Vícios de linguagem.

Todo este texto é-me da autoria. Só pode ser citado ou excertado com indicação de autoria e fonte.

                             VÍCIOS DE LINGUAGEM.

VÍCIO DA DUPLICIDADE DOS BRASILEIROS.

Os jornalistas brasileiros, os autores de textos acadêmicos (monografias, dissertações, teses) e muitos de quantos redigem no Brasil, praticam o vício da duplicidade: repetem o sujeito e outros componentes da frase, como o complemento verbal ou o objeto. Usam, viciosamente, perífrases. Não sabem escrever sem ele, desaprenderam alternativas de construção de frases sem ele. São incapazes de usar os pronomes em lugar da repetição do sujeito ou de outros elementos da frase.

Por exemplo: “OAB divulga lista de faculdades recomendadas pela entidade.” (vício de duplicidade do sujeito: OAB e entidade.). Logo, a OAB divulga lista de faculdades recomendadas por alguma entidade, que não se especifica. Mas o autor desta péssima frase quis dizer que a tal entidade é a própria OAB. Muito melhor é: “OAB divulga lista de faculdades que recomenda.”.

“Suspeita de matar o filho não aceitava homossexualidade do jovem” (vício de duplicidade do complemento verbal: filho e jovem.).

Que jovem ?

Na frase, há “o filho” e “o jovem”. O filho é o jovem; o jovem era o filho, porém não se explicita que o filho fosse jovem: poderia ser criança, velho, maduro.

A redação contém o vício duplicidade do complemento verbal (objeto direto, ou seja, filho) que, na segunda oração, também é predicativo (jovem).

Agora sem a duplicidade: “Suspeita de matar o SEU filho não LHE aceitava a homossexualidade”. Isto é frase correta, perfeita, destituída de duplo sujeito.

Outra: ‘Produtores jogam tomate fora após queda do preço da fruta” (vício de duplicidade do complemento verbal: tomate e fruta.).
Tomate e fruta são o mesmo; não são dois (tomate; fruta), mas um: a fruta é o tomate.
É como escrever: produtores jogam tomate no lixo após queda do preço do tomate. Corretamente escrito: “Produtores jogam tomate fora após queda do preço deste”, em que o pronome demonstrativo (deste) indica o tomate e elide anfibologia relativa a quem corresponde ao preço, pois caso se redigisse “Produtores jogam tomate fora após queda do seu preço”, o pronome “seu” virtualmente suscitaria a dúvida relativa a se o preço se refere ao preço ou aos produtores.

Em revistas, gazetas, telejornais, é correntia tal construção viciosa.

É vícioso escrever assim; é redundante escrever assim; não é “estilo jornalístico”, é mau estilo pois induz o leitor ao equívoco de entender dois sujeitos onde há um só.
Na Gazeta do Povo, há tempos, o título era mais ou menos: “Cobra achada no Barigui; ofídio não é perigoso; vertebrado foi capturado; serpente foi levada embora”. (Vício da quadruplicidade do objeto). O leitor tem de saber que cobra é ofídio, que ofídio é vertebrado, que serpente é cobra.
Era muito melhor se o pedante (sim, pedante, porque isto de duplicidade é pedantismo) houvesse redatado: “Cobra achada no Barigui; não é perigosa, foi capturada e levada embora.”.
Outra exemplo: Galileu escreveu livros, sendo importantes os do astrônomo. O leitor tem de adivinhar que o astrônomo é Galileu; não é suposto que o saiba (duplicidade do sujeito). Perceba a diferença agora: Galileu, astrônomo, escreveu livros importantes. O astrônomo Galileu escreveu livros que são importantes. São importantes os livros do astrônomo Galileu.
Outro exemplo: “México se prepara para maior furacão da história do país”. Que país ? (Vício do duplo sujeito: México e país). Correto é: “México se prepara para maior furacão da sua história”. Excelente, corretíssimo, sem duplo sujeito.

Outro exemplo: “Segundo a assessoria de imprensa do Conselho Nacional do Ministério Público, o processo para apurar a conduta do promotor de Justiça foi arquivado. O Conselho teria considerado que os atos praticados pelo membro do MP […]”. O complemento verbal (objeto indireto) é “promotor de Justiça”; a seguir, é “membro do MP”. Não é suposto que o leitor saiba que promotor de Justiça é membro do MP.

Melhor é: “Segundo a assessoria de imprensa do Conselho Nacional do Ministério Público, o processo para apurar a conduta do promotor de Justiça foi arquivado. O Conselho teria que considerado que os atos praticados por ELE […]”.

Outra: na Casa de Juscelino Kubitschek, lê-se, junto de pia: “Não toque na pia. A peça está frágil”. É como se houvesse pia e peça e a peça fosse diferente da pia. Melhor é: “Não toque na pia. Ela está frágil”, em que se entenderia, inequivocamente, que a pia está frágil.

Outra: “Ao longo do texto, o tradutor quis destacar palavras e expressões de Nietzsche, objetivando compreensão do texto do filósofo.”. Que filósofo ? É Nietzsche ? Sim, é-o; cuida-se de livro da sua autoria (repare: usei o pronome; evitei o duplo sujeito); logo, é óbvio, pelo contexto, que filósofo = Nietzsche. Escrevesse:
a) “Ao longo do texto, o tradutor quis destacar palavras e expressões de Nietzsche, objetivando-LHE a compreensão do texto.”;
b) “Ao longo do texto, o tradutor quis destacar palavras e expressões de Nietzsche, objetivando a compreensão do SEU texto.”.
A construção “a” é castiça e corretíssima; a “b” é corretíssima. O escrevinhador praticou a pior.

Outra: “Casal que recebeu apoio de Ivete processa cantora”. O casal recebeu apoio de Ivete; mas Ivete é a cantora. O autor desta péssima frase supõe que o leitor saiba que Ivete é cantora; não é suposto que o leitor o saiba, embora muitos o saibam. E se ele não souber? Neste caso, entenderá que Ivete é uma pessoa; cantora é outra; logo: o casal que recebeu apoio de Ivete processa outra pessoa. A forma correta é: “Casal que recebeu apoio da cantora Iveite processa-a.”.

Um título dizia: “Oração pelos irmãos mexicanos: furacão atingirá o país hoje”. Que país? Nesta frase, o seu redator está viciado ao ponto em que, no entendimento dele, o complemento verbal (do México) acha-se oculto e como que presumido no adjetivo “mexicanos” (mexicanos = do México) e, sem que o haja enunciado, enunciou o complemento verbal (objeto direto), ou seja, “o país”, na segunda oração. Em suma: redigiu pessimamente.

Para evitar a repetição do sujeito, em lugar da sua repetição, use pronomes: eles existem para isto. Por exemplo: “Caracala governou Roma; Caracala foi importante”. Escreva: “Caracala governou Roma; ELE foi importante.”.

Evite: “Caracala governou Roma; o imperador foi importante”. Nesta péssima frase, Caracala = imperador, porém não é suposto que o leitor saiba que Caracala = imperador. O leitor desavisado pensará (com razão) que Caracala é um e que imperador, é outro.

Atente nisto: os pronomes ele, eles, ela, elas, destinam-se a evitar a repetição do sujeito. O uso de perífrases (rodeios de linguagem ou de substantivos) para referir-se ao sujeito constitui vício de duplicidade (do sujeito e não só).

Os redatores de gazetas e de revistas incorrem, sistemática, ou seja, viciosamente, no vezo da duplicidade; complicam desnecessariamente as frases; escrevem defeituosamente.
É sofismar dizer-se que o jornalismo tem estilo próprio, que escrevem assim para chamar a atenção do leitor, que o sujeito duplo ou plúrimo é próprio da técnica jornalística etc.. Pode-se (e deve-se) escrver com clareza e sem duplicidade, sejam textos jornalísticos, acadêmicos ou quaisquer outros.

Segundo alguns, praticam a duplicidade para evitar-se a repetição do sujeito. Ora, para evitar-se a repetição do sujeito existem pronomes. Pronomes ! Ele, ela, eles, elas, seu, sua, seus, suas, dele, dela, deles, delas !! Eles existem ! Sim, existem e servem exatamente para evitar-se a repetição do sujeito ! Use-os !!! Quem os usa, evita o duplo sujeito; cometê-lo importa supressão dos pronomes e involução lingüística.

Alguns redatores esmeram-se em multiplicar as perífrases. Pensam que fazê-lo é escrever bem. Não; é escrever mal. E haja pachorra para, todos os dias, ter de ler e reler certos textos e títulos para perceber se há duplo sujeito ou se há dois sujeitos.

É vício, verbosidade inútil; é pobreza de qualidade do texto, é texto mal escrito, porcaria, carência de senso estético e de eficácia na comunicação, que já grassa entre outros escritores e não apenas entre jornalistas. Universitários, juristas, professores, sociólogos, autores de artigos acadêmicos, desafeitos à leitura, mal enfronhados nos bons escritores do idioma repetem o vício do duplo sujeito em monografias, dissertações, teses, artigos, livros, em que o duplo torna-se triplo, quádruplo, quíntuplo. O autor não percebe o grotesco da sua redação e, certamente, acredita praticar bom estilo. Ilude-se.

É inútil e redundante repetir o sujeito, contudo jornalistas, universitários e escrevinhadores em geral esmeram-se no vício do duplo sujeito e já desaprenderam a empregar os pronomes. Sequer sabem da existência de ele, eles, ela, elas ? É vício generalizado, no Brasil; suponha seja ensinado, por professores equivocados, para alunos ingênuos: professores ineptos e alunos crédulos, uns e outros destituídos de senso crítico e, presumo, de leitura de bons autores, pelo menos de autores melhores do que os formam os tais ensinantes, nos tais instruendos.

Evitar palavras (cujos sinônimos procure no dicionário) pode ser esteticamente valioso (é-me o procedimento); já evitar a repetição dos nomes não é vantajoso e resulta na duplicidade do sujeito. Escrever várias vezes o nome não torna o texto desagradável; nada há de desagradável nesta repetição. Ao invés: ela evita confusões e permite ao leitor identificar, sem dúvidas, de quem ou de que se trata. (Os clássicos não usam duplo sujeito; repetiam os nomes. Os clássicos são desagradáveis ?).

Pode-se evitar a repetição do nome pelos pronomes (ele, eles, ela, elas, o, a, os, as, te, to, vos, vo-lo, vo-la, nos, no-lo, no-los, no-la, no-las, lhe, lhes, lho, lhos, lha, lhas, cujo, cuja, cujos, cujas) que existem precisamente para isto; esta é a sua função. O seu emprego não causa nenhuma confusão, a não ser que o texto haja sido mal redigido ao ponto de havê-la, caso em que o defeito não está no pronome e sim na inépcia do autor. Por exemplo: ocasionalmente, há dois sujeitos e o texto se refere a um, e a outro; se se usar “seu”, pode haver confusão, motivo por que se deve usar “seu” e “dele”.

Bons redatores empregam, vantajosamente, os pronomes; maus redatores usam, desvantajosamente, o duplo sujeito e desconhecem o valor dos pronomes.

ATENTAR EM E NÃO ATENTAR-SE A.

O verbo é atentar em; não é “atentar-se” (não é reflexivo). Ninguém “se atenta” à data da prova: alguém atenta à data da prova.

Atentei em quanto dinheiro tinha e não “me atentei” a quanto dinheiro tinha.

Atentei no problema e não “me atentei” nem “atentei-me” ao problema.

 

USO ERRADO DE VERBOS COM REGÊNCIAS DISTINTAS.

Há até cerca de 5 anos, era freqüente o erro de se escrevinhar (escrevinhar= escrever mal) dois verbos em seqüência, que exigem preposições diferentes. Por exemplo: “Vitrúvio se refere e comenta autores”. Refere-se A; comenta (autores). Logo: “Vitrúvio refere-se a autores e comenta-os”.

Outro: “Fuão participa e comparece a reuniões”. Participa-se DE; comparece-se A. Logo: “Fuão participa de reuniões e gosta delas.”.

É vício usarem-se dois verbos que exigem preposições distintas, um após o outro, com a preposição ou com a construção apenas do segundo. Isto é escrevinhar, é texto mal escrito.

    VÍCIO DE “ALGO”. A chuva é algo bom. Ler mais é algo desejável. Há corrupção e isso é algo negativo. Agora compare: a chuva é boa, ler mais é desejável; há corrupção, o que é negativo. 
O “algo” sobeja, é desnecessário e prolixo. Isto é prolixidade: acrescentar palavras inúteis, que avolumam o texto sem lhe adicionar conteúdo. Neste caso, é a sintaxe do inglês e é o vício da moda.

USO ERRADO DE “AQUELES”, “DAQUELES”. É galicismo (sintaxe do idioma francês) dizer-se, por exemplo, “aqueles que gostam de ler, sabem mais”, “todas aquelas que estudam aqui”. Não se trata de indicar aqueles, por diferença a estes ou a esses; não está em causa distinguir grupos de pessoas ou pessoas individualmente, em função da sua distância do locutor (estes=próximos; esses=menos próximos, aqueles=distantes). O francês fala assim. O francês.

Em bom português, dizemos “os que gostam de ler”, “todas as que estudam aqui”. Perceba a diferença: “todos aqueles que são pobres, gostariam de receber daqueles que são ricos”, “todos os que são pobres, gostariam de receber dos que são ricos”. A primeira sintaxe é do francês; a segunda, do bom português.

     O francês também usa “esse”, “esses”, “essa”, “essas”, em lugar dos pronomes, do português, o, os, a, as: “Maquiavel, esse autor de O Príncipe”, por “Maquiavel, o autor de O Príncipe”.

“SE…” FRASES INCOMPLETAS. Muitas pessoas, em Curitiba, pronunciam frases no condicional, sem a respectiva conclusão. Quando alguém diz “Se você vier”, deve completar a frase com o resultado da hipótese que formula: “se você vier, então conversaremos.”. “Se quiser guardar, pode fazê-lo”; “se puder me dizer, então me diga.”Mas algumas pessoas proferem o primeiro hemistíquio e omitem o segundo; por exemplo: “Se quiser dizer…”, “Se puder telefonar…”. Não completam a frase, cujo complemento fica implícito ou não; caso negativo, o interlocutor deve adivinhá-lo, ao passo que a forma completa é “Se quiser dizer, então diga”, “Se puder telefonar, então aguardo a sua chamada”. A pouco e pouco, a fórmula “Se…” acabou por equivaler a autorização, licença: “Se…”=”você pode”. Por exemplo: “Se você quiser telefonar…” = “você pode telefonar”.
O idioma muda? Se muda para pior, se se perdem elementos de comunicação, se se empobrece a comunicação, se se nivela por baixo, se se deixam conteúdos implícitos, se se diz uma coisa para dizer outra, inteiramente diversa, então mudou para pior. Mudou para pior, no caso, porque as pessoas cessaram de exprimir completamente o que deveriam explicitar; atribuíram à adivinhação ou ao contexto parte da sua comunicação; alteraram o modo condicional para equivalente a autorização. Condicional é uma coisa, autorização é outra.

 

SER, POR HAVER. “Em novembro, foram dez dias de chuva”; “No Brasil, foram dez mil mortes por enfarte”. Não foram – houve. Houve dez dias de chuva, houve dez mil mortes. Demais, se se empregam as conjugações “foi”, “foram”, surge ambigüidade: foram aonde ? O verbo, além de errado (trocou-se ser por haver), permite a interpretação de que se trate do verbo ir. São verbos diferentes, com significados diversos. “Mas o idioma muda.” E quando muda para pior, quando a alteração éproduto do desconhecimento, da fraca instrução, da ausência de leitura, da burrice, então, a alteração deve ser corrigida.

 

FILÃO E NÃO FÍLON. BOSÃO E NÃO BÓSON. ELETRÃO E NÃO ELÉTRON. PLATÃO E NÃO PLATON. Os prenomes podem traduzir-se , como Charles = Carlos, Elizabeth = Isabel, Charlotte = Carlota. A desinência “on”, no francês e no inglês, corresponde a “ão” no idioma português. Leon = Leão. Bóson = bosão. Elétron = eletrão. Fílon é pronúncia do inglês. Em francês, escreve-se Filon; em inglês, pronuncia-se “fílon”. Escrever “Fílon” é homólogo a escrever “Máiquel”, “Djon”, “Tcharles”.

Islam se traduz por Islão, Afeganistam se traduz por Afeganistão.
Em Português, que é um só idioma, no Brasil e em Portugal, traduz-se por Filão, que não me parece que fique feio nem que seja pior. Os brasileiros é que não aprenderam,em geral, a traduzir os nomes e imitam, passivamente, as formas do inglês e do francês, tal como os encontram nos livros e nos meios de comunicação, ao passo que, em Portugal, faz-se questão do idioma e as pessoas aprendem os equivalentes vernaculares dos nomes estrangeiros e os usam. Assim, Filão não é português de Portugal; é a grafia usada em Portugal, não porque lá o idioma apresente forma própria, mas porque lá se usa o vernáculo com mais qualidade do que no Brasil.

Se para alguém Filão “fica feio”, fica feio para ele, por não estar acostumado; não o fica para mim nem para outrem, nem a estética pode ser critério superior ao correto uso do idioma.Ninguém reputa feio Platão e lhe prefere Platon, Cípion a Cipião, Éstrabon a Estrabão, Cáton a Catão. Platão, Cipião, Estrabão, Catão, Filão, Dião, Fedão, Solimão, Salomão correspondem às formas vernaculares, corretas, castiças, destes nomes.

É só o caso de estar acostumado ou não com uma grafia e não com a outra. Então, aprenda que os prenomes podem ser traduzidos e a tradução da desinência “on”, do francês e do inglês, corresponde a “ão” do Português.

 

ROUPA BÁSICA E CASUAL. “Basic”, do inglês= lisa. Roupa lisa (sem estampas). “Casual” (“quêizual”) =  informal. Roupa informal.
Básico ou básica e casual são anglicismos, palavras traduzidas literalmente do inglês por desconhecedores do Português. “O idioma muda, você não pode querer que ele pare no tempo” etc.. E por isto é justificável que se introduzam estrangeirismos onde já existem vernacularismos perfeitamente compreensíveis e úteis? É justificável apagar os termos próprios do Português e usar más traduções exóticas? “Show” – já nem sabem o que isto significa. Significa espetáculo, exibição. Sim, há tradução de “show” !!! Oh!, maravilha !

 

TRADUÇÃO CORRETA DE MOHAMMED. Mafoma ou Mafamede são as traduções corretas de Mohammede. Em francês, Mahomet, que se traduziu, mal, para Maomé. Em português, é Mafoma ou Mafamede, assim como Charles é Carlos, Elizabeth é Isabel, Carl é Carlos. Mafoma, Mafamede, Mafamede, Mafoma, Mafoma, Mafoma, Mafamede, Mafamede, Mafoma. Agora que já se familiarizou com os nomes, passe a usá-los sem estranheza !

“Soutien-gorge”, que o brasileiro chama de sutiã ou “soutien” tem tradução. Em português chama-se de estrófio. Estrófio. Estrófio. Estrófio. Estrófio. Certa feita, uma professora-doutora em Lingüística, pela USP, disse-me que sem as palavras “soutien” e “abat-jour” não teríamos forma vernacular de exprimir os objetos respectivos. Ela é doutora em Lingüística pela USP, arrota o seu título e é ignorante em Português. “Soutien”= estrófio. “Abat-jour”= tapa-luz, quebra-luz, bandeira, pantalha (mas pantalha é indesejável, por ser espanholismo, de “pantalla”). Antes de pensar que não há tradução, procure informar-se. Geralmente há; se não houver, pode-se criar (os neologismos servem para tal).

PISO NÃO É ANDAR. Em alguns centros comerciais e prédios, vejo letreiros em que constam as expressões “Piso térreo”, “Primeiro piso”, “Segundo piso”. Piso é o chão,o pavimento, o que pisamos. Em todos os andares há piso; todos os andares contém piso. Por outro lado, os diferentes níveis de uma construção chamam-se de andar: primeiro andar, segundo andar. Chama-se de térreo o andar que se situa ao nível da rua, cujas portas dão para o exterior. O térreo contém piso; o primeiro andar contém piso; o segundo andar contém piso. Se usarmos o critério dos pisos para designarmos os níveis da construção, então, o térreo é o primeiro piso, o primeiro andar é o segundo piso, o segundo andar é o terceiro piso. Contudo, leio, nas placas: “Piso térreo”. Isto não existe. Isto está errado. Isto é ignorância. O térreo é térreo; não é piso térreo. O primeiro andar é primeiro andar; não é primeiro piso, porque o primeiro piso subjaz-lhe, ou seja, o primeiro piso é o do térreo. Assim, o mal chamado “primeiro piso” é, na verdade, o segundo piso. Perceba a lógica das coisas: a lógica (pois há lógica) na nomenclatura térreo, primeiro andar, segundo andar etc. Perceba a ilógica da nomenclatura piso térreo, primeiro piso, segundo piso. /// Se o povo faz a língua, instrua-o, informe-o, esclareça-o, mostre-lhe o porquê dos recursos do idioma, ensine-lhe que há, sim, certo e errado em idioma.

 

QUE ISSO ? No Brasil (pátria educadora) o idioma se depaupera continuamente. Décadas atrás, o brasileiro médio, o homem comum, sabia mais o seu idioma e falava-o melhor do que hoje. Atualmente, o brasileiro, em geral, já desaprendeu os plurais (é dois; as pessoa veio; acabou as férias; comprei um lote de azulejo português). Também desprendeu as preposições e alguns advérbios (como cujo, cuja, cujos, cujas, de que, para que, em que). Também o pronome reflexo, como em suicidar-se, aposentar-se, esquecer-se, assustar-se. Agora, é o verbo que se perdeu, na expressão “Que isso?”. É óbvio que falta o verbo: que é isso?. Com a retórica de que o povo faz a língua, de que ela é dinâmica, de que a gramática tem de ouvir o empírico e mais blá-blá-blá só não se fala em ensinar mais, em acrescentar conhecimento e estudo, em valorizar o idioma, em elevar o padrão de conhecimento e uso. Quanto mais coloquial, mais o falante estranhará o escrito (se bem escrito) e tanto mais preferirá livros reles, fáceis (à exemplo do escabroso “1808”) e evitará os realmente bem escritos. É o caminho da ignorância, vulgo “burrice” que se calcorreia na pátria educadora, com a benção dos lingüistas (eu uso trema!) da USP.

 

O QUE ABRE E O QUE FECHA NO FERIADO. LOJA QUE “FECHA” NO SÁBADO, NÃO FECHA NO SÁBADO.

Errado. O que abre e o que não abre.

Perceba a ilógica da frase “Esta loja fecha no sábado”. Com ela, quer-se dizer uma coisa e diz-se outra. Quer-se dizer que ela NÃO ABRE no sábado, o que é diferente de dizer que ela FECHA no sábado: se ela fecha no sábado, é porque ela ABRE no sábado, mas se se quer dizer que ela NÃO ABRE no sábado, deve dizer-se que ela NÃO ABRE ao invés de que ela FECHA no sábado.

Se “fecha”, é porque abre. No feriado ele não abre; abriu na véspera e fechou na véspera. No feriado, não abre, mesmo porque, o que “abre” no feriado, “fecha” no final do dia feriado. Então, qual a lógica em distinguir-se entre o que “abre” e o que “fecha” no feriado ? O que “abre” no feriado, “fecha” no feriado.

É tão óbvio que uma coisa é diferente da outra, mas raros percebem a obviedade de que dizem uma coisa para exprimir o seu contrário.
Não é “pegadinha de português”. Não há “pegadinha” nenhuma; há o uso errado do verbo e o vício de expressão. E não me venham com a balela de que é metáfora (quem mo diz, sequer sabe o que é metáfora).
Esta do “fecha no sábado” acontece com brasileiros em Portugal e não só; o brasileiro pergunta se “fecha no sábado”, o lojista responde-lhe o que ele lhe perguntou: que não, não fecha. Para o brasileiro, é “óbvio” que o português é burro, mas é incapaz de perceber que a burrice está na sua, de brasileiro, pergunta. O brasileiro não percebe que pergunta uma coisa e exprime outra; não percebe que o interlocutor não é obrigado a adivinhar que ele pergunta uma coisa para dizer outra; o interlocutor responde dentro do que ouviu. A pergunta do brasileiro contém um pressuposto, implícito, oculto, oposto ao que formulou explicitamente. Que é o errado na história?

 

“PEGUE A SUA SENHA”. Isto não existe; isto está errado: a senha só pertence a alguém depois de que ele a pega (senha, aqui, significa um papelote ou cartão numerado). Antes de alguém pegá-la, ela não pertence a ninguém; logo, não faz sentido dizer-se “pegue a SUA senha” porque ela ainda não pertence a ninguém e não é “sua” nem “minha”. O anúncio correto deve dizer “Pegue UMA senha”; quando alguém pegá-la é que ela será sua, dele, minha.

 

VÉU ISLÂMICO. Já disse: véu islâmico. Ou bioco. Bioco, do idioma português.

LEI ISLÂMICA. “Sharia”? Não. Lei islâmica. O que é  “sharia”? É lei islâmica.

LIVROS EM “BOX”. CAIXA. CAIXA ! OH, CAIXA ! Considero esquisito e muito brega “box” em vez de caixa. É caixa; caixa, mesmo, retangular, de guardar os livros dentro. Caixa é caixa, não é “box”. Cada uma que o pessoal inventa…eis, em ação, o célebre complexo brasileiro de vira-lata: na mente de alguns, é sofisticado, requintado, superior, dizer “box”. Para mim, é ridículo. Não considero que seja lá o que for torna-se melhor por ser chamado em inglês ou em idioma estrangeiro, se há vocábulo em português; se não houver, traduza-se, adapte-se, aportuguese-se.
Há necessidade de se inventarem neologismos de mau gosto, se há vernacularismos ? Faz sentido encher o Português de extravagâncias terminológicas, para posturar de norte-americano, de sofisticado, de primeiro mundo, e desdenhar do rico, belo, preciso e precioso Português ? Sei que este comentário suscitará as objeções de costume: “já está dicionarizado” (o dicionário não abona as palavras, mas apenas as arquiva), “todo mundo entende em inglês” (e não entenderão em português?), “o uso já consagrou esta palavra” (e por que o uso não pode consagrar outra, em português?).

Artigo sobre neologismos e idioma:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-14281998000100004&script=sci_arttext

AFRO-DESCENDENTE OU BRASILEIRO ? Esta coisa de afro-descendente é pura tolice. O cara é brasileiro. Brasileiro. Nasceu no Brasil. É descendente de pretos africanos e de brancos portugueses; é mulato. Mas o movimento negro inventou a condição de afro-descendente, em que ele é qualificado pela sua origem africana, o que nega ou subalterniza a sua condição de brasileiro.

GOL ANUNCIA TRABALHO “HOME BASED”. -Trabalho o quê? — -“Home based”. -Não dá para traduzir? – Trabalho em casa.  Mais um lixo lingüístico à solta.

