Para a CNN.

 

MANDEI ISTO PARA A CNN, em 1º de maio de 2020:
“Boas noites.
Com interesse acompanho os noticiários da CNN do Brasil. Com desgosto noto dois tipos de falhas em que locutores, entrevistadores e repórteres precisam melhorar:
1) Muitas vezes, eles introduzem monossílabos inúteis e viciosos em suas falas: “Fulano, eu soube aí que isto e mais aquilo aí”. “Aí” o quê ? Este “aí” está de mais. Não é informação nem elemento útil na frase; é ruído, é defeito de comunicação inaceitável em quem se pretenda profissional. “Né” é outra fealdade.
2) Os apresentadores formulam perguntas excessivamente longas, falam demais antes de finalmente chegar à pergunta ou formulam-na e acrescentam-lhe muitas observações que confundem o interrogado e o ouvinte. O pessoal da Globo tem o mesmo defeito. Isto chega a ser modo típico da televisão brasileira, que há anos persiste nesse defeito.
3) Atenção, muita atenção agora: vocês precisam de se libertar da locução “a gente”. Na sua riqueza, a língua portuguesa tem os pronomes eu, tu, ele, nós, vós, eles, a que correspondem conjugações que tornam as frases precisas, ao passo que “a gente” pode ser “eu” ou “nós” e no caso de “nós”, não se sabe quem é o sujeito coletivo. O apresentador diz “A gente vai acompanhar”. A gente quem ? Ele ? Ele e a colega que lhe está ao lado ? O telespectador ? Os brasileiros ?

Esta expressão é reles, é pobre, é tacanha. Nada adianta dizer que “todo o mundo fala assim” se “todo o mundo” nivela por baixo. As pessoas não são burras; se usardes “eu” e “nós” nos lugares próprios, as pessoas entender-vos-ão. Elas não perspicazes, até o povão: então, não nos tratem como se todos fossemos burros.

Nosso idioma é belo e rico. Podemos dizer “nós apresentaremos, nós acompanharemos; transmitimos, somos, vamos, eramos” em lugar de “a gente apresentará, a gente é, a gente vai, a gente era”. “A gente”, “a gente”, “a gente” na boca do vosso pessoal (Willian Hack à testa) cansa, enjoa.
Certamente, quereis audiência. Compreendo-vos. Para tal, não careceis de nivelar por baixo e ser mais do mesmo no nível raso de uso dos pronomes. Por que não empregais a segunda pessoa “nós” e as respectivas conjugações? Teríeis um “diferencial” positivo, daríeis o bom exemplo e teríeis mais qualidade.

Atenteis em que uso a segunda pessoa do plural (vós): ela existe para ser usada, assim como existe para ser usada a primeira pessoa do plural (nós).

Sugiro-vos que assistais aos telejornais portugueses, experiência de comparação que vos será útil: nenhum cacoete, nenhum ruído, nenhum “a gente”, total habilidade no uso correto do idioma, sempre nivelado por cima, perguntas objetivas e claras (e não prolixas e confusas). Muitos brasileiros vão para Portugal e voltam maravilhados com a precisão, a fluência, a correção dos telejornais portugueses, quanto ao idioma; aliás, dos portugueses em geral. Transmite-se muita informação sem nenhum desperdício de tempo nem ruídos nem chatices (“a gente” é chatice, nos dois sentidos: é rasa e já cansou).

Outra coisa: o pessoal apresentador não tem que conversar entre si, como fazem Willian Hack e outros. Perde-se tempo valioso inutilmente. O telejornal não é para isto, não é reunião social (vide o precioso livro do jornalista Marcos de Castro).

Para mais divulgação, postarei esta mensagem no Facebook.
Saúde e fraternidade.
Arthur Virmond de Lacerda Neto.”

Escreva você também para a CNN. Quem preza nosso idioma também deve ser ouvido. O endereço dela é: “erro@cnnbrasil.com.br”.

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