Evangélicos, e esclarecidos. Casamento homo. Paródia da crucificação de Jesus. Cristiano Araújo.

EVANGÉLICOS, E ESCLARECIDOS. Há dois brasis em confronto: o anacrônico, intolerante, arrogante, preconceituoso e evangélico-radical, e o moderno, tolerante, humilde, acolhedor e laico-humanista.
Por um lado, a mentalidade moderna, de liberdades e fraternidade, de compreensão e acolhimento. Por outro, a mentalidade antiga, de repressão, de hostilidade, de incompreensão e de recusa.
De um lado, o esclarecimento, a informação, o conhecimento; de outro, a ignorância, o obscurantismo, a doutrinação.
De um lado, milhões de pessoas comandadas mentalmente por fanáticos religiosos. De outro, milhões de pessoas cujo papel, urgente, é o de, nas eleições, na opinião pública, no jornalismo, cada um a seu modo e todos em uníssono, empenhem-se por manter o Brasil país de liberdade, de fraternidade, de laicidade. Caso contrário, em breve regressaremos aos piores dias em que o catolicismo era religião obrigatória, em que divergências de opinião religiosa puniam-se como crimes de heresia, em que se queimavam pessoas vivas, com a diferença de que, desta vez, os católicos também serão queimados, juntamente com os ateus, agnósticos, livres-pensadores, budistas, umbandistas e, antes de todos, os homossexuais, as lésbicas, os transexuais.
A bancada evangélica representa o atraso, a superstição, a intolerância, o autoritarismo religioso. Ela se julga dona da verdade e representante do deus dela. Ela não sabe distinguir entre função pública, cargo político, e missão religiosa; entre atuar em nome do bem comum e atuar para moldar a sociedade conforme a sua religião. Ela é perigosa e é preciso, é urgente, que a sociedade esclarecida reaja, pela opinião pública, pelo voto, por protestos, seja como for, e que os cabecilhas políticos que divergem dela, encorajem-se para enfrentá-la, sem receio de perder votos: os políticos esclarecidos terão os votos de eleitores esclarecidos.

PORQUE APOIO A PARÓDIA DA CRUCIFICAÇÃO DE CRISTO NA PARADA DA DIVERSIDADE DE SÃO PAULO. A figura de Cristo crucificado é religiosa, porém não é propriedade de nenhuma religião, de nenhum dos seus seguidores e de nenhuma igreja cristã. Qualquer um (cristão ou não) pode, artisticamente ou não, apropriar-se da cena da crucificação e representá-la, ou parodiá-la (como foi o caso). No caso, a imitação transmite mensagem , assim como a de Cristo transmite uma: a dele é a de quem sofreu pelos homens, para “salvá-los”, por amor deles, e transmitiu-lhes mensagem de amor e compaixão. A paródia transmite a mensagem de que as trans-sexuais carecem de amor e compaixão; elas são, metaforicamente, crucificadas pela sociedade intolerante. Assim como a imagem sanguinolenta de Jesus inspira sentimentos cristãos, a imagem sanguinolenta da figurante destinou-se a inspirar sentimentos de solidariedade e a despertar reflexões sobre a realidade de que tais pessoas padecem. A mensagem deveria ser especialmente sugestiva para os cristãos. Os que professam o cristianismo verdadeiramente, que compreenderam a mensagem amorosa e fraternal do seu herói, acham-se aptos a interpretar a encenação como o próprio Cristo tê-lo-ia, provavelmente, feito. Já os que professam o cristianismo raivoso, intolerante, possessivo da imagem do seu herói, e sobretudo, homofóbico,estes, era expectável que se indignassem com a representação e a vissem como blasfêmia. A representação foi bonita esteticamente, significativa à luz da sua mensagem, convicente para os cristãos de coração e odiosa para os cristãos do ódio homofóbico. 9.VI.2015.

 

CASAMENTO HOMO. É tão simples, tão natural, tão óbvio que quem se ama ou sente atração deve poder dispor da faculdade de unir-se sob a proteção do Estado, por casamento, que em futuro quejá vai sendo o nosso presente, as gerações vindouras, que já é a que conta cerca de 15 anos, terá dificuldade, no futuro, quando a homoafetividade for mais consensual, em entender como foi possível que, por 800 anos, ela não o fosse. Como entender que não o foi? É porque os condicionamentos mentais existem e este perdurou por imitação e por reprodução de todos os meios, até que começou a haver reação em sentido oposto, crescente, avassaladora, vencedora. A simplicidade, a naturalidade, a obviedade, a humanidade do casamento homo, tem, para mim, um nome: positividade, no sentido de Augusto Comte (fundador do Positivismo): é real a existência da homossexualidade, é útil para os interessados a sua consagração legal, é simpática a legalização do casamento homo e a erradicação da homofobia. Tudo isto é óbvio para mentes laicas, sem religião homofóbica e, em geral, atéias. Sim, atéias: o ateu não obedece à deus; segue o bom senso.  28.6.2015.

 

VOCÊ ORA A DEUS? EU NÃO. Lógica teológica: o homem pede a deus que ele intervenha nos negócios humanos. O homem súplice; deus poderoso, concede ou indefere. O homem depende de deus. Lógica humana: não há deus; o homem não pede nada a nenhum ser sobrenatural, porém faz. O homem é o agente do seu destino. A lógica teológica é infantil, cria dependência artificial, imobiliza o ser humano. A lógica humanista é adulta, cria atividade deliberada, ativa o ser humano. Orar é uma boa forma de não fazer nada e pensar que está fazendo alguma coisa. 25 de junho de 2015.

 

25 de junho de 2015. SOBRE A MORTE DO CANTOR CRISTIANO ARAÚJO. A televisão brasileira insiste em transmitir o velório do cantor. É o que diferencia os telejornais brasileiros dos de outros países, como, por exemplo, Portugal: aqui, eles destinam-se a emocionar e a chocar; lá, a informar. Por isto, cá, a tragédia, a desgraça, o sofrimento, a morte, o velório; lá, discrição total acerca de velórios, respeito pelo sofrimento da família do morto; aqui, exposição da família do morto, como a câmera que se aproxima dos rostos chorosos; lá, jamais tal coisa seria apresentada. Cá, a televisão-espetáculo-reles; não que lá não haja programas de auditórios tolos, que os há, porém este tipo de jornalismo lá não existe. Os jornalistas, autores de matérias deste tipo e os diretores dos telejornais deveriam ter algum pudor, alguma vergonha na cara, algum senso de respeito humano, alguma auto-crítica e cessarem de expor o sofrimento alheio no grande Big Brother Brasil que são os telejornais. Fala-se em auto-regulação das emissoras; elas auto-regulam-se mas comprazem-se em explorar a morte, o sofrimento, o cadáver; para esta gente, é moral, é aceitável, explorar a tragédia alheia . Dá-me nojo que seja assim.

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