Por que “frames”? Por que não traduzir? Não estamos no Brasil? Não temos idioma próprio? “Frames” ou “freimes” (!) = molduras. Era costumeiro traduzir-se por quadros. Quadros ou molduras, é melhor do que “frames”. Outros podem achar bonito, sofisticado, elegante, culto empregar americanismos. Eu acho cafona, pobre culturalmente, bitolado idiomaticamente, de mau gosto, dispensável e desnecessário. Todo o meu apoio para quem traduz.

EMPOBRECIMENTO DO IDIOMA. No Brasil (pátria educadora) o idioma se depaupera continuamente. Décadas atrás, o brasileiro médio, o homem comum, sabia mais o seu idioma e falava-o melhor do que hoje. Atualmente, o brasileiro, em geral, já desaprendeu os plurais (é dois; as pessoa veio; acabou as férias; comprei um lote de azulejo português). Também desprendeu as preposições e alguns advérbios (como cujo, cuja, cujos, cujas, de que, para que, em que). Também o pronome reflexo, como em suicidar-se, aposentar-se, esquecer-se, assustar-se. Agora, é o verbo que se perdeu, na expressão “Que isso?”. É óbvio que falta o verbo: que é isso?. Com a retórica de que o povo faz a língua, de que ela é dinâmica, de que a gramática tem de ouvir o empírico e mais blá-blá-blá só não se fala em ensinar mais, em acrescentar conhecimento e estudo, em valorizar o idioma, em elevar o padrão de conhecimento e uso. Quanto mais coloquial, mais o falante estranhará o escrito (se bem escrito) e tanto mais preferirá livros reles, fáceis e evitará os realmente bem escritos. É o caminho da ignorância, vulgo “burrice”.

 

-Tomei um vôo de Curitiba para Lisboa.
Existe isto? Alguém toma um vôo ou um avião?
-Perdi o vôo.
Existe isto? Perde-se o vôo ou o avião?

Emprega-se “vôo” por metáfora, desnecessária, por se poder empregar avião, sem sentido próprio.

APÓS DOIS PONTOS, não principia frase nova, pelo que, após dois pontos, a palavra seguinte vai em minúsculas. Por exemplo: o que acabei de escrever.
DENTRO DE PARÊNTESES a primeira palavra a seguir ao parênteses que se abre não constitui frase nova e, por isto, vai em minúscula, a menos que o parêntese seja precedido por ponto, caso em que se trata de frase nova que, por isto, principia por maiúscula. Achou difícil ? Por exemplo: (esta palavra começa por minúscula). (Mas esta, com maiúscula).
CONCORDÂNCIA. É proibido postagens – errado. São proibidas postagens. Veio pessoas – errado. Vieram pessoas. É dois – errado. São dois (esta do “é dois” é o cúmulo da ignorância). A maioria das pessoas são boas – errado. A maioria das pessoas é boa (a maioria é e não a maioria são.). O pessoal foram embora – errado. O pessoal foi embora. A caixa de sapatos estavam vazias – errado. A caixa de sapatos estava vazia. O uso de calças e sapatos é permitido e não o uso de calças e sapatos são permitidos. A maioria das pessoas é gentil e não a maioria das pessoas são gentis. Acabaram as férias e não acabou as férias. Comecem os ensaios e não comece os ensaios. Vieram pessoas e não veio pessoas.
USO ERRADO DE MAIÚSCULAS. Usam-se as maiúsculas em nomes próprios (Curitiba, Miguel, Casas Bahia). Não se usam maiúsculas em nomes comuns, substantivos que não constituem nomes de pessoas, cidades, instituições. É errado o uso das maiúsculas, por exemplo,em: “As Eleições serão realizadas no Prédio central da Faculdade, em que, a qualquer hora do Dia, os Eleitores, de Título em mãos, poderão exercer o seu Direito de Sufrágio, a menos que esteja dispensado pela Lei Eleitoral”. Exceto a primeira palavra (As) todas as demais vão em minúsculas.  Ou: “O Autor pretende que o Réu cumpra o Despacho da folha 33”. Exceto as primeiras palavras (As; O) todas as demais vão em minúsculas. Autor, réu, sentença, juiz, apelação, petição etc., tudo vai em minúsculas. Somente se usa maiúscula em início de frase (preciso explicar o que é isto?) e em nomes próprios (Curitiba, Miguel). Este vício é típico do pessoal jurídico (bacharéis, advogados, promotores, juízes, professores, estudantes); eles cometem-no em textos jurídicos e não jurídicos. Quando se me depara texto escrito assim, não falha: o seu autor formou-se em direito e deformou-se em escrever direito.
VÍCIO DA PREPOSIÇÃO “de” EM MAIÚSCULA. Arthur de Lacerda e não De Lacerda; dos Santos e não Dos Santos; rua da Faísca e não Da Faísca. Todas as preposições onomásticas vão com a letra “d” em minúscula: dos Santos, de Almeida, do Amaral e nunca Dos Santos, De Almeida, Do Amaral. O sistema informático dos computadores, produzido para funcionar nos EE. UU. AA. altera, automaticamente, a letra em questão, de minúscula para maiúscula, sempre que a preposição se encontra entre palavras que principiam com maiúsculas, como é o caso dos nomes próprios. As pessoas lêem a maiúscula porque o “corretor” automático perpetrou erro e passaram a grafar com maiúscula. Os programas informáticos produzidos para corrigir nos EE. UU. AA. introduziram ERRO no Brasil; os desavisados, supondo que a “correção” é correta, imitam-na ou adotam-na. Assim, os computadores, ajustados nos EE. UU. AA. e desajustados para corrigirem lapsos de grafia do Português, adulteram os nomes próprios dos brasileiros e não só, e muitos brasileiros incorporaram a grafia errada como se fosse a correta.

DEUS É COM MINÚSCULA. A palavra deus não é nome próprio,não nomina ninguém. É nome comum; escreve-se com minúscula: deus e não Deus. Mas Baco, Apolo, Hermes, com maiúscula, por serem os nomes de deuses. O deus cristão tem nome: Jeová, Iavé, Javé e não “Deus”.

 

“SENIOR” E “JUNIOR”.
“Senior”, do latim, significa o mais velho, o anoso em comparação com o “junior”, do latim, que significa o moço, o jovem. Do “junior” latino, originou-se o perinome Júnior, aplicado ao filho homônimo do pai. De “senior” originou-se senhor.

Quando há pai e filho homônimos, é ERRADA a nomenclatura “Fulano de Tal Senior” ou “Fulano de Tal Sênior”: 1- se usar em latim, é “senior”, entre aspas ou itálicos; 2- se usar em português, é sênior; 3- nos dois casos, não se pode grafar com “s” maiúscula porque não é sobrenome; 4- por não ser sobrenome, não pode seguir ao nome pura e simplesmente, tem de ser separada por vírgula ou ir entre parênteses.

O correto é: Fulano de Tal (sênior); Fulano de Tal, sênior; Fulano de Tal (júnior), Fulano de Tal, júnior. É melhor entre parênteses, pois isola o aposto do nome. Em bom português, em português de lei, de qualidade, de gente que sabe, empregam-se, tradicionalmente (e os curitibanos adoooooram “tradições”, mesmo as que surgiram ontem; mas esta é antiga) as locuções “o velho” e o “o moço”. Por exemplo: Fulano de Tal, o velho; Fulano de Tal, o moço.
Mas você nunca ouviu dizer disto? Todo o mundo conhece sênior, no mundo empresarial? É indesejável “o velho”, porque ser velho é “ofensivo”? Então, se o seu nível de percepção, de entendimento e a sua prática são estes, lamento. Você usa o errado e dá o mau exemplo.

 

TRINETO E TETRANETO. Filho, neto, bisneto, trineto, tetraneto, pentaneto, hexaneto, heptaneto, octoneto, nonaneto, decaneto. “Trisneto” e “tataraneto” não existem. Mas todo o mundo fala assim ? O povo faz a língua ? Então, tudo mundo ignora o certo e pratica o errado. Escolha.

ASCENDÊNCIA E DESCENDÊNCIA.  Ascendentes são os pais, avós, bisavós. Descendência são os netos, bisnetos, trinetos. Quando alguém diz “Tenho descendência alemã porque os meus avós vieram da Alemanha” está errado. Ele tem ascendência alemã; se tiver filhos e netos, nados no Brasil, tem descendência brasileira.

 

NÃO TEM COMO. NÃO HÁ COMO. Muitas pessoas usam o bordão “não tem como” para indicar impossibilidade. É expressão correta, de uso legítimo, cujo uso, todavia, tornou-se vicioso, em jeito de cacoete, ou seja, certas pessoas avezaram-se a usá-la em inúmeras ocasiões em que outros dizeres seriam mais ricos de informação e mais elegantes de estilo. É vício que mesmo o pessoal “letrado” emprega, com a diferença de, enquanto o homem comum diz “não tem como”, o “letrado”, para diferenciar-se, substitui o verbo e, em lugar de “ter”, usa “haver”. 
Certamente haver é melhor do que ter (há muitas pessoas; tem muitas pessoas), porém, neste caso, o bordão é igual e é bordão pernóstico de quem, sendo “culto” na verdade não o é: fora-o e exprimir-se-ia sem o vício disfarçado. Vício disfarçado é vício. Por exemplo: o meretíssimo senhor doutor juiz de direito que sentencia “não há como deferir o pedido”. Vá ler Machado de Assis, excelência. 

 

PESSOA ENTRE 30 E 40 ANOS.
Pessoa entre 30 e 40 anos. Existe isso? Alguém é pessoa entre tal idade e tal idade? Fulano é entre tais idades? Não. É pessoa de idade entre 30 e 40 anos. Alunos de idade entre 12 e 15 anos. 
Escola para alunos entre 14 e 16 anos. Alguém é aluno entre duas idades? Não. É aluno de idade entre 14 e 16 anos.

 

MEIO-DIA E MEIO. Meio dia são doze horas. Meio dia e meio é meio dia mais meio dia: 12 + 12=24. Meio dia e meio é meia noite.
Meio dia e trinta minutos é meio dia e meia hora. Meia hora. Logo, meio dia e meiA. Meio e dia e meio é meia noite. Meio dia e trinta minutos é meio dia e meia.

 

25.7.2017.”A GENTE”.

“A gente” é locução equívoca, pois exige a compreensão da frase ou do contexto para perceber-se se ela equivale a eu, a tu, a nós, a vós, a eles, ao passo que os pronomes retos (eu, tu, ele, nós, vós, eles) são inequívocos: identificam imediatamente a quem se refere o discurso (a mim, a tu, a eles, a nós, a vós, a eles.).

A gente ora indica eu, ora indica tu, ora indica nós, ora indica eles, ora indica a instituição a que se pertence. Ela empobrece o idioma porque apaga a identificação exata e precisa do sujeito do discurso e dificulta que se entenda, desde logo, a quem a frase se refere. Eu vim, ele veio, nós viemos, eles vieram; tudo isto se empobrece com “a gente veio”: a gente quem ?

Atenção agora:
A expressão a gente **sempre** enseja a pergunta e a dúvida: a gente, quem ?
Os pronomes retos **nunca** ensejam a dúvida e a pergunta sobre quem é o sujeito da frase.
A gente é expressão equívoca e pobre; os pronomes retos são precisos e, por isto, linguisticamente superiores à “a gente”. Percebeu a desvantagem de “a gente” ?

A gente significa as pessoas; gente significa as pessoas, os demais, os outros. A expressão a gente refere-se, indeterminadamente, às pessoas.

“A gente” ou “a gênhtchi” é expressão coloquial, tempos atrás empregada pela gente desinstruída, de escolaridade primária ou por jovens descuidadosos do vernáculo (jovens, por exemplo, ignaros das palavras ignaro e vernáculo).

Quem tinha estudos sabia distinguir as pessoas do discurso e empregar os pronomes, segundo as circunstâncias: eu, tu, ele, nós, vós, eles, e dizia eu sou, nós somos, eles são. Agora, mesmo as classes A e B empregam a gente ao invés de eu, de nós, de eles.

Enunciada a locução “a gente”, muitas vezes não se entende a quem o falante se refere: a gente quem? É você? São os outros? São pessoas indeterminadas ? Qual gente?    Tal expressão subtrai exatidão do discurso e mal acostuma as pesssoas a não usarem as conjugações dos verbos: quem se vicia em a gente desaprende a dizer eu vou, nós vamos, eu seria, nós seremos, eles venderão, eles estariam.

É mais fácil usar a gente, em lugar dos pronomes retos ? Sim – e também medíocre.

Que o iletrado fale assim, é próprio de quem não teve escola, de quem é carente de leitura, de quem não zela pelo rigor da comunicação, mas que pessoas estudadas falem assim, considero evidente rebaixamento da qualidade do idioma, que se nivela por baixo.

Evoluímos ou involuímos? Nivelamos por baixo ou por cima ? O povão aprendeu ou as classes “estudadas” desaprenderam? O culto propagou-se ou propagou-se o coloquial ?

Não leva a nada alegar que com esta locução “todo o mundo” se entende, que o importante é comunicar-se, que o idioma evolui e modifica-se. Todos entender-se-ão melhor, comunicar-se-ão com mais eficácia, se a evolução mantiver-lhe a precisão e a qualidade, virtudes ausentes da expressão em causa. Evoluir e modificar-se é diferente de melhorar.

 

MÁ PRONÚNCIA. Ortoépia.

A antiga pronúncia dos curitibanos, em que se ouviam, distintamente, todas as sílabas, que originou o “leite quente” (que não é “leitê quentê”, ao contrário do que muitos pensam, nem “leiti quenti”) substituiu-se por abreviações na fala de muitas palavras, como “cabô” por acabou;

“cavó” por com a avó;

“tôca” por estou com a;

“tá” por está; “dé” por dez (“déreal” por dez reais, pronúncia que considero especialmente primária); “brigado” por obrigado, “nada” por denada;

Monsenhor Celso esquina “caquinze” por com a Quinze, aliás, com a rua Quinze.

Evidentemente, houve retrocesso: há retrocesso quando ao invés de se pronunciarem as letras todas, pronunciam-se algumas e contraem-se as palavras. Não leva a nada alegar-se que tal fenômeno existe em todos os idiomas. Existir não é justificar.

No comércio, em Curitiba, os balconistas e demais funcionários mantêm vícios de linguagem e proferem a impropriedade de usar o verbo no tempo futuro, para indicar o presente: “Não vai ter” ao invés de “Não tem” (aliás, melhor seria “Não há”).

Não vai ter é diferente de não há; se o balconista diz “não vai ter”, depreende-se que, então, “tem”, quando ele pretendeu dizer exatamente o oposto disto, ou seja, que não há. Uma lojista chegou ao absurdo de dizer-me “não vai ter neste momento”: não vai ter – é futuro; neste momento – é presente. Falou mal e erradamente.

Não leva a nada alegar que o povo faz a língua. Instrua-o para elevá-lo ao invés de convencê-lo que a ignorância é aceitável.

Constituem vícios terminar as frases com “daí” ou com “tá?”. Por exemplo: “Custa dez, daí”; “Amanhã não abre, daí”; “Só tem pequeno, tá?”, “Obrigado, tá?”, “O freguês já veio, tá?”.

 

“Força-tarefa” é expressão traduzida literalmente do inglês. Ela não existe em Português. O que é uma força-tarefa?? Força e tarefa? Por que força? Por que tarefa? Vocês, jornalistas, eu disse vocês, jornalistas, são responsáveis pela dissiminação de esquisitices como esta. Existe a expressão grupo de trabalho. É grupo de trabalho. Força-tarefa é nos E.U.A.; aqui, no Brasil, em Português, é grupo de trabalho. Força-tarefa é esquisito e brega. Brega.

 

ERRO DE CONCORDÂNCIA. Vício de que se propagou e que as pessoas cometem sem perceberem o erro.

ERRADO:
A caixa de sapatos estão vazias.
O livro de folhas brancas foram perdidos.
O álbum de fotografias são caros.
O tempo deles passaram.

CORRETO:
A caixa de sapatos está vazia.
O livro de folhas brancas foi perdido.
O álbum de fotografias é caro.
O tempo deles passou.

 

PRONOMES.
“Procuro interessados em administrar o grupo, respeitando a Linha Editorial.
Interessados deixar o nome em comentário.

“1) Que linha editorial ?
2) Que nome, nome de quem ?

Compare com esta redação:
Procuro interessados em admininistrar o grupo, respeitando-lhe a Linha Editorial.
Interessados, deixem o seu nome em comentário.

Os pronomes existem, são úteis e fazem diferença.

 

PARA E NÃO PRA. De tempos a esta parte, vulgarizou-se a grafia pra e pro, ao invés de para o e para a. Muitas pessoas pronunciam pro e pra, mas a pronúncia correta, clara, a boa prosódia, evidentemente, é p a r a a e p a r a o , para o, para a e não pro, pra, que correspondem a más pronúncias. Agora, é moda (moda, imitação, mimese, macaquice) escrever pro e pra.
Tenham algum zelo pelo idioma; tenham algum critério na pronúncia e na grafia; tenham senso de qualidade. Senso de qualidade: porque redigir pro e pra é não a ter e achar muito bonito introduzir , na escrita o que se deve corrigir na pronúncia. Tenham sensatez e não me venham com a lengalenga de que “a língua é dinâmica” etc..A língua é dinâmica, o que não justifica toda e qualquer modificação sua, notadamente se é para pior. Dizer que “todo mundo usa” assim é outro argumento ignóbil: não é porque “todo mundo” envilece e opta pelo pior que o pior se legitima. Tenha senso de valores.Parte superior do formulário

 

DIÁLOGO.

– Gostaria de ver roupas amarelas.
– Só vai ter no branco.
– Vai ter ou já tem ?
– Já tem. Só no branco.
– No branco…No Rio de Janeiro, na Espanha, no branco…branco não é lugar, é cor.
– ???
– Só vai ter branca, roupa de cor branca?
-Sim, só branca. No tamanho grande.
-No tamanho grande…No Rio de Janeiro, na Espanha; tamanho grande não é lugar; é tamanho.
– ???
– Só de tamanho grande ?
– Sim, só de tamanho grande e básica.
-Básica, do inglês “basic”; em inglês, é “basic”. Nós dizemos lisa. Roupa lisa.
-????
-Roupa lisa.
– E casual.
– Em inglês, eles dizem “casual” , para informal, esportivo. Roupa informal, esportiva, ao passo que , no Português, casual é inopinado, fortuito, não planejado.
– ???
– Roupa informal, lisa, de cor branca e tamanho pequeno.

 

PACK. Em um posto de gasolina, vi propaganda de cerveja: “R$…por unidade no pack.” No “pack” ??!! No pacote.

 

NOMES DE EDIFÍCIOS. The tower; Batel Trade Center; Gardens Free; Best Residence. Muitos acham tudo isto maravilhoso, sofisticado e requintado. Eu considero pobre de espírito, pobre de imaginação, pobre de alta cultura, pobre de identidade cultural, pobre de tudo, exceto de ridículo.

 

COMO SE DIZ EM INGLÊS.
Na colônia lingüística que são os E.U.A., correm algumas palavras inusitadas. Lá, dizem mistura ou mescla para “mix”; dizem caixa para “box”; dizem roupa lisa para roupa “básica” (estrangeirização de “basic”=liso, quanto à roupa); dizem espetáculo, atuação, apresentação para “show”. Dizem -novidade!!!- pau de auto-retrato ou cabo de auto-retrato para pau de “selfie”. Também dizem “home schooling” para ensino doméstico e prospecto para “folder”.
Muitos desconhecedores do inglês julgam ser maravilhoso estrangeirar o idioma rico e exuberante que é o deles; outros, possuidores de dicionários e de critério no uso do idioma, usam-nos a ambos.
“mix”= mistura, mescla.
“Box”= caixa.
Roupa básica= roupa lisa.
“Folder”= prospecto.
Pau de selfie= neste caso, a palavra pau não é erótica, não significa pênis, porém cabo. O que está mau é o raio do “selfie”. Cabo de auto-retrato.
Aliás, é um pouco infantil o narcisismo dos auto-retratos para postar no Facebook. Pouca gente está interessada na sua carinha de sorriso artificial, emque você finge que na sua vida tudo vai bem.

 

“KIT” TEM EQUIVALENTE VERNACULAR.

“kit” de livros = jogo de livros.
“kit” de primeiros-socorros = conjunto de primeiros-socorros; objetos de primeiros-socorros.

Nas lojas, vendem-se “jogos de cama e mesa”. Jogos e não “kits”.

 

GALICISMOS.   Há estrangeirismos, dentre os quais, há galicismos, palavras de origem francesa que se imiscuiram no português, como vocábulos bastardos e para que há equivalentes vernaculares. Por outra: ao invés de se usar palavras de origem alienígena, por que não usar as castiças, próprias do português ?

– Mas tudo mundo usa, já está incorporado etc.

Por que, então, não usar também o que é castiço, o que é legitimamente português ?

Gravata, do francês “gravate” diz-se GONILHA.
“Soutien”, “sutiã”, diz-se ESTRÓFIO.
Matinê, do francês “matinée”, espetáculo de dia, diz-se MATINADA ou VESPERAL.
Massacre, do francê “massacre”, diz-se CARNIFICINA , TRUCIDAÇÃO.
Todo o mundo, do francês “tout le monde”, em que “monde” significa gente, pessoas, diz-se TODA A GENTE.
Imãn diz-se magnéto ou ferro magnético.
Garantir, do francês “garantir” diz-se AFIANÇAR.
Isolado, do francês “isolé”, diz-se INSULADO.

Os nomes com desinência em “on”, em francês e inglês dizem-se com desinência “ão”: Catão, Estrabão, Dião, Platão e não Cáton, Éstrabon, Díon, Pláton. Da mesma forma, Filão, eletrão, protão, bozão, neutrão, pião, ao invés de Fílon, elétron, próton, bósão, píon.

Use o idioma com qualidade.

 

 

VÍCIO DA PREPOSIÇÃO “COM”.  Agora, o brasileiro substitui certas preposições por com. Em várias construções, certas pessoas usam com, por ignorarem as outras preposições e por imitarem a ignorância alheia.

Por exemplo: a balconista que diz “Pague comigo”; o consumidor que diz “Vou reclamar com o seu chefe”, o livreiro que diz “Obrigado por comprar conosco”.
Não é comigo, não é com o seu chefe, não é conosco. Pague para mim; paga-se para alguém e não com alguém. Reclame para o chefe; reclama-se para alguém. Não é comprar conosco; é comprar de mim ou de nós; compra-se de alguém e não com alguém.
Pense um pouco, pense por 5 segundos na lógica dos verbos e compreenderá que a preposição não se usa em certas situações, porém se usa em outras, como: eu vim com ele; café com mistura; arroz com feijão.

O sujeito convida outro: “Vamos comigo a tal parte? “. Vamos comigo significa vamos você e eu, comigo – vamos você e eu, comigo, não faz sentido. Faz sentido “venha comigo”.

“Fazer com que” é locução viciosa, em que o “com” é supérfluo. “Fazer que” é  o correto.

“Obrigado por comprar conosco” não faz sentido. É equivalente a “obrigado por comprar com o vendedor”. Ora, o vendedor não compra com o freguês: ele vende para o freguês. Logo, “obrigado por comprar de nós” e não “obrigado por comprar conosco”.

Não leva a nada objetar que o idioma falado não é necessariamente lógico nem rigoroso e que o povo faz a língua.

Instrua-o, ensine-lhe, explique-lho, mostre-lhe as incoerências, exponha-lhe a lógica do funcionamento do idioma. Eleve-lhe o nível, ao invés de convencê-lo de que a ignorância é o estado normal e aceitável do uso do idioma e da inteligência humana.

 

CRESCER. CRESCER ?

“Cresce o número de nascimentos”, “Cresceu a quantidade de compradores” e frases semelhantes, são comuns em textos jornalísticos.
É evidente a metáfora, e tola. O número de nascimentos cresce ou aumenta ? Aumenta.
A quantidade de compradores cresce ou aumenta ? Aumenta.
Crescer é verbo dotado de sentido próprio, denotativo. As metáforas justificam-se, na ausência de verbos apropriados ou para obter-se efeito estético. No jornalismo, que transmite informações, descabem metáforas.
É mau o uso de crescer, como os jornalistas costumam fazer. É metáfora desnecessária e impertinente. Se a empregam, devem aspar o verbo: “Cresce” o número de nascimentos”, “Cresceu” a quantidade de compradores.

 

“ESTOU AQUI”.

Em conversas por telemóvel (telemóvel, que celular é a tecnologia dos aparelhos. Há telefones celulares fixos): “Estou aqui, em tal lugar”.

Sempre se está em algum lugar; sempre se está “aqui”; ninguém está aqui, lá. Logo, “Estou em tal lugar”.

 

“NÃO VAI TER”.
No comércio, os atendentes respondem ao freguês “Não vai ter”, para dizerem que não há.

Não há (não tem, no falar coloquial) indica fato no presente. Preste bem atenção: “não há” é no presente. “Não vai ter”, é no futuro.

Se o freguês pede no presente (“Tem tal coisa?”) e o atendente responde-lhe no futuro (“Não vai ter”), depreende-se que, no presente, há, ou seja: “Não vai ter” é implicitamente igual a “Tem”, ao passo que o atendente quer dizer exatamente o oposto disso: na cabeça dele, “Não vai ter” é igual a “Não tem”, o futuro é igual ao presente, porém o presente indica fato atual e o futuro indica fato vindouro (é óbvio, não ?).

Demais, se ele usa o futuro para indicar o presente, como exprimirá o futuro?

Os tempos verbais (presente, pretérito, futuro) servem para precisar-se o momento da ação e para clareza do discurso. É totalmente irracional e errado dizer-se “Não vai ter” como sinônimo de “Não tem” ou “Vai querer ?” como sinônimo de “Quer ?”.

Uma atendente chegou ao absurdo de dizer-me “Não vai ter neste momento”. Não vai ter: futuro. Neste momento: presente.
Vai querer, vai fazer, vai falar, vai comprar: ação no futuro.
Quero, faço, falo, compro: ação no presente.

 

JURO – JUROS. Vulgarizou-se o erro de dizer-se “juros”, como se não houvesse singular e plural desta palavra. No singular, juro; no plural, juros.

Não é como lápis, pênis, tênis. É o juro; são os juros. Paguei juros altos; não há juros; juro é a remuneração do capital; juro baixo e juro alto.

“O juros de dez por cento” está errado; diga “o juro de dez por cento” ou “os juros de dez por cento”.

 

PREÇO E NÃO VALOR. Nas lojas, muitos dizem: “O valor deste artigo é tanto”. Valor é o quanto vale; a quantia monetária a que o artigo equivale. Possivelmente, ele é vendido pelo seu valor; possivelmente, é vendido por mais ou por menos. A quantia que se cobra, na venda, não se chama de valor, chama-se de preço. Vende-se por preço e não por valor. Logo, “o preço deste artigo é tanto”.

 

“VAMOS COMIGO?”.

O sujeito convida outro: “Vamos comigo a tal parte? “.

Vamos comigo significa vamos você e eu.

Vamos comigo = vamos você e eu; vamos [você e] eu, comigo, não faz sentido. Não vou “eu”, comigo. Vai alguém, comigo.

