Preconceito lingüístico, o livro: ensaio crítico.

I – Considerações gerais.

II – Exemplos de toleimas.

III – O patrulhamento pedagógico.

IV – Cisões: decálogo de primarismos.

V – As razões do êxito.

              I- Considerações gerais.

              O livro intitulado Preconceito lingüístico o que é, como se faz, de Marcos Bagno[1] almeja desmentir o que reputa oito mitos concernentes ao português no Brasil e proclama como forma pior de preconceito, no que diz respeito ao idioma, o conjunto de prescrições que constitui a gramática tradicional que, segundo seu autor, representa instrumento ideológico de legitimação das classes dominantes no poder.

              Cura-se de mistificação ideológica, em que o autor não trata do tema como cientista em busca da verdade, porém na condição de ativista que emprega o conhecimento para desautorizar as regras do idioma em sua forma culta, em lugar das quais lhes enaltece o uso vulgar.

              Segundo o livro inexiste erro de português, haja vista todo falante de sua língua materna, por natureza, usá-la corretamente, por ser tal uso necessariamente inteligível; o erro achar-se-ia na discrepância entre a utilização e as regras da gramática, que alegadamente representam o prolongamento do colonialismo português e encarnam coisa obsoleta, carecedora de imediatamente igualar-se à coloquialidade.

                Tudo vale, ensina o livro: simplificações, perdas de preposições, abolição dos plurais, confusão dos tempos verbais, desleixo, lei do menor esforço, preguiça, modismos, estrangeirismos, vícios.

              É lindíssimo pregar-se aos oprimidos ser odiosa a gramática porque os oprime e que, livrando-se dela, libertam-se de parte da sua opressão, tanto quanto é puramente retórico e, no mínimo, objetável pretender que ela oprime seja quem for e que é desejável recusarmo-la. Na verdade, Preconceito lingüístico bate-se contra certa gramática, contra a tradicional, de matriz portuguesa; ele é inspirado por nacionalismo mal-entendido, anti-portuguesismo, apelo popular; como seu autor confessa, é político e declaradamente parcial[2], o que basta para ser lido com reservas e desconfiança.

              Exitoso, com dezenas de edições e milhares de leitores, vem influenciando gerações de estudantes de letras, jornalismo, direito, jornalistas, lentes, lingüistas; constituiu espírito de época, tornou-se em unanimidade, acelerou o mudancismo em idioma, em nada contribuiu para com o incremento da instrução e do tão celebrado ensino de qualidade.

              Sua inspiração é objetável, seu argumentário é refutável, seu modo de ver merece contrapontos. Aponto-lhe aqui algumas toleimas e profligo o decálogo do que seu autor nomeou cisões. Esta é versão revista da que redigi em 2003[3].

Pelo menos outros três analistas confutaram as doutrinas de Preconceito lingüístico:

a) Olavo de Carvalho, em Quem come quem, texto distribuído no Seminário de filosofia, em 12 de junho de 1999,

b) Anderson Cássio de Oliveira Lopes, em A ideologia que debilita o pensamento (Oficina das Letras, 11 de novembro de 2010); em Onde se responde a objeções feitas ao artigo de novembro e se demonstra por que as ideias dos sociolinguistas não se sustentam na razão (Oficina das Letras, de 30 de dezembro de 2010),

c) José Maria e Silva, em Rodapé para um golpista da língua (Jornal Opção, de 24 de novembro de 2016).


[1] São Paulo, edições Loyola. Primeira edição: 1999. Sirvo-me da 23ª edição, de 2003.

[2] Preconceito lingüístico, p. 12.

[3] Publicado em forma impressa em Bourdieu e “Preconceito Lingüístico”: duas refutações (Curitiba, Vila do Príncipe, 2004, p. 173 a 203), em forma eletrônica em 22 de abril de 2007 em arthurlacerda.wordpress.com.

Leia a íntegra do ensaio em PDF:

Esse post foi publicado em Preconceito lingüístico. Bookmark o link permanente.

2 respostas para Preconceito lingüístico, o livro: ensaio crítico.

  1. Pingback: Preconceito lingüístico e coitadismo lingüístico | Implicante

  2. Pingback: Preconceito Lingüístico e coitadismo lingüístico | .:: Tribuna do Sisal ::.

Deixe um comentário