seja como outra qualquer, como as mais fáceis (ela o é) do vernáculo e seja bem sonante e inocente (afianço-vos que o é), e o problema (há algum) esteja com certos jovens que, dotados de conhecimento raso do seu idioma, desconhecem-na.

Moça brasileira, ontem, disse-me e para quem me acompanhava: “Deixo [um objeto] convosco”. Convosco ! Foi corretíssimo ! Em Portugal, toda a gente (“toda a gente”, que “todo o mundo” é porcaria: galicismo), até crianças sabem “vosso” e “convosco”; cá, é motivo de júbilo quando jovem (vestia preto) exprime-se assim: presumo ser efeito do preto que vestia.

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