O correto é “Venha comigo” ou “Vamos ?”.

 

“OBRIGADO, TÁ?”.

No comércio e não só, algumas pessoas agradecem ou despedem-se destas formas: “Obrigado, tá? [está]”, “Tchau, tá? [está]”.

Está o quê? Quem agradece, diz obrigado e mais nada. Quem se despede, enuncia a fórmula de despedida e mais nada. Não faz sentido o “tá?”.

É vício.

 

USO ERRADO DA PALAVRA ABSURDO. Está se propagando o uso errado da palavra absurdo, como sinônimo de grande, enorme, desproporcional, imenso.

Absurdo é o que é destituído de sentido, de racionalidade. É absurdo lotear a Lua, contratar serviço de apagar o Sol, rezar para ressuscitar Napoleão, pretender privar as mulheres do direito de votar.

Algumas pessoas vem usando absurdo em contextos como “tal coisa é absurdamente cara”, “a população brasileira é absurda”.

Não: a coisa é muito cara, enormemente cara, desproporcionalmente cara; a população brasileira é enorme, é populosa, é numerosa, é numerosíssima.

As palavras têm sentido próprio, que convém preservar, para exatidão da comunicação e para evitarem-se ambigüidades. Se se cria polissemia, torna-se o sentido da palavra dependente do contexto. Pior: no caso do uso errado de absurdo, ela exclui as palavras apropriadas.

Absurdo não é sinônimo de muito, bastante, demasiado, exagerado, desproporcional e outros.

Ainda que o uso errado seja metafórico, ele habitua as pessoas ao sentido figurado, cria polissemia desnecessária e sujeita a confusões quem, conhecendo-lhe o sentido metafórico e não o próprio, ouça-a ou leia-a em sentido próprio.

Esta metáfora condiciona a percepção do sentido (próprio ou figurado) ao contexto, ao passo que o uso em sentido (exclusivamente) próprio permite-lhe a compreensão imediata e inequívoca, o que considero vantajoso em relação ao seu emprego (também) metafórico: é vantajoso para a compreensão da comunicação empregarem-se as palavras em sentido próprio e não também figurado. No caso do uso em sentido próprio, a acepção da palavra é a mesma, em qualquer contexto; no caso da metáfora, reconhecer-se-lhe o sentido denotativo ou conotativo depende do contexto. Demais, na escrita, as metáforas aspam-se, porém raras pessoas lembrar-se-iam de escrever, por exemplo: tal coisa custa preço “absurdo”, o que indicaria sentido (ilusoriamente) conotativo.

Não há vantagem para a comunicação na introdução de metáforas desnecessárias, pois elas sujeitam-lhe a compreensão ao contexto, o que não ocorre com o sentido próprio, como porque, ao usá-las, deixa-se de usar a palavra cabível, em sentido denotativo. Não há vantagem na substituição do sentido próprio por figura de linguagem. Não há vantagem no uso metafórico da palavra absurdo; trata-se de metáfora indesejável.

 

ACESSAR. ACEDER A.

Há séculos -séculos ! – existe, em português, o verbo “aceder a”, que significa:

1) aceitar. Acedo a convite: aceito o convite.

2) ter acesso a. Acedo ao lugar, acedo à versão eletrônica da gazeta; acedi ao Facebook; acedo-lhe, aceda-lha, acedi-lhe, aceder-lhe-ei, aceder-lhe-emos.

Por desconhecimento léxico, propagou-se “acessar”, como tradução direta do inglês “to access”. Porém há, na língua portuguesa, verbo que indica a mesma ação.

Quem usa o verbo aceder a, usa português castiço, do bom, do ótimo, com qualidade.

Quem usa acessar usa português ruim, usa anglicismo, coisa improvisada, coisa que resultou do desconhecimento do idioma.

Muitos conhecem o verbo “acessar” e usam-no. Agora, que já conhece “aceder a” e lhe conhece a qualidade, também pode usá-lo.

 

“SOU UM ESTUDANTE”, “SOU UMA ATÉIA”.
“O que ler para ser um conservador”; “Fulano era um político”.
Nestas quatro frases, o artigo indefinido um descabe, está de mais.
É-se estudante, atéia, conservador, político e não um estudante, uma atéia, um conservador, um político.
O artigo indefinido (um, uma, uns, umas) é de rigor, nestas situações (anteposto ao substantivo ou ao adjetivo) em francês e em inglês, porém não faz sentido em português.
Trata-se de artigo e não de numeral. Ele, aí, não indica quantidade, não está a informar que se trata de uma pessoa e não de duas, três, quatro.
       Ainda que se cuidasse de numeral, quem diz “sou um político”, refere-se a si próprio, ou seja, a uma pessoa; obviamente cuida-se de uma pessoa e não de duas ou mais. Se se tratasse de duas ou mais, dir-se-ia: “somos dois políticos”, “O que ler para serem conservadores”. Se se trata uma pessoa, escusa de se enunciar o numeral um ou uma para se exprimir a obviedade de que se trata de uma pessoa e não de mais de uma.

 

“Deixa eu ver”.

Pode melhorar um pouco, não ?

Deixe-me ver.

 

“O Fulano, ele é meu amigo”.

Ele = o fulano.

O Fulano, ele é meu amigo = O Fulano, o Fulano é meu amigo.

O Fulano é meu amigo. O Fulano é-me amigo.

 

Tolice (sim, tolice) das editoras, de fornecerem “box” de livros. “Box”, do inglês = caixa. Caixa de livros. Simples assim.

 

 

ADVÉRBIO DE MODO. RÁPIDO; RAPIDAMENTE.

O adjetivo qualifica o objeto, a coisa de que se fala. O advérbio de modo qualifica a ação que se produziu.

Os advérbios estão para o verbo, qualificam-no.

Os advérbios de modo indicam o modo como se produziu a ação. Por exemplo: “alguém entendeu de modo rápido” ou seja, ele entendeu rapidamente.

“Entendeu rapidamente” é diferente de “entendeu rápido”, pois rapidamente refere-se à ação de entender, a como ele entendeu; rápido é adjetivo, é qualidade de coisa – no caso, não há coisa. Rápido, aqui, é adjetivo, é qualidade do objeto, de algo, e não a maneira como ocorreu a ação.

Para se especificar como ocorreu a ação, usa-se o sufixo “mente”, cuja função consiste em qualificar a ação e não o objeto.

Rápido é adjetivo, como em avião rápido, trem rápido; o adjetivo não é advérbio de modo, ele não exprime a maneira como a ação aconteceu. Exprime a maneira como a ação aconteceu o advérbio rapidamente.

Outro: “Venha urgente”. Melhor diremos: “Venha urgentemente”. Urgente é a qualidade de algo, cuja realização urge, que exige prontidão, que se deve realizar já, em curtíssimo prazo. Urgente é qualidade da situação em que alguém deve vir.

Urgentemente é o modo como alguém deve ir: deve ir com urgência e não com lentidão, com preguiça, com tardança.

Rápido e rapidamente, urgente e urgentemente semelham ortograficamente, porém diferem quanto à respectiva função na oração. Rápido e rapidamente, urgente e urgentemente têm valores diferentes, não se equivalem. Não é a mesma coisa usar rápido em lugar de rapidamente, ainda que se entenda o sentido da frase – má frase, mal construída.

Na língua portuguesa, adjetivo e advérbio de modo são figuras inteligentes, bem pensadas, que fazem sentido. O sufixo “mente” não é aleatório nem inútil, ao contrário.

Contentar-se com a substituição do advérbio pelo adjetivo porque “se entende” a oração, corresponde à mentalidade mediocrizadora. Empregar-se o advérbio de modo, cônscio da sua função, corresponde à mentalidade cultivadora do idioma. Entre a mediocridade e o cultivo, cada um escolhe.

Fulano bateu forte > Fulano bateu fortemente.

Decida, independente disto > Decida, independentemente disto.

O pagamento cai automático > O pagamento cai automaticamente.

Educação para a valorização do idioma.

“CLICHÊ”, do francês “clichè”. Em francês, “clichè” nomina a chapa metálica que, antanho, servia para imprimirem-se fotografias em gazetas e revistas. No Brasil, por metáfora, tornou-se nome de idéias ou chavões que se repetem, ou seja, lugares-comuns ou frases feitas. Em bom português, em português de qualidade, dizemos lugar-comum ou frase feita, ao passo que clichê é galicismo, estrangeirismo. Agora que você conhece a origem de “clichê” e os seus equivalentes em bom português (lugar-comum e frase feita), já os pode usar.

USO ERRADO DE ESSE, ESSA, AQUELE. Em francês, muitas vezes pode-se usar “esse”, “essa”, “aquele”, “aquela” como artigo. Por exemplo: “Lacerda, esse escritor de livros”. Tal sintaxe é típica do francês, ao passo que a sintaxe típica do português é: “Lacerda, escritor de livros”. Outra: “Aqueles estudantes que faltarem, levarão falta.”. Tal sintaxe é típica do francês, ao passo que a sintaxe típica do português é “Os estudantes que faltarem, levarão falta.” Nas duas frases afrancesadas, não se indica Lacerda como escritor que esteja perto;  não se indicam estudantes que estejam distantes. Em português, ESTE indica o que nos está próximo; ESSE indica o que nos está relativamente próximo; AQUELE  indica o que nos está distante. Em bom português, este, esse e aquele não funcionam como artigos.

 

PREPOSIÇÕES (algumas.).

Pessoa que você convive, não. Pessoa com quem você convive.

Perceba: convive-se com alguém; não se convive alguém.

O idioma faz sentido; as suas regras têm razão de ser.

Cidade que nasci, não. Cidade em que nasci.

Perceba: nasce-se em uma cidade; não se nasce cidade.

O idioma faz sentido; as suas regras têm razão de ser.

Antes que seja tarde, não. Antes de que seja tarde.

Depois que seja tarde, não. Depois de que seja tarde.

Perceba: antes de algo ou depois de algo; e não antes algo ou depois algo.

O idioma faz sentido; as suas regras têm razão de ser.

 

PRONOMES CONTRAÍDOS.
Vendo-lhe isto = vendo-lhe o = vendo-lho.
Digo-lhe isto = Digo-lho.
Dei isto para ti = Dei-te isto = Dei-to.
Digo para vocês = Digo-vos.
Já disso isto para vocês = Já vos disse isto = Já vo-lo disse
É de vocês = É vosso.
Recomendo isto para vocês = Recomendo vos isto = Recomendo-vo-lo.

Venderei isto para você = Vendê-lo-ei para você = Vendê-lo-ei lhe = Vender-lho-ei.

É difícil ou você é que não está familiarizado com tais recursos ? Eles existem e são usáveis; existem para serem usados.

Perceba a economia de palavras nas contrações.
Isto não é “lusitanismo”: isto é a sua língua; sua, de brasileiro.

Escola que não ensina isto, é escola que falha. Professor que não sabe isto, é professor despreparado. Professor segundo quem isto “é só na escrita”, é professor desorientado e desorientador.

Tornou-se fácil para mim = Tornou-se-me fácil.
Fica difícil para ele = Fica-lhe difícil.
A corda enroscou-se na perna dele = A corda enroscou-se-lhe na perna.
O guarda dirigiu-se para mim = O guarda dirigiu-se-me.
Falou para mim = Falou-me.
Entendi ele = Entendi-o.
A situação ficou complicada para mim = Complicou-se-me a situação.
Agravou-se o estado de saúde dele = Agravou-se-lhe o estado de saúde.
Desculpa: melhor é “Desculpe-me”.

 

PAGAR POR E NÃO PAGAR EM.

Paga-se tanto POR algo e não EM algo.
Mora-se em Curitiba, em Paranaguá, no Rio de Janeiro (no = em + o).

Dizer que se paga no livro, é igual a dizer-se que o comprador entrou no livro, que está nele e, dentro dele, pagou.

Paguei tanto pelo livro; pagaria tanto pela camisa; pagar-lhe-ei tanto pelo telemóvel; pago-lhe tanto pelo serviço. Moro em Curitiba, vivo em Antonina, resido no Amazonas, estive em Palmeira.

O idioma faz sentido; as suas regras têm razão de ser.

 

ATENTAR A e não ATENTAR-SE.
Ninguém “se atenta” a algo. Alguém atenta a algo.
Por exemplo: atento ao fato, atentei ao pormenor.
“Atentar-se a algo” é igual a prestar a atenção a si próprio e a algo, o que é impossível e ilógico.
As regras têm sentido; o idioma tem lógica. Não fazem sentido nem têm lógica os vícios de linguagem.
Atentar: prestar atenção; cometer atentado.

Sonhar: sonha-se COM algo. Sonho com isto; sonhamos com nos formarmos; sonho com um mundo melhor.
Contribui-se COM algo. Contribuo com a minha profissão; contribuirás com o teu capital.

 

VERBO GANHAR, palavra-ônibus do momento. Ele ocorre em várias situações: Curitiba vai ganhar um restaurante; tal fato precisa de provas para ganhar credibilidade; o polo norte ganhou mais gelo.  “Para os que acreditam que a Bíblia ou a Torá contêm a verdade e se bastam, a história de Moisés é plenamente aceitável. Para os que acham que é preciso algo mais, a travessia ainda carece de alguma comprovação para ganhar veracidade.” (Duda Teixeira, revista Veja).

É palavra-ônibus, que substitui, desvantajosamente, outros verbos e vocábulos empregáveis. O seu uso é desvantajoso pois, em geral, é metafórico (raramente é empregado em denotativamente) e, por ele, elide-se o uso de outros, apropriados. O seu emprego, em jeito de cacoete, também revela pobreza lexical: por desconhecer outros verbos, de uso específico, o escrevinhador serve-se deste, em que a metáfora o acomoda a diversas situações. Sobretudo em textos jornalísticos, deveria (deve) ser aspado, para frisar-se-lhe o uso metafórico; alias, em textos jornalísticos, devem-se evitar as metáforas.

“OLAVETTE”. OLAVINHO.

Existe a palavra “olavette” (discípulo do escritor Olavo de Carvalho), grafada com duplo “t”, forma “oficial” do vocábulo, presente, por exemplo, no título da página do Facebook , “Olavettes”.

A desinência “ette” é própria do francês e indica diminutivo feminino: “garçon”, “garçonette”.

Etimologicamente: olavette = olavinhA.

Assim, “olavette” é galicismo feio e desnecessário. A rigor, “olavette” = olavinhA.

Em bom português: olavinho.

Talvez a palavra se origine da aglutinação de Olavo com  tiete, em que se lhe duplicou a consoante “t” (Tiete, antigo hipocorístico de uma admiradora de Ney Matogrosso e que se trivializou como sinônimo, coloquial, de admirador entusiasta de algum cantor ou celebridade.). Assim, olavete = Olavo + tiete.  Se a etimologia for esta, não se compreende o porquê da duplicação da letra “t”. Bastaria escrever-se olavete.

O vocábulo, todavia, redige-se com duplo “t”, o que o caracteriza como galicismo brasileiro, pelo que é, de todo, preferível a forma olavinho. Se se cuidasse de brasileirismo (Olavo + tiete) seria, de todo, admissível a forma (praticada por muitos, aliás) olavete (com um só “t”).

A putativa origem afrancesada torna olavette equipolente de olavinho e galicismo desnecessário; a forma olavete torná-la-ia brasileirismo, livre da pecha de galicismo (se proviesse da aglutinação que expus).

Alguém concebeu a má idéia de criar galicismo desnecessário, que afeia o vernáculo e me parece ridículo, lingüisticamente (abstenho-me de ajuizar da adesão às idéias do escritor epônimo e de os seus seqüazes intiularem-se com o neologismo em causa).

Também há olavismo (na locução “olavismo cultural”), que subentende o substantivo olavismo.

”Kilt”, em inglês. Em português, saias escocesas ou saias da Escócia. 

Os escoceses vestem saias que, no idioma deles, chama-se de “kilt”. “Kilt”, saias masculinas, em inglês da Escócia.

Em português, dizemos saia, independentemente de se quem as usa é homem ou mulher.

Se quiser nominar, especificamente, o que o escocês chama de “kilt”, pode chamá-las de saias escocesas ou de saias da Escócia.

Os demais tipos de saias usadas na Escócia são saias comuns, saias sem adjetivos; logo, são…saias, saias quaisquer, saias em geral.

É admissível e louvável que, quando o brasileiro fale em saias, refira-se a saias quaisquer; quando aluda a saias escocesas ou saias da Escócia, refira-se especificamente ao tipo de saia usada pelos homens na Escócia.

A locução saias escocesas é correta, é em Português, é prestigiante da nossa cultura e do nosso idioma, é bonita e torna dispensável e desnecessário dizer “kilt”.

Não se cuida de traduzir, literalmente, “kilt” por “saia escocesa”; cuida-se de nominar em bom vernáculo o que se pode nominar em bom vernáculo e elidir-se a circulação de estrangeirismo desnecessário e dispensável.

Interessam (-me) menos as sutilezas semânticas relativas à maior ou menor propriedade com que a palavra “saia” equivale ao termo “kilt” (ou seja, se “kilt” designa roupa, alguma roupa, saia, dado tipo de saia); interessa (-me) o equipolente vernacular do que o brasileiro médio, o brasileiro em geral, o brasileiro na sua generalidade, associa ao objeto que este mesmo brasileiro conhece por “kilt”.

As locuções (sinônimas) “saias escocesas” e “saias da Escócia” coadunam-se com outras, típicas da língua portuguesa, a exemplo de “mal francês”, “folha de Flandres”, “cravo da India”, “dança flamenca”. Há outros males na França, outras folhas em Flandres, outros cravos na India, outras danças na Andaluzia, porém usam-se tais expressões para designar não todo e qualquer mal da França, não toda e qualquer folha de Flandres, não todo e qualquer cravo da India, não toda e qualquer dança da Andaluzia, porém dado mal, dada folha, dado cravo, dada dança. O mesmo em relação a tigre de Bengala, pastéis de Belém, castanha do Pará, pimenta do reino, figos turcos.

Analogamente, saia escocesa ou saia da Escócia são locuções legítimas com que se nomine não toda e qualquer saia usada na Escócia, porém a que lhe é típica que o brasileiro conhece por “kilt”.).

 

“FAZER COM QUE”. Na locução “fazer com que”, a preposição “com” é supérflua. O correto é “fazer que”. Fazer que. Fazer que. Fazer que.

“Abat-jour”, do francês, originou abajur, porém há e sempre houve, em português, tapa-luz, quebra-luz e bandeira. Isto mesmo: em português, chama-se de tapa-luz, quebra-luz e bandeira.
“Soutien”, do francês “soutien-gorge”, sustenta-mama; em português, estrófio. Estrófio.

“MOUSE”. RATO.
É ingenuidade pensar que os estrangeirismos são necessários ou inevitáveis. Vários já se incorporaram, porém muitos deles podem e devem ser evitados, sempre que se possa traduzir, aportuguesar ou criar. Por exemplo: “mouse” = rato. Rato é como se diz em Portugal. “Mas é coisa de português”. Em todos os países de língua espanhola, se diz “ratón”; ou seja, traduz-se. Só no Brasil é que os brasileiros, no seu país, usam (também) este estrangeirismo. Por que não usar português, no Brasil, entre e para brasileiros ? O objeto chama-se rato: é como os norte-americanos o chamam, no idioma deles.

 

BREVE: rápido, conciso, sem demora. Por exemplo: ser breve na explicação.
EM BREVE: logo. Por exemplo: acontecerá em breve.

Se tenciona dizer “O fato acontecerá breve”, para exprimir que acontecerá logo, então deve dizer “O fato acontecerá em breve”.

VERBO DIALOGAR MAL EMPREGADO.

Na academia, é-se “inteligente” no modo burocrático: conta a quantidade e não a qualidade. E quando “teorizam”, em que diversos “marcos teóricos” “dialogam”, com “releituras” (jargão acadêmico) no texto, por aplicação das suas elocubrações aos fatos, então, surgem as interpretações, as divagações, a liberdade intelectual que, em si, é valiosa, certamente; é no seu âmbito que se produzem o bom e o ótimo e os seus opostos.

O verbo dialogar é pessimamente usado para referir-se à invocação de idéias ou argumentos de dois autores ou mais, pelo autor que os invoca. Eles não dialogam: 1) por que o diálogo, evidentemente, supõe a reciprocidade e a interação, o que inocorre nos textos; 2) não há diálogo, porém o uso de idéias ou argumentos de um autor, que o autor do texto combina, justapõe, opõe, aos de outro ou outros, o que não é diálogo. Isto não é diálogo; é invocação de autoridades.
Na academia, prima-se (?) pelo rigor. O emprego do verbo dialogar no sentido acima é metafórico e não próprio, o que antagoniza com o rigor acadêmico, que deve ater-se ao senso denotativo. Logo, em textos, máxime nos acadêmicos, é de rejeitar-e este MODISMO desnecessário e até ridículo.

 

Adquira o seu exemplar”, “Pegue a sua senha” são frases erradas. Isto não existe.

Ninguém adquire o “seu” exemplar: antes de adquiri-lo, ele não é da pessoa e portanto, não é “seu”; é meu, do vendedor. Forma correta: “Aquira um exemplar”. Adquira um exemplar; após havê-lo adquirido ele passa a ser o “seu exemplar”, de quem o comprou.

Ninguém pega a sua senha; pega-se uma senha; quando alguém a pega e porque o faz, ela se torna sua; a senha é “sua” quando ele a pegou e naõ antes. Forma correta: “Pegue uma senha”; após havê-la pegado ela passa a ser a “sua” senha, de quem a apanhou.

 

Palavras que muitos empregam como palavras-ônibus:

1- verbo ganhar. Curitiba ganhou mais habitantes. O livro ganhará notoreidade com a próxima edição. A epidemia ganhou força.

Ganhar não é isto: é receber de presente. Os seus mais usos são metafóricos; é a vulgaridade atual.

2- verbo dialogar. O passado dialoga com o presente, a reabilitação de prédios antigos. Tal autor dialoga com Marx e Comte. O diálogo entre a ciência e a fé.

Dialogar não é isto: é pessoas falarem-se. Os seus mais usos são metafóricos; é outra vulgaridade atual.

3- verbo descartar. Descartei a opinião dele. É melhor descartar os maus profissionais. Descartei tal cidade, do meu itinerário.

Descartar é desfazer-se de carta, em jogo de baralho. Os seus mais usos são metafóricos; foi vulgaridade até recentemente.

4- verbo atrelar. Fulano está atrelado ao Positivismo. Tal doença está atrelada a tais sintomas. A decisão está atrelada a vários fatores.

Atrelar é pôr trela em animal. Os seus mais usos são metafóricos; foi vulgaridade até recentemente.

Atente à fala do homem comum e também da gente supostamente culta. Se notar três ocorrências da mesma palavra, suspeite de que se trata de palavra-ônibus ou de vulgaridade.

Frase feita.

É frase feita “o que está sendo dito”, “o que foi dito”. O que se está dizendo. O que se está a dizer. O que se diz. (Não que seja errada a forma aspada: ela é viciosa, por ser a única forma como certas pessoas conseguem exprimir-se). Suspeito muitíssimo de que se trata de vício de origem no inglês (anglicismo de construção.).

ACADÊMICOS MAU REDATORES.

Na academia brasileira, contemporaneamente, escreve-se mal. Mestres e doutores em ciências humanas, como história, filosofia, psicologia, economia, escrevem mal; são escritores canhestros; ignoram, mais do que ocasionalmente, o sentido lídimo das palavras; empregam metáforas tolas, por ignorância dos vocábulos que empregar em sentido próprio; desacertam no emprego de preposições, constroem com deselegância. Por último, porém não por derradeiro: jamais leram Machado de Assis e incorrem no vício do duplo sujeito. (Refiro-me à forma, ao estilo, à escorreição.).

 

“GOSTARIA DE […] UM BRIGADEIRO ?”.

É cediço que o ensino público brasileiro é ruim; é cediço que se ensina mal o idioma, no Brasil, e que não se educa para a valorização do idioma. É difundido a idéia errada de que o importante é comunicar-se e não como se comunica. Daí a propagação de erronias e de vícios, de que um consiste no vício do sujeito plúrimo, em que incorrem jornalistas e mais escreventes ineptos; outro, novo, consiste na elipse de verbo, na construção “Gostaria de um brigadeiro?”, “Gostaria de um queijo?”.
Falta um verbo, correspondente ao de que se gostaria: “Gostaria de [provar, experimentar, ver, degustar, comprar, trocar] um brigadeiro?”.
As pessoas usam a primeira formulação, sem lhe perceberem a incompletude; o falante médio, na sua mediania, já está abaixo desta percepção.
Outra: “Que isso?”. É tão óbvia a ausência do verbo, é tão óbvio faltar o verbo ser, porém o usuário sub-instruído ou desinstruído ou desleixado ou tudo isto em conjunto está abaixo de tal percepção.

 

ANGLICISMOS.

Traduzem, erradamente, do inglês, “inconsistent”,como inconsistente. É falso cognato, por incoerente. Incoerente. (Inconsistente entrou no uso, por imitação do inglês. Incoerente é que é.). Note como inconsistente entrou em circulação e excluiu incoerente.

 

Traduzem, erradamente, do inglês, “evidence”, como evidência (do crime). É falso cognato, por prova. Prova.

 

Traduzem (?), erradamente, do inglês, “massif”, como massivo. Sequer é falso cognato; é anglicismo, por maciço. Em português, diz-se maciço. Maciço.

 

Premonição, de “premonition” = pressentimento.

Acessar: porcaria de verbo, inventado, anos atrás, por ignorantes do equivalente português “aceder a”, existe há cerca de 9 séculos. Aceder a = ter acesso a; aceitar (convite). Por exemplo: acedo ao Facebook; aceda à página eletrônica, em lugar de acesse o Facebook, acesse a página. Porém “todo mundo” usa “acessar” e “ninguém conhece” aceder a ? Então comece você a usar o certo e dê o bom exemplo: os exemplos propagam-se. Cultive o certo e o elevado; evite o errado e o medíocre.

CACETE.

Cacete, em chulo, em calão, é sinônimo de pênis; em linguagem educada, cacete significa aborrecido, enfadonho, chato. Não é linguajar arcaico; pode-se empregar, legitimamente,o termo cacete, com a reserva de alguém pode entendê-la em sentido chulo, o que dependerá do ambiente e do nível cultural do interlocutor, semelhantemente às palavras caralho, cu, porra, pica e boceta que, todas, detêm sentido lídimo e não obsceno. A obscenidade abundante no dizer do brasileiro e´mais um sintoma da herança católica em que, dada a repressão sexual, o pudor vitoriano, o silêncio acerca da sexualidade, as pessoas passavam a referir-se aos orgãos do corpo mediante metáforas e sucedâneos, na impossibilidade de os nominarem abertamente. Vocabulário vil, de conotação sexual; tabuísmos sexualmente orientados são sinal de povo católico e moldado pelos tabus do catolicismo.

Já, agora, caralho=parte superior do navio, em que se situa a gávea; cu=orifício da agulha; porra=clava, maça (com acento átono na primeira sílaba, ou seja, “máça” e não maçã); pica=lança; boceta=escrínio, caixa de jóias.

