COMO COMBATER O VÍCIO DE “TUDO BEM ?”.

COMO COMBATER O VÍCIO DE “TUDO BEM ?”.

Combatereis o vício chato de saudar com a pergunta artificial e boba “Tudo bem ?” não a usando; em seu lugar vós cumprimentareis com as formas tradicionais brasileiras: oi, olá, bons-dias, boas-tardes, boas-noites (no plural), salve, fulano (nome da pessoa).

Quando vos usarem a pergunta pau “Tudo bem ?”, vós respondereis sem a artificial e brega resposta “Tudo bem”, mas usareis os cumprimentos suso ditos: oi, olá, bons-dias, boas-tardes, boas-noites, ainda que o reiterem, como aqui:

Tudo bem ?

– Olá.

– Tudo bem ?

– Bons-dias.

Terminemos o viciosíssimo diálogo “Tudo bem ?”, “Tudo bem”.

Por que vós fingis estar tudo sempre bem convosco, em todos os momentos ?

Atentai para que o brasileiro gosta de perguntar em seus cumprimentos, e sempre quer saber se tudo vai à maravilha na vida alheia: tudo bem ?, tudo jóia ?, tudo legal ?, tudo em cima ?, tudo em riba ?, tudo azul ?, tudo na santa paz ? tudo  nos conformes ?

Alguns encavalam 2 ou 3 perguntas: “Tudo bem ? Jóia ? Beleza ?” ou “Tudo legal ? Tudo bem contigo ? De boa ?”. Êta, chatos de galochas !

Todas essas perguntas dizem respeito à vida pessoal do interlocutor; “tudo” é tudo: é o aspecto financeiro, o profissional, o conjugal, o sexual, o de saúde etc. Nesse cumprimento, o assunto é a vida de quem recebe a saudação. Podemos e devemos cumprimentar com saudações, sem fazermos da vida privada alheia assunto; podemos nos interessar pelo bem-estar alheio e travar diálogos em que perguntemos se lhe está tudo bem, desde que tenhamos liberdade para tal e que o façamos no momento e no ambiente próprios, não como frase feita chata e falsa.

Geralmente não está tudo bem, tudo jóia, tudo legal, tudo em cima, tudo em riba, tudo azul, tudo na santa paz, tudo de boa; as pessoas não estão sempre, em todos os momentos, com tudo bem em suas vidas.

Pergunta-se por perguntar; de facto, raros estão interessados empaticamente na vida alheia, raros solidarizam-se com os problemas alheios. Se respondêsseis “Não está tudo bem”, quantos perguntar-vos-iam “Posso ajudar ?”; tu próprio quererias ajudar ? Quererias ouvir ? Quererias saber, de facto, dos problemas alheios ? Não sejais falsos nem maçantes.

Essas perguntas fazem-se com a maior trivialidade, sem contexto nem lugar de intimidade; elas não são para serem respondidas com verdade e sim com o enfadonho e ritualizado “Tudo bem”. Não precisamos dessa pergunta: não sejamos importunos; não precisamos dessa resposta: não a provoquemos.

Não queremos expor nossa privacidade a torto e a direito; não queremos falar de nossa intimidade para toda a gente; tampouco queremos ser tema de mexericos e de palpites muitas vezes tolos de intrometidos. Principalmente por isso mentimos que nos vai sempre tudo bem. Interrompemos a invasão de intimidade com “Tudo bem”. Se está tudo bem, termina de pronto o assunto pessoal, ainda que não o esteja; respondemos que está “tudo bem” porque não está. O brasileiro vive diariamente esse diálogo patético.

Atentais para que perguntar “Tudo bem ?” não é questão de educação: é questão de fingimento, de falsidade, de invasão da intimidade alheia. Perguntar “Tudo bem ?” é deseducado e inconveniente; quando menos, é artificial e mais do mesmo sem sentido.

Abandonemos a pergunta “Tudo bem ?” e seus sucedâneos: são invasores e de mau gosto.

Necessitamos de outra forma de estar e de relacionarmo-nos, sem sermos invasores da intimidade alheia e sem perguntas cacetes com respostas artificiais. Cumprimentemos com oi, olá, bons-dias, boas-tardes, boas-noites. “Tudo bem ?” é invasor e de mau gosto.

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