TRADUÇÕES.

No Brasil, desde meados dos anos de 1980, as traduções tornaram-se ruins ou muito ruins; a contrapelo, antes disto havia-as boas, ótimas, exemplares. Em Portugal, eram e são corretíssimas. Muitos tradutores brasileiros, em vez de obter o equivalente vernacular do original, consoante a sintaxe e as características do português, traduzem literalmente, palavra por palavra e, destarte, reproduzem a sintaxe e as características do idioma original.
Por exemplo: em espanhol, diz-se “Todo lo contrario”, que nos equivale a “Ao contrário”; um mau tradutor traduziu como “Todo o contrário”, o que não faz sentido em português.
Outra: uma doutora com doutorado traduziu livro de Direito Romano, do espanhol, em cujo original se lê “El hombre, es ello solo”, o que ela verteu, pessimamente, como “O homem, ele é sozinho”, em vez de  “O homem está sozinho”.
Outro: o francês diz “Ça était notre affaire à nous”, que a besta do tradutor verteu como “Isto era nosso negócio a nós”, em vez de traduzir “Isto era o nosso negócio”.
Traduzir não é imitar; exige fidelidade ao original e vernaculidade no idioma para que se traduz. Tradutores ineptos sacrificam o segundo, a pretexto de rigor quanto ao primeiro; daí as traduções grotescas, erradas, inadequadas e a sensação de estranheza do leitor afeito ao vernáculo.

VÍCIO DA DUPLICIDADE

Os pronomes existem para evitar-se a repetição do sujeito; em lugar deles, maus escreventes empregam perífrases, que alongam o texto e o tornam obscuro.

Esta coisa de vício da duplicidade já passou do tempo de existir. Está mais do que na hora de os brasileiros pararem com isto: é defeito de redação, ainda que muitos o reputem virtuoso. É defeito, e feio; indica prolixidade, pedantismo e ignorância no uso dos pronomes. Se o sujeito desconhece que eles existem para evitar-se a repetição do sujeito, então, ignora o elementar e quer “sofisticar” o seu texto, da pior maneira. A frase da legenda ficou rebuscada e pernóstica; é no que dá o vício da duplicidade. Considero surpreendente que este defeito se haja inveterado e tanta gente o cometa, sem ter noção de que o é.

 

VÍCIO DE MESMO.

A construção “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo está no andar” é errada.
A construção “Os alunos devem manter silêncio. Os mesmos ouvirão a aula.” é errada.

A construção “João celebrou contrato; o mesmo o cumpriu.”.

“Mesmos” não se destina a repetir o sujeito nem é pronome; não serve para designar o sujeito; serve para evitar repetições como em: “Leu o livro? Li. Gostou do livro? Gostei. De que livro gostou? Do mesmo [que li].”.
Correto: “Antes de entrar no elevador, verifique se ELE está no andar”; “Os alunos devem manter silêncio. ELES ouvirão a aula.”; João celebrou o contrato; ELE o cumpriu.”.

Use os pronomes ele, eles, ela, elas. Eles existem ! Oh, maravilha ! Oh, surpresa ! Oh, louvores aos pronomes !

 

ROTUNDA.
Logradouro redondo, em redor de que os veículos trafegam, chama-se de rotunda. Rotunda é-lhe o nome, em vez de rotatória, que usa quem ignora o nome correto. Não é porque “todo mundo usa” rotatória, que este é o nome correto, sobretudo se “todo mundo” ignora o realmente correto.

Rotatória foi dicionarizada, o que nada significa: os dicionários registram as palavras, não lhes abonam o uso; não é porque a palavra está no Aurélio ou no Houaiss, com este ou aquele significado, que o uso em questão é correto.

 

TRADUÇÃO DE PRENOMES.
Os prenomes podem ser traduzidos; são traduzíveis; em décadas passadas, no Brasil, em Portugal, na Argentina, na Espanha, em outros países, eram traduzidos. É pura convenção atual, pretender-se que só se pode e deve-se empregar os prenomes na forma endômina, como dizer-se e grafar-se Karl Marx e não Carlos Marx, rainha Elizabeth e não rainha Isabel.
Consulte livros brasileiros, franceses, italianos, espanhóis, argentinos, portugueses, de vinte anos para trás – constam os prenomes nos respectivos idiomas e não no tal de original (por exemplo: em livro publicado em francês: François de Assis e não Francesco de Assis; em livro publicado em espanhol: Francisco de Assis e não Francesco de Assis.).

Em inúmeros países, inclusivamente no Brasil, traduziam-se os prenomes, ainda que no registro de batismo ou civil constasse Karl e Elizabeth.

Assim, Miguel Ângelo e não Michelangelo.
Rainha Isabel = rainha Elizabeth.
Jeremias Bentham = Jeremy Bentham.
Carlos Marx = Karl Marx.
Frederico Nietzsche = Friedrich Nietzsche.
João Sebastião Bach – Johann Sebastian Bach.
Augusto Comte = Auguste Comte.
Josué Cristo=Jesus Cristo.
Carlos Magno = Chale  Magne.
Diana (“díâna”) = Diana (“dáiane”).
Filipe = Philip.
Aristóteles, Platão, Demócrito, Papiniano, Justiniano, César, Moisés e outros, nominamo-los em Português.

 

PROVA CONTUNDENTE E ROBUSTA.
Jargão jurídico.
O pessoal jurídico, para mais de muitas vezes ser rebuscado e prolixo, usa de certos lugares-comuns. Por exemplo: prova contundente e prova robusta.
Ambos são metafóricos. O texto técnico deve evitar metáforas; ao invés, certos juristas abundam nelas: pensam, quiçá, que florear o texto, com lirismos inúteis é “escrever bem”.
A prova é convincente, principal, secundária, importante, menos importante; não é contundente nem robusta.

 

“A minha amiga, ela viajou.”.
“O curso que eu faço, ele dura cinco anos.”.

Compare:
A minha amiga viajou.
O curso que faço dura cinco anos.

O pronome, nestes casos, está a mais: evite-o (nestes casos).

Atentar em algo; jamais “atentar-se” em algo (jamais “me atentei que hoje é sexta-feira”; jamais “atentem-se ao prazo”.). Em país de instrução sub, de ensino sub, os vícios são supra.

 

A correção da linguagem, a sua escorreição, o que inclui a ortografia, é valiosa e é meritório zelar-se por ela. Ainda que o fundamental seja a comunicação, a correção importa; a comunicação como valor fundamental não desvaloriza a importância da correção. Erros que se cometa eventualmente devem ser corrigidos, como quaisquer erros, o que é diferente de se atacar a pessoa do interlocutor a propósito da sua expressão (falácia “ad hominem”) e de discriminá-lo (vulgarmente chamado de preconceito linguístico).

Há que se ensinar as pessoas a bem saberem e a bem usarem os recursos do idioma, o que inclui ortografia, acentuação, pontuação, pronomes, tempos verbais, mesóclise. Texto bem escrito, corretamente escrito, devidamente pontuado, escoimado de solecismos, é valioso pela sua forma; a forma correta é valiosa, em si, independentemente do fundo, que representa outro aspecto da comunicação.

Como se comunica é importante, independentemente do que se comunica.  Ainda que a comunicação haja sido eficaz, a norma culta é de rigor; valorizá-la não equivale a nenhum preconceito; ao invés, muitos mantêm preconceito contra a norma culta, por preguiça, ignorância e até arrogância.

 

VERBOS E PREPOSIÇÕES.
É defeito de redação usarem-se dois verbos (ou mais) que exigem preposições distintas, um em seguida ao outro. Por exemplo: ” Fulano gostava e preferia chocolate”.  É horrível construção. “Gostava DE chocolate e preferia-o A doce de leite.”.

PRONÚNCIA DE NOMES ESTRANGEIROS.

Muitas pessoas pronunciam os nomes estrangeiros com a sua (suposta) pronúncia no idioma original: Descartes, dizem “de cart”; Macron, dizem “macrron”; Marietti, dizem “marieti” (e não “marietchi”), George W. Bush dizem “djorge dâbou bâch”.

Não me oponho a que se pronunciem nomes estrangeiros consoanate o respectivo idioma; ao mesmo tempo, não considero depreciativo nem sinal de ignorância que se pretira (verbo preterir) tal pronúncia: não é suposto que se saiba os nomes nos seus idiomas, porém é natural e aceitável que os pronunciemos ao nosso modo e que traduzamos os prenomes. Sim, traduzirem-se-lhes os prenomes (que são traduzíveis) como se fez em inúmeros países, inclusivamente neste, por décadas: João Stuart Mill, Jeremias Bentham, Carlos Marx, Frederico Nietzsche, assim como João Paulo II, Carlos Magno, Aristóteles, César.

Digo “macrôn”, “marietchi”, “nítche”, “dêcarte”, “bêntam”, “conte”; falo assim, orgulhosamente, com a pronúncia do meu idioma, embora eu fale francês, espanhol, italiano (quanto ao inglês, é irregular na sua pronúncia, em que há surpresas). Os franceses pronunciam os nomes estrangeiros com prosódia do francês: fazem bem.

Saussure e Dürkheim nenhum brasileiro está obrigado a pronunciar em francês e alemão. “Sôssir” e “durcáim” já ficam bem: é como digo; mais não é preciso e sabe a (metáfora gustativa) pedantismo fonético (Emílio Dürkheim era francês, de sobrenome alemão. Pronunciá-lo-á com prosódia do alemão ou do francês ? O francês di-lo ao seu modo.).

Parece-me um pouco pedante, com o seu quê de ridículo, o brasileiro que afeta as pronúncias estrangeiras. Haverá opiniões antagônicas (dos que assim pronunciam, certamente.).

Houve um que dizia “pláto”, para Platão; certo autor de artigo acadêmico sobre Frederico Nietzsche grafou “August Comt” para Augusto (Auguste) Comte: escreveu como fala e desconhece a grafia correta do nome: ignorância é isto.

 

Por que certos erros e vícios se propagam como epidemia ? Porque, como diz Marcos de Castro, “ninguém sabe nada” (passe o exagero: ele quis dizer que o brasileiro médio sabe mal o vernáculo); alguém (sub-instruído) comete o erro uma vez; os outros atentam na novidade e a tomam pelo correto; imitam-na, em processo que se difunde. Rapidamente, um sem-número de sub-instruídos repetem o solecismo como se fosse correto, o ruído como se fosse harmonia

 

 

Saber e saber bem o idioma, saber falá-lo corretamente e escrevê-lo com escorreição, é o mínimo que se pode esperar de alguém minimamente à altura da civilização; quem não o sabe, está aquém dela. É imperioso afirmar tal princípio, incuti-lo como elemento da cosmovisão, repeti-lo para novos públicos, formar-se opinião pública e criar-se nova geração, que valorize a norma culta do idioma. A atual é altamente despreparada, neste capítulo.


DEVIDO A isto, devido ao outro e não: devido isto, devido o outro.
IGUAL A este, igual a aquele e não: igual este, igual aquele.
ATENTEI EM algo, atentei nisto e não: me atentei em algo, me atentei nisto.

Que diferença faz uma letra? A distância que vai do português com qualidade do reles, a de quem sabe bem o seu idioma de quem o sabe mal, a de quem fala “como todo mundo” de quem fala corretamente. Pormenores assim fazem a diferença.
Na comunicação, também importa a qualidade da forma como se comunica; a correção da forma, aliás, contribui-lhe para a eficácia: é redutor e estreito pensar-se que  importa, unicamente, que o destinatário da mensagem a compreenda; ao invés, é enaltecedor que se lhe transmita a mensagem com correção e até beleza. Aliás, a correção favorece a compreensão. Texto mal escrito, dito mal falado é texto e dito sujeito a ser incompreendido ou menos bem compreendido.
Saber bem o idioma, respeitar-lhe a gramática, usá-lo com rigor são valores, são virtudes, são vantagens.

 

VÍCIO DE TIPO.
“Hoje tipo é quinta-feira dia de aula tipo de matemática tipo não gosto muito porque tipo acho difícil tipo com as equação (sic) do primeiro grau.”
O falante repete “tipo” a torto e a direito.
Outros findam as suas frases com o tosco “[es] tá ligado?”. É vulgaridade, plebeísmo, coisa reles.
Quer usá-los, use-os; que é feio, lá isto é.
Não saber a flexão de número (plural) nem usar corretamente os tempos verbais, para mais de feio, é pobre: pobre culturalmente, pobre de civilização, brega, cafona.
“Dois minuto”, “chegou as pessoa”, “acabou as férias”, “é dois”, “é eu” – dá vergonha.

 

FALE BEM, FALE COM QUALIDADE.

É lamentável que muitos brasileiros já não saibam o mínimo do idioma.
Concordância. Se o sujeito é feminino, o verbo será no feminino. Se o sujeito é masculino, o verbo será no masculino. Por exemplo: a aula foi dadA e não a aula foi dadO. A conexão foi estabelecidA e não a conexão foi estabelecidO. Empresa chamadA Telepar e não empresa chamadO Telepar. Foi feitA a correção e não foi feitO a correção.
O carro foi consertadO. O amigo foi internadO. Os livros foram vendidOS (com s , por ser plural).
Um é. Dois são. São dois. É um.
Duzentos minutos e não: duzento minuto.
Nós somos. Somos nós e não: é nós.
Camisa branca e não: camisa no branco. Camisa pequena e não: camisa no pequeno.
Pague para mim e não: pague comigo.
Compre de nós e não: compre conosco.
Reclamei para ele e não: reclamei com ele.
Quer que eu vá? e não: Quer que eu vou?
Quer que eu encomende ? e não: Quer que eu encomendo?
Menos pessoas e não: menas pessoas.
Pôr e não: ponhar.
Eu trouxe e não: eu trusse.
As crianças e não: as criança.
Os dedos e não: os dedo.
O tempo deles passou e não: o tempo deles passaram.
A estante de livros é bonita e não: a estante de livros são bonitas.
A maioria das pessoas é bonita e não: a maioria das pessoas são bonitas.
A maioria das pessoas faz e não: a maioria das pessoas fazem.
As pessoas gostam e não: as pessoas gosta.
Os meninos sabem e não: os meninos sabe.
Os alunos estudam e não: os alunos estuda.
Eles foram felizes para sempre e não: foram feliz para sempre.
Há muitas flores e não: tem muitas flores.
Há maçãs e não: Tem maçãs.
Nós somos e não: a gente é.
Eu sou e não: a gente é.
Eles são e não: a gente é. (Note o caráter polissêmico e sempre equívoco da expressão “a gente”, que pode indicar eu, tu, ele, eles, nós, vós,eles, ao passo que os pronomes retos [eu, tu, ele, nós, vós, eles] indicam inequivocamente de quem se trata, motivo porque ela é pobre lingüísticamente e depende do contexto, ao passo que os pronomes retos independem dele e propiciam comunicação de compreensão sempre induvidosa.).

Dá vergonha ter de ensinar estas coisas. Dá vergonha o brasileiro ter de aprendê-las. Dá vergonha não ensinarem o idioma. Dá vergonha o desleixo e a ignorância elevados à condição de norma. Sociolingüística: populismo lingüístico.

 

 

VÍCIO DE “O QUE”.

É viciosa e errado este tipo de construção: “Ler livros é hábito. O que propicia cultura.”; “Vieram muitas pessoas. O que me contentou.”; “Leônidas venceu a batalha. O que salvou a Grécia.”.

Esta construção é evidentemente errada: não se pode insular o compemento verbal, do verbo. Ela é deselegante e manifesta inépcia na arte de redigir.

Ela grassou nos anos de 1990. Que um inepto a usasse, denuncia-lhe despreparo; que se difundisse, evidencia o quão despreparados se encontram os escreventes brasileiros.

Nos três exemplos, separam-se em frases componentes que não podem ser separados. Assim: “Ler livros é hábito, o que propicia cultura.”; “Vieram muitas pessoas, o que me contentou”; “Leônidas venceu a batalha, o que salvou a Grécia”.

Alguns empregam “e isso” em lugar de “o que”: “Ler livros é hábito e isso propicia cultura.”. É correto usá-lo; é vicioso saber somente usá-lo.

 

VULGARIDADES DE REDAÇÃO.
Há vulgaridades de redação, ou seja, locuções e expressões corretas e de uso correto, que se tornam vulgaridades devido ao excesso do seu uso, ao seu uso como expressões-ônibus ou palavras-ônibus. São corriqueiras em textos também acadêmicos; formam até uma espécie de gíria; denotam ausência de estilo próprio, ou seja, de autonomia estética: as vulgaridades existem por imitação: alguém usa dada palavra, repete-a (ou não); a palavra soa a nova, a diferente, talvez a elegante; outros passam a repeti-la.
Algumas vulgaridades tornam-se em cacoetes: o escrevinhador já não sabe escrever sem elas.
Por exemplo:

1) O macabro, prolixo, feio, redundante e ambíguo VÍCIO DA DUPLICIDADE. É urgente os escrevinhadores brasileiros convencerem-se de que quem o comete, escreve MAL. Por exemplo: “Augusto Comte, criador do Positivismo, escreveu livros; são bons os livros do francês”. Agora, sem o vício: “Augusto Comte, criador do Positivismo, escreveu livros, que são bons.”.
Outro: “A UFPr tem vários professores que lecionam na entidade com 20 horas.”. Sem o vício: “A UFPr tem vários professores que nela lecionam com 20 horas.”.

2) Vício de “algo”: “Ler é algo bom”. Sem a vulgaridade: “Ler é bom.”.

3) Vício de “registro”: “Tenho registro fotográfico” por “Tenho fotografia”; “O contraste entre imagens e texto esclarecem aspectos. Nestes registros, há boas informações.”.

4) Vício de “projeto”: “Fulano lançou um livro; é o seu primeiro projeto”.

5) Vício de “todo um”: “No Brasil há todo um contexto de crise.”.

6) Vício de “bem claro”: “Deixei bem claro o que pretendo”.

7) Vício de “a gente”: “A gente quer.”

8) Vício de “o que”: “Possuo muitos livros. O que me alegra.” Forma correta: “Possuo muitos livros, o que me alegra”. Não se pode separar um elemento da frase, do outro, no caso.

9) Vício de “possuir”: “Possuo dor-de-cabeça”, “O brasileiro possui virtudes”, por “Tenho dor-de-cabeça”, “O brasileiro tem virtudes.”.

10) Vício de “ganhar” (é o campeão, em artigos, livros e na Gazeta do Povo): “Curitiba ganha mais um restaurante”, “Fulano ganha respeito”, “Tal partido tem ganhado eleitores”. [Vulgaridades plebéias: “Fulana ganhou nenê”; “A aluna ganhou um ponto do professor”. As mulheres não ganham bebês: elas concebem.].

Em país em que rara gente lê, em que se sabe mal o vernáculo, os vícios propagam-se e as vulgaridades trivializam-se e manifestam-se, também, no alto pessoal acadêmico: há mestres, doutores, pós-doutores, professores-doutores e professores-pós-doutores que os escrevem: este pessoal redige por obrigação funcional e, parte dele, sem haver adquirido familiaridade com os bons escritores do idioma ou, pelo menos, não adquiriram estilo próprio. Ao invés, escrevem por imitação dos outros; eis porque se disseminam os erros, os cacoetes, os vícios e surgem vulgaridades de estilo.
Certo pessoal acadêmico, supinamente titulado, escreve defeituosamente, com cacoetes, para além de usar metáforas infelizes, empregar mal certos vocábulos, ser prolixo, confundir os tempos verbais (por exemplo: “Aristóteles vai dizer que […]”. Não: Aristóteles DISSE.), errar os pronomes (por exemplo: “Quero agradecê-lo”), produzir frases obscuras e anfiguris.
É óbvio que Machado de Assis não incorria em inépcias que tais; aliás, em inépcia nenhuma. Tampouco Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia, Eça de Queiroz, José Saramago – e nenhum deles era doutor nem pós-doutor, sem desdouro, evidentemente, dos doutores e pós-doutores que escrevam bem.
Em certos meios, há jargões, ou seja, dado léxico próprio, que designa categorias específicas da respectiva área do conhecimento. Não é disto que se trata, porquanto nenhuma das palavras acima constitui jargão.

Certos artigos “científicos” são decididamente ruins (malgrado da autoria de doutores e de pós-doutores): o sujeito percebe mal, explora mal o seu tema, descreve-o mal, conclui mal, e depois publica o seu artigo em coletâneas. Por exemplo: “História do corpo no Brasil”, de onde extraí os exemplos de vícios acima, encontradiços nos meios letrados e universitários, brasileiros, da atualidade.

 

VÍCIOS DE COMUNICAÇÃO. EDUCAÇÃO IDIOMÁTICA.

 

MANIAS BURRAS.

Mania burra de “está?”.

“Obrigado, [es]tá ?”.

“Desculpe, [es]tá ?”.

“Custa cinco, [es]tá?”.

Em primeiro, está errado pronunciar-se “tá”: a palavra diz-se “está”. Em segundo, é inútil perguntar “está?”: está o quê?

“Obrigado, está?”. Está o quê?

“Desculpe, está?”. Está o quê?

Mania burra do pronome:

“Brasília, ela é quente”.

“As pessoas, elas são simpáticas”.

“O coletivo, ele é importante”.

Os pronomes ele, ela, eles, elas, substituem o nome, o sujeito. Assim:

“Brasília, ela é quente” = Brasília, Brasília é quente.

“AS pessoas, elas são simpáticas” = As pessoas, as pessoas são simpáticas.

“O coletivo, ele é importante” = O coletivo, o coletivo é importante.

Diga:

“Brasília é quente”; “As pessoas são simpáticas”, “O coletivo é importante”.

É óbvio que o pronome, aí, está a mais, é inteiramente desnecessário e o seu uso é burro.

Dizer-se que o idioma muda, como se toda mudança fosse bem-vinda; que nem sempre o seu uso coloquial é racional, como se as irracionalidades fizessem sentido; que a linguagem popular vale tanto quanto a culta, redundam em criar-se mentalidade de deseducação lingüística e em coonestarem-se cacoetes, vícios, erros, como os que apontei.

 

Em idioma, há certo e errado; a norma culta deve servir-nos de inspiração, modelo e regra. A pessoa torna-se zelosa com as palavras quando lhes percebe o valor de comunicação, quando atenta em que uma preposição correta, uma vírgula bem colocada, um verbo corretamente conjugado, são vantajosos para ela comunicar com clareza e precisão o que pretende.

 

“ATENTE-SE” É ERRO ESTÚPIDO.

“Atentar em” e jamais o estapafúrdio “atente-se”: “eu me atentei”, “ele se atentou”, “atentem-se ao dia da festa” são ignorâncias.

Atentar-se é reflexivo: o sujeito exerce a ação sobre si próprio, atenta em si. Dizer “atente-se no dia da prova” equivale a dizer: “atente a si próprio no dia da prova”, quando se quer dizer: “tenha atenção relativamente ao dia da prova”, ou seja, a atenção não se volta ao próprio sujeito e sim a algo fora dele. Por isto, é absurdo dizer-se “atente-se no que ocorreu”.

O correto é e só pode ser “atente em” algo externo ao sujeito: “Eu atentei em que havia algo errado” ; “ele atentou no problema”, “atentaremos no dia da festa”.

O idioma faz sentido; nele, há certo e errado. O errado é errado ainda que muitos o cometam (e muitos cometem erros, em país em que a instrução do idioma é fraquíssima).

 

 

O VALOR DE SABER BEM O IDIOMA.

“Ligue na central de atendimento” significa o cliente ir à central e nela telefonar.

Quer-se dizer “Ligue para a central”. A preposição errada altera o sentido da frase.

Outra: “Obrigado por comprar conosco”. Errado: comprar “conosco” significa o comprador comprar com o vendedor e com mais alguém, ou seja, há três compradores, e não o comprador comprar do vendedor e o vendedor vender-lhe.

É óbvio que o comprador compra do vendedor e o vendedor vende para o comprador, o que se exprime de forma que enuncia tal obviedade: “Obrigado por comprar de nós” ou “Obrigado por comprar da Casa XYZ”.

Dizer “conosco” em lugar de “de mim” altera radicalmente o sentido da frase. É infantilidade objetar-se que “dá para entender”: não, não dá para entender; dá para adivinhar apesar da confusão a que induz o que se mal disse.

A eficácia da comunicação decorre, também, do emprego correto do idioma, da sua forma culta, que é valiosa, importante e bonita.

Saber bem o idioma e bem usá-lo faz diferença. Sabê-lo mal e usá-lo erradamente custa equívocos e confusões.

Em país em que a maioria sabe mal, quando sabe, os erros grassam como epidemia. Em idioma, há, sim, certo e errado; é justificável que a forma culta seja considerada a correta e padrão, no sentido de modelar, que serve de modelo por usar e como critério por que se avalie a correção e a incorreção das “variantes”.

 

“VAI QUERER ?”. ATENTAR E NÃO “ATENTAR-SE”.

O estado do idioma no Brasil é de achatamento crescente, em que, nas últimas décadas, as pessoas foram se tornando cada vez mais vulgares na sua expressão, ao mesmo tempo em que deixaram de aprender os recursos do idioma e de usá-los.

Há 3 ou 4 anos, o brasileiro médio já não sabe diferenciar, no uso, os tempos presente e futuro: as pessoas dizem, por exemplo, no comércio: “Não vai ter”, para significarem “Não tem”; “Vai querer ?” para exprimirem “Quer ?”, ou seja, usam o futuro para expressar o presente.

Como fariam para exprimir o futuro ?

Não leva a nada o lero-lero conformista, populista e sociolingüísta de que o idioma muda, de que as alterações são inevitáveis, de que isto é português brasileiro etc. É discurso fatalista, redutor, empobrecedor e pobre.

O idioma muda: pode mudar para melhor ou para pior. Quando quem deveria saber os tempos verbais não os sabe, então, mudou para pior, o que não é evolução: é retrocesso que não se pode aceitar e que urge contrariar, pelo ensino, a sério, do idioma, e pela sua valorização.

Saber bem o seu idioma é vantajoso na comunicação: quem o sabe bem, comunica-se melhor.

O vulgo confunde o presente com o futuro; desusa o pronome “se” onde ele é obrigatório (casar-se, divorciar-se, apaixonar-se, aposentar-se, arrepender-se, assustar-se); mete-o onde ele não existe: é o diabo do “atentar-se”, como “atente-se ao dia correto”.Atente-se, qual o quê ! Atente no dia, sem o raio do “se” !

 

PAGAR POR E NÃO PAGAR EM.

“Paguei X na calça”; “pagamos X no livro”: ERRADO.

Ninguém paga “no” livro, “na calça”: ninguém entra no livro e, dentro dele, paga; ninguém entra na calça e, dentro dela, paga.

Paguei pela calça; pagamos pelo livro.

O idioma faz sentido; as preposições têm a sua razão de ser, como instrumentos de clareza e de precisão: é importante usar as preposições corretas.

O uso popular muitas vezes não faz sentido e é irracional. O errado é errado ainda que muitos o usem.

Use o certo, orgulhosamente.

 

Idioma achatado.

29.7.2018.Há muitos anos noto a crescente degradação do idioma, no Brasil. Trinta anos atrás, a minha geração falava mal, porém sabia a flexão de número (singular e plural), os tempos verbais, os pronomes, coisas que já se perderam, em parte.

Piorou muito. Dá vergonha ouvir como certas pessoas falam; dá vergonha a mentalidade de desleixo com o idioma; dá vergonha as pessoas não saberem mais usar corretamente os tempos verbais, os pronomes, os verbos, as palavras, a mesóclise, os pronomes contraídos.

Há simplificações (com a transformação de verbos transitivos indiretos em diretos) que denotam não que “português é difícil” (não, não o é) porém sim que as pessoas não o aprenderam ou, se o aprenderam, usam-no com o menor esforço (critério da preguiça e da mediocridade).

Também não se trata, apenas, de riqueza de vocabulário: está em causa a sintaxe e a construção das frases: cometem-se solecismos inaceitáveis vinte ou trinta anos atrás; a construção frasal é primária. As crianças em Portugal falam melhor do que muitos adultos brasileiros, o que inclui o pessoal acadêmico que, supostamente sendo ou devendo ser letrado, amiúde exprime-se e escreve mal.

Chegamos a tal ponto graças, também, aos teóricos populistas segundo quem toda mudança é bem-vinda e segundo quem a gramática normativa é elitista e anacrônica; também graças aos professores de português que ensinaram aos seus alunos a sobrevalorizar a oralidade e a desdenhar da correção gramatical, como se a eficácia, a destreza, até a beleza da comunicação independesse da forma como se usa o idioma.

O resultado destes ideário e pedagogia é o de o brasileiro haver se tornado em povo relativamente emburrecido, e a incapacidade de incontáveis estudantes de inteligirem textos. O efeito funesto também se nota no pessoal acadêmico, em que mestres, doutores com doutorado e pós-doutores escrevem mal, praticam solecismos, manifestam carência de familiaridade com as formas elevadas de expressão no seu idioma. Escrevem por obrigação de ofício: vezes muitas, é quando revelam o seu despreparo, a sua carência de traquejo com o vernáculo, a ocorrência e até a recorrência dos vícios e defeitos em voga no momento.

Outro resultado consiste na epidemia de cacoetes, vícios e defeitos, como o estúpido vício da duplicidade, com exclusão dos pronomes cabíveis (“Aristóteles redigiu livros; são importantes os do grego”, em lugar de “Aristótoles redigiu livros; são eles importantes” ou “são importantes os seus livros”); o uso de palavras-ônibus (a exemplo do verbo ganhar: “Curitiba ganhou mais um restaurante”); o gerundismo (“Vamos estar escrevendo”); o apagamento da mesóclise (“Poder-se-á”, “Dí-lo-ei”); a supressão do pronome reflexo “se” (“Fulano apaixonou, separou, aposentou” em lugar de “apaixonou-se, separou-se, aposentou-se”); o emprego errado das preposições (“Ligue na central” em lugar de “Ligue para a central”); o desconhecimento da segunda pessoa do plural (“Vós sois”, “Fizestes”); o emprego errôneo dos tempos (“Vai querer ?” em lugar de “Quer ?”; “Aristóteles vai dizer” em lugar de “Aristóteles disse”, vezo corriqueiro no mal estilo acadêmico); a conjugação errada da segunda pessoa do singular (“Tu veio”, “Tu fez”); o primarismo das construções (“Os primeiros dias choveu.” em vez de “Nos primeiros dias choveu.”).

Ainda outro: a má qualidade da maioria das traduções brasileiras, dos últimos cerca de 40 anos. As portuguesas sempre são melhores: em Portugal valoriza-se saber bem o idioma, falá-lo com escorreição, escrever com clareza e propriedade, traduzir com esmero e vernaculidade.

Vide, a propósito, as observações de Otávio Pinheiro, na Folha de São Paulo, de 16.6.2018 (“Nunca se escreveu tanto, tão errado e se interpretou tão mal”) a que acederá por: https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2018/07/nunca-se-escreveu-tanto-tao-errado-e-se-interpretou-tao-mal.shtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=compfb

 

 

ACESSAR, DISPONIBILIZAR: PORCARIAS.

ACEDER A, DISPOR: VERBOS CORRETOS.

A ignorância do idioma no Brasil é fato típico da maioria dos brasileiros, nos últimos cerca de quarenta anos. Ensina-se mal, sabe-se mal, usa-se mal o idioma. Entre nós, não é desprestigiante falar-se mal, com solecismos: ao contrário, alguns teóricos, com as suas falsas e perniciosas doutrinas de que a) inexiste certo e errado, porém b) variantes lingüísticas, acabam por legitimar todo erro e todo primarismo.

O brasileiro médio fala muito mal o seu idioma. Há, aqui, professores e até doutores com doutorado cuja habilidade de comunicação é inferior ao das crianças portuguesas: a diferença está em que, em Portugal, valoriza-se o idioma, que lá se ensina a sério. O português médio, o homem comum português, sabe mais os recursos do nosso idioma e usa-os, diferentemente do que se passa no Brasil, em que não se aprende e se negligencia o que se aprende, o que reputo duplamente vergonhoso. Aqui, também se aprovam automaticamente as crianças até a quarta ou a sétima série: criam-se burros.

Um consectário da ignorância idiomática radica na circulação de estrangeirismos: o indivíduo ignora os termos do seu idioma, porém estuda inglês; algum ignorante, que sabe inglês e não sabe português, por imitação, inventa uma palavra; usa-a; os demais, igualmente desconhecedores do que deveriam saber, adotam a novidade. É o caso dos estúpidos verbos “acessar” e “disponibilizar”.

Há séculos existe o verbo (transitivo indireto) ACEDER A: significa “ter acesso a” e “aceitar”. Por exemplo: acedo ao recinto; acedi ao Facebook; aceda à página do banco.

O Brasil é o único país da Terra em que se usa esta porcaria: em Portugal, na Espanha, na Argentina, na França, na Itália, no Uruguai, no Chile, no México e nos mais países de línguas novilatinas, usa-se “aceder a”.

Alguém leu “to access” e fabricou “acessar”. Soubesse o seu idioma e conheceria “aceder a”.

É o mesmo caso do estrambótico “disponibilizar”. Em português, é DISPOR: dispus o material para os alunos; o governo disporá vacinas; as mercadorias estão dispostas para os fregueses.

Agora, que tu conheces o certo, podes (e deves) usá-lo. É correto elegante.

“-Mas se eu usar, ninguém vai entender”. Ninguém ? Quando introduziram as porcarias destes estrangeirismos, as pessoas não as entenderam ? Entenderam. E não entenderão os vocábulos vernaculares ? Entenderão.

LUSITANISMOS.

Alguns lusitanismos, em circulação no Brasil (lusitanismos, aqui, designam palavras ou locuções que circulavam, originariamente, em Portugal e não também no Brasil e que já agora fazem-se presentes cá):

1- dar o seu melhor (esforçar-se ao máximo, fazer o melhor possível), de que há equivalente em francês (“faire son mieux”).

2- cimeira (cúpula), como: “cimeira de governadores”.
3- novo ciclo (como: “hoje começa novo ciclo na minha vida”).

4- mais do mesmo (como em: “o advogado disse mais do mesmo na sustentação oral).

A leitura de gazetas portuguesas e os estágios universitários de brasileiros em Portugal permitem o contacto direto de brasileiros com a excelência com que lá se fala. Sim, lá se fala excelentemente, em cotejo com a forma usualmente pobre e chã como fala o brasileiro médio.

A mim não me engana a doutrina de que “o português fala bem o seu idioma e o brasileiro fala bem o seu”, de que são “idiomas diferentes”, de que há “idioma brasileiro”. Pensar que são idiomas diferentes e que inexiste superioridade de conhecimento e de bom uso em Portugal em relação ao Brasil, é idéia de criança birrenta, falsa como observação factual e especiosa como doutrina.

PRONOMES.

De mim = meu.
De você = seu.
De vocês = vosso.
Com eu = comigo.
Com nós = conosco.
Com vocês = convosco.
Meu, seu, comigo, vosso, convosco, conosco, são formas corretíssimas, bonitas, elegantes, cultas, que vós podeis usar em todas as ocasiões, na vossa fala e na vossa escrita. Aproveitai os recursos do nosso idioma ! Usai-os, orgulhosamente !

É catastrófico que a maioria das pessoas, neste país, desconheça a existência e o uso destes pronomes, que pertencem ao seu idioma, que lhe constituem belezas, que são formas de falar e de escrever legítimas e que a até 40 anos atrás a generalidade das pessoas sabia e usava. O brasileiro desaprendeu o seu idioma, o que considero alarmante e vergonhoso.
Dizer que tal desuso é natural e esperado, que representa a “mudança” do idioma é forma de coonestar o estado lastimável do ensino do idioma (e não só), no Brasil; de convencer as pessoas de que a ignorância é aceitável, e de mantê-las na ignorância, com a conivência de teóricos (sociolingüistas) de teorias perniciosas.

Copiei e colo:
“A pessoa passa cinco anos em uma faculdade, uma instituição do ensino superior deste país, e escreve #formei. Formou o que? uma figura em barro? não sabe que o verbo é pronominal e que quem forma, forma algo, mas quem SE forma é que aprende algo ou termina seus estudos? Depois reclamam da péssima qualidade dos profissionais que temos neste pais!”

Em suma: o sujeito forma-SE e não sabe dizer: “formei-me” ou “me formei”.

Casou-me.
Apaixonei-me.
Separou-se.
Vacinou-se.
Aposentou-se.
Reunimo-nos.

E JAMAIS “atentou-se” !!!! “Atente no prazo”, “Atentarei no que for preciso”. Atentar não é reflexivo: não é “se atentar” e sim “atentar”.

 

MUDANÇA DA LÍNGUA. SOCIOLINGÜÍSTICA.
A constante mudança do idioma não significa, não pode significar, que toda alteração seja desejável nem bem-vinda. Ao invés: há alterações para pior, notadamente as que provêm do povo sub-instruído, o que não é preconceito lingüístico, porém é o dado empírico de que onde falta instrução, escolarização, valorização do idioma, surgem simplificações e empobrecimentos, como é o caso, que não refletem “riqueza da diversidade cultural” pois não se pode, legitimamente, chamar assim ao que não é simples “diversidade cultural”, porém é o empobrecimento da cultura, é “desculturação”. É o que o pessoal da sociolingüística não entende ou não quer entender. Em que pese o valor de se contextualizar o que se diz, as teses de Marcos Bagno são discutíveis e carecem do “valor absoluto”.

A sociolingüística é falaciosa, ao negar a distinção entre certo e errado. Há certo e errado; há quem fale erradamente. Parte do estado da incompetência com que muitos brasileiros , inclusivamente universitários, se comunicam oralmente e por escrito, deve-se às doutrinas da sociolingüística que, ao fim e ao cabo, justificam a ignorância. Ela é co-culpada pela involução do idioma no Brasil, pelo desleixo de muitos brasileiros que, arrogantemente, erigiu em virtude teórica e em método pedagógico.

ENTREFALA.

“Entrefala” em lugar de “entrevista”.

A palavra “interview” originou, por canhestra adaptação, “entrevista”. No original inglês, a palavra é mal formada; no anglicismo, também: ambos sugerem vista que se encontra entre dois elementos, especificamente duas pessoas.
Há, contudo, em castiço, entrefala. Entrefala é a palavra vernacular, de português puro, legítimo, bonito, elegante.
É a informação de Cândido de Figueiredo (“Os estrangeirismos”.).
Já estou a ouvir as objeções de prontidão: “Ninguém conhece”, “Nunca ouvi falar”, “Todo mundo [galicismo vomitável] usa entrevista”.
Respondo-lhes de antemão: use a palavra. Basta usá-la para torná-la conhecida e compreendida.

 

POLACO E NÃO POLONÊS.

Enquanto o termo castiço e correto é polaco, polonês deriva do francês “polonais” e corresponde, destarte, a francesia. Em começos do século XX, os proprietários do cassino da Urca, no Rio de Janeiro, para lá levaram prostitutas suecas, loiras como as polacas do Paraná. Com intuito depreciativo, alguns sulistas passaram a designar por polaca a toda prostituta; daí a adoção do galicismo, com que se evitava o termo depreciativo. Dado, no entanto, que a conotação prostibular cessou há décadas, é tempo de se restaurar o uso do vernáculo

 

MANEIRA COMO. CUJO.

A maneira que o Brasil perdeu”, não. “A maneira COMO o Brasil perdeu.”.
“A pessoa que o pai dela é velho”, não. “A pessoa CUJO pai é velho.”.

Uma das formas do empobrecimento da forma como o idioma é falado no Brasil consiste no desuso das preposições. Elas existem e cumprem papel valioso, na comunicação;a sua existência não é gratuita; ao invés: elas contribuem para a eficácia da comunicação e para a sua clareza. Sabê-las e empregá-las é elegante e vantajoso para você se comunicar. Empregá-la eleva a eficácia da comunicação de quem as emprega por sobre a de quem as desusa: exprime-se com mais precisão quem usa “por”, “de que”, “de quem”, “cujo”, “cuja”, “cujos”, “cujas”, “para”, “de que”, “em que”.
Português não é difícil; é fácil. Pensar em contrário é mito que serve aos ignorantes, que querem se manter na ignorância; aos preguiçosos, que se regem pela lei do menor esforço (critério de todo medíocre) e para os teóricos que combatem a gramática (estes, precisam ser contrariados teoricamente e as suas doutrinas, desmoralizadas).
Se algum professor de português lhe disser que a gramática normativa é elitista, arcaica e outras coisas, desconfie-lhe da sensatez, da isenção e do discernimento: ele contribui para emburrecer.
É típico do indivíduo sub-instruído, mediocremente formado, empregar “que” em lugar das preposições corretas.

 

PÔSTER, do inglês “poster”.

Em português, cartaz. Sim, cartaz. Cartaz é a palavra vernacular para “poster”.
Você sabe em mau português, imita o inglês e ignora o equivalente em português ? Estranha a palavra correta do seu idioma ? Estranha cartaz ? Há algo errado com você.

FOLDER, do inglês “folder”. Em português, prospecto. Oh ! Prospecto ! “Mais [sic – é “mas”] nunca ouvi falar.”. Então, aprenda e repita três vezes: prospecto, prospecto, prospecto. Mais uma, por garantia: prospecto. Pronto ! Você se curou de dizer “folder”. Agora, você usa a palavra do seu idioma e não mais um estrangeirismo desnecessário e cafona.

RANKING. Palavrão, porcaria, lixo ! Em português, você pode dizer classificação, escala, tabela – é correto e elegante usá-las, ao contrário do tal de “ranking”.

 

ANFIGURI. VANILÓQUIO.
Chama-se de anfiguri o texto confuso, abstruso, de difícil compreensão; chama-se de vanilóquio o discurso vão, vazio.
Ambos servem para ocultar o vazio de idéias ou para rebuscar idéias simples; são formas inferiores, como estilo e como conteúdo. Por exemplo: “O corpo delimita-se por superfícies múltiplas ou, como denominou Anzieu, “peles psíquicas”. É , pois, entendido como uma topologia ou ainda, dentro do referencial utilizado pelo filósofo e psicanalista, depreendido como uma atmosfera cuja textura espacial é plástica e assume a forma de múltiplos invólucros cuja superfície, a pele, serve de interface para a inscrição das inúmeras mensagens que constituem a interação entre psique e soma.”.

Outro, da mesma escrevinhadora: “Não há dúvida que nunca se falou tanto acerca do corpo, o qual entrou em cena da produção teórica às inúmeras práticas corporais.”. Atente à crase estapafúrdia !

Estes espécimens de lixo são da autoria de uma pós-doutora, em coletânea em que há outros, e extensos, anfiguris, da parte de doutores (com doutorado).

Isto é escrever mal, muito mal: escrever bem combina clareza, escorreição e elegância. Leia Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, José Saramago, Eça de Queiroz, antes de se aventurar a redatar seja o que for.

VOSSO. MESÓCLISE.
Ultimamente, notei que algumas pessoas passaram a empregar o pronome “vosso”, ao se dirigirem a duas pessoas ou mais. É corretíssimo.
Vosso = de vocês; vossa presença = presença de vocês; vossa prova = prova de vocês.
É recurso do idioma, disponível para ser usado por todos, em qualquer situação, formal ou informal, bem como a mesóclise.
Mesóclise: pronome dentro do verbo, empregável sempre no futuro. Por exemplo: dir-lhe-ei (e não: lhe direi); poder-se-á (e não: se poderá). Ela existe para ser usada em qualquer situação, formal ou informal, escrita ou falada.

Em boa hora voltou a circular o vosso, vossos, vossas, vossa. Que circule também a segunda pessoa do plural, a que corresponde, aliás, o vosso. Por exemplo: Digo-vos que deveis entender; acrescentareis cultura se lerdes Machado de Assis.

E que volte a circular a mesóclise !
(O estado do desleixo do ensino, no Brasil, é tal, que a maioria dos estudantes sequer sabe que a mesóclise existe; ainda menos sabe usá-la. Depois, o sujeito ascende a mestrados e doutorados e escreve mal, não apenas porque não sabe a mesóclise, porém porque lhe falta traquejo no idioma. Tenho lido dissertações, artigos, teses mal redigidas.).

 

Acessar: aceder a (por exemplo: acedi à sala de aula; acederei ao Facebook.).
“Baby”: criança, bebê.
“Baby-doll”: camisola de dormir.
“Baby-sitter”: cuidadora de crianças.
“Back” : defesa.
“Background”: base, opinião política, tendência.
“Bacon”: toicinho.
“Bar”: botequim.
“Básica”: (roupa) lisa.
“Barman”: empregado de bar.
“Best-seller”: livro de grande êxito.
“Black-out”: apagão.
“Black-tie”: laço preto.
“Blaser”: casaco.
“Blue-jean”: brim azul.
“Bookmaker” : corretor de apostas.
“Bookstore”: livraria.
“Boss”: patrão, chefe.
“Box”: caixa, compartimento.
“Boxe”: pugilismo.
“Boy”: menino, garoto, prostituto, namorado, quase-namorado.
“Briefing”: conferência, reunião.
“Building”: edifício.
“Business school”: escola de negócios.
“Cameraman”: técnico de televisão, filmador.
“Camping”: campismo, acampamento.
“Canyon”: vale.
“Carter”: protetor.
“Cartoon”: caricatura.
“Cash”: pagamento em dinheiro à vista.
“Casting”: elenco.
“Casual”: informal.
“Caubói”: vaqueiro, pegureiro, boieiro.
“Chairman”: o homem da cadeira, presidente.
“Charter”: fretado.
“Chack-list”: lista de documentos.
Check-up”: exame geral.
“Cheeseburger”: sanduíche de queijo.
“Cherry”: cereja.
“Cí én én”: cê ene ene.
“Close up”: aproximação.
“Cockpit”: carlinga.
“Coke”: carvão de pedra.
“Conteiner”: contentor, cofre-de-carga.
“Cookie” bolacha.
“Cool”: fresco.
“Cooper”: caminhada.
“Copydesk”: mesa de trabalho.
“Copyright”: direitos de autor.
“Corner”: escanteio.
“Cow-boy”: menino-boi, vaqueiro.
“Crack”: famoso, notável, excelente.
“Daiana”: Diana.
“Dancing”: discoteca.
“Dandy”: janota, peralta.
“Delivery”: entrega em domicílio.
“Derby”: competição.
“Designer”:desenhador.
“Destroyer”: destruidor.
“Display”: exibição, postura.
“Doping”: estimulação.
“Drink”: bebida.
“Drops”: bala.
“Drugstore”: farmácia.
“Éfe bí ái”: éfe bê í.
“Em tí ví”: ême tê vê.
“E-mail”: endereço eletrônico.
“Fair-play”: honestidade no desporto.
“Fast-food”: comida rápida.
“Feed-back”: retorno, reciprocidade.
“Ferry-boat”: navio de passagem.
“Fest-food”: comida rápida, colação.
“Fitness center”: ginásio.
“Flash”: clarão, luminoso.
“Flash-back”: retorno ao passado.
“Flat”: apartamento, escritório, recinto.
“Flyer”: folheto.
“Folder”: prospecto.
“Fone”: telefone.
“Free”: gratuito.
“Free lance”: autônomo.
“Freezer”: congelador.
“Full-time”: em período integral.
“Geyser”: esguicho.
“Ghost-writer”: autor verdadeiro.
“Gin”: genebra.
“Hall”: vestíbulo, átrio, saguão.
“Hacker”: pirata eletrônico.
“Handicap”: compensação.
“Happy-hour”: fim de expediente.
“Hardware”: ferramenta, componente.
“Hi-fi”: de alta fidelidade.
“Hobby”: passatempo.
“Holding”: grupo.
“Home page”: página eletrônica.
“Home care”: tratamento doméstico.
“Home theater”: exibição doméstica.
“Hot dog”: cachorro-quente.
“In”: na moda.
“Insight”: intuição, rendimento.
“Jamboree”: reunião de escoteiros.
“Joint ventury”: consórcio.
“John”: João.
“Know-how”: conhecimento; técnica.
“Kid”: criança.
“Kitsch”: de mau gosto.
“Kôssovo”: Cozôvo.
“Layout”: esboço.
“Light”: suave.
“Living-room”: sala de estar.
“Link”: ligação.
“Lobby”: grupo de influência.
“Loft”: apartamento de pé direito elevado; apartamento alto.
“Look”: aspecto, aparência.
“Manager”: empresário, gerente.
“Marine”: fusileiro naval.
“Marketing”: propaganda, publicidade.
“Merchandising”: comércio, mercatura, comercialização.
“Mix”: mistura.
“Mixer”: misturador.
“Mouse”: rato, controlador.
“New look”: nova moda.
“Note-book”: computador de mão.
“% off”: % de desconto.
“Office”: escritório.
“Office-boy”: menino-escritório, contínuo.
“Offset”: transporte, pois, no caso da composição tipográfica, esta é transferida de uma folha de metal para o papel por meio do cilindro.
“O.K.”: tudo bem, de acordo.
“On line”: em linha.
“On the rocks”: com gelo.
“Open”: aberto para profissionais e amadores.
“Overdose”: superdose.
“Overnight”: de um dia (negócios).
“Paper”: relatório, resumo, resenha.
“Parking”: estacionamento.
“Penalty”: penalidade.
“Performance”: desempenho, atuação, exibição.
“Play-boy”: pândego, folgazão.
“Play-off”: disputa extraordinária.
“Pocket-book”: livro de bolso.
“Pool”: agrupamento, grupo, consórcio.
“Poster”: cartaz.
“Puzzle”: jogo de montar.
“Ranking”: classificação, lista.
“Relax”: descanso, relaxamento, repouso.
“Remake”: nova versão, refilmagem.
“Replay”: repetição.
“Ring”: tablado.
“Rum”: aguardente.
“Rush”: hora de rush: hora de ponta.
“Sale”: à venda.
“Scanner”: copiador.
“Score”: contagem, marcação, resultado.
“Self-service”: auto-serviço.
“Sexy”: sensual, erótico, atraente.
“Shopping center”: centro comercial.
“Show”: espetáculo, concerto, exibição, apresentação.
“Show room”: exposição, amostragem.
“Skate”: tábua de rodas.
“Slide”: diapositivo.
“Snooker”: bilhar.
“Software”: programa de computador.
“Spot”: alocução.
“Spray”: de borrifo, borrifador.
“Staff”: equipa.
“Stand”: expositor.
“Stand by”: suspenso.
“Teen”: adolescente, juvenil.
“Ticket”: bilhete.
“Top-model”: modelo de prestígio.
“Trailer”: atrelado (veículo), fragmento, excerto, amostra.
“Trainee”: aprendiz.
“Up-grade”: sofisticação.
“Warrants”: direitos de subscrição.
“Workshop”: estação de trabalho.
“Xerox”: fotocópia.
“Yes”: sim.

Objeções de costume:

1) “já está dicionarizado”. O dicionário não abona as palavras, mas apenas as arquiva. Se você invoca o dicionário em defesa do lixo lingüístico, você não sabe para que servem os dicionários.

2) “todo mundo entende em inglês”. As pessoas não entenderão português?

3) “O uso já consagrou esta palavra; agora é difícil mudar”. Um mau uso consagrado, é um mau uso, ainda que consagrado. Nunca deveria tê-lo sido e deve ser erradicado. Por que o uso não pode consagrar um bom uso, em português? Comece por usar: basta isto. O seu conformismo apático não leva a nada.

 

A TRADUÇÃO DE PRENOMES É POSSÍVEL E CORRETA.
Os prenomes podem ser traduzidos; são traduzíveis; em décadas passadas, no Brasil, em Portugal, na Argentina, na Espanha, em outros países, eram traduzidos. É pura convenção atual, pretender-se que só se pode e deve-se empregar os prenomes na forma endômina, como dizer-se e grafar-se Karl Marx e não Carlos Marx, rainha Elizabeth e não rainha Isabel.
Consulte livros brasileiros, franceses, italianos, espanhóis, argentinos, portugueses, de vinte anos para trás – constam os prenomes nos respectivos idiomas e não no tal de original (por exemplo: em livro publicado em francês: François de Assis e não Francesco de Assis; em livro publicado em espanhol: Francisco de Assis e não Francesco de Assis.).
Em inúmeros países, inclusivamente no Brasil, traduziam-se os prenomes, ainda que no registro de batismo ou civil constasse Karl e Elizabeth.
Assim, Miguel Ângelo e não Michelangelo.
Rainha Isabel = rainha Elizabeth.
Jeremias Bentham = Jeremy Bentham.
Carlos Marx = Karl Marx.
Frederico Nietzsche = Friedrich Nietzsche.
João Sebastião Bach – Johann Sebastian Bach.
Augusto Comte = Auguste Comte.
Josué Cristo=Jesus Cristo.
Carlos Magno = Charle Magne.
Diana (“díâna”) = Diana (“dáiana”).
Filipe = Philip.
Aristóteles, Platão, Demócrito, Papiniano, Justiniano, César, Moisés e outros, nominamo-los em Português.

 

dEUS É COM MINÚSCULA.

É correto grafar-se deus e jamais Deus: 1- “Deus” não é nome próprio, como o são Artur, Miguel, Portugal, Casas Pernambucanas; é substantivo, como casa, céu, livro. O plural de deus é deuses e não Deuses.

Isto não é blasfêmia, porém o uso correto dos nomes e das maiúsculas.

2- Os nomes de alguns deuses são Hermes, Diana, Apolo, Alá, Eloim, Jeová. Eloim e Jeová são os nomes dos dois deuses do Velho Testamento. Dois: há dois deuses no Velho Testamento, que o cristianismo “louva”, juntamente com o deus Jesus e com o deus Espírito Santo, pelo que o cristianismo não é monoteico e sim tetrateico. Entenda quem puder como diabos é que o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo três, é um. É o que o cristianismo apelida de “mistério”.

3- Os judeus, autores do Velho Testamento, eram politeicos: cultuavam inúmeros deuses. Na narrativa original do Gênesis, o mundo foi criado por “nós” e não por “mim”, ou seja, por vários deuses, malgrado as traduções deliberadamente erradas hajam transformado o plural em singular. Com o transcorrer dos séculos, os deturpadores dos textos vetero-testamentários elidiram as referências ao politeísmo judeu de que, contudo, há vestígios.

O monoteismo judeu (que originou o cristão) foi construído por obra humana (vide “A evolução de deus”, de R. Wright).

Outro vezo é o do pessoal jurídico, que redige Autor, Réu, Requerente, Apelante, Embargado. Nada disto são nomes próprios, pelo que nenhum destes apelativos deve ser escrito com maiúsculas, porém com minúsculas. A maioria dos redatores de textos jurídicos comete este erro, escreve assim por imitação, sem a menor idéia de que erra.

 

 

“Entrefala” em lugar de “entrevista”.

A palavra “interview” originou, por canhestra adaptação, “entrevista”. No original inglês, a palavra é mal formada; no anglicismo, também: ambos sugerem vista que se encontra entre dois elementos, especificamente duas pessoas.

Há, contudo, em castiço, entrefala. Entrefala é a palavra vernacular, de português puro, legítimo, bonito, elegante.

É a informação de Cândido de Figueiredo (“Os estrangeirismos”.).

Já estou a ouvir as objeções de prontidão: “Ninguém conhece”, “Nunca ouvi falar”, “Todo mundo [galicismo vomitável] usa entrevista”.

Respondo-lhes de antemão: use a palavra. Basta usá-la para torná-la conhecida e compreendida.Parte superior do formulário

 

ADVÉRBIO DE MODO é a palavra que indica o modo, a maneira, o como algo se dá. Por exemplo: veio de modo rápido = veio rapidamente; encontrou de maneira fácil = encontrou facilmente; fala de modo errado = fala erradamente; fala de maneira correta = fala corretamente.

Dizer-se “veio rápido” é diferente de dizer-se “veio rapidamente”, pois em “veio rápido”, o que veio, foi o “rápido”, ao passo que em “veio rapidamente”, algo ou alguém veio, o que fez com rapidez. Note a diferença, total, entre usar-se corretamente os advérbios de modo e não os usar; neles, usa-se a desinência “mente”: rapidamente, urgentemente, facilmente.

Se tu usas os adjetivos como se fossem advérbios de modo (por exemplo: “rápido” em vez de “rapidamente”), então escreves mal, na forma e no fundo.

“-Todo mundo fala assim”: se muitos falam assim, muitos falam mal. Você prefere o errado ao certo ?
“-Mas dá para entender.”: se dá para entender assim, também dá para entender se usar o idioma de modo melhor.

A negligência dos advérbios de modo (….mente) é mais um sintoma do empobrecimento do idioma, no Brasil.

O idioma faz sentido; nele, há certo e errado; a teminação “mente” nos advérbios é relevante, desempenha papel na eficácia da comunicação. Se tu usas o “mente”, dizes uma coisa; se o negligencias, dizes outra.

 

DEFEITO E CACOETE DE “. O que […]”. 

Defeito e cacoete dos escrevedores brasileiros presente a partir de meados de 2000 e persistente, é o de separarem-se elementos da frase que não se pode separar, em que a oração (qualquer que seja) prossegue com a locução “o que”, que não se pode disjungir do que a antecede. O defeito está em disjungi-la; o cacoete está em fazê-lo sistematicamente.

Por exemplo (sem defeito): “O corte de verbas para bolsas é expressivo, o que poderá afetar a pesquisa”. Com defeito: “O corte de verbas para bolsas é expressivo. O que poderá afetar a pesquisa”.

Outro (versão perfeita): “Com o aumento das temperaturas, deve-se beber mais água, o que evita desidratação”. Versão cacográfica: “Com o aumento das temperaturas, deve-se beber mais água. O que evita desidratação”.

Como sabiamente observou Marcos de Castro, nas redações dos jornais, ninguém sabe nada (hipérbole para: a maioria dos redatores ignora a gramática); quando alguém, por ignorância e não por beleza estética, introduz inovação estranha, os demais que não sabem nada, imitam-na, atraídos pela novidade. Creio que nas gazetas e certamente nos meios acadêmicos e em traduções de livros, foi o caso do defeito e cacoete em questão, presente em livros, artigos, ensaios, postagens do Facebook, sem que ninguém, exceto eu, lhe haja atentado na inépcia e no mau gosto.

É correto usar-se “O que” em situações assim: “O que se pode escrever, é o texto corretamente”; “O que está em causa, é o estilo”.

O idioma faz sentido; as regras gramaticais atuam em prol da clareza e da eficácia da comunicação. Em idioma, há certo e errado.

 

VÍCIO DO DUPLO SUJEITO. DOENÇA DE REDAÇÃO.

A pior praga de redação dos brasileiros é, há vários anos, o vício do duplo sujeito ou da duplicidade, praticamente ubíquo. Usam-no, segundo me constou, “para se evitar a repetição do sujeito”. Ora, para se evitar a repetição do sujeito existem os PRONOMES. Pronome = pro + nome. O prefixo “pro”, aqui, significa substituição.
O pronome substitui o nome, o sujeito ! Existem pronomes para inexistir o vício da duplicidade !

Quem criou (alguém criou) a mentalidade estrambótica de que se deve usar perífrases e duplicar o sujeito para lhe evitar a redundância ignorava a função e o uso dos pronomes ou, se os conhecia, teve idéia que era melhor não ter tido.

Por exemplo: “Gripe: confira os sintomas da doença”. Nesta frase desastrada, pode-se entender que:

1) Está-se a dirigir à gripe; é como se alguém falasse à gripe; ela é o interlocutor, a quem se diz “Confira os sintomas da doença”. Evidentemente, não é disto que se trata.

2) Quer-se convidar o leitor a conhecer os sintomas da doença, caso em que há “gripe” e há “doença”. Não é suposto que a doença seja a gripe; ao contrário, há uma doença (gripe) e outra doença (que não se identifica). O leitor deve adivinhar que doença = gripe.
Evidentemente, tal redação é ambígua; ela padece do cacoete da duplicidade, sem o qual seria: “Gripe: conheça-LHE os sintomas”.

Sim, usa-se o pronome “lhe”, para evitar a duplicidade e tornar inequívoca a frase.

Também se pode redatar: “Gripe: conheça os SEUS sintomas”.

Sim, usam-se os pronomes seu, seus, sua, suas, que permitem evitar a duplicidade e tornar inequívoca a frase.

Você ignora o uso dos pronomes ? Não sabia que se pode e deve escrever assim ? Então, há algo de errado e não é com os pronomes.

Para os pedantes, a duplicidade será sofisticação; para os ingênuos, será o correto; para os inábeis, será recurso estilístico. Para mim, é estultice: complica-se inútil e desnecessariamente a frase, que se torna ambígua e verbosa.

Com este defeito, não se diz melhor: diz-se pior, com mais dispêndio de palavras.

 

21.4.2018. Nas lojas: “Só tem no pequeno”; “Vai ter no amarelo”. Não. Só tem (só há) pequena, ou seja, roupa pequena ou de tamanho pequeno. De tamanho pequeno e não no pequeno. Da mesma forma, roupa amarela ou de cor amarela e não no amarelo. Irrita-me ouvir estes vícios todos os dias, nas lojas.

Outra: o despacho diz “Proceda a correção”, “Proceda o levantamento do dinheiro”. Não. É proceda ao, proceder a. Proceda à correção, proceda ao levantamento. Irrita-me ler coisas assim, em processos.

Outra: acesse o site. Não. Aceda ao sítio. Aceder a= ter acesso a. É palavra muito anterior ao tal do “acessar”. Séculos antes de os brasileiros imitarem o inglês (“to access”) já existia aceder a. “Site” em inglês= sítio, lugar. Aceder ao sítio. Fale bem, fale com qualidade, fale em bom Português.

Outro vezo é o do pessoal jurídico, que redige Autor, Réu, Requerente, Apelante, Embargado. Nada disto são nomes próprios, pelo que nenhum destes apelativos deve ser escrito com maiúsculas, porém com minúsculas. A maioria dos redatores de textos jurídicos comete este erro, escreve assim por imitação, sem a menor idéia de que erra. Pior: professores ensinam os seus alunos neste erro. Erro, eu disse.

“Português é difícil”: eis idéia infantil, coisa de senso comum, de crianças, porém as crianças que aprendem o idioma, libertam-se desta idéia; certos adultos, que não o aprendem, mantém-na.

 

23.4.2018. LUGARES-COMUNS DE LINGUAGEM. CULTURA LITERÁRIA. ACADÊMICOS MAUS REDATORES.

Muitas pessoas falam consoante o que ouvem, por imitação: como os outros falam, falam eles; daí rapidamente propagarem-se modismos e lugares-comuns, em certos meios, como o juvenil, o acadêmico, o dos leitores de certa gazeta.
Por exemplo: criticar-se algo ou alguém e principiar-se a frase da crítica com a locução “O problema [da pessoa, da idéia, da instituição] é que […]”. Por exemplo: “O problema com os liberais é que são poucos.”; “O problema do Brasil é que nele há calor.”. Assim, a pessoa, a idéia, a instituição contém um “problema”.
Outro: construir a frase com o advérbio quem, seguido de verbo; este, de complemento (ou não); este, do verbo ser no passado : “Quem disse isto foi fulano”, “Quem nos deu informações foi o tio”.

Em si, nenhuma destas construções é errada; são corretas. Contudo, a sua repetição automática, como meio de comunicação recorrente, com exclusão de alternativas, demonstra pobreza de recursos de quem as emprega e até cacoete de redação, como é, também, o caso dos verbos ganhar e dialogar, de uso metafórico, abusivo, pobre e empobrecedor, atualmente, no Brasil. Na redação jornalistica, acadêmica e não só, quantas vezes ocorrem tais verbos (“O Brasil ganhou dois pontos nos índices de desenvolvimento humano”; “No livro de fulano, Marx dialoga com Platão”.).

Ganhar e dialogar têm sentidos próprios; é suposto que o texto jornalistico descreva situações; ao invés, os jornalistas mantêm o cacoete de empregarem tais verbos em sentido conotativo, metafórico, ou seja, oposto ao descritivo: escrevem mal; praticam mau jornalismo, quer no emprego destes verbos, metaforicamente, quer na insistência nestas metáforas. Também acadêmicos (com mestrado e doutorado), articulistas e outros escreventes usam-nos inapropriada e viciosamente.

Também é vicioso este tipo de construção: “Ler livros é hábito. O que propicia cultura.”; “Vieram muitas pessoas. O que me contentou.”; “Leônidas venceu a batalha. O que salvou a Grécia.”.
Esta construção é evidentemente errada, deselegante e manifesta inépcia na arte de redigir, apesar do que grassou nos anos de 2000 (e persiste): algum inepto usou-a; outros incautos imitaram-na, um e outros sem nenhuma percepção do seu absurdo.
Que o primeiro inepto a usasse, denuncia-lhe despreparo; que se difundisse este mau uso, evidencia o quão despreparados se encontram os escreventes brasileiros.
Nos três casos, separam-se em frases orações concernentes ao mesmo período, que devem estar unidas, pois contém predicados: “Ler livros é hábito, o que propicia cultura.”; “Vieram muitas pessoas, o que me contentou”; “Leônidas venceu a batalha, o que salvou a Grécia”. (Encontro tal excrescência até em traduções supostamente bem qualificadas, como na de “Prodígios e Vertigens da Analogia”, de J. Bouveresse, da editora Martins Fontes.).

Até certo ponto, o emprego dos recursos de comunicação são miméticos: as pessoas imitam-se entre si e penso que tanto mais imitam quanto mais pobres de cultura literária. É o que observava nos meus tempos de escola e de faculdade, entre dezenas de condiscípulos que jamais haviam lido um livro sequer na vida ou, se tanto, os que a escola obrigava a ler. Nenhum deles se expressava fora das construções verbais usuais (todas prosaicas), todos empregavam os modismos correntes, gírias, e apresentavam pauperismo léxico.

Era eu o único que li (fiz questão disto) os clássicos da língua portuguesa durante o curso ginasial e jurídico: Eça de Queiroz quase inteiro, Joaquim Manoel de Macedo, Raul Pompéia, Euclides da Cunha, Antonio Vieira e não só; também Ortega y Gasset, no original. Eis porque sempre se notou que eu “falo direitinho” (locução que empregavam; ela própria é sintoma da pobreza lingüística do locutor), ao que respondia: “Uso o que aprendi na escola e sempre li muito”. O interlocutor quedava-se mudo, paralisado, quiçá estupefacto, sem reação; fitava-me com cara-de-bunda (típica em Curitiba).

Não se me cuida, apenas, de variedade léxica; mais do que isto, de variedade na construção das frases e, portanto, riqueza dos meios expressivos. Evitava e evito, cuidadosamente, os modismos, as vulgaridades, os lugares-comuns em curso, o que os meus circunstantes (colegas, amigos e mais gente) facilmente percebiam. Também evito o rebuscamento e a prolixidade, vezos típicos do pessoal jurídico (possivelmente já declinante, e ainda bem.). Cotejadas as minhas petições com as dos demais advogados, as minhas eram perceptivelmente diferentes, na sua redação: redatavam-nas, eles, em gíria jurídica e com prolixidade; eu as redigia como quem é dotado de cultura literária. E que diferença !

Conclusão: ao pessoal jurídico brasileiro, desde décadas, falece cultura literária, ou seja, ler bons autores do idioma (aliás, ela falta aos brasileiros, em geral). Se fossem leitores, saberiam, pelo menos, reconhecer textos mal escritos, prolixos e rebuscados, e evitá-los. Ao invés, no meio jurídico o floreio inútil e a prolixidade constituem virtudes (o que é diferente de riqueza vocabular e do emprego, indispensável, do léxico jurídico.).

Muito pessoal acadêmico, letrado, formado nas últimas décadas, não escreve bem, inclusivamente os juristas (deparam-se-me livros, teses e artigos de filosofia, história e de outras áreas, de redação que deveria ser melhor. No Paraná, certo pessoal acadêmico escreve mal; suponho que no mais Brasil, também). A “academia” constrange a redigir quem não o sabe fazer, proficientemente; daí o espetáculo de textos de má qualidade, o que se agrava com a predisposição de muitos brasileiros a negligenciar o zelo com o idioma, o que se agrava, ainda mais, por sua vez, com o estado lastimável do ensino do vernáculo, no Brasil.

(No Brasil, desde meados dos anos de 1980, as traduções tornaram-se ruins ou muito ruins; a contrapelo, antes disto havia-as, boas, ótimas, exemplares. Em Portugal, eram e são corretíssimas.).

 

21.4.2018.”Português é difícil”: eis idéia infantil, coisa de senso comum, de crianças, porém as crianças que aprendem o idioma, libertam-se desta idéia; certos adultos, que não o aprendem, mantém-na. (No meu tempo de escola, as crianças aprendiam a mesóclise com onze anos de idade. Hoje, sequer sabem que existe. Hoje, muitos adultos sequer sabem usar corretamente maiúsculas e minúsculas.).

Quando ouço este aforisma, sinto-me tentado a indagar a quem o professa quantos livros ele leu no mês corrente; quantos leu no ano corrente; até se ele lê livros e se já leu algum, na vida.

 

 

24.4.2018.VÍCIO DE “O QUE”.

Também é vicioso este tipo de construção: “Ler livros é hábito. O que propicia cultura.”; “Vieram muitas pessoas. O que me contentou.”; “Leônidas venceu a batalha. O que salvou a Grécia.”.
Esta construção é evidentemente errada, deselegante e manifesta inépcia na arte de redigir, apesar do que grassou nos anos de 2000 (e persiste): algum inepto usou-a; outros incautos imitaram-na, um e outros sem nenhuma percepção do seu absurdo.
Que o primeiro inepto a usasse, denuncia-lhe despreparo; que se difundisse este mau uso, evidencia o quão despreparados se encontram os escreventes brasileiros.
Nos três casos, separam-se em frases orações concernentes ao mesmo período, que devem estar unidas, pois contém predicados: “Ler livros é hábito, o que propicia cultura.”; “Vieram muitas pessoas, o que me contentou”; “Leônidas venceu a batalha, o que salvou a Grécia”. (Encontro tal excrescência até em traduções supostamente bem qualificadas, como na de “Prodígios e Vertigens da Analogia”, de J. Bouveresse, da editora Martins Fontes.).

 

 

26.4.2018.TRADUÇÕES.

No Brasil, desde meados dos anos de 1980, as traduções tornaram-se ruins ou muito ruins; a contrapelo, antes disto havia-as, boas, ótimas, exemplares. Em Portugal, eram e são corretíssimas. Muitos tradutores brasileiros, em vez de obter o equivalente vernacular do original, consoante a sintaxe e as características do português, traduzem literalmente, palavra por palavra e, destarte, reproduzem a sintaxe e as características do idioma original.
Por exemplo: em espanhol, diz-se “Todo lo contrario”, que nos equivale ao “Ao contrário”; um mau tradutor traduziu como ‘Todo o contrário”, o que não faz sentido em português.
Outra: uma doutora com doutorado traduziu livro de Direito Romano, do espanhol, em cujo original se lê “El hombre, es ello solo”, o que ela verteu, pessimamente, como “O homem, ele é sozinho”, ao invés de “O homem está sozinho”.
Outro: o francês diz “Ça etait notre affaire à nous”, que a besta do tradutor verteu como “Isto era nosso negócio a nós”, em vez de traduzir “Isto era o nosso negócio”.
Traduzir não é imitar e exige fidelidade ao original e vernaculidade no idioma para que se traduz. Tradutores ineptos sacrificam o segundo, a pretexto de rigor quanto ao primeiro; daí as traduções grotescas, erradas, inadequadas, a sensação de estranheza do leitor afeito ao vernáculo.

 

 

VÍCIO DA DUPLICIDADE: Olympio = “membro do Ministério Público”, porém há que adivinhar que o é.
Usasse o pronome ele. Ele. Ele, existe.
Os pronomes existem para evitar-se a repetição do sujeito; em lugar deles, maus escreventes empregam perífrases, que alongam o texto e o tornam obscuro.

Esta coisa de vício da duplicidade já passou do tempo de existir. Está mais do que na hora de os brasileiros pararem com isto: é defeito de redação, ainda que muitos o reputem virtuoso. É defeito, e feio; indica prolixidade, pedantismo e ignorância no uso dos pronomes. Se o sujeito desconhece que eles existem para evitar-se a repetição do sujeito, então, ignora o elementar e quer “sofisticar” o seu texto, da pior maneira. A frase da legenda ficou rebuscada e pernóstica; é no que dá o vício da duplicidade. Considero surpreendente que este defeito se haja inveterado e tanta gente o cometa, sem ter noção de que o é.

 

 

 

29.4.2018.VÍCIO DE MESMO.

A construção “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo está no andar” é errada.
A construção “Os alunos devem manter silêncio. Os mesmos ouvirão a aula.” é errada.

“Mesmos” não se destina a repetir o sujeito nem é pronome; não serve para designar o sujeito; serve para evitar repetições como em: “Leu o livro? Li. Gostou do livro? Gostei. De que livro gostou? Do mesmo [que li]).”.
Correto: “Antes de entrar no elevador, verifique se ELE está no andar”; “Os alunos devem manter silêncio. Eles ouvirão a aula.”.

Agora (pior), com o funesto vício da duplicação: “Antes de entrar no elevador, verifique se o aparelho de ascensão está no andar”; “Os alunos devem manter silêncio. As pessoas que vem estudar ouvirão a aula.”.

Use os pronomes ele, eles, ela, elas. Eles existem ! Oh, maravilha ! Oh, surpresa ! Oh, louvores aos pronomes !

 

 

 

30.4.2018.ROTUNDA.
Logradouro redondo, como o da animaçaõ, chama-se de rotunda. Rotunda é-lhe o nome, em vez de rotatória, que usa quem ignora o nome correto. Não é porque “todo mundo usa” rotatória, que este é o nome correto, sobretudo se “todo mundo” ignora o realmente correto.

Estar rotatória dicionarizada nada significa: os dicionários registram as palavras, não lhes abonam o uso; não é porque a palavra está no Aurélio ou no Houaiss, com este ou aquele significado, que o uso em questão é correto.

 

1.5.2018.MESÓCLISE.
CONSIDERO VERGONHOSO que não se ensine a mesóclise. Se a escola nãoa ensina, falha; se o professor “ensina” que ela só se usa na escrita, está desorientado e é desorientador; se o sujeito ignora-a, priva-se de poder usar recurso do seu idioma.

A mesóclise é recurso da língua portuguesa em que se insere o pronome no verbo, nos
tempos futuro (futuro do presente e futuro do pretérito. Futuro do presente, como
“farei”; futuro do pretérito, a exemplo de “faria”).
Na mesóclise, o pronome não se antepõe ao verbo (a anteposição do pronome ao
verbo chama-se de próclise, como em “me diga”) nem se lhe pospõe (a posposição do
pronome ao verbo denomina-se de ênclise, a exemplo de “diga-me”). Na mesóclise
introduz-se o pronome “dentro” do verbo. Por exemplo: verbo entender > entenderá >
entender-se-á. Verbo inaugurar > inaugurarão > inaugurar-se-ão. Verbo fazer > farei
isto > farei o > fá-lo-ei. Verbo encontrar > encontrariamos > encontrar-nos-íamos.
Emprega-se a mesóclise no tempo futuro; ela é-lhe peculiar e exclusiva, por ser
impossível praticá-la nos tempos presente e no pretérito. Ela caracteriza a conjugação
dos tempos futuros, sentido em que é vantajosa para a clareza do discurso.1

A mesóclise é de fáceis entendimento e uso. É facílimo intercalar o pronome no
verbo, operação de que qualquer pessoa torna-se capaz, uma vez que a aprenda e que se
exercite: aprendê-la e exercitar-lhe o emprego constituem operações ao alcance de
qualquer indivíduo de inteligência normal. No meu tempo de estudante, aprendia-se
com onze anos de idade. As crianças aprendiam a mesóclise. Até por imitação e sem
especial ensinamento é-se capaz de aprendê-la, como, demais, espontaneamente as
pessoas apreendem o idioma, de oitiva.

 

 

 

4.5.2018. PROVA CONTUNDENTE E ROBUSTA.
Jargão jurídico.
O pessoal jurídico, para mais de muitas vezes ser rebuscado e prolixo, usa de certos lugares-comuns. Por exemplo: prova contundente e prova robusta.
Ambos são metafóricos; o texto técnico deve evitar metáforas; ao invés, certos juristas abundam nelas: pensam, quiçá, que florear o texto, com lirismos inúteis é “escrever bem”.
A prova é convincente, principal, secundária, importante, menos importante; não é contundente nem robusta).

 

4.5.2018. “A minha amiga, ela viajou.”.
“O curso que eu faço, ele dura cinco anos.”.

Compare:
A minha amiga viajou.
O curso que faço dura cinco anos.

Atente em que o pronome, nestes casos, está a mais. Evite-o (nestes casos).

Atentar em algo; jamais “atentar-se” em algo (jamais “me atentei que hoje é sexta-feira”; jamais “atentem-se ao prazo”.). Em país de instrução sub, de ensino sub, os vícios são supra.

 

 

6.5.2018.A correção da linguagem, a sua escorreição, o que inclui a ortografia, é valiosa e é meritório zelar-se por ela. Ainda que o fundamental seja a comunicação, a correção importa; a comunicação como valor fundamental não desvaloriza a importância da correção. Erros que se cometa eventualmente devem ser corrigidos, como quaisquer erros, o que é diferente de se atacar a pessoa do interlocutor a propósito da sua expressão (falácia “ad hominem”) e de discriminá-lo.Há que se ensinar as pessoas a bem saberem e a bem usarem os recursos do idioma, o que inclui a ortografia. Texto bem escrito, corretamente escrito, devidamente pontuado, escoimado de solecismos, é valioso pela sua forma; a forma correta é valiosa, em si, independentemente do fundo, que representa outro aspecto da comunicação (como se comunica; o que se comunica.).

 

7.5.2018. Ainda que a comunicação haja sido eficaz, a norma culta é de rigor; ela é valiosa, em si, independentemente da comunicação. Valorizá-la não equivale a nenhum preconceito; ao invés, muitos mantêm preconceito contra a norma culta, por preguiça, ignorância ou até arrogância.

 


11.5.2018 DEFEITO DE REDAÇÃO.
É defeito de redação usarem-se dois verbos (ou mais) que exigem preposições distintas, um em seguida ao outro. Por exemplo: “fulano sabia e autorizou”. Sabia DE algo; autorizou algo: sabia das execuções e autorizou-as.
Outra: gostava e preferia chocolate. Horrível construção. Melhor: gostava de chocolate e preferia-o a doce de leite.

 

13.5.2018PRONÚNCIA DE NOMES ESTRANGEIROS.

Muitas pessoas pronunciam os nomes estrangeiros com a sua (suposta) pronúncia no idioma original: Descartes, dizem “de cart”; Macron, dizem “macrron”; Marietti, dizem “marieti” (e não “marietchi”), George W. Bush dizem “djorge dâbou bâch”.

Não me oponho a que se pronunciem nomes estrangeiros ao modo do respectivo idioma; ao mesmo tempo, não considero depreciativo nem sinal de ignorância que se pretira (verbo preterir) tal pronúncia: não é suposto que se saiba os nomes nos seus idiomas, porém é natural e aceitável que os pronunciemos ao nosso modo e que traduzamos os prenomes. Sim, traduzirem-se-lhes os prenomes (que são traduzíveis) como se fez em inúmeros países, inclusivamente neste, por décadas: João Stuart Mill, Jeremias Bentham, Carlos Marx, Frederico Nietzsche, assim como João Paulo II, Carlos Magno, Aristóteles.

Digo “macrôn”, “marietchi”, “nítche”, “dêcarte”, “bêntam”, “conte”; falo assim, orgulhosamente, com a pronúncia do meu idioma, embora eu fale francês, espanhol, italiano (quanto ao inglês, é irregular na sua pronúncia, em que há surpresas). Os franceses pronunciam os nomes estrangeiros com prosódia do francês: fazem bem.

Saussure e Dürkheim nenhum brasileiro está obrigado a pronunciar em francês e alemão. “Sôssir” e “durcáim” já ficam bem: é como digo; mais não é preciso e sabe a (metáfora gustativa) pedantismo fonético (Emílio Dürkheim era francês, de sobrenome alemão. Pronunciá-lo-á com prosódia do alemão ou do francês ? O francês di-lo ao seu modo.).

Parece-me um pouco pedante, com o seu quê de ridículo, o brasileiro que afeta as pronúncias estrangeiras. Haverá opiniões antagônicas (dos que assim pronunciam, certamente.).

Houve um que dizia “pláto”, para Platão; certo autor de artigo sobre Frederico Nietzsche grafou “August Comt” para Augusto (Auguste) Comte: escreveu como fala e desconhece a grafia correta do nome: ignorância é isto (para mais de mal escrito, o seu artigo acadêmico.).

 

13.5.2018.Atentar em e não “atentar-se”.
Substancial e não substâncial.
João celebrou contrato; o mesmo o cumpriu. Melhor e correto: João celebrou o contrato; ELE o cumpriu (mesmo não é pronome.).

Por que certos erros e vícios se propagam como epidemia ? Porque, como diz Marcos de Castro, “ninguém sabe nada” (passe o exagero: ele quis dizer que o brasileiro médio sabe mal o vernáculo); alguém (sub-instruído) comete o erro uma vez; os outros atentam à novidade e a tomam pelo correto; imita-a, em processo que se difunde. Rapidamente, há um sem-número de sub-instruídos que repetem o ruído como se fosse harmonia.

 

 

16.5.2018.Saber e saber bem o idioma, saber falá-lo corretamente e escrevê-lo com escorreição, é o mínimo que se pode esperar de alguém minimamente à altura da civilização; quem não o sabe, está aquém dela. É imperioso afirmar tal princípio, incuti-lo como elemento da cosmovisão, repeti-lo para novos públicos, formar-se opinião pública e criar-se nova geração, que valorize a norma culta do idioma. A atual é altamente despreparada, neste capítulo.

Segundo alguns (notícia que circulou recentemente e informação que circula há anos) parte da responsabilidade e culpa pelo descalabro do ensino, no Brasil, é imputável a Paulo Freire, do que não descreio; ao invés. Parte importante do descalabro do estado do idioma, no Brasil hodierno, é imputável às doutrinas de Marcos Bagno, que é imperioso combater, o que fiz há vários anos em extenso ensaio, a que quase ninguém atentou. Sinal dos tempos: a minha era voz única, ou quase, em meio à hegemonia das suas doutrinas. Esperanço-me em que agora, ela seja ouvida.
https://arthurlacerda.wordpress.com/…/preconceito-linguist…/

 


18.5.2018.DEVIDO A isto, devido ao outro e não devido isto, devido o outro.
IGUAL A este, igual a aquele e não igual este, igual aquele.
ATENTEI EM algo, atentei nisto e não me atentei em algo, me atentei nisto.

Que diferença faz uma letra? A distância que vai do português com qualidade do reles, a de quem sabe bem o seu idioma de quem o sabe mal, a de quem fala “como todo mundo” de quem fala corretamente. Pormenores assim fazem a diferença.
Na comunicação, também importa a qualidade da forma como se comunica; a correção da forma, aliás, contribui-lhe para a eficácia: é redutor e estreito pensar-se que o que importa é unicamente que o destinatário da mensagem a compreenda: é enaltecedor que se lhe transmita a mensagem com correção e até beleza. Aliás, a correção favorece a compreensão. Texto mal escrito, dito mal falado é texto e dito sujeito a ser incompreendido ou menos bem compreendido.
Saber bem o idioma, respeitar-lhe a gramática, usá-lo com rigor são valores, são virtudes, são vantagens. Não há pior do que a ignorância.

 

18.5.2018.VÍCIO DE TIPO.
“Hoje tipo é quinta-feira dia de aula tipo de matemática tipo não gosto muito porque tipo acho difíciu tipo com as equação do primeiro grau.”
O falante repete “tipo” a torto e a direito.
Outros findam as suas frases com o tosco “[es] tá ligado?”. É vulgaridade, plebeísmo, coisa reles.
Quer usá-los, use-os; que é feio, lá isto é.
Não saber a flexão de número (plural) nem usar corretamente os tempos verbais, para mais de feio, é pobre: pobre culturalmente, pobre de civilização, brega, cafona.
“Dois minuto”, “chegou as pessoa”, “acabou as férias”, “é dois”, “é eu” – dá vergonha.

 

 

 

 

3.6.2018.FALE BEM, FALE COM QUALIDADE. É lamentável que muitos brasileiros já não saibam o mínimo do idioma.
Concordância. Se o sujeito é feminino, o verbo será no feminino. Se o sujeito é masculino, o verbo será no masculino. Por exemplo: a aula foi dadA e não a aula foi dadO. A conexão foi estabelecidA e não a conexão foi estabelecidO. Empresa chamadA Telepar e não empresa chamadO Telepar. Foi feitA a correção e não foi feitO a correção.
O carro foi consertadO. O amigo foi internadO. Os livros foram vendidOS (com s , por ser plural).
Um é. Dois são. São dois. É um.
Duzentos minutos e não: duzento minuto.
Nós somos. Somos nós e não: é nós.
Camisa branca e não: camisa no branco. Camisa pequena e não: camisa no pequeno.
Pague para mim e não: pague comigo.
Compre de nós e não: compre conosco.
Reclamei para ele e não: reclamei com ele.
Quer que eu vá? e não: Quer que eu vou?
Quer que eu encomende ? e não: Quer que eu encomendo?
Menos pessoas e não: menas pessoas.
Pôr e não: ponhar.
Eu trouxe e não: eu trusse.
As crianças e não: as criança.
Os dedos e não: os dedo.
O tempo deles passou e não: o tempo deles passaram.
A estante de livros é bonita e não: a estante de livros são bonitas.
A maioria das pessoas é bonita e não: a maioria das pessoas são bonitas.
A maioria das pessoas faz e não: a maioria das pessoas fazem.
As pessoas gostam e não: as pessoas gosta.
Os meninos sabem e não: os meninos sabe.
Os alunos estudam e não: os alunos estuda.
Eles foram felizes para sempre e não: foram feliz para sempre.
Há muitas flores e não: tem muitas flores.
Há maçãs e não: Tem maçãs.
Nós somos e não: a gente é.
Eu sou e não: a gente é.
Eles são e não: a gente é. (Note o caráter polissêmico e sempre equívoco da expressão “a gente”, que pode indicar eu, tu, ele, eles, nós, vós,eles, ao passo que os pronomes retos [eu, tu, ele, nós, vós, eles] indicam inequivocamente de quem se trata, motivo porque ela é pobre lingüísticamente e depende do contexto, ao passo que os pronomes retos independem dele e propiciam comunicação de compreensão sempre induvidosa.).

Dá vergonha ter de ensinar estas coisas. Dá vergonha o brasileiro ter de aprendê-las. Dá vergonha não ensinarem o idioma. Dá vergonha o desleixo e a ignorância elevados à condição de norma. Sociolingüística: populismo lingüístico.

 

 

3.6.2018.COMUNICAÇÃO.
Segundo alguns, o comum do povo (desinstruído) não entende quem “fala difícil”. É verdade, porém o inverso também se verifica: o vulgo fala de maneira que entende o que diz, em padrão lingüístico a que a gente culta é alheia. Também há certa dicção própria e até velocidade típica de fala.

Nos últimos dias, tive de haver-me com serviçais (trolhas, encanadores) e deu-se-me equívoco com um pintor, que me chegou à casa, para pinturas, sem tinta.

Na véspera, ao combinarmos a pintura, eu entendi que ele compraria a tinta; ele entendeu o inverso. Não me ficou explícito quem a compraria. A outro serviçal também não entendo, ocasionalmente: fala “para dentro” e depressa demais.

(Os brasileiros falam com lentidão, comparados com os portugueses, os espanhóis, os uruguaios e os argentinos. No Brasil, os nordestinos falam com mais velocidade do que o sulista: deve ser porque a fala com acentos abertos propicia mais velocidade. O sulista acentua com acentos fechados as palavras e fala com relativa lerdeza. Não é somente o brasileiro que não entende o português de rápido falar: também é o sulista, de dicção morosa, que mal entende o nordestino, de dicção rápida. Falo em geral; há exceções.).

Moralidades: sempre é prudente explicitar o que se combina; as falhas de comunicação também ocorrem do vulgo para o culto (eu sou culto e o meu padrão lingüístico sobreleva o do vulgo), tanto na construção frasal quanto na dicção.

(Entre gente tosca há, em Curitiba, maneira típica de perguntar: “Quanto que é ?!” ou “É quanto ?” – dito em tom agressivo e descortês. Eu digo: “Quanto custa ?”, em tom gentil.).

 

14.6.2018. VULGARIDADES DE REDAÇÃO.
Há vulgaridades de redação, ou seja, locuções e expressões corretas e de uso correto, que se tornam vulgaridades devido ao excesso do seu uso, ao seu uso como expressões-ônibus ou palavras-ônibus. São corriqueiras em textos também acadêmicos; formam até uma espécie de gíria; denotam ausência de estilo próprio, ou seja, de autonomia estética: as vulgaridades existem por imitação: alguém usa dada palavra, repete-a (ou não); a palavra soa a nova, a diferente, talvez a elegante; outros passam a repeti-la.
Algumas vulgaridades tornam-se em cacoetes: o escrevinhador já não sabe escrever sem elas.
Por exemplo:

1) O macabro, prolixo, feio, redundante e ambíguo VÍCIO DA DUPLICIDADE. É urgente os escrevinhadores brasileiros convencerem-se de que quem o comete, escreve MAL. Por exemplo: “Augusto Comte, criador do Positivismo, escreveu livros; são bons os livros do francês”. Agora, sem o vício: “Augusto Comte, criador do Positivismo, escreveu livros, que são bons.”.
Outro: “A UFPr tem vários professores que lecionam na entidade com 20 horas.”. Sem o vício: “A UFPr tem vários professores que nela lecionam com 20 horas.”.

2) Vício de “algo”: “Ler é algo bom”. Sem a vulgaridade: “Ler é bom.”.

3) Vício de “registro”: “Tenho registro fotográfico” por “Tenho fotografia”; “O contraste entre imagens e texto esclarecem aspectos. Nestes registros, há boas informações.”.

4) Vício de “projeto”: “Fulano lançou um livro; é o seu primeiro projeto”.

5) Vício de “todo um”: “No Brasil há todo um contexto de crise.”.

6) Vício de “bem claro”: “Deixei bem claro o que pretendo”.

7) Vício de “a gente”: “A gente quer.”

8) Vício de “o que”: “Possuo muitos livros. O que me alegra.” Forma correta: “Possuo muitos livros, o que me alegra”. Não se pode separar um elemento da frase, do outro, no caso.

9) Vício de “possuir”: “Possuo dor-de-cabeça”, “O brasileiro possui virtudes”, por “Tenho dor-de-cabeça”, “O brasileiro tem virtudes.”.

10) Vício de “ganhar” (é o campeão, em artigos, livros e na Gazeta do Povo): “Curitiba ganha mais um restaurante”, “Fulano ganha respeito”, “Tal partido tem ganhado eleitores”. [Vulgaridades plebéias: “Fulana ganhou nenê”; “A aluna ganhou um ponto do professor”. As mulheres não ganham bebês: elas concebem.].

Em país em que rara gente lê, em que se sabe mal o vernáculo, os vícios propagam-se e as vulgaridades trivializam-se e manifestam-se, também, no alto pessoal acadêmico: há mestres, doutores, pós-doutores, professores-doutores e professores-pós-doutores que os escrevem: este pessoal redige por obrigação funcional e, parte dele, sem haver adquirido familiaridade com os bons escritores do idioma ou, pelo menos, não adquiriram estilo próprio. Ao invés, escrevem por imitação dos outros; eis porque se disseminam os erros, os cacoetes, os vícios e surgem vulgaridades de estilo.
Certo pessoal acadêmico, supinamente titulado, escreve defeituosamente, com cacoetes, para além de usar metáforas infelizes, empregar mal certos vocábulos, ser prolixo, confundir os tempos verbais (por exemplo: “Aristóteles vai dizer que […]”. Não: Aristóteles DISSE.), errar os pronomes (por exemplo: “Quero agradecê-lo”), produzir frases obscuras e anfiguris.
É óbvio que Machado de Assis não incorria em inépcias que tais; aliás, em inépcia nenhuma. Tampouco Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia, Eça de Queiroz, José Saramago – e nenhum deles era doutor nem pós-doutor, sem desdouro, evidentemente, dos doutores e pós-doutores que escrevam bem.
Em certos meios, há jargões, ou seja, dado léxico próprio, que designa categorias específicas da respectiva área do conhecimento. Não é disto que se trata, porquanto nenhuma das palavras acima constitui jargão.

Certos artigos “científicos” são decididamente ruins (malgrado da autoria de doutores e de pós-doutores): o sujeito percebe mal, explora mal o seu tema, descreve-o mal, conclui mal, e depois publica o seu artigo em coletâneas. Por exemplo: “História do corpo no Brasil”, de onde extraí os exemplos de vícios acima, encontradiços nos meios letrados e universitários, brasileiros, da atualidade.

 

 

14.6.2018.Saber bem o português é importante e valioso.
Ler os clássicos do português é assaz útil.
Saber mal o seu idioma e usá-lo mal é desvalioso.

 

14.6.2018.Para quem valoriza o seu idioma,
preocupa-se com falar com mais qualidade,
almeja a nivelar por cima,
repele a mediocridade. [postei ligação do meu artigo Notas sobre o vernáculo].

 

 

 

 

21.6.2018. VOSSO. MESÓCLISE.
Ultimamente, notei que algumas pessoas passaram a empregar o pronome “vosso”, ao se dirigirem a duas pessoas ou mais. É corretíssimo.
Vosso = de vocês; vossa presença = presença de vocês; vossa prova = prova de vocês.
É recurso do idioma, disponível para ser usado por todos, em qualquer situação, formal ou informal, bem como a mesóclise.
Mesóclise: pronome dentro do verbo, empregável sempre no futuro. Por exemplo: dir-lhe-ei (e não: lhe direi); poder-se-á (e não: se poderá). Ela existe para ser usada em qualquer situação, formal ou informal, escrita ou falada.

Em boa hora voltou a circular o vosso, vossos, vossas, vossa. Que circule também a segunda pessoa do plural, a que corresponde, aliás, o vosso. Por exemplo: Digo-vos que deveis entender; acrescentareis cultura se lerdes Machado de Assis.

E que volte a circular a mesóclise !
(O estado do desleixo do ensino, no Brasil, é tal, que a maioria dos estudantes sequer sabe que a mesóclise existe; ainda menos sabe usá-la. Depois, o sujeito ascende a mestrados e doutorados e escreve mal, não apenas porque não sabe a mesóclise, porém porque lhe falta traquejo no idioma. Tenho lido dissertações, artigos, teses mal redigidas.).

 

 

 

 

 

 

 

21.6.2018.VOU ESTAR ESCREVENDO. VAMOS ESTAR DIZENDO. GERUNDISMO.

Gerundismo ou endorréia é o vício de linguagem que consiste em usar-se “estarei”, “estaremos”, “vamos estar” ou “vou estar” + outro verbo, no gerúndio. Ex.: vou estar dizendo; vamos estar enviando; estarei explicando; estará remetendo “etc.”.

Em português isto não existe e está errado.

É vício originário dos manuais de teleatendimento que, traduzidos literalmente do inglês, em que essa forma existe, introduziram-na no português, em que ela grassa como praga, o que, também nisto, revela a incompetência dos muitos que traduzem do inglês.

Traduz incompetentemente quem o faz literalmente, imitando a língua de que se traduz, ao invés de obter um seu equivalente na para a qual se traduz. Esta construção existe em inglês; não existe, jamais existiu, em Português; ela pertence à sintaxe do inglês e, usada entre nós, corresponde a distorção do uso do nosso idioma.

De tanto o povo ouvir, por telefone, “vou estar transferindo a sua ligação para o departamento técnico”, “vou estar cancelando o seu débito”, nos serviços de atendimento por telefone das operadoras de telefonia, que servem o Brasil todo, a mania do gerúndio passou a existir como se fora o correto, em país em que todos os vícios de linguagem se propagam com celeridade.

Quem diz “vou estar enviando” usa desnecessariamente 3 verbos ao invés de 2 (estarei enviando) ou de 1 (enviarei); ainda que se usem 2 (estarei enviando), essa forma representa um contra-senso: estarei corresponde ao futuro; enviando, ao presente. Não pode uma ação desenrolar-se, simultaneamente, no futuro e no presente.

Segundo alguns, o gerundismo é forma de enganação: dizer “vou estar pagando” é remeter o pagamento a um futuro indeciso, vago, impreciso, ao passo que “vou pagar” ou “pagarei” importa em ação certa e com que se pode contar. Assim, o gerundismo serviria para assumir compromisso aparente e iludir quem o recebe.

O gerundismo é ilógico porque atribui à ação duração prolongada no tempo, quando ela se esgota em um só momento. Ex.: em “vou estar comprando”, o ato de comprar parece demorado, é como se ele se prolongasse por horas, quando corresponde a ação que se consuma rapidamente.

DEVIDO A, AO. A expressão correta é devido ao, devido à (com crase). Por exemplo: devido ao frio, devido à geada, devido às geadas.

 

 

 

 

21.6.2018.

ANFIGURI. VANILÓQUIO.
Chama-se de anfiguri o texto confuso, abstruso, de difícil compreensão; chama-se de vanilóquio o discurso vão, vazio.
Ambos servem para ocultar o vazio de idéias ou para rebuscar idéias simples; são formas inferiores, como estilo e como conteúdo. Por exemplo: “O corpo delimita-se por superfícies múltiplas ou, como denominou Anzieu, “peles psíquicas”. É , pois, entendido como uma topologia ou ainda, dentro do referencial utilizado pelo filósofo e psicanalista, depreendido como uma atmosfera cuja textura espacial é plástica e assume a forma de múltiplos invólucros cuja superfície, a pele, serve de interface para a inscrição das inúmeras mensagens que constituem a interação entre psique e soma.”.

Outro, da mesma escrevinhadora: “Não há dúvida que nunca se falou tanto acerca do corpo, o qual entrou em cena da produção teórica às inúmeras práticas corporais.”. Atente à crase estapafúrdia !

Estes espécimens de lixo são da autoria de uma pós-doutora, em coletânea em que há outros, e extensos, anfiguris, da parte de doutores (com doutorado).

Isto é escrever mal, muito mal: escrever bem combina clareza, escorreição e elegância. Leia Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, José Saramago, Eça de Queiroz, antes de se aventurar a redatar seja o que for.

 

 

 

23.6.2018. PÔSTER, do inglês “poster”.

Em português, cartaz. Sim, cartaz. Cartaz é a palavra vernacular para “poster”.
Você sabe em mau português, você imita o inglês, e ignora o equivalente em português ? E estranha a palavra correta do seu idioma ? Estranha cartaz ? Há algo errado com você.

FOLDER, do inglês “folder”. Em português, prospecto. Oh ! Prospecto ! “Mais [sic – é “mas”] nunca ouvi falar.”. Então, aprenda e repita três vezes: prospecto, prospecto, prospecto. Mais uma, por garantia: prospecto. Pronto ! Você se curou de dizer “folder”. Agora, você usa a palavra do seu idioma e não mais um estrangeirismo desnecessário e cafona.

RANKING. Palavrão, porcaria, lixo ! Em português, você pode dizer classificação, escala, tabela – é correto e elegante usá-las, ao contrário do tal de “ranking”.

 

 

26.6.2018.

De mim = meu.
De você = seu.
De vocês = vosso.
Com eu = comigo.
Com nós = conosco.
Com vocês = convosco.

Meu, seu, comigo, vosso, convosco, conosco, são formas corretíssimas, bonitas, elegantes, cultas, que vós podeis usar em todas as ocasiões, na vossa fala e na vossa escrita. Aproveitai os recursos do nosso idioma ! Usai-os, orgulhosamente !

 

 

28.6.2018.Polaco e não polonês.

Enquanto o termo castiço e correto é polaco, polonês deriva do francês “polonais” e corresponde, destarte, a francesia. Em começos do século XX, os proprietários do cassino da Urca, no Rio de Janeiro, para lá levaram prostitutas suecas, loiras como as polacas do Paraná. Com intuito depreciativo, alguns sulistas passaram a designar por polaca a toda prostituta; daí a adoção do galicismo, com que se evitava o termo depreciativo. Dado, no entanto, que a conotação prostibular cessou há décadas, é tempo de se restaurar o uso do vernáculo

 

6.7.2018.”A maneira que o Brasil perdeu”, não. “A maneira COMO o Brasil perdeu.”.
“A pessoa que o pai dela é velho”, não. “A pessoa CUJO pai é velho.”.

Uma das formas do empobrecimento da forma como o idioma é falado no Brasil consiste no desuso das preposições. Elas existem e cumprem papel valioso, na comunicação;a sua existência não é gratuita; ao invés: elas contribuem para a eficácia da comunicação e para a sua clareza. Sabê-las e empregá-las é elegante e vantajoso para você se comunicar. Empregá-la eleva a eficácia da comunicação de quem as emprega por sobre a de quem as desusa: exprime-se com mais precisão quem usa “por”, “de que”, “de quem”, “cujo”, “cuja”, “cujos”, “cujas”, “para”, “de que”, “em que”.
Português não é difícil; é fácil. Pensar em contrário é mito que serve aos ignorantes, que querem se manter na ignorância; aos preguiçosos, que se regem pela lei do menor esforço (critério de todo medíocre) e para os teóricos que combatem a gramática (estes, precisam ser contrariados teoricamente e as suas doutrinas, desmoralizadas).
Se algum professor de português lhe disser que a gramática normativa é elitista, arcaica e outras coisas, desconfie-lhe da sensatez, da isenção e do discernimento: ele contribui para emburrecer.
É típico do indivíduo sub-instruído, mediocremente formado, empregar “que” em lugar das preposições corretas.

 

 

7.7.2018. “Entrefala” em lugar de “entrevista”.

A palavra “interview” originou, por canhestra adaptação, “entrevista”. No original inglês, a palavra é mal formada; no anglicismo, também: ambos sugerem vista que se encontra entre dois elementos, especificamente duas pessoas.
Há, contudo, em castiço, entrefala. Entrefala é a palavra vernacular, de português puro, legítimo, bonito, elegante.
É a informação de Cândido de Figueiredo (“Os estrangeirismos”.).
Já estou a ouvir as objeções de prontidão: “Ninguém conhece”, “Nunca ouvi falar”, “Todo mundo [galicismo vomitável] usa entrevista”.
Respondo-lhes de antemão: use a palavra. Basta usá-la para torná-la conhecida e compreendida.

 

 

 

 

9.7.2018. Alguns lusitanismos, em circulação no Brasil (lusitanismos, aqui, designam palavras ou locuções que circulavam, originariamente, em Portugal e não também no Brasil e que já agora fazem-se presentes cá):

1- dar o seu melhor (esforçar-se ao máximo, fazer o melhor possível), de que há equivalente em francês (“faire son mieux”).
2- cimeira (cúpula), como: “cimeira de governadores”.
3- novo ciclo (como: “hoje começa novo ciclo na minha vida”).
4- mais do mesmo (como em: “o advogado disse mais do mesmo na sustentação oral).

A leitura de gazetas portuguesas e os estágios universitários de brasileiros em Portugal permitem o contacto direto de brasileiros com a excelência com que lá se fala. Sim, lá se fala excelentemente, em cotejo com a forma usualmente pobre e chã como fala o brasileiro médio.

A mim não me engana a doutrina de que “o português fala bem o seu idioma e o brasileiro fala bem o seu”, de que são “idiomas diferentes”, de que há “idioma brasileiro”. Pensar que são idiomas diferentes e que inexiste superioridade de conhecimento e de bom uso em Portugal em relação ao Brasil, é idéia de criança birrenta, falsa como observação factual e especiosa como doutrina.

 

 

9.92018. Copiei e colo:
“A pessoa passa cinco anos em uma faculdade, uma instituição do ensino superior deste país, e escreve #formei. Formou o que? uma figura em barro? não sabe que o verbo é pronominal e que quem forma, forma algo, mas quem SE forma é que aprende algo ou termina seus estudos? Depois reclamam da péssima qualidade dos profissionais que temos neste pais!”

Em suma: o sujeito forma-SE e não sabe dizer: “formei-me” ou “me formei”.

Casou-me.
Apaixonei-me.
Separou-se.
Vacinou-se.
Aposentou-se.
Reunimo-nos.

E JAMAIS “atentou-se” !!!! “Atente no prazo”, “Atentarei no que for preciso”. Atentar não é reflexivo: não é “se atentar” e sim “atentar”.

 

MUDANÇA DA LÍNGUA. SOCIOLINGÜÍSTICA.
A constante mudança do idioma não significa, não pode significar, que toda alteração seja desejável nem bem-vinda. Ao invés: há alterações para pior, notadamente as que provêm do povo sub-instruído, o que não é preconceito lingüístico, porém é o dado empírico de que onde falta instrução, escolarização, valorização do idioma, surgem simplificações e empobrecimentos, como é o caso, que não refletem “riqueza da diversidade cultural” pois não se pode, legitimamente, chamar assim ao que não é simples “diversidade cultural”, porém é o empobrecimento da cultura, é “desculturação”. É o que o pessoal da sociolingüística não entende ou não quer entender. Em que pese o valor de se contextualizar o que se diz, as teses de Marcos Bagno são discutíveis e carecem do “valor absoluto”.

A sociolingüística é falaciosa, ao negar a distinção entre certo e errado. Há certo e errado; há quem fale erradamente. Parte do estado da incompetência com que muitos brasileiros , inclusivamente universitários, se comunicam oralmente e por escrito, deve-se às doutrinas da sociolingüística que, ao fim e ao cabo, justificam a ignorância. Ela é co-culpada pela involução do idioma no Brasil, pelo desleixo de muitos brasileiros que, arrogantemente, erigiu em virtude teórica e em método pedagógico.
Abaixo, artigos meus e não só, para dotar o leitor de argumentos com que contrariar certas doutrinas em voga:

 

 

 

 

 

16.7.2018.

Idioma achatado.

Arthur Virmond de Lacerda Neto. 29.7.2018.

 

Há muitos anos noto a crescente degradação do idioma, no Brasil. Trinta anos atrás, a minha geração falava mal, porém sabia a flexão de número (singular e plural), os tempos verbais, os pronomes, coisas que já se perderam, em parte.

Piorou muito. Dá vergonha ouvir como certas pessoas falam; dá vergonha a mentalidade de desleixo com o idioma; dá vergonha as pessoas não saberem mais usar corretamente os tempos verbais, os pronomes, os verbos, as palavras, a mesóclise, os pronomes contraídos.

 

Há simplificações (com a transformação de verbos transitivos indiretos em diretos) que denotam não que “português é difícil” (não, não o é) porém sim que as pessoas não o aprenderam ou, se o aprenderam, usam-no com o menor esforço (critério da preguiça e da mediocridade).

Também não se trata, apenas, de riqueza de vocabulário: está em causa a sintaxe e a construção das frases: cometem-se solecismos inaceitáveis vinte ou trinta anos atrás; a construção frasal é primária. As crianças em Portugal falam melhor do que muitos adultos brasileiros, o que inclui o pessoal acadêmico que, supostamente sendo ou devendo ser letrado, amiúde exprime-se e escreve mal.

Chegamos a tal ponto graças, também, aos teóricos populistas segundo quem toda mudança é bem-vinda e segundo quem a gramática normativa é elitista e anacrônica; também graças aos professores de português que ensinaram aos seus alunos a sobrevalorizar a oralidade e a desdenhar da correção gramatical, como se a eficácia, a destreza, até a beleza da comunicação independesse da forma como se usa o idioma.

O resultado destes ideário e pedagogia é o de o brasileiro haver se tornado em povo relativamente emburrecido, e a incapacidade de incontáveis estudantes de inteligirem textos. O efeito funesto também se nota no pessoal acadêmico, em que mestres, doutores com doutorado e pós-doutores escrevem mal, praticam solecismos, manifestam carência de familiaridade com as formas elevadas de expressão no seu idioma. Escrevem por obrigação de ofício: vezes muitas, é quando revelam o seu despreparo, a sua carência de traquejo com o vernáculo, a ocorrência e até a recorrência dos vícios e defeitos em voga no momento.

Outro resultado consiste na epidemia de cacoetes, vícios e defeitos, como o estúpido vício da duplicidade, com exclusão dos pronomes cabíveis (“Aristóteles redigiu livros; são importantes os do grego”, em lugar de “Aristótoles redigiu livros; são eles importantes” ou “são importantes os seus livros”); o uso de palavras-ônibus (a exemplo do verbo ganhar: “Curitiba ganhou mais um restaurante”); o gerundismo (“Vamos estar escrevendo”); o apagamento da mesóclise (“Poder-se-á”, “Dí-lo-ei”); a supressão do pronome reflexo “se” (“Fulano apaixonou, separou, aposentou” em lugar de “apaixonou-se, separou-se, aposentou-se”); o emprego errado das preposições (“Ligue na central” em lugar de “Ligue para a central”); o desconhecimento da segunda pessoa do plural (“Vós sois”, “Fizestes”); o emprego errôneo dos tempos (“Vai querer ?” em lugar de “Quer ?”; “Aristóteles vai dizer” em lugar de “Aristóteles disse”, vezo corriqueiro no mal estilo acadêmico); a conjugação errada da segunda pessoa do singular (“Tu veio”, “Tu fez”); o primarismo das construções (“Os primeiros dias choveu.” em vez de “Nos primeiros dias choveu.”).

 

 

Ainda outro: a má qualidade da maioria das traduções brasileiras, dos últimos cerca de 40 anos. As portuguesas sempre são melhores: em Portugal valoriza-se saber bem o idioma, falá-lo com escorreição, escrever com clareza e propriedade, traduzir com esmero e vernaculidade.

Vide, a propósito, as observações de Otávio Pinheiro, na Folha de São Paulo, de 16.6.2018 (“Nunca se escreveu tanto, tão errado e se interpretou tão mal”) a que acederá por: https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2018/07/nunca-se-escreveu-tanto-tao-errado-e-se-interpretou-tao-mal.shtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=compfb

 

Artigo de opinião da Folha de S. Paulo, de 16.7.2018, com o título:

Nunca se escreveu tanto, tão errado e se interpretou tão mal

 

21.7.2018.O VALOR DE SABER BEM O IDIOMA.

“Ligue na central de atendimento” significa o cliente ir à central e nela telefonar.
Quer-se dizer “Ligue para a central”. A preposição errada altera o sentido da frase.

Outra: “Obrigado por comprar conosco”. Errado: comprar “conosco” significa o comprador comprar com o vendedor e com mais alguém, ou seja, há três compradores, e não o comprador comprar do vendedor e o vendedor vender-lhe.

É óbvio que o comprador compra do vendedor e o vendedor vende para o comprador, o que se exprime de forma que enuncia tal obviedade: “Obrigado por comprar de nós” ou “Obrigado por comprar da Casa XYZ”.

Dizer “conosco” em lugar de “de mim” altera radicalmente o sentido da frase. É infantilidade objetar-se que “dá para entender”: não, não dá para entender; dá para adivinhar apesar da confusão a que induz o que se mal disse.

A eficácia da comunicação decorre, também, do emprego correto do idioma, da sua forma culta, que é valiosa, importante e bonita.

Saber bem o idioma e bem usá-lo faz diferença. Sabê-lo mal e usá-lo erradamente custa equívocos e confusões.
Em país em que a maioria sabe mal, quando sabe, os erros grassam como epidemia. Em idioma, há, sim, certo e errado; é justificável que a forma culta seja considerada a correta e padrão, no sentido de modelar, que serve de modelo por usar e como critério por que se avalie a correção e a incorreção das “variantes”.

 

27.7.2018.”ATENTE-SE” É ERRO ESTÚPIDO.

“Atentar em” e jamais o estapafúrdio “atente-se”: “eu me atentei”, “ele se atentou”, “atentem-se ao dia da festa” são ignorâncias.
Atentar-se é reflexivo: o sujeito exerce a ação sobre si próprio, atenta em si. Dizer “atente-se no dia da prova” equivale a dizer: “atente em si próprio no dia da prova”, quando se quer dizer: “tenha atenção relativamente ao dia da prova”, ou seja, a atenção não se volta ao próprio sujeito e sim a algo fora dele. Por isto, é absurdo dizer-se “atente-se no que ocorreu”.

O correto é e só pode ser “atente em” algo externo ao sujeito: “Eu atentei em que havia algo errado”; “ele atentou no problema”, “atentaremos no dia da festa”.
O idioma faz sentido; nele, há certo e errado. O errado é errado ainda que muitos o cometam (e muitos cometem erros, em país em que a instrução do idioma é fraquíssima).

 

 

29.72018. ACESSAR, DISPONIBILIZAR: PORCARIAS.
ACEDER A, DISPOR: VERBOS CORRETOS.

A ignorância do idioma no Brasil é fato típico da maioria dos brasileiros, nos últimos cerca de quarenta anos. Ensina-se mal, sabe-se mal, usa-se mal o idioma. Entre nós, não é desprestigiante falar-se mal, com solecismos: ao contrário, alguns teóricos, com as suas falsas e perniciosas doutrinas de que a) inexiste certo e errado, porém b) variantes lingüísticas, acabam por legitimar todo erro e todo primarismo.

O brasileiro médio fala muito mal o seu idioma. Há, aqui, professores e até doutores com doutorado cuja habilidade de comunicação é inferior ao das crianças portuguesas: a diferença está em que, em Portugal, valoriza-se o idioma, que lá se ensina a sério. O português médio, o homem comum português, sabe mais os recursos do nosso idioma e usa-os, diferentemente do que se passa no Brasil, em que não se aprende e se negligencia o que se aprende, o que reputo duplamente vergonhoso. Aqui, também se aprovam automaticamente as crianças até a quarta ou a sétima série: criam-se burros.

Um consectário da ignorância idiomática radica na circulação de estrangeirismos: o indivíduo ignora os termos do seu idioma, porém estuda inglês; algum ignorante, que sabe inglês e não sabe português, por imitação, inventa uma palavra; usa-a; os demais, igualmente desconhecedores do que deveriam saber, adotam a novidade. É o caso dos estúpidos verbos “acessar” e “disponibilizar”.

Há séculos existe o verbo (transitivo indireto) ACEDER A: significa “ter acesso a” e “aceitar”. Por exemplo: acedo ao recinto; acedi ao Facebook; aceda à página do banco.

O Brasil é o único país da Terra em que se usa esta porcaria: em Portugal, na Espanha, na Argentina, na França, na Itália, no Uruguai, no Chile, no México e nos mais países de línguas novilatinas, usa-se  “aceder a”.

Alguém leu “to access” e fabricou “acessar”. Soubesse o seu idioma e conheceria “aceder a”.

É o mesmo caso do estrambótico “disponibilizar”. Em português, é DISPOR: dispus o material para os alunos; o governo disporá vacinas; as mercadorias estão dispostas para os fregueses.

Agora, que tu conheces o certo, podes (e deves) usá-lo. É correto elegante.
“-Mas se eu usar, ninguém vai entender”. Ninguém ? Quando introduziram as porcarias destes estrangeirismos, as pessoas não as entenderam ? Entenderam. E não entenderão os vocábulos vernaculares ? Entenderão.

 

29.7.2018. “VAI QUERER ?”. ATENTAR E NÃO “ATENTAR-SE”.

O estado do idioma no Brasil é de achatamento crescente, em que, nas últimas décadas, as pessoas foram se tornando cada vez mais vulgares na sua expressão, ao mesmo tempo em que deixaram de aprender os recursos do idioma e de usá-los.

Há 3 ou 4 anos, o brasileiro médio já não sabe diferenciar, no uso, os tempos presente e futuro: as pessoas dizem, por exemplo, no comércio: “Não vai ter”, para significarem “Não tem”; “Vai querer ?” para exprimirem “Quer ?”, ou seja, usam o futuro para expressar o presente.

Como fariam para exprimir o futuro ?

Não leva a nada o lero-lero conformista, populista e sociolingüísta de que o idioma muda, de que as alterações são inevitáveis, de que isto é português brasileiro etc. É discurso fatalista, redutor, empobrecedor e pobre.

O idioma muda: pode mudar para melhor ou para pior. Quando quem deveria saber os tempos verbais não os sabe, então, mudou para pior, o que não é evolução: é retrocesso que não se pode aceitar e que urge contrariar, pelo ensino, a sério, do idioma, e pela sua valorização.

Saber bem o seu idioma é vantajoso na comunicação: quem o sabe bem, comunica-se melhor.

O vulgo confunde o presente com o futuro; desusa o pronome “se” onde ele é obrigatório (casar-se, divorciar-se, apaixonar-se, aposentar-se, arrepender-se, assustar-se); mete-o onde ele não existe: é o diabo do “atentar-se”, como “atente-se ao dia correto”.

Atente-se, qual o quê ! Atente no dia, sem o raio do “se”!

 

 

 

30.7.2018.De mim = meu.
De você = seu.
De vocês = vosso.
Com eu = comigo.
Com nós = conosco.
Com vocês = convosco.
Meu, seu, comigo, vosso, convosco, conosco, são formas corretíssimas, bonitas, elegantes, cultas, que vós podeis usar em todas as ocasiões, na vossa fala e na vossa escrita. Aproveitai os recursos do nosso idioma ! Usai-os, orgulhosamente !

É catastrófico que a maioria das pessoas, neste país, desconheça a existência e o uso destes pronomes, que pertencem ao seu idioma, que lhe constituem belezas, que são formas de falar e de escrever legítimas e que a até 40 anos atrás a generalidade das pessoas sabia e usava. O brasileiro desaprendeu o seu idioma, o que considero alarmante e vergonhoso.
Dizer que tal desuso é natural e esperado, que representa a “mudança” do idioma é forma de coonestar o estado lastimável do ensino do idioma (e não só), no Brasil; de convencer as pessoas de que a ignorância é aceitável, e de mantê-las na ignorância, com a conivência de teóricos (sociolingüistas) de teorias perniciosas.

 

 

30.7.2018.

Alguns lusitanismos, em circulação no Brasil (lusitanismos, aqui, designam palavras ou locuções que circulavam, originariamente, em Portugal e não também no Brasil e que já agora fazem-se presentes cá):

1- dar o seu melhor (esforçar-se ao máximo, fazer o melhor possível), de que há equivalente em francês (“faire son mieux”).

2- cimeira (cúpula), como: “cimeira de governadores”.
3- novo ciclo (como: “hoje começa novo ciclo na minha vida”).

4- mais do mesmo (como em: “o advogado disse mais do mesmo na sustentação oral).

A leitura de gazetas portuguesas e os estágios universitários de brasileiros em Portugal permitem o contacto direto de brasileiros com a excelência com que lá se fala. Sim, lá se fala excelentemente, em cotejo com a forma usualmente pobre e chã como fala o brasileiro médio.

A mim não me engana a doutrina de que “o português fala bem o seu idioma e o brasileiro fala bem o seu”, de que são “idiomas diferentes”, de que há “idioma brasileiro”. Pensar que são idiomas diferentes e que inexiste superioridade de conhecimento e de bom uso em Portugal em relação ao Brasil, é idéia de criança birrenta, falsa como observação factual e especiosa como doutrina.

 

 

2.8.2018.

“Santandér”, não: “Santânder”, sim, em prosódia vernacular.

 

 

3.8.2018 ADVÉRBIO DE MODO é a palavra que indica o modo, a maneira, o como algo se dá. Por exemplo: veio de modo rápido = veio rapidamente; encontrou de maneira fácil = encontrou facilmente; fala de modo errado = fala erradamente; fala de maneira correta = fala corretamente.

Dizer-se “veio rápido” é diferente de dizer-se “veio rapidamente”, pois em “veio rápido”, o que veio, foi o “rápido”, ao passo que em “veio rapidamente”, algo ou alguém veio, o que fez com rapidez. Note a diferença, total, entre usar-se corretamente os advérbios de modo e não os usar; neles, usa-se a desinência “mente”: rapidamente, urgentemente, facilmente.

Se tu usas os adjetivos como se fossem advérbios de modo (por exemplo: “rápido” em vez de “rapidamente”), então escreve mal, na forma e no fundo.

“-Todo mundo fala assim”: se muitos falam assim, muitos falam mal. Você prefere o errado ao certo ?
“-Mas dá para entender.”: se dá para entender assim, também dá para entender se usar o idioma de modo melhor.

A negligência dos advérbios de modo (….mente) é mais um sintoma do empobrecimento do idioma, no Brasil.

O idioma faz sentido; nele, há certo e errado; a teminação “mente” nos advérbios é relevante, desempenha papel na eficácia da comunicação. Se tu usas o “mente”, tu dizes uma coisa; se o negligencias, dizes outra.

 

 

DEFEITO E CACOETE DE “. O que […]”.

Defeito e cacoete dos escrevedores brasileiros presente a partir de meados de 2000 e persistente, é o de separarem-se elementos da frase que não se pode separar, em que a oração (qualquer que seja) prossegue com a locução “o que”, que não se pode disjungir do que a antecede. O defeito está em disjungi-la; o cacoete está em fazê-lo sistematicamente.

Por exemplo (sem defeito): “O corte de verbas para bolsas é expressivo, o que poderá afetar a pesquisa”. Com defeito: “O corte de verbas para bolsas é expressivo. O que poderá afetar a pesquisa”.

Outro (versão perfeita): “Com o aumento das temperaturas, deve-se beber mais água, o que evita desidratação”. Versão cacográfica: “Com o aumento das temperaturas, deve-se beber mais água. O que evita desidratação”.

Como sabiamente observou Marcos de Castro, nas redações dos jornais, ninguém sabe nada (hipérbole para: a maioria dos redatores ignora a gramática); quando alguém, por ignorância e não por beleza estética, introduz inovação estranha, os demais que não sabem nada, imitam-na, atraídos pela novidade. Creio que nas gazetas e certamente nos meios acadêmicos e em traduções de livros, foi o caso do defeito e cacoete em questão, presente em livros, artigos, ensaios, postagens do Facebook, sem que ninguém, exceto eu, lhe haja atentado na inépcia e no mau gosto.

É correto usar-se “O que” em situações assim: “O que se pode escrever, é o texto corretamente”; “O que está em causa, é o estilo”.

O idioma faz sentido; as regras gramaticais atuam em prol da clareza e da eficácia da comunicação. Em idioma, há certo e errado.

 

3.8.2018. VULGARIDADES DE REDAÇÃO.

Há vulgaridades de redação, ou seja, locuções e expressões corretas e de uso correto, que se tornam vulgaridades devido ao excesso do seu uso, ao seu uso como expressões-ônibus ou palavras-ônibus. São corriqueiras em textos também acadêmicos; formam até uma espécie de gíria; denotam ausência de estilo próprio, ou seja, de autonomia estética: as vulgaridades existem por imitação: alguém usa dada palavra, repete-a (ou não); a palavra soa a nova, a diferente, talvez a elegante; outros passam a repeti-la.
Algumas vulgaridades tornam-se em cacoetes: o escrevinhador já não sabe escrever sem elas.
Por exemplo:
1) O macabro, prolixo, feio, redundante e ambíguo VÍCIO DA DUPLICIDADE. É urgente os escrevinhadores brasileiros convencerem-se de que quem o comete, escreve MAL. Por exemplo: “Augusto Comte, criador do Positivismo, escreveu livros; são bons os livros do francês”. Agora, sem o vício: “Augusto Comte, criador do Positivismo, escreveu livros, que são bons.”.
Outro: “A UFPr tem vários professores que lecionam na entidade com 20 horas.”. Sem o vício: “A UFPr tem vários professores que nela lecionam com 20 horas.”.
2) Vício de “algo”: “Ler é algo bom”. Sem a vulgaridade: “Ler é bom.”.
3) Vício de “registro”: “Tenho registro fotográfico” por “Tenho fotografia”; “O contraste entre imagens e texto esclarecem aspectos. Nestes registros, há boas informações.”.
4) Vício de “projeto”: “Fulano lançou um livro; é o seu primeiro projeto”.
5) Vício de “todo um”: “No Brasil há todo um contexto de crise.”.
6) Vício de “bem claro”: “Deixei bem claro o que pretendo”.
7) Vício de “a gente”: “A gente quer.”
8) Vício de “o que”: “Possuo muitos livros. O que me alegra.” Forma correta: “Possuo muitos livros, o que me alegra”. Não se pode separar um elemento da frase, do outro, no caso.
9) Vício de “possuir”: “Possuo dor-de-cabeça”, “O brasileiro possui virtudes”, por “Tenho dor-de-cabeça”, “O brasileiro tem virtudes.”.
10) Vício de “ganhar” (é o campeão, em artigos, livros e na Gazeta do Povo): “Curitiba ganha mais um restaurante”, “Fulano ganha respeito”, “Tal partido tem ganhado eleitores”. [Vulgaridades plebéias: “Fulana ganhou nenê”; “A aluna ganhou um ponto do professor”. As mulheres não ganham bebês: elas concebem.].
Em país em que rara gente lê, em que se sabe mal o vernáculo, os vícios propagam-se e as vulgaridades trivializam-se e manifestam-se, também, no alto pessoal acadêmico: há mestres, doutores, pós-doutores, professores-doutores e professores-pós-doutores que os escrevem: este pessoal redige por obrigação funcional e, parte dele, sem haver adquirido familiaridade com os bons escritores do idioma ou, pelo menos, não adquiriram estilo próprio. Ao invés, escrevem por imitação dos outros; eis porque se disseminam os erros, os cacoetes, os vícios e surgem vulgaridades de estilo.
Certo pessoal acadêmico, supinamente titulado, escreve defeituosamente, com cacoetes, para além de usar metáforas infelizes, empregar mal certos vocábulos, ser prolixo, confundir os tempos verbais (por exemplo: “Aristóteles vai dizer que […]”. Não: Aristóteles DISSE.), errar os pronomes (por exemplo: “Quero agradecê-lo”), produzir frases obscuras e anfiguris.
É óbvio que Machado de Assis não incorria em inépcias que tais; aliás, em inépcia nenhuma. Tampouco Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia, Eça de Queiroz, José Saramago – e nenhum deles era doutor nem pós-doutor, sem desdouro, evidentemente, dos doutores e pós-doutores que escrevam bem.
Em certos meios, há jargões, ou seja, dado léxico próprio, que designa categorias específicas da respectiva área do conhecimento. Não é disto que se trata, porquanto nenhuma das palavras acima constitui jargão.
Certos artigos “científicos” são decididamente ruins (malgrado da autoria de doutores e de pós-doutores): o sujeito percebe mal, explora mal o seu tema, descreve-o mal, conclui mal, e depois publica o seu artigo em coletâneas. Por exemplo: “História do corpo no Brasil”, de onde extraí os exemplos de vícios acima, encontradiços nos meios letrados e universitários, brasileiros, da atualidade.

 

EXEMPLAR DE LIVRO É DIFERENTE DE LIVRO.
Na capa do livro “Sapiens”, há um círculo em que se lê: “Mais de 400 mil livros vendidos”, em referência ao próprio “Sapiens”.

Ora, “Sapiens” é um livro; “Dom Casmurro” é outro; “A moreninha” é ainda outro. No todo, são três livros.

De livros, vendem-se EXEMPLARES; chamam-se de exemplares as reproduções dos livros.

Não se vendem livros, de livros. Não se venderam 400 mil livros do livro “Sapiens”, porém 400 mil EXEMPLARES dele. Também não se venderam CÓPIAS dele: em inglês, diz-se “copy” (“copies”), que não se pode traduzir, literalmente, por cópia e sim por EXEMPLAR.

O erro, grosseiro, na capa do livro, publicado pela LPM mostra o nível de ignorância à solta.

 

ESQUEITE. RATO.
A palavra “skate” é estrangeira, motivo por que deve ser grafada em itálicos ou entre aspas; é prática de boa redação e de bom jornalismo fazer assim.

Ela pode e deve ser aportuguesada: grafada consoante a pronúncia, a saber: esqueite. Assim mesmo: esqueite é neologismo que acomoda o termo, já presente entre nós, ao nosso idioma. Trata-se de critério de educação lingüística que legitima, por meio de neologismos justificáveis, a adaptação de termos de tradução difícil.

Já o grotesco “mouse” deve-se traduzir: rato. Assim mesmo: rato como, aliás, se pratica em todos os países de fala portuguesa e espanhola, exceto neste, colônia lingüística dos E.U.A.. “Mouse” é rato ou ratinho (camundongo) em inglês; nos E.U.A., o americano chama o objeto de rato, no seu idioma. Em Portugal: rato; na Espanha e na restante América Latina: “ratón”. No Brasil: “mouse”. (Rato também se diz “rat” em inglês).

A verdade é que o brasileiro, anos atrás, era afoito e bem leviano em incorporar todo americanismo que ouvisse.

Havia o Movimento pela Língua Portuguesa, em que os seus integrantes nos batíamos contra a americanização do idioma e pela vernaculidade. Havia adesões e repulsas, de que estas eram mais emocionais do que racionais; os estrangeiradores invocavam todo tipo de razão e de sem-razão para justificar dezenas de estrangeirismos. Passados cerca de três lustros, a mentalidade parece haver evoluído; as pessoas já deixaram de ser ingênuas ou patetas e parece-me preferirem falar português, no Brasil, entre e para brasileiros, em lugar de, pedantemente, ostentarem porcarias lingüísticas.

 

FRASES CURTAS.

Alguns escritores (jurídicos e não só) usam frases curtas. Muito curtas. Bastante. Com um verbo e sujeito cada. Estão mal orientados. Sem noção de estilo. Escrevem mal. Coordenam. Não subordinam. Interrompe-se a leitura. A cada momento. Estilo infantil. Coisa de “produtores de texto”. Suponho. Só pode ser. É mania. Vício. Porcaria. Preconizam-nas. Como se fossem virtuosas. Não o são. Ao contrário. Há que saber usá-las. Quando for o caso. E se. Não sempre. Por exceção.
Para redigir períodos longos, basta partir de idéia central e esmiuçá-la em sub-idéias ou de premissa, deduzir-lhe os corolários – sub-idéias e corolários vão na seqüência da idéia-mãe ou das premissas, separados por vírgulas, pontos e vírgulas, dois pontos, conjunções, pronomes (mas, contudo, bem assim, ao passo que, ou seja, simultaneamente, a despeito de que, por outro lado são expressões que servem de transição.).

A vírgula serve para separar idéias ou elementos da frase entre os quais há proximidade; o ponto e vírgula separa os que têm, entre si, menos proximidade; o ponto separa as que têm ainda menos proximidade. Os parágrafos agrupam idéias. Os dois pontos introduzem informação na mesma frase.
É mais importante saber concatenar as idéias e distribuir o conteúdo por meio da vírgula, do ponto e vírgula, dos dois pontos, do ponto final e dos parágrafos, do que empregar, sistematicamente, frases curtas, que sujeitam o leitor a contínuas interrupções na leitura e que fragmentam o discurso mais do que seria desejável para se lhe manter a continuidade. Também pode ser a manifestação da incapacidade do autor, de concatenar as idéias e de expô-las em grupos constituídos por frases que não sejam necessariamente curtas: pode ser manifestação da limitação lógica e da inferioridade estética do autor.

Sugiro-lhe a leitura atenta das Metamorfoses , de Ovídio, da editora 34, em tradução de Luis Domingos Lucas, para perceber a continuidade das frases longas e escorreitas.

Sugiro-lhe a leitura do texto a seguir, para perceber o defeito do emprego sistemático de frases curtas; intitula-se O negro escravizou o negro e vendeu pro branco. Por quê?, da autoria de Nildo Júnior. Aceda-lhe por aqui.

 

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“KIT” TEM TRADUÇÃO !
REVELAÇÃO SENSACIONAL !!

Vulgarizou-se o estrangeirismo “kit”, do inglês. Mas por que não usar palavra em português ? Afinal, no Brasil, entre brasileiros, faz sentido usar palavras vernaculares; não faz sentido usar estrangeirismos se há equivalentes vernaculares.

O equivalente vernacular, em português de qualidade, certo, correto, é … equipamento, jogo ou conjunto (conforme o caso).

Oh, maravilha! Oh , estupefação! Oh, revelação ! Sim, as palavras equipamento, jogo e conjunto servem para falar-se em equipamento de primeiros-socorros, em jogo de livros, em conjunto de livros.

“Kit” significa equipamento, na sua tradução literal.

“Kit” de primeiros-socorros: neste caso, é corretíssimo equipamento de primeiros-socorros.

“Kit” de livros de direito: jogo de livros de direito, conjunto de livros de direito.

“Kit” do concurseiro (postila, caneta, borracha, lápis, garrafa d´água, barra de cereais): jogo do concurseiro.
Objetar-se-me-á que “jogo” pode induzir a confusão no sentido de entretenimento, de ludismo (jogo de futebol, de xadrez). Nestas situações, o contexto é esclarecedor e dificilmente alguém confundirá um sentido com o outro.
Antes de se imitar o inglês, com a palavra “kit”, havia equipamentos, jogos, conjuntos, estojos, palavras que as pessoas usavam sem confusões. Passaram a usar o monstrengo que é “kit” por ignorância do seu idioma e por ostentação do inglês.

Ao se usarem equivalentes vernaculares dos anglicismos, não é mister traduzir-se literalmente do inglês: não se trata de falar inglês, em português, mas de falar português em português. Trata-se de exprimir-se a idéia em português, com palavra do nosso idioma, ainda que ela não represente a tradução literal da inglesa – não precisa de representá-la, pois não se cuida de traduzir-se literalmente, porém de obter-se o equivalente já existente ou que se cria.

Jogo de livros, jogo de peças, jogo de coisas, conjunto de livros, conjunto de peças, conjunto de coisas, equipamento de primeiros-socorros, equipamento de segurança.

 

“Forma como” e não: “forma que”.

É típico da sub-instrução no idioma o desconhecimento das preposições corretas e a sua substituição pelo pronome relativo “que”, que serve como palavra-ônibus. Por exemplo: “pessoa que o pai dela morreu” em vez de “pessoa CUJO pai morreu”; “obrigado que você veio” em vez de “obrigado POR ter vindo”; “maneira que ocorreu” em vez de “maneira COMO ocorreu”.

O emprego de “que”, nestes lanços e em outros, equivalentes, é típico de quem sabe mal o idioma, de quem lhe desconhece as preposições; vinte anos atrás, era típico das classes mais desinstruídas e próximas do analfabetismo. Hoje, é coisa que se propagou, sinal de que se nivelou por baixo.

 

 

 

 

 

 

 

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